28/07/2010
Opinião
LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES
Todo alarmismo fomenta medo irracional. E este medo é a forma eficaz de controle social: sociedades amedrontadas reagem como manadas, se deixando levar. Em nome da redução de uma ameaça superestimada, as lideranças políticas podem agir livremente em busca de outros objetivos, alheios à redução da própria ameaça.
Não se tem aqui a intenção de propagar uma visão cândida das armas nucleares.
Seu potencial de causar inimaginável devastação está acima de qualquer controvérsia.
Esta realidade requer pensar de forma mais clara e sóbria sobre as causas e consequências da proliferação nuclear. É muito difícil encontrar analistas que não sejam pessimistas.
Existe um “pensamento único” de que essa é a mais grave ameaça — hoje pior do que nunca.
Seriam, portanto, necessárias novas e mais efetivas políticas para enfrentar o problema. A isso se chama “alarmismo nuclear”, que transcende diferenças ideológicas, perpassando por todo o espectro político.
Essa corrente considera que esse “terrível mundo novo”, complexo e perigoso, pois baseado numa ordem multipolar, é muito pior que “velhos bons tempos” da “mútua destruição assegurada” entre EUA e URSS. Tais avaliações são superestimadas e, em alguns casos, simplesmente erradas, decorrendo de um débil ou tendencioso entendimento da História. Na verdade, o mundo era muito mais perigoso nas décadas que se seguiram ao fim da II Guerra do que é hoje, e os desafios colocados pelas armas nucleares eram mais complexos.
Para que as políticas de não proliferação tenham êxito, o entendimento da História é vital. O alarmismo não é uma estratégia para enfrentar as ameaças atuais, que não são novas ou mais perigosas do que as do passado. Pela reação desproporcional aos perigos atuais e pela descaracterização da História recente, os alarmistas nucleares provocam políticas ineficazes ou orientadas para objetivos alheios à não proliferação.
Denunciar o alarmismo nuclear não implica defender uma “bomba pacífica”, isto é, entender a bomba como instrumento para a paz, nem advogar pelo direito de nações à arma nuclear, o que seria um absurdo. A evidente e não explicada contradição entre a carta de Obama a Lula antes de sua viagem a Teerã e a reação de Hillary Clinton à declaração conjunta Brasil-Turquia-Irã é uma clara evidência de que a disputa entre “falcões”, militantes do alarmismo nuclear, e “pombos”, cuja expectativa de ascensão ao poder propiciou o Nobel da Paz ao presidente americano, continua muito viva
LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES é assistente da Presidência da Eletronuclear e membro do Grupo Permanente de Assessoria em Energia Nuclear do Diretor-Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
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