28/07/2010
Internacional/Visão Global
Rússia quer usar recurso energético para inverter a ordem pós-soviética que se instaurou na Europa depois de 1990
Joschka Fischer ,ex-Ministro de Relações Exteriores e ex-Vice-Chanceler da Alemanha, Project Syndicate
Do ponto de vista geopolítico, a Rússia e a União Europeia são vizinhas. É de importância crucial para ambas que suas relações sejam de boa vizinhança. A não ser que modernize economia e sociedade, a Rússia poderá esquecer sua aspiração ao status de potência mundial no século 21, pois continuará atrasada em relação às antigas e novas potências emergentes.
Além disso, para modernizar-se, a Rússia precisa de parceiros, pois sua população e seu potencial econômico são muito reduzidos para que ela possa desempenhar um importante papel na nova ordem mundial emergente. Mas para onde a Rússia poderia se voltar? Agora, ela só pode se voltar para o Ocidente, e para a Europa em particular.
Para a Europa, o papel da Rússia é de importância estratégica. Uma revisão da ordem pós-soviética visando um aumento da influência russa sobre os países ou satélites da antiga União Soviética mudaria drasticamente a estratégia e a política de segurança da UE.
Ambas as partes dizem querer melhorar as relações bilaterais, mas é duvidoso que russos e europeus pensem de fato suas relações nos mesmos termos. Olhando por trás da retórica cordial, perceberemos profundas diferenças.
Quando o ex-presidente da Rússia e atual premiê, Vladimir Putin, declarou há vários anos que o maior desastre do século 20 foi o fim da União Soviética, ele não falava apenas por si, mas pela maioria da elite política russa. Mas a esmagadora maioria dos europeus provavelmente considera o colapso da URSS um motivo de comemoração. Na realidade, a Rússia de hoje procura inverter a ordem pós-soviética que se instaurou na Europa depois de 1989-1990, pelo menos em alguns de seus vizinhos, enquanto os europeus e o Ocidente querem preservá-la a todo custo. Enquanto Moscou não compreender estas diferenças fundamentais e não tirar as conclusões corretas delas, os europeus não considerarão a abertura da Rússia para o Ocidente como uma oportunidade, e ela se deparará sempre com a profunda desconfiança da Europa. Mas isto não impede a cooperação prática e pragmática em numerosas áreas.
Hoje, a Rússia mantém sua força apenas como fornecedora de energia e de outros recursos naturais. Portanto, não surpreende que Putin tenha procurado usar esta alavanca para restaurar o poder da Rússia e rever a ordem pós-soviética.
Com os gasodutos Nordstream no Báltico e South Stream no Mar Negro, a Rússia não está apenas procurando estabelecer uma ligação direta entre a Rússia e a UE que passe ao largo da Ucrânia e comprometa o gasoduto ucraniano Nabucco. O objetivo principal é pressionar a Ucrânia, assim como o Azerbaijão e o Turcomenistão, que querem abastecer a Europa com gás independentemente da Rússia. Assim que esses objetivos forem alcançados e/ou o Nabucco for em frente, o South Stream será engavetado porque não tem sentido do ponto de vista econômico.
Na Europa e nos EUA este desafio foi compreendido. Agora é necessário apoiar os que na Ucrânia veem um futuro europeu para seu país, abrir o corredor sul por meio do Nabucco, e acelerar o desenvolvimento de um mercado energético europeu comum. Uma política europeia decisiva só melhorará, em vez de prejudicar, as relações com a Rússia, porque favorecerá uma maior clareza e possibilidade de previsão. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
´´Observe as tendências mas não Siga a maioria`` Thiago Prado
http://www.speedtest.net
http://geotool.servehttp.com/
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Alarmismo nuclear / artigo
28/07/2010
Opinião
LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES
Todo alarmismo fomenta medo irracional. E este medo é a forma eficaz de controle social: sociedades amedrontadas reagem como manadas, se deixando levar. Em nome da redução de uma ameaça superestimada, as lideranças políticas podem agir livremente em busca de outros objetivos, alheios à redução da própria ameaça.
Não se tem aqui a intenção de propagar uma visão cândida das armas nucleares.
Seu potencial de causar inimaginável devastação está acima de qualquer controvérsia.
Esta realidade requer pensar de forma mais clara e sóbria sobre as causas e consequências da proliferação nuclear. É muito difícil encontrar analistas que não sejam pessimistas.
Existe um “pensamento único” de que essa é a mais grave ameaça — hoje pior do que nunca.
Seriam, portanto, necessárias novas e mais efetivas políticas para enfrentar o problema. A isso se chama “alarmismo nuclear”, que transcende diferenças ideológicas, perpassando por todo o espectro político.
Essa corrente considera que esse “terrível mundo novo”, complexo e perigoso, pois baseado numa ordem multipolar, é muito pior que “velhos bons tempos” da “mútua destruição assegurada” entre EUA e URSS. Tais avaliações são superestimadas e, em alguns casos, simplesmente erradas, decorrendo de um débil ou tendencioso entendimento da História. Na verdade, o mundo era muito mais perigoso nas décadas que se seguiram ao fim da II Guerra do que é hoje, e os desafios colocados pelas armas nucleares eram mais complexos.
Para que as políticas de não proliferação tenham êxito, o entendimento da História é vital. O alarmismo não é uma estratégia para enfrentar as ameaças atuais, que não são novas ou mais perigosas do que as do passado. Pela reação desproporcional aos perigos atuais e pela descaracterização da História recente, os alarmistas nucleares provocam políticas ineficazes ou orientadas para objetivos alheios à não proliferação.
Denunciar o alarmismo nuclear não implica defender uma “bomba pacífica”, isto é, entender a bomba como instrumento para a paz, nem advogar pelo direito de nações à arma nuclear, o que seria um absurdo. A evidente e não explicada contradição entre a carta de Obama a Lula antes de sua viagem a Teerã e a reação de Hillary Clinton à declaração conjunta Brasil-Turquia-Irã é uma clara evidência de que a disputa entre “falcões”, militantes do alarmismo nuclear, e “pombos”, cuja expectativa de ascensão ao poder propiciou o Nobel da Paz ao presidente americano, continua muito viva
LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES é assistente da Presidência da Eletronuclear e membro do Grupo Permanente de Assessoria em Energia Nuclear do Diretor-Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Opinião
LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES
Todo alarmismo fomenta medo irracional. E este medo é a forma eficaz de controle social: sociedades amedrontadas reagem como manadas, se deixando levar. Em nome da redução de uma ameaça superestimada, as lideranças políticas podem agir livremente em busca de outros objetivos, alheios à redução da própria ameaça.
Não se tem aqui a intenção de propagar uma visão cândida das armas nucleares.
Seu potencial de causar inimaginável devastação está acima de qualquer controvérsia.
Esta realidade requer pensar de forma mais clara e sóbria sobre as causas e consequências da proliferação nuclear. É muito difícil encontrar analistas que não sejam pessimistas.
Existe um “pensamento único” de que essa é a mais grave ameaça — hoje pior do que nunca.
Seriam, portanto, necessárias novas e mais efetivas políticas para enfrentar o problema. A isso se chama “alarmismo nuclear”, que transcende diferenças ideológicas, perpassando por todo o espectro político.
Essa corrente considera que esse “terrível mundo novo”, complexo e perigoso, pois baseado numa ordem multipolar, é muito pior que “velhos bons tempos” da “mútua destruição assegurada” entre EUA e URSS. Tais avaliações são superestimadas e, em alguns casos, simplesmente erradas, decorrendo de um débil ou tendencioso entendimento da História. Na verdade, o mundo era muito mais perigoso nas décadas que se seguiram ao fim da II Guerra do que é hoje, e os desafios colocados pelas armas nucleares eram mais complexos.
Para que as políticas de não proliferação tenham êxito, o entendimento da História é vital. O alarmismo não é uma estratégia para enfrentar as ameaças atuais, que não são novas ou mais perigosas do que as do passado. Pela reação desproporcional aos perigos atuais e pela descaracterização da História recente, os alarmistas nucleares provocam políticas ineficazes ou orientadas para objetivos alheios à não proliferação.
Denunciar o alarmismo nuclear não implica defender uma “bomba pacífica”, isto é, entender a bomba como instrumento para a paz, nem advogar pelo direito de nações à arma nuclear, o que seria um absurdo. A evidente e não explicada contradição entre a carta de Obama a Lula antes de sua viagem a Teerã e a reação de Hillary Clinton à declaração conjunta Brasil-Turquia-Irã é uma clara evidência de que a disputa entre “falcões”, militantes do alarmismo nuclear, e “pombos”, cuja expectativa de ascensão ao poder propiciou o Nobel da Paz ao presidente americano, continua muito viva
LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES é assistente da Presidência da Eletronuclear e membro do Grupo Permanente de Assessoria em Energia Nuclear do Diretor-Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
terça-feira, 27 de julho de 2010
Centro de pesquisas científicas francês instala-se no Brasil
O CNRS Brasil, escritório de representação do Centre National de la Recherche Scientifique, foi inaugurado oficialmente no Rio de Janeiro.
O CNRS é a mais importante instituição pública de pesquisas da França, com longa trajetória de cooperação com pesquisadores brasileiros.
O escritório funcionará no Brasil sob a direção de Jean-Pierre Briot, membro do Laboratoire d’Informatique de Paris 6 (LIP6), um laboratório de ciência da computação conjunto da Universidade Pierre e Marie Curie (Paris 6) e do CNRS.
Na entrevista que segue, Briot revelou os projetos do centro de pesquisas francês no Brasil a Andrei Koerner, professor do Departamento de Ciência Política da Unicamp, que atualmente realiza pesquisa sobre Justiça Constitucional junto ao Institut des Études Politiques de Paris.
Quais são as perspectivas do CNRS acerca das atividades de pesquisa junto a instituições brasileiras?
Jean-Pierre Briot – O CNRS é a primeira instituição pública de pesquisas na França. Ele cobre todos os campos científicos e é estruturado em 10 Institutos – biologia, química, ecologia e meio ambiente, informática, matemática, ciências da engenharia, física, física nuclear e de partículas, ciências humanas e sociais, ciências do universo -, mais as ações interdisciplinares, entre as quais nanociências e desenvolvimento durável.
Em 2009, o orçamento do CNRS foi de 3,367 bilhões de euros.
O centro conta com 26 mil funcionários em seu quadro permanente – sendo que, destes, 11,6 mil são pesquisadores – e 7,6 mil contratados, como os pesquisadores associados e doutorandos. Possui 1,2 mil laboratórios, dos quais quase 90% são em parceria com estabelecimentos de ensino superior ou empresas. Publica, em média, 25 mil trabalhos científicos por ano, e mais de 50% deles são em coautoria com ao menos um laboratório estrangeiro. Está em primeiro lugar entre instituições públicas na França em registro de patentes: até 2009, por exemplo, havia registrado 3.765 patentes, 382 novas, das quais 44,5% já estão em exploração. Enfim, desde 1999 foram criadas 503 empresas de inovação, 42 apenas em 2009.
O Brasil é um parceiro estratégico do CNRS, notadamente por sua presença crescente na cena científica internacional, pois está em segundo lugar no aumento do número de publicações, depois da China; a França é o seu segundo parceiro científico, depois dos Estados Unidos; apresenta objetos de estudo e questões científicas muito importantes, como biodiversidade, modelos de desenvolvimento e outros. Sobre a biodiversidade, aliás, é preciso ressaltar a recente criação do Centro Franco-Brasileiro da Biodiversidade Amazônica.
É importante ressaltar também que o Brasil é o país com o qual a França tem a sua fronteira externa mais extensa. Enfim, existe um histórico de cooperação com a França, como, por exemplo, Claude Henri Gorceix, Oswaldo Cruz, Claude Lévi-Strauss etc.
O CNRS assinou quatro convênios com instituições de pesquisa brasileiras: o CNPq (desde 1975, prorrogada em 2007), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp/2004), a Fiocruz (2006) e a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb/2006).
Atualmente, o CNRS mantém vários acordos de cooperação com o Brasil, entre os quais com o Impa, no Rio de Janeiro. Outros três laboratórios associados – um com a Fiocruz em imunologia/biomedicina, outro com a UESC em Ilhéus (Bahia) em análises químicas e o terceiro, com a USP, UFSC e UFMG, em modelização do magnetismo. São nove projetos de cooperação científica, denominados Pics e 26 bilaterais – do tipo intercâmbio de pesquisadores -, mais 16 projetos regionais na América do Sul e uma participação no Réseau de Mathématiques Franco-Brésilien.
Vale ressaltar também que, em 2009, houve 858 missões de pesquisadores do CNRS no Brasil.
Quais são os objetivos do escritório do CNRS no país?
Jean-Pierre Briot – Este é o nono escritório do CNRS no exterior, sendo que os demais estão em Bruxelas (para a Europa); Hanói (para a Ásia); Johanesburgo (para a África); Moscou (para a Rússia e Comunidade dos Estados Independentes); Pequim (para a China); Santiago do Chile (para a América Latina); Tóquio (para o Japão e a Coréia); e Washington (para os Estados Unidos e o Canadá). Há o projeto de criar um décimo escritório na Índia. Pode-se observar que a quase totalidade dos escritórios são regionais, e o CNRS criou um dedicado apenas ao Brasil, o que mostra a importância e a vontade de parceria privilegiada com o país.
O CNRS Brasil está instalado na Maison de France, no Consulado Geral da França no Rio de Janeiro. Esta sede abriga também outros serviços franceses (Mission Economique, Chambre de Commerce) ou europeus (Consulados da Finlândia e da Alemanha). A localização oferece, além disso, proximidade com numerosas instituições científicas federais de excelência, como a Academia Brasileira de Ciências, Finep, Impa (matemática), Fiocruz (biomedicina) e CBPF (física), ao mesmo tempo em que assegura uma representação nacional para o conjunto dos parceiros científicos do país.
De um modo geral, o escritório CNRS Brasil tem por objetivo ajudar a ampliar a colaboração científica entre o CNRS e, de maneira mais geral, a França e o Brasil. Podem-se considerar três eixos de atividades principais. O primeiro é a representação do CNRS e de seus institutos científicos junto às instituições científicas brasileiras e, igualmente, a representação das instituições brasileiras e a informação sobre as políticas científicas do Brasil destinadas ao CNRS.
O segundo é identificar e/ou imaginar novas formas e oportunidades de cooperação, baseando-se no acompanhamento, informação e representação e o estímulo às redes de pesquisas. E, por fim, o terceiro eixo é a facilitação na montagem de cooperações, incluindo, por exemplo, a participação na organização de missões de diretores do CNRS no Brasil ou de visitas de representantes de instituições brasileiras ao CNRS. Isso também inclui, evidentemente, a ajuda aos pesquisadores sobre as oportunidades e os instrumentos de cooperação, tais como os programas entre o CNRS e as instituições parceiras.
Entre as perspectivas de ação do escritório e de cooperação com o Brasil, está em andamento a renovação dos protocolos entre o CNRS e o CNPq, nosso parceiro tradicional e, de certa forma, o seu homólogo no Brasil. Nesse âmbito, novos acordos de cooperação são visados: a implantação de um GDRI (Groupement De Recherche International) em ótica quântica/nanomagnetismo (física) e um novo LIA (Laboratoire International Associé) em genética dos tumores (biomedicina).
Quais são as principais modalidades de apoio à pesquisa e como se pode fazer pedidos de financiamento?
Jean-Pierre Briot – O CNRS tem diversos instrumentos de cooperação internacional, a começar pelos projetos conjuntos/bilaterais, do tipo de intercâmbio de pesquisadores – com o CNPq, a Fapesp e a FioCruz, por exemplo -, que são programas análogos ao programa Capes-Cofecub. Depois, se passa a níveis de cooperação progressivamente mais estruturados e mais perenes e com melhores dotações, que, em ordem ascendente, são : Pics (Projet International de Coopération Scientifique), LIA (Laboratoire International Associé), GDRI (Groupement De Recherche International), e UMI (Unité Mixte Internationale). Existem atualmente um UMI, 3 LIAs e 9 Pics com o Brasil, referidos acima.
Além dos programas próprios ao CNRS ou dos quais ele participa (por exemplo, os programas regionais na América do Sul), existem igualmente outros programas: de intercâmbio de pesquisadores, como os Capes-Cofecub e USP-Cofecub; programas conjuntos com maiores dotações, entre a Agence Nationale de la Recherche (ANR) e a Finep, os programas europeus etc.
Vocês têm objetivos de cooperação em áreas de políticas públicas, como política ambiental, urbana, de desenvolvimento, políticas penais ou de segurança pública, etc?
Jean-Pierre Briot – O escritório não tem ainda uma visão suficientemente completa do conjunto das atividades e das oportunidades e prioridades em ciências humanas e sociais (SHS) com o Brasil, para responder de uma maneira muito precisa à questão. O escritório é recente, pois foi criado oficialmente em janeiro, e tornou-se operacional no início de fevereiro. Não obstante, vou dar uma resposta mais pessoal e prospectiva. Considero que o Brasil tem características fora do comum – escala, biodiversidade humana e biológica, temas relevantes em matéria de modelos de desenvolvimento etc. Apresenta, assim, além de sua excelência científica própria, objetos e escalas de estudo excepcionais. Pesquisadores brasileiros exploram soluções originais, por exemplo, em matéria de políticas de gestão da biodiversidade, notadamente na Amazônia, o que leva a questões específicas de gestão supranacional com a Guiana Francesa e, então, leva a outros temas sobre cooperação.
A França foi, e ainda permanece, o primeiro país de formação e de estágio – doutorado e pós-doc – de estudantes e pesquisadores brasileiros em SHS. As potencialidades são, em minha opinião, muito grandes e ainda insuficientemente exploradas.
Uma análise da cooperação existente entre o Brasil e a França em SHS -número de projetos, doutorados sanduíche, coorientações, missões, colóquios – mostra que elas são muito numerosas. Entretanto, elas permanecem frequentemente bastante individualizadas e pouco estruturadas. Sem dúvida, isto se deve em parte à natureza e à cultura da atividade dos pesquisadores em SHS, mais individualizada, diferentemente de disciplinas como, por exemplo, a física, que, em virtude da natureza das experiências que deve organizar, tem necessidade de equipes disciplinares fortes.
No entanto, existe um instituto na França que tem o papel aglutinador em matéria de pesquisa sobre as Américas: o Instituto das Américas (www.institutdesameriques.fr). Ele deve poder ajudar a estruturar a cooperação em SHS entre a França e o Brasil. Aliás, está sendo instalada uma representação – o Pôle Brésil de l’Institut des Amériques -, acolhido no Cendotec (Centro Franco-Brasileiro de Documentação Técnica e Científica) – www.comunidadefb.com.br – em São Paulo. O escritório está em contato com eles e acompanhará as suas ações.
Dê-nos um resumo do campo de pesquisas em inteligência artificial, especialmente a simulação de sistemas sociais para a resolução de problemas de cooperação e de decisão coletiva.
Jean-Pierre Briot – Não vou detalhar aqui as diferentes atividades em matéria de inteligência artificial, um ramo histórico e atualmente bastante ativo da informática, pois isso mereceria outra entrevista. Dado o caráter mais preciso da sua questão, vou enfocar um exemplo representativo, uma comunidade interdisciplinar muito interessante e muito ativa, no cruzamento da modelização, a simulação e a análise informática de processos sociais. Esta comunidade é ao mesmo tempo de origem muito diversa – informáticos, sociólogos, economistas, etc. – e bem conectada e unida. Ela tem uma revista de referência, o Journal of Artificial Societies and Social Simulation (JASSS) (jasss.soc.surrey.ac.uk).
Um dos movimentos importantes no interior desta comunidade é o ComMod (Companion Modeling) – www.commod.org. Ele reúne pesquisadores de diferentes disciplinas – agrônomos, ecologistas, hidrólogos, sociólogos, informáticos – e volta-se ao estudo e à construção de uma metodologia para a gestão participativa de recursos renováveis -interação de dinâmicas humanas, sociais e naturais. O movimento é um meio de ultrapassar as fronteiras disciplinares, e de levar em consideração a natureza complexa dos sistemas estudados, combinado com um aspecto de pesquisa voltada à ação.
Quais são as suas pesquisas neste campo, especialmente em cooperação com pesquisadores ou laboratórios brasileiros?
Jean-Pierre Briot – Em nível pessoal, e em decorrência de meu interesse crescente pela abordagem da comunidade ComMod, iniciei há cerca de quatro anos, com minha colega Marta Irving, professora da UFRJ, especialista em gestão social da biodiversidade, um projeto interdisciplinar e franco-brasileiro, sobre o acompanhamento informático da gestão participativa de espaços protegidos – em particular os parques nacionais -, para a proteção da biodiversidade e a inclusão social. Este projeto denomina-se SimParc (Simulation participative de la gestion de Parcs) – www-desir.lip6.fr/~briot/simparc. Ele inclui pesquisadores em gestão social da biodiversidade, notadamente do Programa de Pós-Graduação Eicos da UFRJ, e pesquisadores em informática, sobretudo do LIP6/UMPC-CNRS e da PUC-Rio.
O objetivo do SimParc é ajudar a compreender melhor, a formar e a acompanhar tais processos de gestão participativa, no nível do funcionamento do conselho de gestão de um parque, que inclui diferentes conselheiros, representantes de atores sociais – ambientalista, operador de turismo, comunidade – com interesses a priori potencialmente divergentes sobre as escolhas de políticas de conservação dos diferentes setores do parque. Por exemplo, uma escolha para conservação de uma espécie endêmica, ou, pelo contrário, uma abordagem mais flexível que permita o ecoturismo.
Deve-se lembrar que o projeto SimParc pode tornar-se realidade graças à conjunção de vários fatores. Inicialmente, a minha inclusão, pelo CNRS, durante dois anos, no Departamento de Informática da PUC-Rio, e a liberação de minhas responsabilidades de chefe de equipe em Paris, me deu a oportunidade e o tempo de explorar novos domínios.
O site do escritório do CNRS no Brasil é o www.cnrs-brasil.org.
Fonte: Inovação Tec.
O CNRS é a mais importante instituição pública de pesquisas da França, com longa trajetória de cooperação com pesquisadores brasileiros.
O escritório funcionará no Brasil sob a direção de Jean-Pierre Briot, membro do Laboratoire d’Informatique de Paris 6 (LIP6), um laboratório de ciência da computação conjunto da Universidade Pierre e Marie Curie (Paris 6) e do CNRS.
Na entrevista que segue, Briot revelou os projetos do centro de pesquisas francês no Brasil a Andrei Koerner, professor do Departamento de Ciência Política da Unicamp, que atualmente realiza pesquisa sobre Justiça Constitucional junto ao Institut des Études Politiques de Paris.
Quais são as perspectivas do CNRS acerca das atividades de pesquisa junto a instituições brasileiras?
Jean-Pierre Briot – O CNRS é a primeira instituição pública de pesquisas na França. Ele cobre todos os campos científicos e é estruturado em 10 Institutos – biologia, química, ecologia e meio ambiente, informática, matemática, ciências da engenharia, física, física nuclear e de partículas, ciências humanas e sociais, ciências do universo -, mais as ações interdisciplinares, entre as quais nanociências e desenvolvimento durável.
Em 2009, o orçamento do CNRS foi de 3,367 bilhões de euros.
O centro conta com 26 mil funcionários em seu quadro permanente – sendo que, destes, 11,6 mil são pesquisadores – e 7,6 mil contratados, como os pesquisadores associados e doutorandos. Possui 1,2 mil laboratórios, dos quais quase 90% são em parceria com estabelecimentos de ensino superior ou empresas. Publica, em média, 25 mil trabalhos científicos por ano, e mais de 50% deles são em coautoria com ao menos um laboratório estrangeiro. Está em primeiro lugar entre instituições públicas na França em registro de patentes: até 2009, por exemplo, havia registrado 3.765 patentes, 382 novas, das quais 44,5% já estão em exploração. Enfim, desde 1999 foram criadas 503 empresas de inovação, 42 apenas em 2009.
O Brasil é um parceiro estratégico do CNRS, notadamente por sua presença crescente na cena científica internacional, pois está em segundo lugar no aumento do número de publicações, depois da China; a França é o seu segundo parceiro científico, depois dos Estados Unidos; apresenta objetos de estudo e questões científicas muito importantes, como biodiversidade, modelos de desenvolvimento e outros. Sobre a biodiversidade, aliás, é preciso ressaltar a recente criação do Centro Franco-Brasileiro da Biodiversidade Amazônica.
É importante ressaltar também que o Brasil é o país com o qual a França tem a sua fronteira externa mais extensa. Enfim, existe um histórico de cooperação com a França, como, por exemplo, Claude Henri Gorceix, Oswaldo Cruz, Claude Lévi-Strauss etc.
O CNRS assinou quatro convênios com instituições de pesquisa brasileiras: o CNPq (desde 1975, prorrogada em 2007), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp/2004), a Fiocruz (2006) e a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb/2006).
Atualmente, o CNRS mantém vários acordos de cooperação com o Brasil, entre os quais com o Impa, no Rio de Janeiro. Outros três laboratórios associados – um com a Fiocruz em imunologia/biomedicina, outro com a UESC em Ilhéus (Bahia) em análises químicas e o terceiro, com a USP, UFSC e UFMG, em modelização do magnetismo. São nove projetos de cooperação científica, denominados Pics e 26 bilaterais – do tipo intercâmbio de pesquisadores -, mais 16 projetos regionais na América do Sul e uma participação no Réseau de Mathématiques Franco-Brésilien.
Vale ressaltar também que, em 2009, houve 858 missões de pesquisadores do CNRS no Brasil.
Quais são os objetivos do escritório do CNRS no país?
Jean-Pierre Briot – Este é o nono escritório do CNRS no exterior, sendo que os demais estão em Bruxelas (para a Europa); Hanói (para a Ásia); Johanesburgo (para a África); Moscou (para a Rússia e Comunidade dos Estados Independentes); Pequim (para a China); Santiago do Chile (para a América Latina); Tóquio (para o Japão e a Coréia); e Washington (para os Estados Unidos e o Canadá). Há o projeto de criar um décimo escritório na Índia. Pode-se observar que a quase totalidade dos escritórios são regionais, e o CNRS criou um dedicado apenas ao Brasil, o que mostra a importância e a vontade de parceria privilegiada com o país.
O CNRS Brasil está instalado na Maison de France, no Consulado Geral da França no Rio de Janeiro. Esta sede abriga também outros serviços franceses (Mission Economique, Chambre de Commerce) ou europeus (Consulados da Finlândia e da Alemanha). A localização oferece, além disso, proximidade com numerosas instituições científicas federais de excelência, como a Academia Brasileira de Ciências, Finep, Impa (matemática), Fiocruz (biomedicina) e CBPF (física), ao mesmo tempo em que assegura uma representação nacional para o conjunto dos parceiros científicos do país.
De um modo geral, o escritório CNRS Brasil tem por objetivo ajudar a ampliar a colaboração científica entre o CNRS e, de maneira mais geral, a França e o Brasil. Podem-se considerar três eixos de atividades principais. O primeiro é a representação do CNRS e de seus institutos científicos junto às instituições científicas brasileiras e, igualmente, a representação das instituições brasileiras e a informação sobre as políticas científicas do Brasil destinadas ao CNRS.
O segundo é identificar e/ou imaginar novas formas e oportunidades de cooperação, baseando-se no acompanhamento, informação e representação e o estímulo às redes de pesquisas. E, por fim, o terceiro eixo é a facilitação na montagem de cooperações, incluindo, por exemplo, a participação na organização de missões de diretores do CNRS no Brasil ou de visitas de representantes de instituições brasileiras ao CNRS. Isso também inclui, evidentemente, a ajuda aos pesquisadores sobre as oportunidades e os instrumentos de cooperação, tais como os programas entre o CNRS e as instituições parceiras.
Entre as perspectivas de ação do escritório e de cooperação com o Brasil, está em andamento a renovação dos protocolos entre o CNRS e o CNPq, nosso parceiro tradicional e, de certa forma, o seu homólogo no Brasil. Nesse âmbito, novos acordos de cooperação são visados: a implantação de um GDRI (Groupement De Recherche International) em ótica quântica/nanomagnetismo (física) e um novo LIA (Laboratoire International Associé) em genética dos tumores (biomedicina).
Quais são as principais modalidades de apoio à pesquisa e como se pode fazer pedidos de financiamento?
Jean-Pierre Briot – O CNRS tem diversos instrumentos de cooperação internacional, a começar pelos projetos conjuntos/bilaterais, do tipo de intercâmbio de pesquisadores – com o CNPq, a Fapesp e a FioCruz, por exemplo -, que são programas análogos ao programa Capes-Cofecub. Depois, se passa a níveis de cooperação progressivamente mais estruturados e mais perenes e com melhores dotações, que, em ordem ascendente, são : Pics (Projet International de Coopération Scientifique), LIA (Laboratoire International Associé), GDRI (Groupement De Recherche International), e UMI (Unité Mixte Internationale). Existem atualmente um UMI, 3 LIAs e 9 Pics com o Brasil, referidos acima.
Além dos programas próprios ao CNRS ou dos quais ele participa (por exemplo, os programas regionais na América do Sul), existem igualmente outros programas: de intercâmbio de pesquisadores, como os Capes-Cofecub e USP-Cofecub; programas conjuntos com maiores dotações, entre a Agence Nationale de la Recherche (ANR) e a Finep, os programas europeus etc.
Vocês têm objetivos de cooperação em áreas de políticas públicas, como política ambiental, urbana, de desenvolvimento, políticas penais ou de segurança pública, etc?
Jean-Pierre Briot – O escritório não tem ainda uma visão suficientemente completa do conjunto das atividades e das oportunidades e prioridades em ciências humanas e sociais (SHS) com o Brasil, para responder de uma maneira muito precisa à questão. O escritório é recente, pois foi criado oficialmente em janeiro, e tornou-se operacional no início de fevereiro. Não obstante, vou dar uma resposta mais pessoal e prospectiva. Considero que o Brasil tem características fora do comum – escala, biodiversidade humana e biológica, temas relevantes em matéria de modelos de desenvolvimento etc. Apresenta, assim, além de sua excelência científica própria, objetos e escalas de estudo excepcionais. Pesquisadores brasileiros exploram soluções originais, por exemplo, em matéria de políticas de gestão da biodiversidade, notadamente na Amazônia, o que leva a questões específicas de gestão supranacional com a Guiana Francesa e, então, leva a outros temas sobre cooperação.
A França foi, e ainda permanece, o primeiro país de formação e de estágio – doutorado e pós-doc – de estudantes e pesquisadores brasileiros em SHS. As potencialidades são, em minha opinião, muito grandes e ainda insuficientemente exploradas.
Uma análise da cooperação existente entre o Brasil e a França em SHS -número de projetos, doutorados sanduíche, coorientações, missões, colóquios – mostra que elas são muito numerosas. Entretanto, elas permanecem frequentemente bastante individualizadas e pouco estruturadas. Sem dúvida, isto se deve em parte à natureza e à cultura da atividade dos pesquisadores em SHS, mais individualizada, diferentemente de disciplinas como, por exemplo, a física, que, em virtude da natureza das experiências que deve organizar, tem necessidade de equipes disciplinares fortes.
No entanto, existe um instituto na França que tem o papel aglutinador em matéria de pesquisa sobre as Américas: o Instituto das Américas (www.institutdesameriques.fr). Ele deve poder ajudar a estruturar a cooperação em SHS entre a França e o Brasil. Aliás, está sendo instalada uma representação – o Pôle Brésil de l’Institut des Amériques -, acolhido no Cendotec (Centro Franco-Brasileiro de Documentação Técnica e Científica) – www.comunidadefb.com.br – em São Paulo. O escritório está em contato com eles e acompanhará as suas ações.
Dê-nos um resumo do campo de pesquisas em inteligência artificial, especialmente a simulação de sistemas sociais para a resolução de problemas de cooperação e de decisão coletiva.
Jean-Pierre Briot – Não vou detalhar aqui as diferentes atividades em matéria de inteligência artificial, um ramo histórico e atualmente bastante ativo da informática, pois isso mereceria outra entrevista. Dado o caráter mais preciso da sua questão, vou enfocar um exemplo representativo, uma comunidade interdisciplinar muito interessante e muito ativa, no cruzamento da modelização, a simulação e a análise informática de processos sociais. Esta comunidade é ao mesmo tempo de origem muito diversa – informáticos, sociólogos, economistas, etc. – e bem conectada e unida. Ela tem uma revista de referência, o Journal of Artificial Societies and Social Simulation (JASSS) (jasss.soc.surrey.ac.uk).
Um dos movimentos importantes no interior desta comunidade é o ComMod (Companion Modeling) – www.commod.org. Ele reúne pesquisadores de diferentes disciplinas – agrônomos, ecologistas, hidrólogos, sociólogos, informáticos – e volta-se ao estudo e à construção de uma metodologia para a gestão participativa de recursos renováveis -interação de dinâmicas humanas, sociais e naturais. O movimento é um meio de ultrapassar as fronteiras disciplinares, e de levar em consideração a natureza complexa dos sistemas estudados, combinado com um aspecto de pesquisa voltada à ação.
Quais são as suas pesquisas neste campo, especialmente em cooperação com pesquisadores ou laboratórios brasileiros?
Jean-Pierre Briot – Em nível pessoal, e em decorrência de meu interesse crescente pela abordagem da comunidade ComMod, iniciei há cerca de quatro anos, com minha colega Marta Irving, professora da UFRJ, especialista em gestão social da biodiversidade, um projeto interdisciplinar e franco-brasileiro, sobre o acompanhamento informático da gestão participativa de espaços protegidos – em particular os parques nacionais -, para a proteção da biodiversidade e a inclusão social. Este projeto denomina-se SimParc (Simulation participative de la gestion de Parcs) – www-desir.lip6.fr/~briot/simparc. Ele inclui pesquisadores em gestão social da biodiversidade, notadamente do Programa de Pós-Graduação Eicos da UFRJ, e pesquisadores em informática, sobretudo do LIP6/UMPC-CNRS e da PUC-Rio.
O objetivo do SimParc é ajudar a compreender melhor, a formar e a acompanhar tais processos de gestão participativa, no nível do funcionamento do conselho de gestão de um parque, que inclui diferentes conselheiros, representantes de atores sociais – ambientalista, operador de turismo, comunidade – com interesses a priori potencialmente divergentes sobre as escolhas de políticas de conservação dos diferentes setores do parque. Por exemplo, uma escolha para conservação de uma espécie endêmica, ou, pelo contrário, uma abordagem mais flexível que permita o ecoturismo.
Deve-se lembrar que o projeto SimParc pode tornar-se realidade graças à conjunção de vários fatores. Inicialmente, a minha inclusão, pelo CNRS, durante dois anos, no Departamento de Informática da PUC-Rio, e a liberação de minhas responsabilidades de chefe de equipe em Paris, me deu a oportunidade e o tempo de explorar novos domínios.
O site do escritório do CNRS no Brasil é o www.cnrs-brasil.org.
Fonte: Inovação Tec.
EB, Um grande Big Brother ( eu ri)
EB, Um grande Big Brother
DefesaNet
Desconhecemos autor. Contribuição enviada por um leitor. Uma busca na internet indicou que foi publicado em grupos de discussão de militares e no Alerta Total.
O Editor
Autor Desconhecido
“Modelo pra se dar bem na carreira militar” ao longo do tempo.
1964 – 1969
- Perfil: “Revolucionário caçador de comunista”.
- Estereotipo: Anti comunista ferrenho. Virou amante do Brasil, explorador e pioneiro da Amazônia. Só ele era pioneiro, descobridor da Amazônia, em pleno Séc XX. Democrata. Apoio incondicional ao regime militar. Entrava no quartel com o plástico “Brasil Ame-o ou Deixe-o” pregado no Fusca ou no Simca.
- Para ser “notado”: idealista, as vezes truculento na defesa dos “ ideais revolucionários”.
- Pensamento : “A farda é a nossa segunda pele”.
- Objetivo na carreira: Ser ministro de estado, prefeito ou governador de estado nomeado.
1969 – 1975
- Perfil : “ O Guerrilheiro “
- Estereotipo: Ex-combatente de “Xambioá”. Selvático. Guerreiro amante do infortúnio, "daí-me Senhor meu Deus o que Vos resta...”. Metido a besta, punidor de cadetes, gostava de posar de super homem.
- O que fazia para ser notado: Instrutor do CIGS e da SIEsp. Peito cheio de brevet.
- Pensamento: “A selva nos une”, “Tudo pela Amazônia”...
- Objetivo: Ser Presidente da República
1975 – 1980
A guerrilha acabou, agora vou informar.
- Perfil: “ O agente secreto”
- Estereotipo: Trabalhava a paisano, barbado, trajando terno barato, normalmente com o casaco do terno da cor diferente da calça. O status era pertencer ao “sistema”. Posava de bem informado, mas não passava de um fofoqueiro. Metido a intelectual. Discreto, com óculos escuros, mas estava escrito na testa que era milico.
- O que fazia: nada.
- Para ser notado: posava de James Bond (007).
- Objetivo: Servir no SNI ou no Gabinete Militar da Presidência.
1980 – 1984
“O regime começava a ruir ... Era hora de mudar o perfil
sem se comprometer, então surgiu o Militar Metrossexual.
- Perfil: O atleta, nada mais oportuno!
- Estereotipo: Amante dos esportes. Cursou a EsFEx. Normalmente sarado, sem barriga, bonitinho e bem casado. Era um verdadeiro Patricinho. Só andava de calção preto. Tinha horror de coturno, da tropa. O sucesso começava como instrutor da EsAO. Detestava cursos guerreiros, “PQD, Guerra na Selva?, jamais”!
- O que fazia para ser “notado”: Normalmente um sujeito corredor, corria de manhã , de tarde e à noite nas vilas militares pra todo mundo ver. Não bebia, não fumava e nem trepava. O ápice: quando corria com a esposa nas alamedas das vilas.
- Pensamento: “O preparo físico é pressuposto para o exercício da liderança”.
- Objetivo: Servir na EsEFEx ou viajar com a "CDE", de preferência para o exterior.
1985 – 1990
“O regime militar acabou, e agora? Como serei? Como serei?
Chegou a era dos “sabonetões”: Cheirosos, lisos e amargos...
- Perfil: O profissional, teórico, o doutrinário. Metido a disciplinador, durão com a tropa, intolerante com os saudosistas do regime, apolítico. Passou a não se lembrar do regime militar. Eu não era nem nascido na época...
- Para ser notado : entusiasta da FT 90, revisor da doutrina, e fazedor de manual. Era “o pensador militar”. Uniforme de passeio impecável. Camisa bege de plástico vincada. Pasta 007 brilhando.
- Pensamento: Pregava a volta aos quartéis. “O nosso lugar é nos quartéis”, dizia. Mas só ia lá pra inspecionar e encher o saco dos outros, e voltava correndo pro "gabinete". Vamos nos “profissionalizar” , como se antes ninguém fosse profissional. Embusteiro.
- O regime militar acabou. Intervenção militar? “Na minha opinião, jamais !”. “O sistema político nacional tem de se aperfeiçoar sem a presença dos militares”. Esse é o caminho da plenitude democrática”. Ou: "Se cada vez que houver um problema institucional os militares intervierem, o sistema jamais vai evoluir para a democracia plena" Eita caboco democrata!!
- Objetivo : Servir no “Gabinete”.
1990 – 1995
"A FT 90 e as outras foram pro saco então surgiu o...
- Perfil: O “gente boa”.
- Estereótipo : amigo de todo mundo, bom de papo, light, festeiro, não pune ninguém, apaziguador, família bem constituída.
- Para ser notado: Organiza festa junina no quartel ou no clube, churrasqueiro.
- Pensamento: “Precisamos nos relacionar com o meio civil, militar tem de sair do Quartel...”.
- Objetivo: Voltar a servir na Presidência.
1995 – 2000
Com a FT 2000, agora vai... Novas perspectivas, vamos encarar o novo milênio!
- Perfil: aí surgiu o “inteligente emocional”.
- Estereotipo: sujeito comunicativo, espirituoso, festeiro, jogava tênis no Clube do SMU, ruim mas jogava. Tocava muito mal um instrumento musical, palestrante de rolha, aviador, piloto de helicóptero ou motoqueiro nas horas vagas, pintor de quadros, humanista, amante de vinhos, conhecia todos os vinhos da adega do "Carrefour de Brasília", enturmado no meio civil, uma evolução do “gente boa”.
- Para ser notado: ajudava nas missas, cantava ou tocava nas reuniões sociais, participava da diretoria dos círculos militares. Dançarino nas festas, cantor e metido a gourmet. Dava recepções, jantares no Ap sintecado por ele na SQN 103.
- Pensamento: “É importante fazer “network”, sermos multifacetados.
- Objetivo: Participar de uma missão de paz, depois de jogar tênis com o Comandante do EB no SMU.
2000 – 2003
Vamos viajar...
- Perfil: O poliglota
- Estereotipo: humanista, intelectualizado, normalmente habilitado em três línguas, o português, o portunhol e o inglês do CEP. Alguns, mais ousados, de visão larga, falando “russo” e “mandarim” (chinês). Normalmente ostentando um distintivo de Missão de Paz, com muita história pra contar. Leitor assíduo da “Military Review”.
- Para ser notado: escreve artigo nas revistas militares sobre as suas experiências e desfila pelas unidades com a boina azul da ONU e aquele cachecol azul .... A glória seria ter um artigo publicado na “Military Review”...
- Pensamento: Estamos num mundo globalizado, temos que “interagir” com outros exércitos, viajar, “abrir a cabeça” e nos preocupar com os aspectos humanos e sociais da instituição e do país. Temos de contribuir para o resgate social da nação. O EB tem de participar. Eita caboco humanista!
- Objetivo: Inicialmente, "interagir", só ele... Viajando pro exterior. Voltar como adido no país onde participou da missão de paz. Afinal, tem experiência, e, depois, comprar um Ap em Brasília, em Águas Clara..
2003 – 2010
Tá tudo dominado.
- Estereotipo: Mudo
- Perfil: Mudo
- Para ser notado: Mudo
- Pensamento: Mudo
- Objetivo: Ela, a PETROBRÁS.
2010 – 2015 (PREVISÃO)
A bruxa governando...
- Estereotipo: Mudo
- Perfil: Mudo
- Pensamento: Mudo
- Para ser notado: Mudo
- Objetivo: Uma boquinha na “PETROSAL” está de bom tamanho.
2015 – 2020 (Uma triste possibilidade)
O EB acabou. Oficiais e sargentos aproveitados nos ministérios como mão-de-obra não especializada na administração, nos almoxarifados e nos serviços gerais, faxina e limpeza. Os quartéis do litoral ocupados pela PETROBRÁS como bases de apoio, alguns transformados em “resorts” de turismo para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, mediante licitações conduzidas pelos petistas. Os quartéis do interior desativados e cedidos a Força Nacional de Segurança e a Polícia Rodoviária Federal.
O governo conclui que são mais adestrados e melhor preparados para a segurança interna. Os Cadetes foram “lotados” na Polícia Rodoviária Federal, fizeram o curso obrigatório deles, de três meses, e já saíram ganhando R$ 5.300,00 por mês (valores de hoje!). Os quartéis na fronteira cedidos à Polícia Federal.
A AMAN virou a Universidade Rural do Vale do Paraíba (UVRP). O complexo da Vila Militar foi cedido a ONG “Viva a Periferia”, os imóveis transformados em moradia popular solidária e os quartéis em “centros de cultura cidadã”, com aulas de capoeira, berimbau, pintura, música, pagode e tamborim. O centro de ballet e culinária ficou nas instalações do antigo REsC.
A Brigada Paraquedista, desativada, deu lugar a ONG “Legião das Minorias”, congregando os segmentos gays, lésbicas e assemelhados numa corrente solidária dos que queriam e não podiam e os que podiam e não queriam.
DefesaNet
Desconhecemos autor. Contribuição enviada por um leitor. Uma busca na internet indicou que foi publicado em grupos de discussão de militares e no Alerta Total.
O Editor
Autor Desconhecido
“Modelo pra se dar bem na carreira militar” ao longo do tempo.
1964 – 1969
- Perfil: “Revolucionário caçador de comunista”.
- Estereotipo: Anti comunista ferrenho. Virou amante do Brasil, explorador e pioneiro da Amazônia. Só ele era pioneiro, descobridor da Amazônia, em pleno Séc XX. Democrata. Apoio incondicional ao regime militar. Entrava no quartel com o plástico “Brasil Ame-o ou Deixe-o” pregado no Fusca ou no Simca.
- Para ser “notado”: idealista, as vezes truculento na defesa dos “ ideais revolucionários”.
- Pensamento : “A farda é a nossa segunda pele”.
- Objetivo na carreira: Ser ministro de estado, prefeito ou governador de estado nomeado.
1969 – 1975
- Perfil : “ O Guerrilheiro “
- Estereotipo: Ex-combatente de “Xambioá”. Selvático. Guerreiro amante do infortúnio, "daí-me Senhor meu Deus o que Vos resta...”. Metido a besta, punidor de cadetes, gostava de posar de super homem.
- O que fazia para ser notado: Instrutor do CIGS e da SIEsp. Peito cheio de brevet.
- Pensamento: “A selva nos une”, “Tudo pela Amazônia”...
- Objetivo: Ser Presidente da República
1975 – 1980
A guerrilha acabou, agora vou informar.
- Perfil: “ O agente secreto”
- Estereotipo: Trabalhava a paisano, barbado, trajando terno barato, normalmente com o casaco do terno da cor diferente da calça. O status era pertencer ao “sistema”. Posava de bem informado, mas não passava de um fofoqueiro. Metido a intelectual. Discreto, com óculos escuros, mas estava escrito na testa que era milico.
- O que fazia: nada.
- Para ser notado: posava de James Bond (007).
- Objetivo: Servir no SNI ou no Gabinete Militar da Presidência.
1980 – 1984
“O regime começava a ruir ... Era hora de mudar o perfil
sem se comprometer, então surgiu o Militar Metrossexual.
- Perfil: O atleta, nada mais oportuno!
- Estereotipo: Amante dos esportes. Cursou a EsFEx. Normalmente sarado, sem barriga, bonitinho e bem casado. Era um verdadeiro Patricinho. Só andava de calção preto. Tinha horror de coturno, da tropa. O sucesso começava como instrutor da EsAO. Detestava cursos guerreiros, “PQD, Guerra na Selva?, jamais”!
- O que fazia para ser “notado”: Normalmente um sujeito corredor, corria de manhã , de tarde e à noite nas vilas militares pra todo mundo ver. Não bebia, não fumava e nem trepava. O ápice: quando corria com a esposa nas alamedas das vilas.
- Pensamento: “O preparo físico é pressuposto para o exercício da liderança”.
- Objetivo: Servir na EsEFEx ou viajar com a "CDE", de preferência para o exterior.
1985 – 1990
“O regime militar acabou, e agora? Como serei? Como serei?
Chegou a era dos “sabonetões”: Cheirosos, lisos e amargos...
- Perfil: O profissional, teórico, o doutrinário. Metido a disciplinador, durão com a tropa, intolerante com os saudosistas do regime, apolítico. Passou a não se lembrar do regime militar. Eu não era nem nascido na época...
- Para ser notado : entusiasta da FT 90, revisor da doutrina, e fazedor de manual. Era “o pensador militar”. Uniforme de passeio impecável. Camisa bege de plástico vincada. Pasta 007 brilhando.
- Pensamento: Pregava a volta aos quartéis. “O nosso lugar é nos quartéis”, dizia. Mas só ia lá pra inspecionar e encher o saco dos outros, e voltava correndo pro "gabinete". Vamos nos “profissionalizar” , como se antes ninguém fosse profissional. Embusteiro.
- O regime militar acabou. Intervenção militar? “Na minha opinião, jamais !”. “O sistema político nacional tem de se aperfeiçoar sem a presença dos militares”. Esse é o caminho da plenitude democrática”. Ou: "Se cada vez que houver um problema institucional os militares intervierem, o sistema jamais vai evoluir para a democracia plena" Eita caboco democrata!!
- Objetivo : Servir no “Gabinete”.
1990 – 1995
"A FT 90 e as outras foram pro saco então surgiu o...
- Perfil: O “gente boa”.
- Estereótipo : amigo de todo mundo, bom de papo, light, festeiro, não pune ninguém, apaziguador, família bem constituída.
- Para ser notado: Organiza festa junina no quartel ou no clube, churrasqueiro.
- Pensamento: “Precisamos nos relacionar com o meio civil, militar tem de sair do Quartel...”.
- Objetivo: Voltar a servir na Presidência.
1995 – 2000
Com a FT 2000, agora vai... Novas perspectivas, vamos encarar o novo milênio!
- Perfil: aí surgiu o “inteligente emocional”.
- Estereotipo: sujeito comunicativo, espirituoso, festeiro, jogava tênis no Clube do SMU, ruim mas jogava. Tocava muito mal um instrumento musical, palestrante de rolha, aviador, piloto de helicóptero ou motoqueiro nas horas vagas, pintor de quadros, humanista, amante de vinhos, conhecia todos os vinhos da adega do "Carrefour de Brasília", enturmado no meio civil, uma evolução do “gente boa”.
- Para ser notado: ajudava nas missas, cantava ou tocava nas reuniões sociais, participava da diretoria dos círculos militares. Dançarino nas festas, cantor e metido a gourmet. Dava recepções, jantares no Ap sintecado por ele na SQN 103.
- Pensamento: “É importante fazer “network”, sermos multifacetados.
- Objetivo: Participar de uma missão de paz, depois de jogar tênis com o Comandante do EB no SMU.
2000 – 2003
Vamos viajar...
- Perfil: O poliglota
- Estereotipo: humanista, intelectualizado, normalmente habilitado em três línguas, o português, o portunhol e o inglês do CEP. Alguns, mais ousados, de visão larga, falando “russo” e “mandarim” (chinês). Normalmente ostentando um distintivo de Missão de Paz, com muita história pra contar. Leitor assíduo da “Military Review”.
- Para ser notado: escreve artigo nas revistas militares sobre as suas experiências e desfila pelas unidades com a boina azul da ONU e aquele cachecol azul .... A glória seria ter um artigo publicado na “Military Review”...
- Pensamento: Estamos num mundo globalizado, temos que “interagir” com outros exércitos, viajar, “abrir a cabeça” e nos preocupar com os aspectos humanos e sociais da instituição e do país. Temos de contribuir para o resgate social da nação. O EB tem de participar. Eita caboco humanista!
- Objetivo: Inicialmente, "interagir", só ele... Viajando pro exterior. Voltar como adido no país onde participou da missão de paz. Afinal, tem experiência, e, depois, comprar um Ap em Brasília, em Águas Clara..
2003 – 2010
Tá tudo dominado.
- Estereotipo: Mudo
- Perfil: Mudo
- Para ser notado: Mudo
- Pensamento: Mudo
- Objetivo: Ela, a PETROBRÁS.
2010 – 2015 (PREVISÃO)
A bruxa governando...
- Estereotipo: Mudo
- Perfil: Mudo
- Pensamento: Mudo
- Para ser notado: Mudo
- Objetivo: Uma boquinha na “PETROSAL” está de bom tamanho.
2015 – 2020 (Uma triste possibilidade)
O EB acabou. Oficiais e sargentos aproveitados nos ministérios como mão-de-obra não especializada na administração, nos almoxarifados e nos serviços gerais, faxina e limpeza. Os quartéis do litoral ocupados pela PETROBRÁS como bases de apoio, alguns transformados em “resorts” de turismo para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, mediante licitações conduzidas pelos petistas. Os quartéis do interior desativados e cedidos a Força Nacional de Segurança e a Polícia Rodoviária Federal.
O governo conclui que são mais adestrados e melhor preparados para a segurança interna. Os Cadetes foram “lotados” na Polícia Rodoviária Federal, fizeram o curso obrigatório deles, de três meses, e já saíram ganhando R$ 5.300,00 por mês (valores de hoje!). Os quartéis na fronteira cedidos à Polícia Federal.
A AMAN virou a Universidade Rural do Vale do Paraíba (UVRP). O complexo da Vila Militar foi cedido a ONG “Viva a Periferia”, os imóveis transformados em moradia popular solidária e os quartéis em “centros de cultura cidadã”, com aulas de capoeira, berimbau, pintura, música, pagode e tamborim. O centro de ballet e culinária ficou nas instalações do antigo REsC.
A Brigada Paraquedista, desativada, deu lugar a ONG “Legião das Minorias”, congregando os segmentos gays, lésbicas e assemelhados numa corrente solidária dos que queriam e não podiam e os que podiam e não queriam.
'Não há solução militar para o conflito' / entrevista
27/07/2010
O Mundo
CHARLES KUPCHAN
WASHINGTON. Para Charles Kupchan, especialista em segurança e relações internacionais da Universidade Georgetown, o vazamento de informações poderá abalar ainda mais a controversa estratégia de guerra americana. Segundo ele, o conflito no Afeganistão não tem uma solução militar, mas sim política, e a condução de Washington ainda parece distante desse caminho.
O GLOBO: Como o senhor analisa as informações reveladas pelo site Wikileaks?
CHARLES KUPCHAN: Há detalhes vazados que são problemáticos, além de informações adicionais sobre o estado ruim das forças de segurança afegãs. Mas não há nada que muda drasticamente a compreensão do conflito. Os documentos foram divulgados numa hora em que a elite e a opinião pública têm se mostrado críticas à guerra. Agora, as novas informações apenas confirmam a suspeita de que o conflito não tem sido bem conduzido.
O governo e o futuro da guerra sofrerão algum impacto?
KUPCHAN: Há a possibilidade de perda contínua do ímpeto e o crescimento do ceticismo sobre se os esforços estão obtendo sucesso e valendo o sangue derramado. É este tipo de informação que pode solapar o impulso e o apoio à guerra.
Eu acredito que não há solução militar para o conflito, e que a parte mais importante da estratégia dos EUA para os próximos meses será a de modelar um tipo de pacto político, o mais sólido possível, que possibilite o início da retirada de tropas. Nesse sentido, o atual rumo não me agrada. É preciso haver um esforço para que seja criado um governo afegão em Cabul, que ele seja funcional. Mas também é preciso consciência de que esse governo não terá um controle real sobre o Afeganistão: terá de lutar e barganhar com diferentes comunidades, clãs e grupos. Eu estimularia contatos políticos informais. Não acredito que os talibãs possam ser derrotados, mas sim que possam ser suficientemente punidos para que vejam na negociação política a melhor alternativa
É uma guerra sem fim?
KUPCHAN: Os EUA, ao incentivarem a guerra, criam novos inimigos. Muitos dos insurgentes que estão lutando hoje não são extremistas ideológicos com a intenção de atacar os EUA em território americano. Estão lutando contra soldados americanos, que eles vêem como invasores. Quanto mais rápido os EUA reduzirem a sua presença e transferirem mais autoridade aos afegãos, melhor se tornará a situação.
Mas não parece ser esse o caminho escolhido no momento.
KUPCHAN: Vejo que, neste momento, o governo parece intencionado a perseguir os insurgentes em suas terras. Mas, nos bastidores, é difícil saber o que está ocorrendo no front político. Penso que, em termos de discussões e negociações por baixo da mesa — com paquistaneses, afegãos, talibãs, todo o mundo —, há muito mais acontecendo do que nós sabemos. (F.E.)
O Mundo
CHARLES KUPCHAN
WASHINGTON. Para Charles Kupchan, especialista em segurança e relações internacionais da Universidade Georgetown, o vazamento de informações poderá abalar ainda mais a controversa estratégia de guerra americana. Segundo ele, o conflito no Afeganistão não tem uma solução militar, mas sim política, e a condução de Washington ainda parece distante desse caminho.
O GLOBO: Como o senhor analisa as informações reveladas pelo site Wikileaks?
CHARLES KUPCHAN: Há detalhes vazados que são problemáticos, além de informações adicionais sobre o estado ruim das forças de segurança afegãs. Mas não há nada que muda drasticamente a compreensão do conflito. Os documentos foram divulgados numa hora em que a elite e a opinião pública têm se mostrado críticas à guerra. Agora, as novas informações apenas confirmam a suspeita de que o conflito não tem sido bem conduzido.
O governo e o futuro da guerra sofrerão algum impacto?
KUPCHAN: Há a possibilidade de perda contínua do ímpeto e o crescimento do ceticismo sobre se os esforços estão obtendo sucesso e valendo o sangue derramado. É este tipo de informação que pode solapar o impulso e o apoio à guerra.
Eu acredito que não há solução militar para o conflito, e que a parte mais importante da estratégia dos EUA para os próximos meses será a de modelar um tipo de pacto político, o mais sólido possível, que possibilite o início da retirada de tropas. Nesse sentido, o atual rumo não me agrada. É preciso haver um esforço para que seja criado um governo afegão em Cabul, que ele seja funcional. Mas também é preciso consciência de que esse governo não terá um controle real sobre o Afeganistão: terá de lutar e barganhar com diferentes comunidades, clãs e grupos. Eu estimularia contatos políticos informais. Não acredito que os talibãs possam ser derrotados, mas sim que possam ser suficientemente punidos para que vejam na negociação política a melhor alternativa
É uma guerra sem fim?
KUPCHAN: Os EUA, ao incentivarem a guerra, criam novos inimigos. Muitos dos insurgentes que estão lutando hoje não são extremistas ideológicos com a intenção de atacar os EUA em território americano. Estão lutando contra soldados americanos, que eles vêem como invasores. Quanto mais rápido os EUA reduzirem a sua presença e transferirem mais autoridade aos afegãos, melhor se tornará a situação.
Mas não parece ser esse o caminho escolhido no momento.
KUPCHAN: Vejo que, neste momento, o governo parece intencionado a perseguir os insurgentes em suas terras. Mas, nos bastidores, é difícil saber o que está ocorrendo no front político. Penso que, em termos de discussões e negociações por baixo da mesa — com paquistaneses, afegãos, talibãs, todo o mundo —, há muito mais acontecendo do que nós sabemos. (F.E.)
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Amplos horizontes para os pilotos que testam aviões
Concorrido curso da FAB forma profissionais que chegam a receber R$ 30 mil mensais em empresas privadas
Virgínia Silveira, para o Valor, de São José dos Campos
Pouco conhecido do público em geral, mas bastante valorizado pelo mercado onde está inserido, o piloto de prova é o profissional que testa aviões que ainda não voaram - chamados de protótipos. O trabalho envolve risco, precisão e muita habilidade. Essas características, aliadas ao alto nível de formação a que são submetidos, permitem que eles controlem qualquer tipo de aeronave, pois foram treinados para testar todos os limites técnicos e operacionais de um avião.
"Pilotar uma aeronave nova e ensiná-la a alçar os ares é como uma criança que está aprendendo a andar", define o piloto militar de prova Eitel de Melo Sousa, formado na ETPS (Empire Test Pilot School), do Reino Unido, e um criadores do curso de Ensaios em Voo da Aeronáutica brasileira. Acima de tudo, segundo ele, é um trabalho que exige planejamento. "Em média, para cada hora de voo de ensaio gasta-se cerca de 10 horas com preparação e mais 20 horas para analisar os dados e confeccionar o relatório", explica o comandante do Grupo Especial de Ensaios em Voo (GEEV), do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), em São José dos Campos, coronel Alan Elvis de Lima.
A experiência de voo e a capacidade para a tomada de decisões de emergência aportadas pelo curso do GEEV também ajudaram o militar Marcos César Pontes a se tornar o primeiro astronauta brasileiro. Pontes concluiu o curso de ensaios em voo em 1994 e alcançou o espaço em 2006, à bordo da nave russa Soyus TMA-8.
A excelência do curso da FAB trouxe ainda o reconhecimento internacional da conceituada Sociedade dos Pilotos de Prova de Aeronaves Experimentais (SETP), dos Estados Unidos. Além da escola brasileira, apenas seis no mundo - sendo três nos EUA, uma na Inglaterra, uma na França e outra na Índia, têm sua estrutura de ensino reconhecida pela SETP. Isso permite que os alunos do curso de ensaios em voo se tornem membros efetivos da entidade. A lista inclui nomes como o de Charles Lindbergh, primeiro homem que atravessou o Atlântico de avião, e o de Igor Sikorsky, pioneiro no desenvolvimento de helicópteros de grande porte, além de Howard Hughes, precursor dos satélites de comunicação e criador de um dos maiores aviões do mundo, o Spruce Goose.
Dois brasileiros figuram como membros honorários da SETP: Ozires Silva, um dos fundadores da Embraer, e o brigadeiro da reserva Hugo de Oliveira Piva, que coordenou o desenvolvimento de todos os foguetes de sondagem e armamentos guiados no Brasil no período de 1974 a 1987.
Desde 1986, quando foi iniciado, o curso de ensaios em voo do DCTA, em São José dos Campos, formou um total de 71 profissionais entre pilotos de prova de aviões e helicópteros. O curso também envolve a formação de engenheiros e de instrumentadores de ensaios, que somam mais 140 profissionais. A escola oferece ainda os cursos de recebimento de aeronaves prontas para entrar em operação, um processo posterior ao do ensaio em voo. Até o momento, segundo o comandante do GEEV, 131 pilotos de aviões e 68 de helicópteros, além de 31 engenheiros, tornaram-se especialistas no recebimento de aeronaves.
O total de pilotos de prova em atividade hoje nas Forças Armadas é de 38, sendo quatro da Marinha e no Exército e o restante da Aeronáutica. "A Aeronáutica conta ainda com mais 15 pilotos que já passaram pelo GEEV e ainda são oficiais da ativa com curso de ensaios em voo", explica o coronel Elvis. Quando atingem o tempo para aposentadoria na FAB, a maioria dos pilotos de prova vai trabalhar na iniciativa privada - em companhias de aviação comercial e executiva - e em empresas fabricantes de aeronaves como a Helibras e, principalmente, a Embraer.
Profissional ajuda a evitar erros na produção em série
A existência de um curso de piloto de prova com reconhecimento internacional no Brasil ajuda o país a economizar divisas. O preço de um curso de piloto de prova militar nos padrões da FAB é de US$ 1,2 milhão. "Isso sem incluir o salário e outros custos como transferência e passagens aéreas", explica o comandante do Grupo Especial de Ensaios em Voo (GEEV) do Departamento de Ciência e Tecnologia
Aeroespacial (DCTA), em São José dos Campos, coronel Alan Elvis de Lima.
Segundo ele, existem cursos mais baratos e de curta duração (nove semanas), equivalentes ao Curso Preparatório para Recebimento de Aeronaves (CPRA), que o DCTA também oferece. "Esse tipo de curso é vendido no exterior a um custo que fica entre US$ 200 mil e US$ 300 mil", afirma o comandante Elvis.
Em empresas como a Embraer, por exemplo, o piloto de prova é visto como um profissional indispensável nos processos de desenvolvimento e certificação de suas aeronaves, pois são eles que testam e voam os aviões antes mesmos de serem produzidos em série. "Hoje, temos 29 pilotos de ensaios em voo: 11 de origem militar e 6 civis", explica o piloto chefe da área de Ensaios em Voo da Embraer, Mozart Marques Louzada Júnior.
Segundo Louzada, os outros 12 pilotos, que não fizeram o curso, trabalham na parte de voos de produção, além de compor a tripulação para voos de desenvolvimento. Piloto de prova formado pela FAB, Louzada está na Embraer há 10 anos, desde que se aposentou da carreira militar.
O trabalho do piloto de prova, segundo ele, exige uma habilidade de pilotagem incomum e extremamente precisa, bem como conhecimento técnico de engenharia - em especial nas áreas de desempenho, aerodinâmica, mecânica e controle de voo.
As situações de risco também não devem ser descartadas pelos profissionais da área. "Durante um voo, uma bomba que tinha um paraquedas abriu debaixo da asa de um caça F-5 que eu estava pilotando. Tive de pousar com a bomba e, felizmente, tudo acabou bem", conta Eitel de Melo Sousa, expiloto de prova da FAB e atual chefe de Operações da Metro Táxi Aéreo, uma empresa do grupo Alfa, localizada em São Paulo.
"Costumamos dizer que a experiência de voo não significa apenas muitas horas de voo. Na aviação comercial, o comandante pode ligar o piloto automático e ir tomar um cafezinho. O piloto de prova primeiro participa do desenvolvimento de todo o avião e testa seus limites. Só depois ele pode instalar o piloto automático. É muito mais desafiador", garante Sousa.
Os salários dos pilotos de prova também são atrativos e atualmente giram em torno de R$ 30 mil na iniciativa privada. Nas empresas, eles, geralmente, também assumem funções de comando em razão do conhecimento técnico e operacional adquiridos ao longo da carreira. "Os pilotos comerciais têm um conhecimento de tráfego aéreo muito bom, possivelmente até melhor que o do piloto militar. Em relação à parte técnica da aeronave e habilidades em situações de emergência, no entanto, o piloto de prova está mais preparado", ressalta o diretor da Metro Táxi Aéreo.
Exame rigoroso exige avaliação de matemática e física
O processo de seleção de um piloto para o curso de ensaio em voo da FAB é um grande desafio a ser enfrentado por esses profissionais. São necessárias, no mínimo, 800 horas de voo, sendo que 200 horas em aeronaves a jato para os pilotos de asa fixa e 700 horas de voo em helicópteros para os pilotos de asas rotativas. Os candidatos ao curso de piloto de prova precisam ainda passar por um exame teórico de matemática e física.
O curso, segundo o comandante Alan Elvis de Lima, dura 45 semanas e a instrução terrestre contempla 650 tempos de aula. O treinamento aéreo prevê 120 horas de voo para pilotos e 100 horas de voo para engenheiros. No final do curso, os pilotos fazem um estágio de duas semanas em escolas parceiras do Brasil no exterior, onde têm a oportunidade de pilotar caças de outras forças aéreas, como o americano F-18, o europeu Eurofighter e o francês Mirage.
No caso dos engenheiros de ensaios em voo, o pré-requisito é a formação superior em engenharia - nas especialidades de aeronáutica, mecânica, eletrônica e computação eletrônica - envolvendo conhecimentos na área de software embarcado.
Primeira e única mulher na engenharia de ensaios em voo do Grupo Especial de Ensaios em Voo (GEEV), a engenheira Thaís Frachi Cruz é atualmente uma das profissionais mais experientes na parte de testes relacionados aos sistemas eletrônicos das aeronaves da FAB. O pioneirismo de Thaís começou no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), quando se tornou a primeira militar e engenheira eletrônica da instituição, em 2000.
"Estou muito satisfeita, pois o trabalho é desafiador e permite um aprendizado constante. Além disso, permite uma interação grande com vários setores da Força Aérea e a participação em missões em diferentes localidades", afirma Thaís, minutos antes de sair para participar de uma reunião no Rio de Janeiro sobre o programa de modernização da frota de aeronaves de patrulha marítima da FAB. A engenheira é uma das coordenadoras do projeto de modernização da frota de aeronaves Bandeirante da Aeronáutica.
Segundo Thaís, embora seja a única mulher engenheira de ensaios em voo, não existe diferença no convívio com os colegas de trabalho no que diz respeito ao tratamento e nas funções e obrigações a serem desempenhadas. "O que conta são a experiência e o conhecimento técnico", garante. Thaís atua no planejamento, execução e gerenciamento de ensaios em voo de modificação ou certificação de aeronaves e/ou sistemas embarcados.
Virgínia Silveira, para o Valor, de São José dos Campos
Pouco conhecido do público em geral, mas bastante valorizado pelo mercado onde está inserido, o piloto de prova é o profissional que testa aviões que ainda não voaram - chamados de protótipos. O trabalho envolve risco, precisão e muita habilidade. Essas características, aliadas ao alto nível de formação a que são submetidos, permitem que eles controlem qualquer tipo de aeronave, pois foram treinados para testar todos os limites técnicos e operacionais de um avião.
"Pilotar uma aeronave nova e ensiná-la a alçar os ares é como uma criança que está aprendendo a andar", define o piloto militar de prova Eitel de Melo Sousa, formado na ETPS (Empire Test Pilot School), do Reino Unido, e um criadores do curso de Ensaios em Voo da Aeronáutica brasileira. Acima de tudo, segundo ele, é um trabalho que exige planejamento. "Em média, para cada hora de voo de ensaio gasta-se cerca de 10 horas com preparação e mais 20 horas para analisar os dados e confeccionar o relatório", explica o comandante do Grupo Especial de Ensaios em Voo (GEEV), do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), em São José dos Campos, coronel Alan Elvis de Lima.
A experiência de voo e a capacidade para a tomada de decisões de emergência aportadas pelo curso do GEEV também ajudaram o militar Marcos César Pontes a se tornar o primeiro astronauta brasileiro. Pontes concluiu o curso de ensaios em voo em 1994 e alcançou o espaço em 2006, à bordo da nave russa Soyus TMA-8.
A excelência do curso da FAB trouxe ainda o reconhecimento internacional da conceituada Sociedade dos Pilotos de Prova de Aeronaves Experimentais (SETP), dos Estados Unidos. Além da escola brasileira, apenas seis no mundo - sendo três nos EUA, uma na Inglaterra, uma na França e outra na Índia, têm sua estrutura de ensino reconhecida pela SETP. Isso permite que os alunos do curso de ensaios em voo se tornem membros efetivos da entidade. A lista inclui nomes como o de Charles Lindbergh, primeiro homem que atravessou o Atlântico de avião, e o de Igor Sikorsky, pioneiro no desenvolvimento de helicópteros de grande porte, além de Howard Hughes, precursor dos satélites de comunicação e criador de um dos maiores aviões do mundo, o Spruce Goose.
Dois brasileiros figuram como membros honorários da SETP: Ozires Silva, um dos fundadores da Embraer, e o brigadeiro da reserva Hugo de Oliveira Piva, que coordenou o desenvolvimento de todos os foguetes de sondagem e armamentos guiados no Brasil no período de 1974 a 1987.
Desde 1986, quando foi iniciado, o curso de ensaios em voo do DCTA, em São José dos Campos, formou um total de 71 profissionais entre pilotos de prova de aviões e helicópteros. O curso também envolve a formação de engenheiros e de instrumentadores de ensaios, que somam mais 140 profissionais. A escola oferece ainda os cursos de recebimento de aeronaves prontas para entrar em operação, um processo posterior ao do ensaio em voo. Até o momento, segundo o comandante do GEEV, 131 pilotos de aviões e 68 de helicópteros, além de 31 engenheiros, tornaram-se especialistas no recebimento de aeronaves.
O total de pilotos de prova em atividade hoje nas Forças Armadas é de 38, sendo quatro da Marinha e no Exército e o restante da Aeronáutica. "A Aeronáutica conta ainda com mais 15 pilotos que já passaram pelo GEEV e ainda são oficiais da ativa com curso de ensaios em voo", explica o coronel Elvis. Quando atingem o tempo para aposentadoria na FAB, a maioria dos pilotos de prova vai trabalhar na iniciativa privada - em companhias de aviação comercial e executiva - e em empresas fabricantes de aeronaves como a Helibras e, principalmente, a Embraer.
Profissional ajuda a evitar erros na produção em série
A existência de um curso de piloto de prova com reconhecimento internacional no Brasil ajuda o país a economizar divisas. O preço de um curso de piloto de prova militar nos padrões da FAB é de US$ 1,2 milhão. "Isso sem incluir o salário e outros custos como transferência e passagens aéreas", explica o comandante do Grupo Especial de Ensaios em Voo (GEEV) do Departamento de Ciência e Tecnologia
Aeroespacial (DCTA), em São José dos Campos, coronel Alan Elvis de Lima.
Segundo ele, existem cursos mais baratos e de curta duração (nove semanas), equivalentes ao Curso Preparatório para Recebimento de Aeronaves (CPRA), que o DCTA também oferece. "Esse tipo de curso é vendido no exterior a um custo que fica entre US$ 200 mil e US$ 300 mil", afirma o comandante Elvis.
Em empresas como a Embraer, por exemplo, o piloto de prova é visto como um profissional indispensável nos processos de desenvolvimento e certificação de suas aeronaves, pois são eles que testam e voam os aviões antes mesmos de serem produzidos em série. "Hoje, temos 29 pilotos de ensaios em voo: 11 de origem militar e 6 civis", explica o piloto chefe da área de Ensaios em Voo da Embraer, Mozart Marques Louzada Júnior.
Segundo Louzada, os outros 12 pilotos, que não fizeram o curso, trabalham na parte de voos de produção, além de compor a tripulação para voos de desenvolvimento. Piloto de prova formado pela FAB, Louzada está na Embraer há 10 anos, desde que se aposentou da carreira militar.
O trabalho do piloto de prova, segundo ele, exige uma habilidade de pilotagem incomum e extremamente precisa, bem como conhecimento técnico de engenharia - em especial nas áreas de desempenho, aerodinâmica, mecânica e controle de voo.
As situações de risco também não devem ser descartadas pelos profissionais da área. "Durante um voo, uma bomba que tinha um paraquedas abriu debaixo da asa de um caça F-5 que eu estava pilotando. Tive de pousar com a bomba e, felizmente, tudo acabou bem", conta Eitel de Melo Sousa, expiloto de prova da FAB e atual chefe de Operações da Metro Táxi Aéreo, uma empresa do grupo Alfa, localizada em São Paulo.
"Costumamos dizer que a experiência de voo não significa apenas muitas horas de voo. Na aviação comercial, o comandante pode ligar o piloto automático e ir tomar um cafezinho. O piloto de prova primeiro participa do desenvolvimento de todo o avião e testa seus limites. Só depois ele pode instalar o piloto automático. É muito mais desafiador", garante Sousa.
Os salários dos pilotos de prova também são atrativos e atualmente giram em torno de R$ 30 mil na iniciativa privada. Nas empresas, eles, geralmente, também assumem funções de comando em razão do conhecimento técnico e operacional adquiridos ao longo da carreira. "Os pilotos comerciais têm um conhecimento de tráfego aéreo muito bom, possivelmente até melhor que o do piloto militar. Em relação à parte técnica da aeronave e habilidades em situações de emergência, no entanto, o piloto de prova está mais preparado", ressalta o diretor da Metro Táxi Aéreo.
Exame rigoroso exige avaliação de matemática e física
O processo de seleção de um piloto para o curso de ensaio em voo da FAB é um grande desafio a ser enfrentado por esses profissionais. São necessárias, no mínimo, 800 horas de voo, sendo que 200 horas em aeronaves a jato para os pilotos de asa fixa e 700 horas de voo em helicópteros para os pilotos de asas rotativas. Os candidatos ao curso de piloto de prova precisam ainda passar por um exame teórico de matemática e física.
O curso, segundo o comandante Alan Elvis de Lima, dura 45 semanas e a instrução terrestre contempla 650 tempos de aula. O treinamento aéreo prevê 120 horas de voo para pilotos e 100 horas de voo para engenheiros. No final do curso, os pilotos fazem um estágio de duas semanas em escolas parceiras do Brasil no exterior, onde têm a oportunidade de pilotar caças de outras forças aéreas, como o americano F-18, o europeu Eurofighter e o francês Mirage.
No caso dos engenheiros de ensaios em voo, o pré-requisito é a formação superior em engenharia - nas especialidades de aeronáutica, mecânica, eletrônica e computação eletrônica - envolvendo conhecimentos na área de software embarcado.
Primeira e única mulher na engenharia de ensaios em voo do Grupo Especial de Ensaios em Voo (GEEV), a engenheira Thaís Frachi Cruz é atualmente uma das profissionais mais experientes na parte de testes relacionados aos sistemas eletrônicos das aeronaves da FAB. O pioneirismo de Thaís começou no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), quando se tornou a primeira militar e engenheira eletrônica da instituição, em 2000.
"Estou muito satisfeita, pois o trabalho é desafiador e permite um aprendizado constante. Além disso, permite uma interação grande com vários setores da Força Aérea e a participação em missões em diferentes localidades", afirma Thaís, minutos antes de sair para participar de uma reunião no Rio de Janeiro sobre o programa de modernização da frota de aeronaves de patrulha marítima da FAB. A engenheira é uma das coordenadoras do projeto de modernização da frota de aeronaves Bandeirante da Aeronáutica.
Segundo Thaís, embora seja a única mulher engenheira de ensaios em voo, não existe diferença no convívio com os colegas de trabalho no que diz respeito ao tratamento e nas funções e obrigações a serem desempenhadas. "O que conta são a experiência e o conhecimento técnico", garante. Thaís atua no planejamento, execução e gerenciamento de ensaios em voo de modificação ou certificação de aeronaves e/ou sistemas embarcados.
domingo, 25 de julho de 2010
Disputa histórica por água
25/07/2010
Lydia Polgreen e Sabrina Tavernise The New York Times
Internacional
Índia e Paquistão, rivais antigos, agora lutam pela construção de uma rica hidrelétrica
No grande vale do Himalaia na Caxemira indiana desenha-se a mais recente disputa entre Índia e Paquistão. Desta vez, não se trata do chão em que pisam, o qual tem sido disputado desde a partilha sangrenta da Índia britânica em 1947, mas da água de geleiras de montanhas lançada em campos ressecados de fazendeiros na área agrícola central do Paquistão.
Trabalhadores indianos disputam para construir uma cara usina hidrelétrica em um vale remoto perto da região que vai abastecer a economia em rápida expansão, mas carente de e n e rg i a .
No Paquistão, o projeto gera temor de que a Índia, sua arqui-inimiga tenha o poder de manipular a água fluindo para a agroindústria, economia que emprega metade da população. Em maio, o país recorreu ao Tribunal Arbitral Internacional para impedir a obra.
Recurso vital A disputa, contudo, acrescenta mais volatilidade em um momento crítico para uma das relações mais perigosas do mundo, entre nações com armas nucleares profundamente desconfiadas, que já lutaram em três guerras.
Com as populações em rápido crescimento, a água é essencial para os dois países. O Paquistão contém o maior sistema de irrigação contíguo do mundo, dizem especialistas em água. Também tem sido um terreno cada vez mais fértil para recrutamento por grupos militantes, que se aproveitam da falta de oportunidade e do grande sentimento antiIacute;ndia.
Os rios que atravessam Punjabi, província mais populosa do Paquistão e centro da agroindústria, representam a salvação do país, e a disputa sobre o uso deles está no centro de temores envolvendo o vizinho maior e mais forte.
Para a Índia, os projetos hidrelétricos são essenciais para aproveitar a água do Himalaia, com o intuito de suprir a séria escassez de energia que afeta a economia. Cerca de 40% da população da Índia estão fora da rede elétrica, o que representa um obstáculo para a indústria.
O projeto do rio Kishenganga é parte crucial dos planos da Índia para preencher essa lacuna.
Embora a represa de Kishenganga seja permitida pelo tratado, a disputa é sobre como ela deve ser construída e sobre a liberação oportuna de água. O Paquistão considera que o escoamento na base da represa vai permitir à Índia a manipulação do fluxo de água, por exemplo, durante um período crucial da época do plantio.
– Isso torna o Paquistão muito vulnerável – disse um advogado paquistanês, que pediu que o nome não fosse revelado.
. – Não pode apenas nos avisar, ‘vocês devem confiar em nós’. Não confiamos; por isso temos um tratado.
Divisão das águas A Índia rejeitou qualquer sugestão que viole o tratado ou tente roubar água. Em um discurso no dia 13 de junho, a secretária das Relações Exteriores da Índia, Nirupama Rao, chamou as alegações de “propaganda de cunho emocional”, acrescentando que “o mito do roubo de água não resiste ao teste do escrutínio racional ou da razão”.
Os paquistaneses dizem ter motivo se preocupar.
Em 1948, um ano depois que o Paquistão e a Índia viraram Estados, um administrador na Índia fechou o abastecimento de água para inúmeros canais na Punjabi paquistanesa.
Autoridades indianas disseram posteriormente que houve uma desordem burocrática, mas no Paquistão, a memória não se apaga.
– Quando há uma arma apontada para sua cabeça, você não esquece – disse o advogado.
A disputa pela água não seria tão aguda, segundo especialistas, se a Índia e o Paquistão revelassem e compartilhassem dados sobre a água.
Em vez disso, a desconfiança e o antagonismo são tantos que os burocratas reuniram informações e tentam secretamente concluir projetos em cada um dos lados para serem os primeiros a ter algo concreto no solo.
– É como um casamento ruim em que condenamos papéis – disse o advogado paquistanês.
– Seria melhor se nos comunicássemos abertamente? Sim. Mas nas circunstâncias atuais nós não o fazemos.
Lydia Polgreen e Sabrina Tavernise The New York Times
Internacional
Índia e Paquistão, rivais antigos, agora lutam pela construção de uma rica hidrelétrica
No grande vale do Himalaia na Caxemira indiana desenha-se a mais recente disputa entre Índia e Paquistão. Desta vez, não se trata do chão em que pisam, o qual tem sido disputado desde a partilha sangrenta da Índia britânica em 1947, mas da água de geleiras de montanhas lançada em campos ressecados de fazendeiros na área agrícola central do Paquistão.
Trabalhadores indianos disputam para construir uma cara usina hidrelétrica em um vale remoto perto da região que vai abastecer a economia em rápida expansão, mas carente de e n e rg i a .
No Paquistão, o projeto gera temor de que a Índia, sua arqui-inimiga tenha o poder de manipular a água fluindo para a agroindústria, economia que emprega metade da população. Em maio, o país recorreu ao Tribunal Arbitral Internacional para impedir a obra.
Recurso vital A disputa, contudo, acrescenta mais volatilidade em um momento crítico para uma das relações mais perigosas do mundo, entre nações com armas nucleares profundamente desconfiadas, que já lutaram em três guerras.
Com as populações em rápido crescimento, a água é essencial para os dois países. O Paquistão contém o maior sistema de irrigação contíguo do mundo, dizem especialistas em água. Também tem sido um terreno cada vez mais fértil para recrutamento por grupos militantes, que se aproveitam da falta de oportunidade e do grande sentimento antiIacute;ndia.
Os rios que atravessam Punjabi, província mais populosa do Paquistão e centro da agroindústria, representam a salvação do país, e a disputa sobre o uso deles está no centro de temores envolvendo o vizinho maior e mais forte.
Para a Índia, os projetos hidrelétricos são essenciais para aproveitar a água do Himalaia, com o intuito de suprir a séria escassez de energia que afeta a economia. Cerca de 40% da população da Índia estão fora da rede elétrica, o que representa um obstáculo para a indústria.
O projeto do rio Kishenganga é parte crucial dos planos da Índia para preencher essa lacuna.
Embora a represa de Kishenganga seja permitida pelo tratado, a disputa é sobre como ela deve ser construída e sobre a liberação oportuna de água. O Paquistão considera que o escoamento na base da represa vai permitir à Índia a manipulação do fluxo de água, por exemplo, durante um período crucial da época do plantio.
– Isso torna o Paquistão muito vulnerável – disse um advogado paquistanês, que pediu que o nome não fosse revelado.
. – Não pode apenas nos avisar, ‘vocês devem confiar em nós’. Não confiamos; por isso temos um tratado.
Divisão das águas A Índia rejeitou qualquer sugestão que viole o tratado ou tente roubar água. Em um discurso no dia 13 de junho, a secretária das Relações Exteriores da Índia, Nirupama Rao, chamou as alegações de “propaganda de cunho emocional”, acrescentando que “o mito do roubo de água não resiste ao teste do escrutínio racional ou da razão”.
Os paquistaneses dizem ter motivo se preocupar.
Em 1948, um ano depois que o Paquistão e a Índia viraram Estados, um administrador na Índia fechou o abastecimento de água para inúmeros canais na Punjabi paquistanesa.
Autoridades indianas disseram posteriormente que houve uma desordem burocrática, mas no Paquistão, a memória não se apaga.
– Quando há uma arma apontada para sua cabeça, você não esquece – disse o advogado.
A disputa pela água não seria tão aguda, segundo especialistas, se a Índia e o Paquistão revelassem e compartilhassem dados sobre a água.
Em vez disso, a desconfiança e o antagonismo são tantos que os burocratas reuniram informações e tentam secretamente concluir projetos em cada um dos lados para serem os primeiros a ter algo concreto no solo.
– É como um casamento ruim em que condenamos papéis – disse o advogado paquistanês.
– Seria melhor se nos comunicássemos abertamente? Sim. Mas nas circunstâncias atuais nós não o fazemos.
Espiões ressurgem no xadrez diplomático
25/07/2010
Denise Chrispim Marin e Gustavo Chacra
Internacional
Nas últimas semanas, vários casos evocaram métodos de inteligência da era da Guerra Fria
Tão atraente quanto nos velhos tempos da Guerra Fria, a espionagem ressurgiu nos EUA em episódios que mostram que os antigos métodos sobrevivem enquanto as ameaças avançam para o terreno da informática. A KGB da ex-URSS deu lugar para inimigos múltiplos que figuram também entre parceiros de Washington. Nenhum deles é mais temido que a China e seu vasto empenho para absorver segredos por eletrônicos.
Os órgãos de inteligência americanos não têm dúvidas de que a China está por trás das intromissões nos sistemas mais seguros dos EUA nos últimos anos. O aparato chinês de espionagem cibernética ganhou prioridade em 2004, quando o presidente Hu Jintao determinou que fosse modernizado. Os investimentos anuais nessa área atingiram US$ 100 bilhões e envolveram a aquisição de empresas privadas, hoje em mãos do Exército.
Nesse processo, o complexo militar da Província de Hainan, uma ilha no sul da China, ampliou seu escopo de ação para a área de espionagem cibernética, com o auxílio de um satélite. Se a regra é espionar e ser espionado, no ano passado, a Marinha chinesa interceptou o navio Impeccable, da Marinha americana, a 75 milhas do local.
De acordo com dados publicados no McClatchy Newspapers por Richard Parker, especialista no tema, o custo para os EUA de combater a espionagem chinesa supera US$ 200 bilhões ao ano. No primeiro semestre de 2009, o Departamento de Defesa americano sofreu pelo menos 43,8 mil tentativas de bisbilhotagem informática da China.
Paralelamente, as velhas práticas de espionagem continuam tão presentes como há 50 anos. No mês passado, os EUA receberam de volta 14 de seus espiões que estavam presos na Rússia. A libertação foi o resultado de um acordo de troca de presos - o FBI havia encarcerado 12 pessoas que usavam práticas rudimentares de espionagem no país. Há dez dias, a CIA libertou o cientista iraniano Shahram Amiri, aparentemente depois de constatar que ele pouco poderia contribuir. Amiri acusou os EUA de o terem sequestrado em junho de 2009. Ao retornar a Teerã, foi aclamado pelo governo iraniano como seu espião.
Assim como jovens americanos se deixaram aliciar por grupos extremistas islâmicos nos últimos anos, pessoas maduras se revelaram espiãs de alto calibre. Neste mês, Walter Kendall Myers, um analista da área de inteligência e pesquisa do Departamento de Estado, foi condenado a quase 7 anos de prisão. Nos 30 anos de sua carreira, ele havia passado a Cuba informações secretas dos EUA.
"Na época da Guerra Fria a espionagem exigia dinheiro, dominar o idioma russo e conhecer as pessoas-alvo", afirmou Steven Clemons, diretor do Programa sobre Estratégia Americana da Fundação Nova América. "Hoje tudo é mais complexo, diversificado e fragmentado. Não basta falar outra língua, não há clareza sobre o que é ou não ameaça e de onde ela vem, e a espionagem envolve também empresas privadas e organizações não-governamentais", completou.
Boa parte desse oceano de dúvidas explica a monstruosa máquina levantada pelo governo de George W. Bush depois dos ataques terroristas do 11 de Setembro. Uma série de três reportagens publicadas nesta semana pelo Washington Post mostrou que essa estrutura envolve 1.271 organismos governamentais e 1.931 privados - dos quais 792 da área de tecnologia da informação.
Concentrado especialmente em Washington, esse aparato está espalhado em 33 edifícios e emprega 854 mil pessoas, todas munidas com os salvo-condutos concedidos a agentes secretos da área de segurança. De acordo com a reportagem, longe de resguardar o país, a magnitude dessa máquina expõe o país a vulnerabilidades na área de segurança. A duplicação de tarefas foi um dos problemas notados, além da produção de material em escala muito maior do que a capacidade de absorção das informações. "A obsessão pela informação torna a atividade de inteligência impraticável e mina a própria segurança do país. Esse é um problema que temos hoje", afirmou Clemons. "Eu costumava ser mais otimista em relação à organização e ao foco da inteligência americana."
FORA DA SOMBRA
Shahram Amiri - No dia 12, cientista iraniano entrou na embaixada do Paquistão em Washington e pediu para ser repatriado. Afirmou que fora sequestrado pela CIA e trazido aos EUA. Foi recebido como herói.
Walter Kendall Myers - Aos 73 anos, analista aposentado do Departamento de Estado foi condenado a 81 meses de prisão no dia 16. Myers repassara informações a Cuba.
"Vizinhos" russos - FBI prendeu 12 espiões a serviço da Rússia. Viviam como "americanizados" pacatos em bairros da classe média.
"Pearl Harbour virtual" - Google e outras corporações americanas na China acusam hackers locais de invadir seus sistemas e acessar dados de clientes. O suposto assalto virtual seria a maior invasão da história da espionagem digital
Denise Chrispim Marin e Gustavo Chacra
Internacional
Nas últimas semanas, vários casos evocaram métodos de inteligência da era da Guerra Fria
Tão atraente quanto nos velhos tempos da Guerra Fria, a espionagem ressurgiu nos EUA em episódios que mostram que os antigos métodos sobrevivem enquanto as ameaças avançam para o terreno da informática. A KGB da ex-URSS deu lugar para inimigos múltiplos que figuram também entre parceiros de Washington. Nenhum deles é mais temido que a China e seu vasto empenho para absorver segredos por eletrônicos.
Os órgãos de inteligência americanos não têm dúvidas de que a China está por trás das intromissões nos sistemas mais seguros dos EUA nos últimos anos. O aparato chinês de espionagem cibernética ganhou prioridade em 2004, quando o presidente Hu Jintao determinou que fosse modernizado. Os investimentos anuais nessa área atingiram US$ 100 bilhões e envolveram a aquisição de empresas privadas, hoje em mãos do Exército.
Nesse processo, o complexo militar da Província de Hainan, uma ilha no sul da China, ampliou seu escopo de ação para a área de espionagem cibernética, com o auxílio de um satélite. Se a regra é espionar e ser espionado, no ano passado, a Marinha chinesa interceptou o navio Impeccable, da Marinha americana, a 75 milhas do local.
De acordo com dados publicados no McClatchy Newspapers por Richard Parker, especialista no tema, o custo para os EUA de combater a espionagem chinesa supera US$ 200 bilhões ao ano. No primeiro semestre de 2009, o Departamento de Defesa americano sofreu pelo menos 43,8 mil tentativas de bisbilhotagem informática da China.
Paralelamente, as velhas práticas de espionagem continuam tão presentes como há 50 anos. No mês passado, os EUA receberam de volta 14 de seus espiões que estavam presos na Rússia. A libertação foi o resultado de um acordo de troca de presos - o FBI havia encarcerado 12 pessoas que usavam práticas rudimentares de espionagem no país. Há dez dias, a CIA libertou o cientista iraniano Shahram Amiri, aparentemente depois de constatar que ele pouco poderia contribuir. Amiri acusou os EUA de o terem sequestrado em junho de 2009. Ao retornar a Teerã, foi aclamado pelo governo iraniano como seu espião.
Assim como jovens americanos se deixaram aliciar por grupos extremistas islâmicos nos últimos anos, pessoas maduras se revelaram espiãs de alto calibre. Neste mês, Walter Kendall Myers, um analista da área de inteligência e pesquisa do Departamento de Estado, foi condenado a quase 7 anos de prisão. Nos 30 anos de sua carreira, ele havia passado a Cuba informações secretas dos EUA.
"Na época da Guerra Fria a espionagem exigia dinheiro, dominar o idioma russo e conhecer as pessoas-alvo", afirmou Steven Clemons, diretor do Programa sobre Estratégia Americana da Fundação Nova América. "Hoje tudo é mais complexo, diversificado e fragmentado. Não basta falar outra língua, não há clareza sobre o que é ou não ameaça e de onde ela vem, e a espionagem envolve também empresas privadas e organizações não-governamentais", completou.
Boa parte desse oceano de dúvidas explica a monstruosa máquina levantada pelo governo de George W. Bush depois dos ataques terroristas do 11 de Setembro. Uma série de três reportagens publicadas nesta semana pelo Washington Post mostrou que essa estrutura envolve 1.271 organismos governamentais e 1.931 privados - dos quais 792 da área de tecnologia da informação.
Concentrado especialmente em Washington, esse aparato está espalhado em 33 edifícios e emprega 854 mil pessoas, todas munidas com os salvo-condutos concedidos a agentes secretos da área de segurança. De acordo com a reportagem, longe de resguardar o país, a magnitude dessa máquina expõe o país a vulnerabilidades na área de segurança. A duplicação de tarefas foi um dos problemas notados, além da produção de material em escala muito maior do que a capacidade de absorção das informações. "A obsessão pela informação torna a atividade de inteligência impraticável e mina a própria segurança do país. Esse é um problema que temos hoje", afirmou Clemons. "Eu costumava ser mais otimista em relação à organização e ao foco da inteligência americana."
FORA DA SOMBRA
Shahram Amiri - No dia 12, cientista iraniano entrou na embaixada do Paquistão em Washington e pediu para ser repatriado. Afirmou que fora sequestrado pela CIA e trazido aos EUA. Foi recebido como herói.
Walter Kendall Myers - Aos 73 anos, analista aposentado do Departamento de Estado foi condenado a 81 meses de prisão no dia 16. Myers repassara informações a Cuba.
"Vizinhos" russos - FBI prendeu 12 espiões a serviço da Rússia. Viviam como "americanizados" pacatos em bairros da classe média.
"Pearl Harbour virtual" - Google e outras corporações americanas na China acusam hackers locais de invadir seus sistemas e acessar dados de clientes. O suposto assalto virtual seria a maior invasão da história da espionagem digital
sábado, 24 de julho de 2010
“O conflito é diplomático” / Entrevista - Javier Ponce
24/07/2010
Mundo
O Correio conversou por telefone com o ministro da Defesa do Equador, Javier Ponce, que ocupa a Presidência temporária do Conselho de Defesa da Unasul, sobre o papel do organismo regional para a solução de conflitos na região. Em Quito, ele disse que o órgão deve atuar mais a “médio prazo”, construindo a confiança mútua, enquanto a Unasul pode ter um papel político mais imediato.
O presidente do Equador disse que pediria uma reunião de emergência dos chanceleres da Unasul. O senhor pensa em fazer o mesmo no Conselho de Defesa?
Na verdade, quem pediu a reunião foi o governo da Venezuela, e o presidente Rafael Correa está analisando a possibilidade. Por enquanto, o Conselho de Defesa não tem prevista uma reunião.
Como o senhor avalia a crise entre Colômbia e Venezuela?
Minha percepção pessoal é de que teria sido preferível que fosse o novo presidente da Colômbia (Juan Manuel Santos) a tomar uma decisão a respeito da suposta presença de guerrilheiros das Farc na Venezuela — porque é ele quem terá de enfrentar o conflito.
O ministro da Defesa da Venezuela, general Carlos Mata, disse que as tropas estão em alerta máximo ante a possibilidade de “agressão” da Colômbia. Esse tipo de anúncio não aumenta a tensão?
Bom, mas a tensão se origina na denúncia da Colômbia — devemos ter isso claro. Acho que (os colombianos) deveriam ter buscado algum tipo de contato ou de acerto direto antes de chegar à denúncia pública. Então, desse ponto de vista, entendo que um anúncio como o da Colômbia explica a decisão venezuelana.
Por que a Colômbia preferiu levar o caso à OEA, em vez da Unasul?
Não é de estranhar, porque esse é fundamentalmente o papel da OEA. Quando Equador sofreu o ataque de março de 2008, levamos o caso à OEA.
Quando veremos os países sul-americanos levando questões desse tipo para consideração na Unasul e no Conselho de Defesa?
Acho que a Unasul também é cenário para analisarmos nossos conflitos, mas de outra perspectiva: mais da análise política, da integração regional. O papel da OEA é mais de recepção de demandas jurídicas. Nesse sentido, a Unasul chegará a tratar desse tema. O Conselho de Defesa, não necessariamente.
Em quais casos o senhor entende que o Conselho de Defesa poderia atuar?
O papel do Conselho de Defesa se refere à transparência e ao fluxo de informação sobre as forças armadas de cada país. O conflito entre Colômbia e Venezuela é eminentemente diplomático. Em função disso é que os chanceleres podem atuar. É certo que tem conotações de ordem militar, mas as preocupações do conselho vão mais para o lado de sustentar políticas de médio prazo, de criação de medidas de confiança, de abertura, de transparência da informação.
O senhor está otimista com a posse do ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos na Presidência da Colômbia?
Um novo governo cria um novo cenário, e não necessariamente esse cenário do novo governo colombiano vai ser o mesmo de Álvaro Uribe. Isso, evidentemente, cria expectativas de que as coisas sejam tratadas de outra maneira, com outra linguagem e em outras condições.
E como estão os preparativos para a reunião do Conselho de Defesa, prevista para 22 e 25 de novembro?
Esperamos que o encontro trate de aspectos substanciais do continente, que não fique apenas em temas de assistência por desastres naturais, com cooperação por meio da ONU, mas que se abordem realmente as questões da defesa de nossos países, as medidas necessárias de confiança mútua. Seguiremos avançando também no tema dos gastos militares, e a ideia final é conseguir níveis de homologação desses gastos — levando em conta, claro, as dimensões e as circunstâncias de cada país.
Mundo
O Correio conversou por telefone com o ministro da Defesa do Equador, Javier Ponce, que ocupa a Presidência temporária do Conselho de Defesa da Unasul, sobre o papel do organismo regional para a solução de conflitos na região. Em Quito, ele disse que o órgão deve atuar mais a “médio prazo”, construindo a confiança mútua, enquanto a Unasul pode ter um papel político mais imediato.
O presidente do Equador disse que pediria uma reunião de emergência dos chanceleres da Unasul. O senhor pensa em fazer o mesmo no Conselho de Defesa?
Na verdade, quem pediu a reunião foi o governo da Venezuela, e o presidente Rafael Correa está analisando a possibilidade. Por enquanto, o Conselho de Defesa não tem prevista uma reunião.
Como o senhor avalia a crise entre Colômbia e Venezuela?
Minha percepção pessoal é de que teria sido preferível que fosse o novo presidente da Colômbia (Juan Manuel Santos) a tomar uma decisão a respeito da suposta presença de guerrilheiros das Farc na Venezuela — porque é ele quem terá de enfrentar o conflito.
O ministro da Defesa da Venezuela, general Carlos Mata, disse que as tropas estão em alerta máximo ante a possibilidade de “agressão” da Colômbia. Esse tipo de anúncio não aumenta a tensão?
Bom, mas a tensão se origina na denúncia da Colômbia — devemos ter isso claro. Acho que (os colombianos) deveriam ter buscado algum tipo de contato ou de acerto direto antes de chegar à denúncia pública. Então, desse ponto de vista, entendo que um anúncio como o da Colômbia explica a decisão venezuelana.
Por que a Colômbia preferiu levar o caso à OEA, em vez da Unasul?
Não é de estranhar, porque esse é fundamentalmente o papel da OEA. Quando Equador sofreu o ataque de março de 2008, levamos o caso à OEA.
Quando veremos os países sul-americanos levando questões desse tipo para consideração na Unasul e no Conselho de Defesa?
Acho que a Unasul também é cenário para analisarmos nossos conflitos, mas de outra perspectiva: mais da análise política, da integração regional. O papel da OEA é mais de recepção de demandas jurídicas. Nesse sentido, a Unasul chegará a tratar desse tema. O Conselho de Defesa, não necessariamente.
Em quais casos o senhor entende que o Conselho de Defesa poderia atuar?
O papel do Conselho de Defesa se refere à transparência e ao fluxo de informação sobre as forças armadas de cada país. O conflito entre Colômbia e Venezuela é eminentemente diplomático. Em função disso é que os chanceleres podem atuar. É certo que tem conotações de ordem militar, mas as preocupações do conselho vão mais para o lado de sustentar políticas de médio prazo, de criação de medidas de confiança, de abertura, de transparência da informação.
O senhor está otimista com a posse do ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos na Presidência da Colômbia?
Um novo governo cria um novo cenário, e não necessariamente esse cenário do novo governo colombiano vai ser o mesmo de Álvaro Uribe. Isso, evidentemente, cria expectativas de que as coisas sejam tratadas de outra maneira, com outra linguagem e em outras condições.
E como estão os preparativos para a reunião do Conselho de Defesa, prevista para 22 e 25 de novembro?
Esperamos que o encontro trate de aspectos substanciais do continente, que não fique apenas em temas de assistência por desastres naturais, com cooperação por meio da ONU, mas que se abordem realmente as questões da defesa de nossos países, as medidas necessárias de confiança mútua. Seguiremos avançando também no tema dos gastos militares, e a ideia final é conseguir níveis de homologação desses gastos — levando em conta, claro, as dimensões e as circunstâncias de cada país.
Colômbia x Venezuela:a grande manipulação
Uribe tentou convencer a opinião pública que Chávez e Correa têm ligações com as Farc baseando-se em dados apreendidos na operação de 1º de março. Porém, as incongruências são inegáveis. Se Raul Reyes e a vegetação local não sobreviveram aos bombardeios, como os computadores saíram ilesos?
por Maurice Lemoine
1º de março de 2008, 00h25. Com uma exatidão implacável, a primeira das dez bombas “inteligentes” guiadas por GPS atinge seu alvo. Não estamos no Oriente Médio. A cena se passa no Equador, a dois quilômetros da fronteira com a Colômbia, onde o rio Putumayo separa os dois países. Quatro helicópteros Blackhawk OH-60 surgem no meio da noite. A bordo, escolhidos a dedo, 44 soldados da Força de Deslocamento Rápido da Colômbia (Fudra). Eles não terão de combater. No acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) devastado pelas explosões, 23 corpos inertes1. Foram mortos enquanto dormiam. Entre eles, Raúl Reyes, número dois e “ministro do exterior” da guerrilha. Seu corpo é levado como troféu.
De manhã bem cedo, o presidente colombiano Álvaro Uribe contata o equatoriano Rafael Correa. Explica-lhe a situação: unidades militares colombianas foram atacadas por disparos vindos do Equador. Em legítima defesa, responderam e perseguiram os rebeldes. No entanto, assegura que não houve “violação do espaço aéreo equatoriano”. Correa acredita na palavra do presidente colombiano. Falam-se todos os dias ao telefone e têm um relacionamento amigável. Duas semanas antes, diante de uma xícara de café, Correa teria confiado a um conselheiro próximo do chefe de Estado venezuelano: “Diga a Chávez que eu me entendo muito bem com Uribe e que, se quiser, posso ajudar a aparar as arestas entre eles”.
Porém, quando os militares equatorianos inspecionaram o local, a verdade apareceu: não somente os colombianos violaram o território do país vizinho como perpetraram um “massacre”, afirmou Correa durante sua coletiva de imprensa no dia 2 de março. O presidente equatoriano se sentiu traído. Duplamente traído. Quito rompeu então as relações diplomáticas com Bogotá e enviou onze mil homens para a fronteira. Caracas mandou dez batalhões para seus limites territoriais a oeste. Era uma decisão amadurecida, não uma reação irracional.
“Não queremos guerra”, avisou Chávez, “mas não permitiremos que o império, nem seu cachorrinho, venham nos enfraquecer”. Nenhum governo sul-americanos aprovou a investida. Em nome da “luta contra o terrorismo”, os Estados Unidos apoiaram Bogotá. Craig Kelly, representante do governo norte-americano, reafirmou tal posição em entrevista coletiva: “O que dissemos é que, em primeiro lugar, um Estado deve se defender contra a ameaça do terrorismo e que, quando se fala de fronteira, deve-se falar do contexto geral, ou seja, de uma violação contínua das fronteiras por parte das Farc”. “Isso significa, por exemplo, que se o México perseguisse narcotraficantes no território americano, os Estados Unidos não fariam nenhuma objeção à entrada de tropas do país vizinho no seu território?” perguntou um jornalista. “Não vou entrar numa discussão teórica” respondeu Kelly2.
A sombra de Washington pairou novamente quando Correa descobriu que seu Estado-maior havia mentido. A tensão atingiu seu auge quando o general Jorge Gabela, comandante da força aérea, explica que o radar mais próximo de Santa Rosa (zona em que se encontrava o acampamento das Farc) não funcionava havia vários dias porque estava em manutenção. Ao destituir o chefe dos serviços de informações, o coronel Mário Pazmiño, Correa destilou: “Basta de serviços de informações que são financiados pela embaixada dos Estados Unidos. Há oficiais aqui que trabalham para a CIA antes de trabalhar para o governo!”. Em seguida, o presidente substituiu o ministro da Defesa Wellington Sandoval por uma pessoa de sua confiança, Javier Ponce. A situação provocou a demissão de diversos chefes das forças armadas, como da Infantaria, Marinha e Aviação.
Porém uma importante base americana ainda opera no Equador. A concessão do Posto de Operações Avançado (Foreign Operating Location), alugado pelos Estados Unidos em 1999, vence em 2009, e durante sua campanha eleitoral, Correa prometeu que fecharia esta instalação, fixada em Manta. Assim, em 28 de fevereiro, a Assembléia Constituinte, reunida com o propósito de “refundar o país”, aprovou um artigo estabelecendo que “o Equador é um território de paz que não permite o estabelecimento de bases militares estrangeiras”. Mas, até que isso entre em prática, Manta continua uma das peças-chave de Washington no que se refere à sua ajuda militar à Colômbia e dispõe de tecnologia de ponta. No dia do ataque, a base auxiliou no controle do espaço aéreo.
Ao saber disso, Correa se enfureceu novamente. Bogotá rebateu as críticas anunciando que, durante sua incursão, o exército colombiano havia apreendido um computador portátil que pertencia a Reyes. E que esse material trazia segredos terríveis: os presidentes Chávez e Correa manteriam relação com as Farc. Na ausência de certezas, surgiram as primeiras indagações. O acampamento principal de Reyes ficava na Colômbia, próximo à fronteira3. Nessa região, as Farc dispunham de inúmeros esconderijos, refúgios e abrigos. Por que, então, o comandante guerrilheiro passou para o país vizinho com três computadores, dois discos rígidos e três chaves USB? O bombardeio fez 23 vítimas; os dez projéteis, segundo o exército equatoriano, abriram crateras de 2,40m de diâmetro por 1,80m de profundidade; a vegetação das redondezas foi devastada. Como os computadores escaparam ilesos?
Ainda assim, essas máquinas falaram. Ponta de lança de uma campanha permanente contra os governos progressistas da América Latina, o jornal espanhol El País , na edição de 12 de março, “informava” seus leitores: “As Farc encontram refúgio no Equador”. O artigo contava que “os guerrilheiros se deslocavam em caminhonetes pelo norte do Equador, como constatou um funcionário da OEA (Organização dos Estados Americanos), que expressa seu espanto de cruzar com guerrilheiros perfeitamente equipados em restaurantes da zona fronteiriça”. O que os mesmos leitores não ficam sabendo é que, no dia 15 de março, em uma carta endereçada ao diretor da publicação, o secretário geral da OEA, José Miguel Insulza, relata “sua surpresa e sua indignação” com a reportagem: “Posso assegurá-lo de que essa afirmação é absolutamente falsa. A OEA não tem missões especiais, nem funcionários de qualquer nível alocados na fronteira norte do Equador. É impossível que algum funcionário desta organização possa ter feito tal declaração”4.
A verdade é que Reyes e seu grupo de combatentes estavam no Equador por um motivo. Há longos meses, o comandante guerrilheiro era o principal contato de todos os emissários – franceses, suíços, espanhóis, venezuelanos, equatorianos – que negociavam com as Farc a libertação de seus prisioneiros e reféns, entre os quais a franco-colombiana Ingrid Betancourt. Uma semana antes da operação de 1º de março, emissários franceses encontraram no Panamá Luis Carlos Restrepo, Alto Comissário para Paz Colombiana, que recomendou: “Mantenham contato com Reyes. É ele quem vai ajudá-los na libertação de Ingrid Betancourt”. É mais uma explicação para a fúria de Correa: “Olhem a baixeza de Álvaro Uribe! Ele sabia que em março seriam libertados doze reféns, entre eles Ingrid Betancourt. Ele sabia disso e usou seus contatos para montar esta cilada”.
Troca humanitária
A guerrilha exigiu, por muito tempo, uma comunicação direta com o governo colombiano. Solicitavam uma “troca humanitária” – reféns por guerrilheiros – ou nada feito. A mediação veio apenas com Chávez. No dia 31 de agosto de 2007, a guerrilha libertou sete prisioneiros sem impor condições, o que causou reviravolta em uma situação paralisada há cinco anos. “As Farc entram numa lógica mais ‘política’, é um bom sinal para o futuro”, declarou Chávez. Desde 2002, haviam sido colocadas na lista de organizações terroristas, o que repudiam com veemência.
Mas a ajuda de Chávez não passaria incólume pela imprensa após a investida colombiana que matou Reyes. Já no dia 4 de março, o El País
Porém, como duvidar da veracidade de documentos cuja autenticidade foi confirmada pela International Criminal Police Organization, mais conhecida como Interpol? É um argumento incontornável sobre o qual se apóiam tanto Bogotá quanto o conjunto do grande circo midiático. Mas o exame cuidadoso dos fatos revela incongruências: no dia 4 de março, o general Naranjo – ex-chefe da polícia antidrogas da Colômbia, destituído do cargo quando seu irmão, Juan David, foi preso sob a acusação de narcotráfico – procurou a Interpol para que ela fizesse uma perícia independente das “oito provas digitais”. Tendo a organização consentido com o pedido, seu secretário geral, o americano Ronald K. Noble, apresentou o relatório para Bogotá em 15 de maio6.
De acordo com as análises feitas e as declarações de Noble, o campo de intervenção da Interpol limitou-se a “estabelecer os dados contidos nas oito provas; verificar se os arquivos de usuários7 haviam sido modificados de qualquer maneira no 1° de março de 2008 ou após essa data; e determinar se as autoridades colombianas haviam processado e examinado as oito provas, conforme os princípios reconhecidos em nível internacional”. Mas “a verificação não implicava a validação da exatidão dos arquivos de usuários [os documentos]”.
Em outras palavras, os peritos da Interpol (originários de Cingapura e da Austrália, que não falam espanhol) não examinaram qualquer conteúdo. Nos 609,6 gigabytes das oito “provas”, havia 37.873 documentos escritos, 452 planilhas de cálculo, 210.888 imagens, 22.481 páginas web, 7989 endereços de e-mail, 10.537 arquivos multimídia (som e vídeo), e 983 arquivos codificados. “Em termos não técnicos, tal volume de dados corresponderia a 39,5 milhões de páginas cheias no formato Word da Microsoft e, se a totalidade dos dados estivesse em formato Word. Seriam necessários mais de mil anos para analisá-los todos, à razão de cem páginas por dia”, avaliou a Interpol.
Muita coisa para um homem só. Reyes tinha 60 anos, deslocava-se sem parar na selva e vivia em condições precárias quando foi morto. Contudo, o governo colombiano, após poucas horas do término da operação, divulgou as tais revelações encontradas nos computadores. Era o suficiente para que muitos jornalistas orquestrassem os “documentos” – autenticados pela Interpol – numa trama suficientemente plausível.
Operação psicológica
Além disso, a organização policial contentou-se em retomar a versão de Bogotá, uma vez que nenhuma testemunha assistiu à suposta recuperação do material perto do corpo dos guerrilheiros. “Quem vai provar que os computadores foram de fato encontrados com as Farc?”, questionou o presidente Correa em 13 de maio.
Em uma primeira correspondência enviada à Interpol no dia 4 de março para solicitar ajuda, o general Naranjo menciona “três computadores e três dispositivos de armazenamento USB”. Em sua resposta datada de 5 de março, Noble aceita, em nome da organização, examinar “três computadores e três chaves USB”. Porém, no dia 6 de março, em uma carta de Maria del Pilar Hurtado, diretora do Departamento Administrativo de Segurança da Colômbia, à Interpol, o material em questão torna-se “três computadores portáteis, três chaves USB e dois discos rígidos”. De onde saíram esses discos rígidos? Passaram desapercebidos?
Resumindo, o relatório conclui que “nenhum dado foi criado, acrescentado, modificado ou excluído em nenhuma dessas provas entre 3 de março de 2008 às 11h 45 [dia e hora de seu recebimento pelo Grupo de Investigação das Infrações Informáticas da Polícia Judiciária Colombiana] e 10 de março de 2008, quando elas foram entregues aos peritos da Interpol a fim de gerar imagens-discos”. Também afirma que “o acesso aos dados, durante o mesmo período, foi efetuado conforme os princípios reconhecidos internacionalmente para o processamento de provas eletrônicas”.
Mas, e entre os dias 1º de março e 3 de março? Um agente da unidade antiterrorista colombiana “teve acesso direto ao conteúdo das oito provas em condições de extrema urgência” e todas elas foram conectadas a um computador “sem geração prévia de uma imagem de seu conteúdo e sem utilização de material de bloqueio”. De maneira que, durante esses três dias, “o acesso aos dados não foi efetuado conforme os princípios reconhecidos em nível internacional”. Lamentável quando se descobre que 48055 arquivos foram criados, abertos, modificados ou excluídos, conforme consta no relatório.
Nenhum tribunal poderia se basear nesses dados para julgar qualquer pessoa ou país. Mas os rumores correram e deram origem a grandes manchetes. Fatos duvidosos são passados como verdades e atingiram o Equador e, principalmente, a Venezuela. Se ainda não foram reunidas as condições para que este país entre na categoria de “Estado terrorista” ou de “Estado bandido”, essa campanha pretende consolidar isso na opinião pública. Na realidade, analisa Maximilien Arvelaiz, conselheiro próximo ao presidente Chávez, “George W. Bush quer deixar bombas-relógio a qualquer custo para que, independentemente do desfecho da eleição americana em novembro, seja muito difícil modificar a política dos Estados Unidos em relação à Venezuela”.
Vista de outro ângulo, esta psy-op(operação psicológica, no jargão da espionagem) torna muito difícil a retomada das negociações para a libertação dos reféns, afastando cada vez mais Equador e Venezuela da Colômbia. divulgou uma matéria com o título: “Bogotá revela os apoios das Farc”. Em outro artigo, “Os papéis das FARC acusam Chávez”, de 10 de maio – o primeiro de uma série de Maite Rico5 –, descobre-se que “Chávez aprovou sem pestanejar um pedido de US$ 300 milhões” da guerrilha. Desnecessário dizer que na Venezuela, os jornais El nacional e El Universal, assim como os canais privados Radio Caracas Televisión (RCTV) e Globovisión, se aproveitaram do banquete. Com entusiasmo, publicaram matérias com o governador do estado de Zulia e com o ex-candidato presidencial Manuel Rosales para acusar Chávez de “traição da pátria”. Um dos vários editoriais do Washington Post dedicados à Venezuela poderia, por si só, resumir a natureza dessa extraordinária campanha midiática: “Se o escândalo dos computadores for usado adequadamente, ele aprofundará o buraco no qual essa suposta ‘revolução bolivariana’ está se afundando”.
Maurice Lemoine é jornalista e redator-chefe do Le Monde Diplomatique.
1 Entre os mortos estavam um cidadão equatoriano e quatro jovens estudantes mexicanos. A 24ª vítima foi um soldado colombiano morto não “no fogo da batalha”, como o alegou Bogotá, mas por uma árvore que caiu sobre ele. Uma quinta mexicana, ferida, foi encontrada pelas autoridades equatorianas.
2 BBC Mundo, Londres, 7 de março de 2008.
3 Trata-se aqui de um fato comprovado, tendo-o encontrado ali o autor deste artigo. Ler “A Colômbia de Ingrid Betancourt”, Le Monde Diplomatique, abril de 2006.
4 Ver em www.vtv.gob.ve/detalle.php?s=2&id=4546.
5 Correspondente de El País no México nos anos 1990, Maite Rico distinguiu-se por sua hostilidade em relação ao Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). Publicou, com Bertrand de la Grange, à época, correspondente do Le Monde no país, Subcomandante Marcos. A impostura genial (Paris, Plon/Ifrane, 1998)
6 Para ler a transcrição da conferência de imprensa e o resumo do Relatório de perícia da Interpol nos computadores e no material informático das Farc apreendidos pela Colômbia, acesse o site da Interpol: www.interpol.int/Public/ICPO/speeches/2008/SGbogota20080516FR.asp
7 Os arquivos de “usuários” são diretamente gerados pelo usuário que é responsável por seus conteúdos.
Palavras chave: Colômbia, Venezuela, Ámercia Latina, Uribe, política américa latina
por Maurice Lemoine
1º de março de 2008, 00h25. Com uma exatidão implacável, a primeira das dez bombas “inteligentes” guiadas por GPS atinge seu alvo. Não estamos no Oriente Médio. A cena se passa no Equador, a dois quilômetros da fronteira com a Colômbia, onde o rio Putumayo separa os dois países. Quatro helicópteros Blackhawk OH-60 surgem no meio da noite. A bordo, escolhidos a dedo, 44 soldados da Força de Deslocamento Rápido da Colômbia (Fudra). Eles não terão de combater. No acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) devastado pelas explosões, 23 corpos inertes1. Foram mortos enquanto dormiam. Entre eles, Raúl Reyes, número dois e “ministro do exterior” da guerrilha. Seu corpo é levado como troféu.
De manhã bem cedo, o presidente colombiano Álvaro Uribe contata o equatoriano Rafael Correa. Explica-lhe a situação: unidades militares colombianas foram atacadas por disparos vindos do Equador. Em legítima defesa, responderam e perseguiram os rebeldes. No entanto, assegura que não houve “violação do espaço aéreo equatoriano”. Correa acredita na palavra do presidente colombiano. Falam-se todos os dias ao telefone e têm um relacionamento amigável. Duas semanas antes, diante de uma xícara de café, Correa teria confiado a um conselheiro próximo do chefe de Estado venezuelano: “Diga a Chávez que eu me entendo muito bem com Uribe e que, se quiser, posso ajudar a aparar as arestas entre eles”.
Porém, quando os militares equatorianos inspecionaram o local, a verdade apareceu: não somente os colombianos violaram o território do país vizinho como perpetraram um “massacre”, afirmou Correa durante sua coletiva de imprensa no dia 2 de março. O presidente equatoriano se sentiu traído. Duplamente traído. Quito rompeu então as relações diplomáticas com Bogotá e enviou onze mil homens para a fronteira. Caracas mandou dez batalhões para seus limites territoriais a oeste. Era uma decisão amadurecida, não uma reação irracional.
“Não queremos guerra”, avisou Chávez, “mas não permitiremos que o império, nem seu cachorrinho, venham nos enfraquecer”. Nenhum governo sul-americanos aprovou a investida. Em nome da “luta contra o terrorismo”, os Estados Unidos apoiaram Bogotá. Craig Kelly, representante do governo norte-americano, reafirmou tal posição em entrevista coletiva: “O que dissemos é que, em primeiro lugar, um Estado deve se defender contra a ameaça do terrorismo e que, quando se fala de fronteira, deve-se falar do contexto geral, ou seja, de uma violação contínua das fronteiras por parte das Farc”. “Isso significa, por exemplo, que se o México perseguisse narcotraficantes no território americano, os Estados Unidos não fariam nenhuma objeção à entrada de tropas do país vizinho no seu território?” perguntou um jornalista. “Não vou entrar numa discussão teórica” respondeu Kelly2.
A sombra de Washington pairou novamente quando Correa descobriu que seu Estado-maior havia mentido. A tensão atingiu seu auge quando o general Jorge Gabela, comandante da força aérea, explica que o radar mais próximo de Santa Rosa (zona em que se encontrava o acampamento das Farc) não funcionava havia vários dias porque estava em manutenção. Ao destituir o chefe dos serviços de informações, o coronel Mário Pazmiño, Correa destilou: “Basta de serviços de informações que são financiados pela embaixada dos Estados Unidos. Há oficiais aqui que trabalham para a CIA antes de trabalhar para o governo!”. Em seguida, o presidente substituiu o ministro da Defesa Wellington Sandoval por uma pessoa de sua confiança, Javier Ponce. A situação provocou a demissão de diversos chefes das forças armadas, como da Infantaria, Marinha e Aviação.
Porém uma importante base americana ainda opera no Equador. A concessão do Posto de Operações Avançado (Foreign Operating Location), alugado pelos Estados Unidos em 1999, vence em 2009, e durante sua campanha eleitoral, Correa prometeu que fecharia esta instalação, fixada em Manta. Assim, em 28 de fevereiro, a Assembléia Constituinte, reunida com o propósito de “refundar o país”, aprovou um artigo estabelecendo que “o Equador é um território de paz que não permite o estabelecimento de bases militares estrangeiras”. Mas, até que isso entre em prática, Manta continua uma das peças-chave de Washington no que se refere à sua ajuda militar à Colômbia e dispõe de tecnologia de ponta. No dia do ataque, a base auxiliou no controle do espaço aéreo.
Ao saber disso, Correa se enfureceu novamente. Bogotá rebateu as críticas anunciando que, durante sua incursão, o exército colombiano havia apreendido um computador portátil que pertencia a Reyes. E que esse material trazia segredos terríveis: os presidentes Chávez e Correa manteriam relação com as Farc. Na ausência de certezas, surgiram as primeiras indagações. O acampamento principal de Reyes ficava na Colômbia, próximo à fronteira3. Nessa região, as Farc dispunham de inúmeros esconderijos, refúgios e abrigos. Por que, então, o comandante guerrilheiro passou para o país vizinho com três computadores, dois discos rígidos e três chaves USB? O bombardeio fez 23 vítimas; os dez projéteis, segundo o exército equatoriano, abriram crateras de 2,40m de diâmetro por 1,80m de profundidade; a vegetação das redondezas foi devastada. Como os computadores escaparam ilesos?
Ainda assim, essas máquinas falaram. Ponta de lança de uma campanha permanente contra os governos progressistas da América Latina, o jornal espanhol El País , na edição de 12 de março, “informava” seus leitores: “As Farc encontram refúgio no Equador”. O artigo contava que “os guerrilheiros se deslocavam em caminhonetes pelo norte do Equador, como constatou um funcionário da OEA (Organização dos Estados Americanos), que expressa seu espanto de cruzar com guerrilheiros perfeitamente equipados em restaurantes da zona fronteiriça”. O que os mesmos leitores não ficam sabendo é que, no dia 15 de março, em uma carta endereçada ao diretor da publicação, o secretário geral da OEA, José Miguel Insulza, relata “sua surpresa e sua indignação” com a reportagem: “Posso assegurá-lo de que essa afirmação é absolutamente falsa. A OEA não tem missões especiais, nem funcionários de qualquer nível alocados na fronteira norte do Equador. É impossível que algum funcionário desta organização possa ter feito tal declaração”4.
A verdade é que Reyes e seu grupo de combatentes estavam no Equador por um motivo. Há longos meses, o comandante guerrilheiro era o principal contato de todos os emissários – franceses, suíços, espanhóis, venezuelanos, equatorianos – que negociavam com as Farc a libertação de seus prisioneiros e reféns, entre os quais a franco-colombiana Ingrid Betancourt. Uma semana antes da operação de 1º de março, emissários franceses encontraram no Panamá Luis Carlos Restrepo, Alto Comissário para Paz Colombiana, que recomendou: “Mantenham contato com Reyes. É ele quem vai ajudá-los na libertação de Ingrid Betancourt”. É mais uma explicação para a fúria de Correa: “Olhem a baixeza de Álvaro Uribe! Ele sabia que em março seriam libertados doze reféns, entre eles Ingrid Betancourt. Ele sabia disso e usou seus contatos para montar esta cilada”.
Troca humanitária
A guerrilha exigiu, por muito tempo, uma comunicação direta com o governo colombiano. Solicitavam uma “troca humanitária” – reféns por guerrilheiros – ou nada feito. A mediação veio apenas com Chávez. No dia 31 de agosto de 2007, a guerrilha libertou sete prisioneiros sem impor condições, o que causou reviravolta em uma situação paralisada há cinco anos. “As Farc entram numa lógica mais ‘política’, é um bom sinal para o futuro”, declarou Chávez. Desde 2002, haviam sido colocadas na lista de organizações terroristas, o que repudiam com veemência.
Mas a ajuda de Chávez não passaria incólume pela imprensa após a investida colombiana que matou Reyes. Já no dia 4 de março, o El País
Porém, como duvidar da veracidade de documentos cuja autenticidade foi confirmada pela International Criminal Police Organization, mais conhecida como Interpol? É um argumento incontornável sobre o qual se apóiam tanto Bogotá quanto o conjunto do grande circo midiático. Mas o exame cuidadoso dos fatos revela incongruências: no dia 4 de março, o general Naranjo – ex-chefe da polícia antidrogas da Colômbia, destituído do cargo quando seu irmão, Juan David, foi preso sob a acusação de narcotráfico – procurou a Interpol para que ela fizesse uma perícia independente das “oito provas digitais”. Tendo a organização consentido com o pedido, seu secretário geral, o americano Ronald K. Noble, apresentou o relatório para Bogotá em 15 de maio6.
De acordo com as análises feitas e as declarações de Noble, o campo de intervenção da Interpol limitou-se a “estabelecer os dados contidos nas oito provas; verificar se os arquivos de usuários7 haviam sido modificados de qualquer maneira no 1° de março de 2008 ou após essa data; e determinar se as autoridades colombianas haviam processado e examinado as oito provas, conforme os princípios reconhecidos em nível internacional”. Mas “a verificação não implicava a validação da exatidão dos arquivos de usuários [os documentos]”.
Em outras palavras, os peritos da Interpol (originários de Cingapura e da Austrália, que não falam espanhol) não examinaram qualquer conteúdo. Nos 609,6 gigabytes das oito “provas”, havia 37.873 documentos escritos, 452 planilhas de cálculo, 210.888 imagens, 22.481 páginas web, 7989 endereços de e-mail, 10.537 arquivos multimídia (som e vídeo), e 983 arquivos codificados. “Em termos não técnicos, tal volume de dados corresponderia a 39,5 milhões de páginas cheias no formato Word da Microsoft e, se a totalidade dos dados estivesse em formato Word. Seriam necessários mais de mil anos para analisá-los todos, à razão de cem páginas por dia”, avaliou a Interpol.
Muita coisa para um homem só. Reyes tinha 60 anos, deslocava-se sem parar na selva e vivia em condições precárias quando foi morto. Contudo, o governo colombiano, após poucas horas do término da operação, divulgou as tais revelações encontradas nos computadores. Era o suficiente para que muitos jornalistas orquestrassem os “documentos” – autenticados pela Interpol – numa trama suficientemente plausível.
Operação psicológica
Além disso, a organização policial contentou-se em retomar a versão de Bogotá, uma vez que nenhuma testemunha assistiu à suposta recuperação do material perto do corpo dos guerrilheiros. “Quem vai provar que os computadores foram de fato encontrados com as Farc?”, questionou o presidente Correa em 13 de maio.
Em uma primeira correspondência enviada à Interpol no dia 4 de março para solicitar ajuda, o general Naranjo menciona “três computadores e três dispositivos de armazenamento USB”. Em sua resposta datada de 5 de março, Noble aceita, em nome da organização, examinar “três computadores e três chaves USB”. Porém, no dia 6 de março, em uma carta de Maria del Pilar Hurtado, diretora do Departamento Administrativo de Segurança da Colômbia, à Interpol, o material em questão torna-se “três computadores portáteis, três chaves USB e dois discos rígidos”. De onde saíram esses discos rígidos? Passaram desapercebidos?
Resumindo, o relatório conclui que “nenhum dado foi criado, acrescentado, modificado ou excluído em nenhuma dessas provas entre 3 de março de 2008 às 11h 45 [dia e hora de seu recebimento pelo Grupo de Investigação das Infrações Informáticas da Polícia Judiciária Colombiana] e 10 de março de 2008, quando elas foram entregues aos peritos da Interpol a fim de gerar imagens-discos”. Também afirma que “o acesso aos dados, durante o mesmo período, foi efetuado conforme os princípios reconhecidos internacionalmente para o processamento de provas eletrônicas”.
Mas, e entre os dias 1º de março e 3 de março? Um agente da unidade antiterrorista colombiana “teve acesso direto ao conteúdo das oito provas em condições de extrema urgência” e todas elas foram conectadas a um computador “sem geração prévia de uma imagem de seu conteúdo e sem utilização de material de bloqueio”. De maneira que, durante esses três dias, “o acesso aos dados não foi efetuado conforme os princípios reconhecidos em nível internacional”. Lamentável quando se descobre que 48055 arquivos foram criados, abertos, modificados ou excluídos, conforme consta no relatório.
Nenhum tribunal poderia se basear nesses dados para julgar qualquer pessoa ou país. Mas os rumores correram e deram origem a grandes manchetes. Fatos duvidosos são passados como verdades e atingiram o Equador e, principalmente, a Venezuela. Se ainda não foram reunidas as condições para que este país entre na categoria de “Estado terrorista” ou de “Estado bandido”, essa campanha pretende consolidar isso na opinião pública. Na realidade, analisa Maximilien Arvelaiz, conselheiro próximo ao presidente Chávez, “George W. Bush quer deixar bombas-relógio a qualquer custo para que, independentemente do desfecho da eleição americana em novembro, seja muito difícil modificar a política dos Estados Unidos em relação à Venezuela”.
Vista de outro ângulo, esta psy-op(operação psicológica, no jargão da espionagem) torna muito difícil a retomada das negociações para a libertação dos reféns, afastando cada vez mais Equador e Venezuela da Colômbia. divulgou uma matéria com o título: “Bogotá revela os apoios das Farc”. Em outro artigo, “Os papéis das FARC acusam Chávez”, de 10 de maio – o primeiro de uma série de Maite Rico5 –, descobre-se que “Chávez aprovou sem pestanejar um pedido de US$ 300 milhões” da guerrilha. Desnecessário dizer que na Venezuela, os jornais El nacional e El Universal, assim como os canais privados Radio Caracas Televisión (RCTV) e Globovisión, se aproveitaram do banquete. Com entusiasmo, publicaram matérias com o governador do estado de Zulia e com o ex-candidato presidencial Manuel Rosales para acusar Chávez de “traição da pátria”. Um dos vários editoriais do Washington Post dedicados à Venezuela poderia, por si só, resumir a natureza dessa extraordinária campanha midiática: “Se o escândalo dos computadores for usado adequadamente, ele aprofundará o buraco no qual essa suposta ‘revolução bolivariana’ está se afundando”.
Maurice Lemoine é jornalista e redator-chefe do Le Monde Diplomatique.
1 Entre os mortos estavam um cidadão equatoriano e quatro jovens estudantes mexicanos. A 24ª vítima foi um soldado colombiano morto não “no fogo da batalha”, como o alegou Bogotá, mas por uma árvore que caiu sobre ele. Uma quinta mexicana, ferida, foi encontrada pelas autoridades equatorianas.
2 BBC Mundo, Londres, 7 de março de 2008.
3 Trata-se aqui de um fato comprovado, tendo-o encontrado ali o autor deste artigo. Ler “A Colômbia de Ingrid Betancourt”, Le Monde Diplomatique, abril de 2006.
4 Ver em www.vtv.gob.ve/detalle.php?s=2&id=4546.
5 Correspondente de El País no México nos anos 1990, Maite Rico distinguiu-se por sua hostilidade em relação ao Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). Publicou, com Bertrand de la Grange, à época, correspondente do Le Monde no país, Subcomandante Marcos. A impostura genial (Paris, Plon/Ifrane, 1998)
6 Para ler a transcrição da conferência de imprensa e o resumo do Relatório de perícia da Interpol nos computadores e no material informático das Farc apreendidos pela Colômbia, acesse o site da Interpol: www.interpol.int/Public/ICPO/speeches/2008/SGbogota20080516FR.asp
7 Os arquivos de “usuários” são diretamente gerados pelo usuário que é responsável por seus conteúdos.
Palavras chave: Colômbia, Venezuela, Ámercia Latina, Uribe, política américa latina
Opinião: um navio-escola para a Marinha Mercante
Escrito por Paulo Maia
O almirante estadunidense Alfred Thayer Mahan (1840-1914), um dos precursores do estudo da Geopolítica, reconheceu a fundamental importância do mar na realização da Política Nacional. Em seu entendimento do Poder Marítimo destacava que o mesmo não poderia ser baseado somente no Poder Naval representado pela existência de uma Marinha de Guerra, mas, também, de uma relevante Marinha Mercante, além de bases navais, estaleiros ativos e portos marítimos e fluviais eficientes. No Brasil a interpretação histórica do conceito e o seu aprofundamento, com base em fundamentos doutrinários, apontaram a definição de Poder Marítimo como sendo “... a capacidade resultante da integração dos recursos de que dispõe a nação para a utilização do mar e águas interiores, quer como instrumento de ação política e militar, quer como fator de desenvolvimento econômico e social, visando conquistar e manter os objetivos nacionais”.
Considerando a validade universal desta definição, o Poder Marítimo representa a parcela do Poder Nacional relacionado ao uso do mar. Sendo integrado pelo Poder Naval, Marinha Mercante, infraestrutura marítima e hidroviária, indústria naval, indústria pesqueira, organizações e meios de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, organizações, meios de explotação e exploração dos recursos do mar e os estabelecimentos destinados à formação e treinamento de pessoal para tais atividades. Assim, a Marinha do Brasil (MB) é a grande responsável pela orientação do preparo e aplicação do Poder Marítimo e do Poder Naval.
Finalmente, após vários anos de grave abandono, o Poder Marítimo nacional começa a ser restabelecido através de ações que culminaram com a criação do Ministério da Pesca, investimentos na infraestrutura portuária, na aprovação do Plano de Equipamento e Articulação da MB e na implementação do Programa de Mobilização da Indústria Nacional Marítima (PROMINP), abrangendo transporte aquaviário, construção e reparos navais, portos e terminais e indústria de navipeças. Em sintonia com esse processo modernizador, a Transpetro, subsidiária da Petrobras, através do seu Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (PROMEF), encomendou a estaleiros nacionais, em uma primeira etapa, o PROMEF-1; um total de 23 navios, sendo que uma segunda etapa, o PROMEF-2, com um total de 28 navios já teve a sua concorrência realizada. A essas encomendas podem ser somadas mais 39 unidades destinadas à navegação de cabotagem nos próximos sete anos.
A rápida recuperação da construção naval nacional implica na necessidade de formação de pessoal especializado para tripular os novos navios a serem incorporados. No momento a Marinha Mercante brasileira conta, através da Diretoria de Portos e Costas (DPC) do Comando da Marinha, com uma estrutura de formação de pessoal aquaviário pelo Sistema do Ensino Profissional Marítimo. O objetivo é formar, aperfeiçoar e atualizar todos os profissionais da área e os cursos são realizados nas capitanias dos portos, delegacias e agências marítimas ou fluviais e pelos centros de instrução que abrangem as Escolas de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (EFOMM) Almirante Graça Aranha (CIAGA), no Rio de Janeiro (RJ) e Almirante Braz de Aguiar (CIABA) em Belém (PA) . Esses centros possuem condições para oferecer ensino de acordo com os padrões estabelecidos pela Organização Marítima Internacional (IMO).
Consciente da premente necessidade de formação de oficiais, a MB aumentou recentemente de 180 para 330 as vagas de admissão para alunos no concurso para as EFOMM. Entretanto, faltam no momento os meios para traduzir na prática o nível de aprendizado em sala de aula, para os futuros oficiais. Na MB os guarda-marinha têm a oportunidade de se exercitar nos conhecimentos teóricos adquiridos nos quatro anos de Escola Naval com a viagem de instrução a bordo do navio-escola Brasil. Até há pouco tempo, era possível o embarque dos alunos das EFOMM nos navios transporte da Classe Barroso Pereira, muito semelhantes aos navios mercantes. Com a sua retirada de serviço ocorrerá um hiato na formação do pessoal, uma vez que os atuais navios em operação (NDCC e NDD) têm características predominantemente militares. Uma solução paliativa seria o fretamento de um navio mercante para atuar como escola, embora esta solução possa não ser a melhor, uma vez que não teria acomodações adequadas, além de não dispor, por exemplo, de salas de aula e simuladores específicos.
A melhor solução, talvez inédita no mundo, seria a MB obter, com recursos do Fundo de Marinha Mercante ou do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um navio-escola, com alojamentos para alunos de ambos os sexos, salas de aula, circuito interno de TV, câmara de instrução com mesas de navegação, repetidoras-radar e de giro, anemômetro e odômetro, repetidoras de giro para navegação visual, simuladores de passadiço, de controle de máquinas, um convés para abrigar cargas em containeres e um pequeno porão com guindastes de movimentação. Esse navio traria um novo conceito na formação de oficiais para a Marinha Mercante, compatível com a modernidade de pensamento vigente na MB.
O almirante estadunidense Alfred Thayer Mahan (1840-1914), um dos precursores do estudo da Geopolítica, reconheceu a fundamental importância do mar na realização da Política Nacional. Em seu entendimento do Poder Marítimo destacava que o mesmo não poderia ser baseado somente no Poder Naval representado pela existência de uma Marinha de Guerra, mas, também, de uma relevante Marinha Mercante, além de bases navais, estaleiros ativos e portos marítimos e fluviais eficientes. No Brasil a interpretação histórica do conceito e o seu aprofundamento, com base em fundamentos doutrinários, apontaram a definição de Poder Marítimo como sendo “... a capacidade resultante da integração dos recursos de que dispõe a nação para a utilização do mar e águas interiores, quer como instrumento de ação política e militar, quer como fator de desenvolvimento econômico e social, visando conquistar e manter os objetivos nacionais”.
Considerando a validade universal desta definição, o Poder Marítimo representa a parcela do Poder Nacional relacionado ao uso do mar. Sendo integrado pelo Poder Naval, Marinha Mercante, infraestrutura marítima e hidroviária, indústria naval, indústria pesqueira, organizações e meios de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, organizações, meios de explotação e exploração dos recursos do mar e os estabelecimentos destinados à formação e treinamento de pessoal para tais atividades. Assim, a Marinha do Brasil (MB) é a grande responsável pela orientação do preparo e aplicação do Poder Marítimo e do Poder Naval.
Finalmente, após vários anos de grave abandono, o Poder Marítimo nacional começa a ser restabelecido através de ações que culminaram com a criação do Ministério da Pesca, investimentos na infraestrutura portuária, na aprovação do Plano de Equipamento e Articulação da MB e na implementação do Programa de Mobilização da Indústria Nacional Marítima (PROMINP), abrangendo transporte aquaviário, construção e reparos navais, portos e terminais e indústria de navipeças. Em sintonia com esse processo modernizador, a Transpetro, subsidiária da Petrobras, através do seu Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (PROMEF), encomendou a estaleiros nacionais, em uma primeira etapa, o PROMEF-1; um total de 23 navios, sendo que uma segunda etapa, o PROMEF-2, com um total de 28 navios já teve a sua concorrência realizada. A essas encomendas podem ser somadas mais 39 unidades destinadas à navegação de cabotagem nos próximos sete anos.
A rápida recuperação da construção naval nacional implica na necessidade de formação de pessoal especializado para tripular os novos navios a serem incorporados. No momento a Marinha Mercante brasileira conta, através da Diretoria de Portos e Costas (DPC) do Comando da Marinha, com uma estrutura de formação de pessoal aquaviário pelo Sistema do Ensino Profissional Marítimo. O objetivo é formar, aperfeiçoar e atualizar todos os profissionais da área e os cursos são realizados nas capitanias dos portos, delegacias e agências marítimas ou fluviais e pelos centros de instrução que abrangem as Escolas de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (EFOMM) Almirante Graça Aranha (CIAGA), no Rio de Janeiro (RJ) e Almirante Braz de Aguiar (CIABA) em Belém (PA) . Esses centros possuem condições para oferecer ensino de acordo com os padrões estabelecidos pela Organização Marítima Internacional (IMO).
Consciente da premente necessidade de formação de oficiais, a MB aumentou recentemente de 180 para 330 as vagas de admissão para alunos no concurso para as EFOMM. Entretanto, faltam no momento os meios para traduzir na prática o nível de aprendizado em sala de aula, para os futuros oficiais. Na MB os guarda-marinha têm a oportunidade de se exercitar nos conhecimentos teóricos adquiridos nos quatro anos de Escola Naval com a viagem de instrução a bordo do navio-escola Brasil. Até há pouco tempo, era possível o embarque dos alunos das EFOMM nos navios transporte da Classe Barroso Pereira, muito semelhantes aos navios mercantes. Com a sua retirada de serviço ocorrerá um hiato na formação do pessoal, uma vez que os atuais navios em operação (NDCC e NDD) têm características predominantemente militares. Uma solução paliativa seria o fretamento de um navio mercante para atuar como escola, embora esta solução possa não ser a melhor, uma vez que não teria acomodações adequadas, além de não dispor, por exemplo, de salas de aula e simuladores específicos.
A melhor solução, talvez inédita no mundo, seria a MB obter, com recursos do Fundo de Marinha Mercante ou do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um navio-escola, com alojamentos para alunos de ambos os sexos, salas de aula, circuito interno de TV, câmara de instrução com mesas de navegação, repetidoras-radar e de giro, anemômetro e odômetro, repetidoras de giro para navegação visual, simuladores de passadiço, de controle de máquinas, um convés para abrigar cargas em containeres e um pequeno porão com guindastes de movimentação. Esse navio traria um novo conceito na formação de oficiais para a Marinha Mercante, compatível com a modernidade de pensamento vigente na MB.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Rússia - Terroristas do Cáucaso atacam hidrelétrica
22/07/2010
Mundo
Explosões não interrompem fornecimento, mas colocam organismos de segurança em alerta contra separatistas
Extremistas islâmicos da turbulenta região do Cáucaso, no sul da Rússia, são os principais suspeitos pelas explosões que atingiram ontem a usina hidrelétrica de Baksan, na região da Kabardino-Balkária, vizinha aos focos separatistas da Chechênia e do Daguestão. O ataque terrorista, como foi definido pela Procuradoria-Geral russa, deixou dois mortos e dois feridos, além de danos em três geradores e equipamentos secundários — sem afetar a geração de eletricidade na usina, com potência de 25 megawatts.
“Os bandidos invadiram o complexo, mataram dois guardas e feriram dois operadores na sala das máquinas da central elétrica. Depois, colocaram cargas explosivas”, alegou um porta-voz da procuradoria. De acordo com as autoridades, três artefatos explodiram e outro foi desativado por especialistas do Serviço Federal de Segurança (FSB, um dos organismos que sucederam a KGB, da extinta União Soviética). O chefe do FSB, Alexander Bortnikov, informou ao presidente Dmitri Medvedev que foram tomadas medidas para “reforçar a proteção das instalações estratégicas” após o ataque à hidrelétrica de Baksan.
As investigações do Comitê Nacional Antiterrorista (CNA) mostraram que as explosões provocaram um grande incêndio, que se alastrou a partir da sala de máquinas da usina, construída entre 1930 e 1936. O Ministério para Situações de Emergência tratou de tranquilizar a população das regiões próximas, quanto ao fornecimento de eletricidade e quanto à segurança. Em resposta ao ataque, o CNA anunciou que também vai reforçar a segurança em todas as hidrelétricas do sul do país.
Os grupos armados islâmicos que atuam na região tinham ameaçado em várias ocasiões promover atentados contra a infraestrutura e alvos considerados estratégicos. Há pouco menos de um ano, a usina de Sayanao Shushenskaya, na Sibéria, foi parcialmente destruída por uma explosão que deixou 75 mortos e vultosos danos. Na época, um grupo extremista reivindicou a autoria da ação, supostamente realizada com uma granada antitanque de detonação programada, mas as autoridades descartaram a hipótese de atentado.
O Cáucaso tem sido palco de movimentos separatistas, conflitos étnico-religiosos e até mesmo guerras entre nações — como a cristã Armênia e o muçulmano Azerbaijão desde o fim da Guerra Fria e a dissolução da União Soviética, em 1991. Três anos mais tarde, a região russa da Chechênia viveu a primeira de duas guerras entre separatistas muçulmanos e as tropas federais. A instabilidade na região afeta interesses de escala global, uma vez que o Cáucaso abriga uma rede de oleodutos e gasodutos por onde é escoada para a Rússia e a Europa Central parte da produção de gás natural e petróleo das vastas reservas do Mar Cáspio — não apenas russas, mas também das ex-repúblicas soviéticas do Azerbaijão e do Cazaquistão.
Mundo
Explosões não interrompem fornecimento, mas colocam organismos de segurança em alerta contra separatistas
Extremistas islâmicos da turbulenta região do Cáucaso, no sul da Rússia, são os principais suspeitos pelas explosões que atingiram ontem a usina hidrelétrica de Baksan, na região da Kabardino-Balkária, vizinha aos focos separatistas da Chechênia e do Daguestão. O ataque terrorista, como foi definido pela Procuradoria-Geral russa, deixou dois mortos e dois feridos, além de danos em três geradores e equipamentos secundários — sem afetar a geração de eletricidade na usina, com potência de 25 megawatts.
“Os bandidos invadiram o complexo, mataram dois guardas e feriram dois operadores na sala das máquinas da central elétrica. Depois, colocaram cargas explosivas”, alegou um porta-voz da procuradoria. De acordo com as autoridades, três artefatos explodiram e outro foi desativado por especialistas do Serviço Federal de Segurança (FSB, um dos organismos que sucederam a KGB, da extinta União Soviética). O chefe do FSB, Alexander Bortnikov, informou ao presidente Dmitri Medvedev que foram tomadas medidas para “reforçar a proteção das instalações estratégicas” após o ataque à hidrelétrica de Baksan.
As investigações do Comitê Nacional Antiterrorista (CNA) mostraram que as explosões provocaram um grande incêndio, que se alastrou a partir da sala de máquinas da usina, construída entre 1930 e 1936. O Ministério para Situações de Emergência tratou de tranquilizar a população das regiões próximas, quanto ao fornecimento de eletricidade e quanto à segurança. Em resposta ao ataque, o CNA anunciou que também vai reforçar a segurança em todas as hidrelétricas do sul do país.
Os grupos armados islâmicos que atuam na região tinham ameaçado em várias ocasiões promover atentados contra a infraestrutura e alvos considerados estratégicos. Há pouco menos de um ano, a usina de Sayanao Shushenskaya, na Sibéria, foi parcialmente destruída por uma explosão que deixou 75 mortos e vultosos danos. Na época, um grupo extremista reivindicou a autoria da ação, supostamente realizada com uma granada antitanque de detonação programada, mas as autoridades descartaram a hipótese de atentado.
O Cáucaso tem sido palco de movimentos separatistas, conflitos étnico-religiosos e até mesmo guerras entre nações — como a cristã Armênia e o muçulmano Azerbaijão desde o fim da Guerra Fria e a dissolução da União Soviética, em 1991. Três anos mais tarde, a região russa da Chechênia viveu a primeira de duas guerras entre separatistas muçulmanos e as tropas federais. A instabilidade na região afeta interesses de escala global, uma vez que o Cáucaso abriga uma rede de oleodutos e gasodutos por onde é escoada para a Rússia e a Europa Central parte da produção de gás natural e petróleo das vastas reservas do Mar Cáspio — não apenas russas, mas também das ex-repúblicas soviéticas do Azerbaijão e do Cazaquistão.
A indústria e a ameaça chinesa
22/07/2010
Eloi Fernández y Fernández e Alfredo Renault
Opinião
A oportunidade do pré-sal requer uma política industrial de horizonte multissetorial e uma lei antidumping rigorosa
A entrada de investimentos vultosos da China na América Latina e particularmente no Brasil exige uma reflexão aprofundada e crítica, sobretudo quando olhares do mundo se voltam para o setor de petróleo e gás brasileiro. O imponente pacote de encomendas de equipamentos a ser demandado pelo pré-sal e por demais projetos na área são atraentes o suficiente para aguçar o gigante chinês.
A ameaça da China surge em um momento em que a indústria brasileira fornecedora de bens e serviços para o setor de petróleo vislumbra um cenário claramente propício à sua definitiva consolidação, com investimentos de curto, médio e longo prazos. A expectativa é de aportes da Petrobras de cerca de US$ 120 bilhões somente para os projetos do pré-sal até 2020, não incluído o montante relativo aos parceiros, que deverá representar 50% desse valor. Nos próximos cinco anos, toda a cadeia de petróleo receberá investimentos de US$ 250 bilhões. Em questão está não apenas o mercado doméstico, como também o processo de internacionalização da indústria fornecedora nacional ainda em curso.
Com a roda da fortuna do setor petróleo girando no Brasil, é inquestionável que a China direcionará munição pesada para assegurar uma fatia expressiva de nosso mercado, repetindo aqui práticas adotadas em outras regiões. Gradualmente, o poderio chinês avança, já tendo conquistado contratos relevantes na prestação de serviço para os segmentos de refino e transporte de petróleo e gás, além de fornecimentos diversos de bens para o restante da cadeia e de participações acionárias na exploração de blocos marítimos e na produção.
Depois da África, o Brasil será, sem dúvida, o principal alvo na busca de recursos minerais. Com demanda crescente por óleo e seus derivados, a China parece ver o Brasil como um agente facilitador de seus problemas. A demonstração mais agressiva foi dada em maio, quando a petroleira estatal Sinochem desembolsou US$ 3 bilhões pela compra de 40% de participação no campo de óleo pesado de Peregrino, na Bacia de Campos.
O investimento chinês no Brasil cresce a passos largos. Em 2007, o aporte de recursos somava US$ 24,3 milhões, saltando para US$ 360 milhões, apenas nos três primeiros meses deste ano. Hoje, a China ocupa o quinto lugar no ranking dos países com maiores investimentos no país.
Trata-se de um concorrente de característica ímpar. A China é um dos maiores exportadores de produtos do planeta, possui milhares de bilhões de dólares em caixa. A associação de uma moeda depreciada a um investimento pesado no setor produtivo, voltado, sobretudo, à demanda externa, garante ao país robustez suficiente para deslocar qualquer indústria promissora de qualquer nação.
No Brasil, os chineses já ocupam hoje o posto de terceiro maior fornecedor externo de máquinas e equipamentos, respondendo por um percentual de 12,2% e devendo desbancar a segunda posição da Alemanha, em breve. De acordo com dados da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), há apenas seis anos, o país asiático detinha a módica fatia de 2,1% do mercado.
O capital (estatal) chinês costuma despertar o fascínio de mercados mundiais promissores com a oferta não só de acesso a crédito, como de bens, serviços e, em alguns casos, mão de obra, subsidiados por um modelo econômico que ignora as melhores práticas de mercado e de regras consolidadas de convivência com o ambiente e com o homem. Diante da concorrência desigual, setores sucumbem, outros veem desmoronar a expectativa de avanço no mercado interno e de internacionalização.
A desproporção entre os modelos de mercado dos dois países é tanta que o custo da matéria-prima no Brasil, em alguns casos, chega a superar o valor final de comercialização no Brasil de certos equipamentos produzidos na China. Com diferenças tão extremas na composição de custo, a justa concorrência só se faz viável se houver um esforço coordenado, envolvendo os mais diversos agentes de governo do Brasil e representantes da indústria.
É necessário musculatura para suportar a pressão. Dar um passo de cada vez. Para garantir o emprego e o crescimento econômico de gerações futuras, é imprescindível à indústria fornecedora nacional ultrapassar a curva de aprendizagem e conquistar sua definitiva consolidação. Não se trata de proteção descabida, mas de cautela para a construção de um futuro mais promissor.
Com o advento do pré-sal, a indústria brasileira terá a chance de fortalecer-se, já que serão asseguradas a ela duas condições fundamentais à sua expansão: escala e continuidade das encomendas. No entanto, o aproveitamento dessa oportunidade requer a elaboração de uma política industrial de horizonte multissetorial e de uma legislação antidumping mais rigorosa. Longe de qualquer reserva de mercado ou protecionismo exagerado, o país depende da adoção de regras justas e transparentes.
A experiência de países como Noruega e Coreia demonstra que o êxito está atrelado ao acesso ao crédito, a uma tributação equilibrada, à utilização de tecnologia de ponta, além de investimentos maciços em educação de qualidade, voltados para a formação de mão de obra qualificada. Dessa forma é possível construir uma política industrial que se utilize das melhores estratégias de indução do desenvolvimento industrial local e, ao mesmo tempo, estimule os investidores a desenvolver políticas de compra local e se fortalecerem como alavancadores de investimentos consistentes e saudáveis.
O Brasil depara-se com o privilégio de garantir as suas próximas gerações a oportunidade da oferta de milhões de postos de trabalho, bem como a capacidade de alavancar um aumento da geração de renda, a formação de novas empresas, fortalecer o capital local e consolidar a ótica do desenvolvimento sustentado, associado e integrado ao processo de desenvolvimento mundial.
Eloi Fernández y Fernández é diretor geral da Organização Nacional da Industria do Petróleo (ONIP) e professor da PUC/Rio
Alfredo Renault é superintendente da ONIP
Eloi Fernández y Fernández e Alfredo Renault
Opinião
A oportunidade do pré-sal requer uma política industrial de horizonte multissetorial e uma lei antidumping rigorosa
A entrada de investimentos vultosos da China na América Latina e particularmente no Brasil exige uma reflexão aprofundada e crítica, sobretudo quando olhares do mundo se voltam para o setor de petróleo e gás brasileiro. O imponente pacote de encomendas de equipamentos a ser demandado pelo pré-sal e por demais projetos na área são atraentes o suficiente para aguçar o gigante chinês.
A ameaça da China surge em um momento em que a indústria brasileira fornecedora de bens e serviços para o setor de petróleo vislumbra um cenário claramente propício à sua definitiva consolidação, com investimentos de curto, médio e longo prazos. A expectativa é de aportes da Petrobras de cerca de US$ 120 bilhões somente para os projetos do pré-sal até 2020, não incluído o montante relativo aos parceiros, que deverá representar 50% desse valor. Nos próximos cinco anos, toda a cadeia de petróleo receberá investimentos de US$ 250 bilhões. Em questão está não apenas o mercado doméstico, como também o processo de internacionalização da indústria fornecedora nacional ainda em curso.
Com a roda da fortuna do setor petróleo girando no Brasil, é inquestionável que a China direcionará munição pesada para assegurar uma fatia expressiva de nosso mercado, repetindo aqui práticas adotadas em outras regiões. Gradualmente, o poderio chinês avança, já tendo conquistado contratos relevantes na prestação de serviço para os segmentos de refino e transporte de petróleo e gás, além de fornecimentos diversos de bens para o restante da cadeia e de participações acionárias na exploração de blocos marítimos e na produção.
Depois da África, o Brasil será, sem dúvida, o principal alvo na busca de recursos minerais. Com demanda crescente por óleo e seus derivados, a China parece ver o Brasil como um agente facilitador de seus problemas. A demonstração mais agressiva foi dada em maio, quando a petroleira estatal Sinochem desembolsou US$ 3 bilhões pela compra de 40% de participação no campo de óleo pesado de Peregrino, na Bacia de Campos.
O investimento chinês no Brasil cresce a passos largos. Em 2007, o aporte de recursos somava US$ 24,3 milhões, saltando para US$ 360 milhões, apenas nos três primeiros meses deste ano. Hoje, a China ocupa o quinto lugar no ranking dos países com maiores investimentos no país.
Trata-se de um concorrente de característica ímpar. A China é um dos maiores exportadores de produtos do planeta, possui milhares de bilhões de dólares em caixa. A associação de uma moeda depreciada a um investimento pesado no setor produtivo, voltado, sobretudo, à demanda externa, garante ao país robustez suficiente para deslocar qualquer indústria promissora de qualquer nação.
No Brasil, os chineses já ocupam hoje o posto de terceiro maior fornecedor externo de máquinas e equipamentos, respondendo por um percentual de 12,2% e devendo desbancar a segunda posição da Alemanha, em breve. De acordo com dados da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), há apenas seis anos, o país asiático detinha a módica fatia de 2,1% do mercado.
O capital (estatal) chinês costuma despertar o fascínio de mercados mundiais promissores com a oferta não só de acesso a crédito, como de bens, serviços e, em alguns casos, mão de obra, subsidiados por um modelo econômico que ignora as melhores práticas de mercado e de regras consolidadas de convivência com o ambiente e com o homem. Diante da concorrência desigual, setores sucumbem, outros veem desmoronar a expectativa de avanço no mercado interno e de internacionalização.
A desproporção entre os modelos de mercado dos dois países é tanta que o custo da matéria-prima no Brasil, em alguns casos, chega a superar o valor final de comercialização no Brasil de certos equipamentos produzidos na China. Com diferenças tão extremas na composição de custo, a justa concorrência só se faz viável se houver um esforço coordenado, envolvendo os mais diversos agentes de governo do Brasil e representantes da indústria.
É necessário musculatura para suportar a pressão. Dar um passo de cada vez. Para garantir o emprego e o crescimento econômico de gerações futuras, é imprescindível à indústria fornecedora nacional ultrapassar a curva de aprendizagem e conquistar sua definitiva consolidação. Não se trata de proteção descabida, mas de cautela para a construção de um futuro mais promissor.
Com o advento do pré-sal, a indústria brasileira terá a chance de fortalecer-se, já que serão asseguradas a ela duas condições fundamentais à sua expansão: escala e continuidade das encomendas. No entanto, o aproveitamento dessa oportunidade requer a elaboração de uma política industrial de horizonte multissetorial e de uma legislação antidumping mais rigorosa. Longe de qualquer reserva de mercado ou protecionismo exagerado, o país depende da adoção de regras justas e transparentes.
A experiência de países como Noruega e Coreia demonstra que o êxito está atrelado ao acesso ao crédito, a uma tributação equilibrada, à utilização de tecnologia de ponta, além de investimentos maciços em educação de qualidade, voltados para a formação de mão de obra qualificada. Dessa forma é possível construir uma política industrial que se utilize das melhores estratégias de indução do desenvolvimento industrial local e, ao mesmo tempo, estimule os investidores a desenvolver políticas de compra local e se fortalecerem como alavancadores de investimentos consistentes e saudáveis.
O Brasil depara-se com o privilégio de garantir as suas próximas gerações a oportunidade da oferta de milhões de postos de trabalho, bem como a capacidade de alavancar um aumento da geração de renda, a formação de novas empresas, fortalecer o capital local e consolidar a ótica do desenvolvimento sustentado, associado e integrado ao processo de desenvolvimento mundial.
Eloi Fernández y Fernández é diretor geral da Organização Nacional da Industria do Petróleo (ONIP) e professor da PUC/Rio
Alfredo Renault é superintendente da ONIP
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Soldiers Of Fortune
By Hannah Beech / Pyin U Lwin
The weekend invasion begins with the click-clack of thumbtack-adorned shoes. For four hours, senior cadets from Burma's Defense Services Academy (DSA) and its sister technological institute march through the streets of Pyin U Lwin, briefcases in hand, maroon berets perched on proudly angled heads. Most are preoccupied with securing the rations of daily life: soap, socks, kung fu DVDs. But even as the stern-faced students contribute to the local economy, shopkeepers whisper about the arrogance of kids who are indoctrinated to believe they are, as the massive English sign in front of the DSA campus proclaims, the "triumphant elite of the future." Even after promised elections later this year, Burma, known by the ruling junta as Myanmar, will remain one of the most militarized states in the world. No wonder the privileged young men marching through this central Burmese town expect nothing less than to one day rule their cowed nation.
At a juice bar in this agreeable former British hill station once known as Maymyo, I chat with a group of cadets hunched over glasses of strawberry milk. Their attitude toward locals notwithstanding, the cadets are polite and surprisingly willing to speak to a foreigner. One baby-faced 20-year-old tells me his major is naval architecture, sharing dreams of designing warships for a nation that boasts 450,000 soldiers and dedicates 21% of its spending to the military, according to lowball official statistics. Another student is focusing on hydro-engineering; he plans to build dams, a lucrative new pursuit of Burma's military dictatorship, which sells plentiful energy to neighboring nations while leaving two-thirds of local households without access to any electricity. Yet another narrow-shouldered cadet is studying nuclear chemistry and confides, "my specialty is uranium and plutonium studies." His chosen subject is particularly topical given the U.S. State Department's recently stated concerns over a possible Burmese nuclear program — a project that a DSA graduate turned defecting army major tells exile media has its headquarters at the Defense Services Technological Academy's fortified campus in Pyin U Lwin. (See pictures of Burma's slowly shifting landscape.)
Later, I wander into an Internet café packed with cadets waiting for the electricity to be restored — a constant waiting game in Burma — so they can play World of Warcraft. I ask if they are skilled at the computer game. "Of course, we are good," says an English-speaking nuclear-physics major, his tone factual, not boastful. "We are students at the DSA. We are very superior." A Burmese friend, who passed all the academic and psychological requirements for the DSA but was rejected at the last moment because he had flat feet, fills me in on the cadets' mentality. "The point of going to the DSA is so you can become a rich and powerful person," he says, relating the trajectory of a schoolmate who attended Burma's West Point. His childhood buddy is now a rising star at a northern regional command, which means he can profit from government timber and mining businesses. "He is rich, his parents are rich, his brothers and sisters are rich, his children will be rich," says my friend. "They don't worry about anything."
Burma may be one of the poorest and most isolated nations on earth, but an emerging elite — a burgeoning officer class, attendant business cronies and the coddled offspring of both groups — is only getting richer, more powerful and less accountable. Over the past few years, the Burmese economy has been transformed as the junta has auctioned off the nation's plentiful natural resources to the highest foreign bidder, Western sanctions notwithstanding. The influx of cash has been reserved for the razor-thin top stratum of Burmese society, whose ostentatious displays of wealth shock a citizenry struggling just to survive. "For a long time, as the regime ran the economy into the ground, there was a feeling that most everyone was growing poor equally," says Sean Turnell, an economist at Macquarie University in Sydney who studies Burma. "But now tensions are growing because you see a small elite growing immeasurably richer while others are getting poorer. It's all about relative position, and in Burma today, the inequalities are growing faster than just about anything." (See pictures of Burma's decades-long battle for democracy.)
Poor Little Rich Country
Burma, which has been run by a military regime since an army coup in 1962, is no tropical North Korea. Amid the crumbling colonial buildings, Rangoon, the country's largest city, boasts glittering nightclubs, day spas and even espresso bars. In fact, because of mushrooming foreign direct investment (FDI) in the country's natural bounty — in 2009, 100% of implemented FDI was from the resource-extraction business — the government has more than $5 billion in foreign-currency reserves at its disposal, according to the International Monetary Fund (IMF). Financial chicanery, however, keeps most money flows obscure. For instance, Burma converts revenues from its lucrative natural-gas sector at an official exchange rate of $1 to 6 kyat, though the market exchange rate is roughly $1 to 1,000 kyat. That means of every $1,000 in energy earnings, just $6 goes into national coffers. Where the rest goes is a mystery. Global watchdog Transparency International ranks Burma as the third most corrupt nation in its survey of 180 nations, outdone only by Afghanistan and Somalia.
See pictures of tension in Burma.
Read "Chevron, Total Accused of Human-Rights Abuses in Burma."
Certainly, the revenues from natural gas, oil, timber, gems and other commodities haven't been used for the betterment of the Burmese. Five years ago, the country's military rulers spent billions of dollars building a sprawling new capital out of scrubland, forcing many civil servants to move from Rangoon with just a couple of days' notice. In two decades, the nation has doubled the number of soldiers in the Tatmadaw, as the Burmese armed forces is called, even though there are far fewer battles to fight against ethnic insurgent groups. Twenty Russian fighter jets — not to mention suspicious nuclear technology — are the military's latest playthings. On the outskirts of Pyin U Lwin, another costly megaproject is materializing: a cybercity whose vastness belies the fact that Burma, even with a proliferation of Internet cafés in Rangoon, remains one of the least wired nations on earth. And in the big cities and beyond, construction crews are busy outfitting Burma's upper classes with marble-lined mansions, fancy vacation homes and towering Buddhist pagodas chiseled with the names of generals and their cronies.
The building boom has surged even as at least one-third of the nation lives below the poverty line, according to the U.N. Inflation is so high that the U.N. estimates an average household spends 73% of its income on food. The World Health Organization ranks the country's health care system as the second worst in the world, just ahead of Sierra Leone's. On the recently built highway from Rangoon to Naypyidaw, the new capital, I meet a 15-year-old girl who spends her days in the 45�C heat carrying chunks of rock on her head. She has been working on this road since she was 11 years old. Her daily pay? $1.50 — and that's when Max Myanmar, a company run by a junta crony whose name was added to the U.S. sanctions list last year, bothers to pay at all. On its polished English-language website, Max Myanmar says employees' welfare is a top priority and that the conglomerate covers "field allowance, bonus, meals, medicare, education allowance and annual celebrations for pleasure and relaxation." The girl laborer has enjoyed none of these. But she dreams one day of reaching the end of her road. "I have heard that Naypyidaw has so much electricity that nighttime looks like day," she says. "Can you imagine such a beautiful place?" (See pictures of Burma's discontent.)
Following the Money
With the nation set to hold carefully orchestrated elections later this year, the economic disparities may soon yawn even wider. The junta ignored the results of Burma's 1990 polls, which the military's proxy party lost badly to Nobel Peace Prize winner Aung San Suu Kyi's National League for Democracy (she remains under house arrest). Now, military leaders seem to want to present a fig leaf of civilian rule to the West. Top posts like the presidency and key Cabinet seats, as well as a big chunk of parliament, will be reserved for military members. But to maintain the appearance of a transition to civilian government, the junta has in recent months privatized dozens of state-owned (read: military-owned) companies. Auctioning off these enterprises creates cash to fund the military's proxy Union Solidarity Development Party in the upcoming polls. In addition, many high-ranking officers are being forced to stand in the elections and they, along with other top brass uncertain about the postelection landscape, must be worried about losing their military lifeline. A redistribution of state assets to people close to them secures their future. (Read "Burma Court Finds Aung San Suu Kyi Guilty.")
Indeed, control of factories and banks, gas stations and ruby mines has been handed over, without exception, to a select circle of favored businessmen or military progeny. Many of these men — for they are all men — are targets of Western sanctions, such as Tay Za, a DSA dropout whose business empire has tentacles in everything from airlines to hotels, and Steven Law, the son of a drug lord whose conglomerate constructs dams, roads and practically any other project that uses copious amounts of cement. These cronies burnish ties with the junta through directorships, donations and even marriages. "I don't know of a single big company that doesn't have a princeling or other [general's] family member on its board or involved somehow," says economist Turnell. "The problem with this system is that these robber barons aren't creating an environment for sustained growth or the building of industry. It's just pure racketeering."
I see how wealthy the Burmese elite has become when I tour the Mindhama Residences in Rangoon, a Tay Za – owned housing development just across the street from an exhibition center where massive slabs of jade are piled high on government trucks. With villa types named after Burma's mineral wealth, like Imperial Jade and Red Ruby, the mansions start at $850,000 and go up to $1.2 million, not counting interior decor. All but one has been sold — this in a nation where per capita GDP is just $442, according to the IMF. Might I be interested in the remaining one? The agent allows me to gawp at the splendor: swirls of gilt and meters of marble, Jacuzzi bathtubs, crystal chandeliers. I feel like I have wandered into a Texas McMansion. "Who has bought the other houses," I ask, feigning interest in my potential neighbors. "Some businessmen," he says. "But mostly ..." he trails off, then taps his fingers to his shoulders, the Burmese code for army stripes.
Read "A Closer Look at Burma's Ethnic Minorities."
Read "Viewpoint: Why Foreigners Can Make Things Worse for Burma."
Hardwired
The red sign blocking the main entrance to the half-built Yadanabon Cybercity looks innocuous enough to someone who doesn't read the local language, a swirl of curved Burmese letters and numbers. But the people of Burma have been conditioned to fear this sign: "This area is under military order 144," it says. "Shoot to capture." It's a measure of Burma's peculiar mix of isolationist paranoia and technological ambition that its future Silicon Valley has been declared a military zone inaccessible to normal civilians. Inside the 4,050-hectare construction site, I drive along empty stretches of tarmac, past plots of land that will soon boast offices for Burma's biggest crony companies: Htoo Trading, Tay Za's conglomerate; IGE, headed by the son of Burma's Minister of Industry General Aung Thaung, who is barred by the European Union; Redlink Communications, owned by the sons of the junta No. 3, General Thura Shwe Mann, one of whom is on the U.S. visa blacklist. Thai, Malaysian, Russian and Chinese firms have staked their ground too. Burma's state media reports that foreign companies have so far invested $22 million in the first phase of Yadanabon.
Ever since images of protesting monks escaped from Burma during the crushed demonstrations of 2007, the regime has been scrambling to centralize control over the Internet. Thousands of websites have been blocked, cyberdissidents jailed and debilitating strikes launched against exile-media websites. Yadanabon will be the nerve center of Burma's Internet operations. But it's not all computer cubicles and high-tech wizardry. On a point overlooking the famous hills of Shan State, $200,000 vacation villas are being built. One model drawing shows a BMW SUV in a garage, and the half-finished houses already feature Tudor trimmings and spacious verandas. Nearby, a farmer toils on a sliver of land that has belonged to her family for at least three generations. Soon the Cybercity will eat up this tiny plot too. The woman doesn't expect any compensation since she received nothing when the rest of her fields were confiscated a year ago. "We are little people, so we cannot complain," she says. "All we can do is concentrate on feeding ourselves." (See pictures of the junta blocking Burma from receiving aid after a cyclone ripped through the country.)
The man entrusted to oversee Yadanabon is neither a businessman nor even an adult. But being the grandson of junta leader Than Shwe brings perks. A scrawny soccer fan with no discernible skills on the pitch, Nay Shwe Thway Aung was once added to the Burmese national team when prominent Japanese player Hidetoshi Nakata went to Rangoon for an exhibition match. Other privileged Burmese youth have made an impression off the field. The most notorious was an informal collective of military offspring called Scorpion, which was forced to disband after two members spooked the junta No. 2, General Maung Aye, by riding up to his car on motorcycles and making menacing gestures. Maung Aye responded by outlawing most motorcycles in Rangoon, a ban that still holds today. (Read "Getting to Know Burma's Ruling General.")
Even beyond Scorpion, there are plenty of other rich kids roaming Rangoon. At the packed JJ nightclub — where the bidding at "model shows," as prostitute auctions are called, reaches $2,500 for a comely maiden — one manager complains about the impunity with which military officers and their sons operate. "They drink for free and can pick girls for free," he says. "Nobody dares say no; otherwise we will be finished."
Flying High
There are no such diversions in Naypyidaw, the austere capital that takes a good hour to cross in a car — an hour in which I pass perhaps a dozen other vehicles. When I visited two years ago, I figured the barren landscape dotted with little more than grandiose ministry buildings and golf courses would eventually be filled with normal signs of life. But today, save the occasional color-coded civil-servant housing complex or shopping center already deteriorating under the unrelenting sun, the capital is still a monochromatic emptiness, as if Mark Rothko took to urban planning. The rumor goes that Naypyidaw was built without nightclubs or bars to prevent princelings and their cohorts from bad behavior.
So the party goes on in Rangoon instead — or in Singapore, where some wealthy Burmese maintain homes and bank accounts. Riding one afternoon in Rangoon in a dilapidated taxi that saw its best days four decades ago, I hear a deep-throated purr behind me. Turning around, I spot a sunflower-yellow Lamborghini careening past the potholes of Strand Road. The taxi driver knows the luxury car well. It is a plaything of Tay Za's family. Later I spot the same vehicle, along with several Mini Coopers and a Ferrari, parked at the mansion of the man the U.S. Treasury Department calls "an arms dealer and financial henchman of Burma's repressive junta." In June, Tay Za is believed to have helped the Burmese regime buy even flashier modes of transport: 50 Karakorum light attack aircraft from China. (His aviation company is also credited with brokering last year's deal for the Russian MiGs.) All these new planes will surely please the DSA cadets, who perhaps one day can graduate from computer games to real fighter jets. For the "triumphant elite of the future" — like the rest of Burma's pampered classes — even the stratosphere is within easy reach.
Fonte: Time
The weekend invasion begins with the click-clack of thumbtack-adorned shoes. For four hours, senior cadets from Burma's Defense Services Academy (DSA) and its sister technological institute march through the streets of Pyin U Lwin, briefcases in hand, maroon berets perched on proudly angled heads. Most are preoccupied with securing the rations of daily life: soap, socks, kung fu DVDs. But even as the stern-faced students contribute to the local economy, shopkeepers whisper about the arrogance of kids who are indoctrinated to believe they are, as the massive English sign in front of the DSA campus proclaims, the "triumphant elite of the future." Even after promised elections later this year, Burma, known by the ruling junta as Myanmar, will remain one of the most militarized states in the world. No wonder the privileged young men marching through this central Burmese town expect nothing less than to one day rule their cowed nation.
At a juice bar in this agreeable former British hill station once known as Maymyo, I chat with a group of cadets hunched over glasses of strawberry milk. Their attitude toward locals notwithstanding, the cadets are polite and surprisingly willing to speak to a foreigner. One baby-faced 20-year-old tells me his major is naval architecture, sharing dreams of designing warships for a nation that boasts 450,000 soldiers and dedicates 21% of its spending to the military, according to lowball official statistics. Another student is focusing on hydro-engineering; he plans to build dams, a lucrative new pursuit of Burma's military dictatorship, which sells plentiful energy to neighboring nations while leaving two-thirds of local households without access to any electricity. Yet another narrow-shouldered cadet is studying nuclear chemistry and confides, "my specialty is uranium and plutonium studies." His chosen subject is particularly topical given the U.S. State Department's recently stated concerns over a possible Burmese nuclear program — a project that a DSA graduate turned defecting army major tells exile media has its headquarters at the Defense Services Technological Academy's fortified campus in Pyin U Lwin. (See pictures of Burma's slowly shifting landscape.)
Later, I wander into an Internet café packed with cadets waiting for the electricity to be restored — a constant waiting game in Burma — so they can play World of Warcraft. I ask if they are skilled at the computer game. "Of course, we are good," says an English-speaking nuclear-physics major, his tone factual, not boastful. "We are students at the DSA. We are very superior." A Burmese friend, who passed all the academic and psychological requirements for the DSA but was rejected at the last moment because he had flat feet, fills me in on the cadets' mentality. "The point of going to the DSA is so you can become a rich and powerful person," he says, relating the trajectory of a schoolmate who attended Burma's West Point. His childhood buddy is now a rising star at a northern regional command, which means he can profit from government timber and mining businesses. "He is rich, his parents are rich, his brothers and sisters are rich, his children will be rich," says my friend. "They don't worry about anything."
Burma may be one of the poorest and most isolated nations on earth, but an emerging elite — a burgeoning officer class, attendant business cronies and the coddled offspring of both groups — is only getting richer, more powerful and less accountable. Over the past few years, the Burmese economy has been transformed as the junta has auctioned off the nation's plentiful natural resources to the highest foreign bidder, Western sanctions notwithstanding. The influx of cash has been reserved for the razor-thin top stratum of Burmese society, whose ostentatious displays of wealth shock a citizenry struggling just to survive. "For a long time, as the regime ran the economy into the ground, there was a feeling that most everyone was growing poor equally," says Sean Turnell, an economist at Macquarie University in Sydney who studies Burma. "But now tensions are growing because you see a small elite growing immeasurably richer while others are getting poorer. It's all about relative position, and in Burma today, the inequalities are growing faster than just about anything." (See pictures of Burma's decades-long battle for democracy.)
Poor Little Rich Country
Burma, which has been run by a military regime since an army coup in 1962, is no tropical North Korea. Amid the crumbling colonial buildings, Rangoon, the country's largest city, boasts glittering nightclubs, day spas and even espresso bars. In fact, because of mushrooming foreign direct investment (FDI) in the country's natural bounty — in 2009, 100% of implemented FDI was from the resource-extraction business — the government has more than $5 billion in foreign-currency reserves at its disposal, according to the International Monetary Fund (IMF). Financial chicanery, however, keeps most money flows obscure. For instance, Burma converts revenues from its lucrative natural-gas sector at an official exchange rate of $1 to 6 kyat, though the market exchange rate is roughly $1 to 1,000 kyat. That means of every $1,000 in energy earnings, just $6 goes into national coffers. Where the rest goes is a mystery. Global watchdog Transparency International ranks Burma as the third most corrupt nation in its survey of 180 nations, outdone only by Afghanistan and Somalia.
See pictures of tension in Burma.
Read "Chevron, Total Accused of Human-Rights Abuses in Burma."
Certainly, the revenues from natural gas, oil, timber, gems and other commodities haven't been used for the betterment of the Burmese. Five years ago, the country's military rulers spent billions of dollars building a sprawling new capital out of scrubland, forcing many civil servants to move from Rangoon with just a couple of days' notice. In two decades, the nation has doubled the number of soldiers in the Tatmadaw, as the Burmese armed forces is called, even though there are far fewer battles to fight against ethnic insurgent groups. Twenty Russian fighter jets — not to mention suspicious nuclear technology — are the military's latest playthings. On the outskirts of Pyin U Lwin, another costly megaproject is materializing: a cybercity whose vastness belies the fact that Burma, even with a proliferation of Internet cafés in Rangoon, remains one of the least wired nations on earth. And in the big cities and beyond, construction crews are busy outfitting Burma's upper classes with marble-lined mansions, fancy vacation homes and towering Buddhist pagodas chiseled with the names of generals and their cronies.
The building boom has surged even as at least one-third of the nation lives below the poverty line, according to the U.N. Inflation is so high that the U.N. estimates an average household spends 73% of its income on food. The World Health Organization ranks the country's health care system as the second worst in the world, just ahead of Sierra Leone's. On the recently built highway from Rangoon to Naypyidaw, the new capital, I meet a 15-year-old girl who spends her days in the 45�C heat carrying chunks of rock on her head. She has been working on this road since she was 11 years old. Her daily pay? $1.50 — and that's when Max Myanmar, a company run by a junta crony whose name was added to the U.S. sanctions list last year, bothers to pay at all. On its polished English-language website, Max Myanmar says employees' welfare is a top priority and that the conglomerate covers "field allowance, bonus, meals, medicare, education allowance and annual celebrations for pleasure and relaxation." The girl laborer has enjoyed none of these. But she dreams one day of reaching the end of her road. "I have heard that Naypyidaw has so much electricity that nighttime looks like day," she says. "Can you imagine such a beautiful place?" (See pictures of Burma's discontent.)
Following the Money
With the nation set to hold carefully orchestrated elections later this year, the economic disparities may soon yawn even wider. The junta ignored the results of Burma's 1990 polls, which the military's proxy party lost badly to Nobel Peace Prize winner Aung San Suu Kyi's National League for Democracy (she remains under house arrest). Now, military leaders seem to want to present a fig leaf of civilian rule to the West. Top posts like the presidency and key Cabinet seats, as well as a big chunk of parliament, will be reserved for military members. But to maintain the appearance of a transition to civilian government, the junta has in recent months privatized dozens of state-owned (read: military-owned) companies. Auctioning off these enterprises creates cash to fund the military's proxy Union Solidarity Development Party in the upcoming polls. In addition, many high-ranking officers are being forced to stand in the elections and they, along with other top brass uncertain about the postelection landscape, must be worried about losing their military lifeline. A redistribution of state assets to people close to them secures their future. (Read "Burma Court Finds Aung San Suu Kyi Guilty.")
Indeed, control of factories and banks, gas stations and ruby mines has been handed over, without exception, to a select circle of favored businessmen or military progeny. Many of these men — for they are all men — are targets of Western sanctions, such as Tay Za, a DSA dropout whose business empire has tentacles in everything from airlines to hotels, and Steven Law, the son of a drug lord whose conglomerate constructs dams, roads and practically any other project that uses copious amounts of cement. These cronies burnish ties with the junta through directorships, donations and even marriages. "I don't know of a single big company that doesn't have a princeling or other [general's] family member on its board or involved somehow," says economist Turnell. "The problem with this system is that these robber barons aren't creating an environment for sustained growth or the building of industry. It's just pure racketeering."
I see how wealthy the Burmese elite has become when I tour the Mindhama Residences in Rangoon, a Tay Za – owned housing development just across the street from an exhibition center where massive slabs of jade are piled high on government trucks. With villa types named after Burma's mineral wealth, like Imperial Jade and Red Ruby, the mansions start at $850,000 and go up to $1.2 million, not counting interior decor. All but one has been sold — this in a nation where per capita GDP is just $442, according to the IMF. Might I be interested in the remaining one? The agent allows me to gawp at the splendor: swirls of gilt and meters of marble, Jacuzzi bathtubs, crystal chandeliers. I feel like I have wandered into a Texas McMansion. "Who has bought the other houses," I ask, feigning interest in my potential neighbors. "Some businessmen," he says. "But mostly ..." he trails off, then taps his fingers to his shoulders, the Burmese code for army stripes.
Read "A Closer Look at Burma's Ethnic Minorities."
Read "Viewpoint: Why Foreigners Can Make Things Worse for Burma."
Hardwired
The red sign blocking the main entrance to the half-built Yadanabon Cybercity looks innocuous enough to someone who doesn't read the local language, a swirl of curved Burmese letters and numbers. But the people of Burma have been conditioned to fear this sign: "This area is under military order 144," it says. "Shoot to capture." It's a measure of Burma's peculiar mix of isolationist paranoia and technological ambition that its future Silicon Valley has been declared a military zone inaccessible to normal civilians. Inside the 4,050-hectare construction site, I drive along empty stretches of tarmac, past plots of land that will soon boast offices for Burma's biggest crony companies: Htoo Trading, Tay Za's conglomerate; IGE, headed by the son of Burma's Minister of Industry General Aung Thaung, who is barred by the European Union; Redlink Communications, owned by the sons of the junta No. 3, General Thura Shwe Mann, one of whom is on the U.S. visa blacklist. Thai, Malaysian, Russian and Chinese firms have staked their ground too. Burma's state media reports that foreign companies have so far invested $22 million in the first phase of Yadanabon.
Ever since images of protesting monks escaped from Burma during the crushed demonstrations of 2007, the regime has been scrambling to centralize control over the Internet. Thousands of websites have been blocked, cyberdissidents jailed and debilitating strikes launched against exile-media websites. Yadanabon will be the nerve center of Burma's Internet operations. But it's not all computer cubicles and high-tech wizardry. On a point overlooking the famous hills of Shan State, $200,000 vacation villas are being built. One model drawing shows a BMW SUV in a garage, and the half-finished houses already feature Tudor trimmings and spacious verandas. Nearby, a farmer toils on a sliver of land that has belonged to her family for at least three generations. Soon the Cybercity will eat up this tiny plot too. The woman doesn't expect any compensation since she received nothing when the rest of her fields were confiscated a year ago. "We are little people, so we cannot complain," she says. "All we can do is concentrate on feeding ourselves." (See pictures of the junta blocking Burma from receiving aid after a cyclone ripped through the country.)
The man entrusted to oversee Yadanabon is neither a businessman nor even an adult. But being the grandson of junta leader Than Shwe brings perks. A scrawny soccer fan with no discernible skills on the pitch, Nay Shwe Thway Aung was once added to the Burmese national team when prominent Japanese player Hidetoshi Nakata went to Rangoon for an exhibition match. Other privileged Burmese youth have made an impression off the field. The most notorious was an informal collective of military offspring called Scorpion, which was forced to disband after two members spooked the junta No. 2, General Maung Aye, by riding up to his car on motorcycles and making menacing gestures. Maung Aye responded by outlawing most motorcycles in Rangoon, a ban that still holds today. (Read "Getting to Know Burma's Ruling General.")
Even beyond Scorpion, there are plenty of other rich kids roaming Rangoon. At the packed JJ nightclub — where the bidding at "model shows," as prostitute auctions are called, reaches $2,500 for a comely maiden — one manager complains about the impunity with which military officers and their sons operate. "They drink for free and can pick girls for free," he says. "Nobody dares say no; otherwise we will be finished."
Flying High
There are no such diversions in Naypyidaw, the austere capital that takes a good hour to cross in a car — an hour in which I pass perhaps a dozen other vehicles. When I visited two years ago, I figured the barren landscape dotted with little more than grandiose ministry buildings and golf courses would eventually be filled with normal signs of life. But today, save the occasional color-coded civil-servant housing complex or shopping center already deteriorating under the unrelenting sun, the capital is still a monochromatic emptiness, as if Mark Rothko took to urban planning. The rumor goes that Naypyidaw was built without nightclubs or bars to prevent princelings and their cohorts from bad behavior.
So the party goes on in Rangoon instead — or in Singapore, where some wealthy Burmese maintain homes and bank accounts. Riding one afternoon in Rangoon in a dilapidated taxi that saw its best days four decades ago, I hear a deep-throated purr behind me. Turning around, I spot a sunflower-yellow Lamborghini careening past the potholes of Strand Road. The taxi driver knows the luxury car well. It is a plaything of Tay Za's family. Later I spot the same vehicle, along with several Mini Coopers and a Ferrari, parked at the mansion of the man the U.S. Treasury Department calls "an arms dealer and financial henchman of Burma's repressive junta." In June, Tay Za is believed to have helped the Burmese regime buy even flashier modes of transport: 50 Karakorum light attack aircraft from China. (His aviation company is also credited with brokering last year's deal for the Russian MiGs.) All these new planes will surely please the DSA cadets, who perhaps one day can graduate from computer games to real fighter jets. For the "triumphant elite of the future" — like the rest of Burma's pampered classes — even the stratosphere is within easy reach.
Fonte: Time
Assinar:
Postagens (Atom)