´´Observe as tendências mas não Siga a maioria`` Thiago Prado


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sexta-feira, 29 de maio de 2009

Pentágono prepara comando militar para o ciberespaço, diz NYT

WASHINGTON - O Pentágono pretende criar um novo comando militar para proteger o ciberespaço, melhorando a preparação das Forças Armadas dos EUA para ações defensivas e ofensivas de guerra por computador, informou o jornal "New York Times" nesta sexta-feira.

Esse comando militar complementaria um esforço civil que o presidente Barack Obama deve anunciar nesta sexta-feira, no sentido de reformular as salvaguardas para as redes de computação no país, segundo o site do jornal.

Citando fontes oficiais, o jornal disse que o presidente vai detalhar na sexta-feira a criação de um departamento da Casa Branca para coordenar um bilionário esforço para restringir o acesso a computadores do governo e proteger os sistemas que administram as Bolsas dos EUA, liberam transações bancárias e integram o controle do tráfego aéreo.

O Times disse que o departamento civil será responsável pela coordenação entre as defesas do setor privado e do governo contra milhares de ataques virtuais realizados todos os dias contra os EUA, em geral por hackers, mas às vezes por governos estrangeiros.

Fontes do governo disseram que Obama não falará sobre o plano do Pentágono na sexta-feira. Mas o presidente deve assinar nas próximas semanas um decreto sigiloso para criar o comando cibernético.

A necessidade de melhorar a segurança digital dos EUA ficou clara em abril, quando o Wall Street Journal afirmou que ciberespiões haviam invadido rede elétrica dos EUA e deixado softwares que poderiam afetar o sistema.

O Times disse que os EUA já têm muitas armas no seu arsenal informático, e deve preparar estratégias para usá-las como dissuasão, junto com armas convencionais, em diversos tipos de possíveis conflitos.

A Reuters já havia informado que empresas no mercado da segurança digital incluem fabricantes de softwares de segurança, como Symantec e McAfee, empresas tradicionais de defesa, como Northrop Grumman e Lockheed Martin, e companhias de tecnologia da informação, como CACI International.

O Pentágono trabalhou durante meses numa estratégia para o ciberespaço, concluída há poucas semanas, mas cuja divulgação foi adiada devido a divergências a respeito da autoridade do departamento da Casa Branca e do orçamento para toda a iniciativa, segundo a reportagem.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Os gastos com armas no mundo

Um estudo do Sipri (Instituto Sueco que estuda indústria de armamentos em todo o planeta) divulgou o seu relatório anual de 2007, o qual mostrou que a despesa militar no mundo em 2006 chegou a US$ 1,2 trilhão, um aumento de 3,5% em relação a 2005 e de 37% em 10 anos. A despesa média per capta subiu de US$ 173 para US$ 184. Os maiores gastos internacionais foram dos EUA, que de 2001 a 2006 desembolsou um total de US$ 432 bilhões anualmente e que, segundo as estimativas para 2016 para a Guerra do Iraque, deve despender um total de US$ 2,2 trilhões. Até o momento é o país que mais gasta em armas no seu orçamento trilionário, em torno 46% do total mundial. Sobre a venda de armas em todo o mundo, os EUA venderam em 2005 US$ 290 bilhões ou 63% do total e 32 empresas européias são responsáveis por 29% do total.

Apesar do relatório do Sipri falar sobre o aumento dos gastos militares chineses nos últimos tempos, os números mostram outra coisa, em 1998 as despesas militares chinesas eram de US$ 19,3 bilhões (1,9% do PIB), em 2000 foram em torno US$ 23,8 bilhões (2% do PIB) e em 2005 ficaram em torno de 2% do PIB chinês, o que é uma alta que segue o crescimento da economia chinesa e da sua população. O Irã, em 1998, teve despesas militares de US$ 3,1 bilhões, que ficou em 3,2% do seu PIB, em 2000 chegou a 5,4% do PIB, gastando US$ 6,6 bilhões, em 2003 subiu para US$ 7 bilhões ou 4,4% do PIB. Por ser a maior potência militar do mundo, os EUA, em 1998, investiu US$ 328 bilhões em defesa ou 3,2% do PIB do país, em 1999 os gastos dos EUA com armas foram de US$ 329 bilhões ou 3,1% do PIB, em 2003 o gasto foi de 3,8% do PIB ou US$ 440 bilhões. O Brasil também tem seus números pesquisados nas despesas militares pelo Sipri e em 1998 os gastos com a defesa somaram um total US$ 11,8 bilhões ou 1,9% do PIB; em 1999 foram 1,7% do PIB os recursos usados para a segurança do Brasil, que foram de US$ 10,9 bilhões; no ano 2000 foram investidos US$ 11,5 bilhões na defesa brasileira ou 1,7% do PIB do Brasil; em 2003 um total de US$ 11,9 bilhões foram usados no Brasil em armamentos, em 1,6% do PIB.

O documento da Sipri mostrou ainda que a maioria dos conflitos militares atualmente no mundo é causada pelo domínio de fontes de energia, principalmente na Ásia e na África, que estão sendo castigadas por guerras e pela pilhagem dos impérios dos países ricos. A venda de armas para as regiões em conflito aumentou muito e apesar das convenções da ONU terem proibido o comércio de armamentos para certos lugares do mundo, este tipo de atividade aumenta a cada ano, segundo relatório da SIPRI. O Comandante Fidel Castro sempre denuncia em seus discursos memoráveis que os gastos norte-americanos com a fabricação de armas para dominar o mundo poderia ser usada para distribuir a preços mais baratos milhares de medicamentos que salvariam milhões de pessoas da morte e poderiam formar milhares de profissionais da área médica para salvar vidas em várias partes do mundo. Um dos lemas da Revolução Cubana é que este pequeno país da América Central exporta milhares de médicos e educadores para dar um atendimento humano aos milhões de miseráveis e enfermos em todo o mundo e uma das frases dos dirigentes cubanos é que o seu país exporta capital humano médicos e profissionais de saúde e não armas de destruição em massa, por isso Cuba é um exemplo de solidariedade humana bem presente nos ideais socialistas.

A indústria dos armamentos é uma das mais lucrativas do mundo e gera trilhões de dólares, que vão para as mãos dos mercadores da morte, que leva à catástrofes humanitárias em várias partes do mundo. O maior fabricante de armas do mundo é o império norte-americano, que tem interesse em fomentar guerras em vários países para lucrar com a desgraça alheia que fere, mata, mutila e destrói a economia de nações inteiras. Mas o sistema capitalista vive da destruição das forças produtivas, como tão bem analisou Marx, para depois reconstruir a parte física do capital e eliminar o excedente dos seres humanos e, assim, dar sobrevida ao seu sistema injusto e desumano. A Guerra do Iraque e do Afeganistão são genocidas, para tomar, à força, o petróleo destas duas nações asiáticas. Apesar das perdas humanas dos dois lados, a indústria bélica fomenta os conflitos para vender armas cada vez mais potentes e mortais, pois o sistema capitalista não tem ética por ter como objetivo maior o lucro a qualquer preço, seja como for, matando, roubando, torturando e envenenando as populações envolvidas nas guerras.

Julio Cesar de Freixo Lobo

Al Qaeda no Brasil

Al Qaeda no Brasil

Prisão de terrorista feita pela PF em São Paulo está sob sigilo rigoroso; só governo dos EUA tem informações



Está preso no Brasil, sob sigilo rigoroso, um integrante da alta hierarquia da Al Qaeda.

A prisão foi feita pela Polícia Federal em São Paulo, onde o terrorista estava fixado e em operações de âmbito internacional. Não consta, porém, que desenvolvesse alguma atividade relacionada a ações de terror no Brasil.

A importância do preso se revela no grau de sua responsabilidade operacional: o setor de comunicações internacionais da Al Qaeda. Tal atividade sugere provável relação entre recentes êxitos do FBI e a prisão aparentemente anterior feita em São Paulo. Há cinco dias, o FBI prendeu por antecipação os incumbidos de vários atentados iminentes nos Estados Unidos, inclusive em Nova York.

A cautela para preservação do sigilo fez a Polícia Federal atribuir a prisão, até mesmo para efeito interno, a investigações sobre células de neonazistas. Só o governo dos Estados Unidos tem informações do ocorrido em São Paulo, mesmo porque o FBI e o grupo americano antiterrorismo têm agentes no Brasil em ação conjunta com a Polícia Federal.

A escolha de São Paulo pela Al Qaeda parece decorrer, ao menos em parte, da conjunção de neutralidade simpática do governo brasileiro ante os países islâmicos e de inexistir, aqui, obsessão (e motivos para tê-la) antiterrorista. São Paulo, por sua vez, como a máfia, a camorra e coirmãs têm demonstrado, proporciona as condições populacionais e urbanísticas para desaparecer-se no gigantismo geral. O que, já nos anos 60-70, fizera os movimentos de luta armada a escolherem para seu campo de ação preferencial.

Por menos que a atividade do agora preso tivesse a ver com o Brasil, do ponto de vista brasileiro há um aspecto grave na constatação de sua presença aqui. Só Foz do Iguaçu, por estar na chamada Tríplice Fronteira, era vagamente citada como possível local de apoiadores de movimentos islâmicos. Com a presença ativa de um integrante da Al Qaeda em São Paulo, o Brasil entra no mapa das fixações internacionais do antiterrorismo. E nisso só há inconvenientes.



Em tempo

A CIA, que previu o uso de armas nucleares pelo Iraque que não as tinha, não previu que a Coreia do Norte estava pronta para explodir uma arma nuclear.

A novidade é um presente combinado do regime tresloucado da Coreia do Norte e ainda de George Bush. Feito o acordo para os norte-coreanos sustarem seu programa nuclear, em troca de ajuda econômica, eles, para justificada surpresa, o cumpriram. George Bush e seus aliados, não. Nem quando advertidos de que o programa, então, seria retomado.

Enquanto você acredita que o Brasil não está na fila de entrada do mundo de armas nucleares, a Editora Paz e Terra lhe oferece nas livrarias um livro muito recomendável. É o pequeno "Um Mundo ou Nenhum" (a tradução do título original é "Nosso Mundo ou Nenhum", melhor), criação já antiga mas atualíssima de eminentes cientistas e pensadores com artigos para o público comum, sobre a ameaça nuclear. A meu ver, leitura indispensável para todo não alienado. Com atenção especial para o texto do velho Einstein.

Armas para todos

O espanhol "El País" deu especial com três textos, ontem, descrevendo como as "Armas ilegais sugam o sangue da América Latina". Citando "fontes de defesa dos EUA", afirma que a recente captura de "dois dos mais conhecidos traficantes de armas, o russo Víktor Bout e o sírio Monser Kassar, revelou como é simples introduzir as armas -e o papel crucial da Nicarágua". Registra que "a fronteira entre os países andinos e o Brasil e a tríplice fronteira de Paraguai, Argentina e Brasil são alguns dos principais pontos na América Latina para o contrabando".

Na direção oposta, ontem nas agências AP e AFP, relatório da chancelaria israelense acusa a Venezuela de fornecer urânio ao Irã.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O Sri Lanka e os perigos das políticas de cotas

"Não olhe para onde você caiu, mas para onde escorregou" - Provérbio africano

O presidente do Sri Lanka, Mahinda Rajapaksa, declarou oficialmente a vitória das tropas de seu governo sobre os rebeldes do grupo separatista Tigres de Libertação da Pátria Tâmil, após 26 anos de guerra civil. Voltar às origens deste conflito, que tirou a vida de mais de 70 mil pessoas, pode ser útil para se chegar a algumas conclusões. Em seu livro "Ação afirmativa ao redor do mundo", Thomas Sowell analisa o caso de Sri Lanka, concluindo que o regime de cotas imposto à população foi uma das causas do conflito.

A população de Sri Lanka é de 20 milhões de habitantes, com aproximadamente três quartos formados por cingaleses, sendo que a minoria principal, os tâmeis, constitui menos de um sexto da população. Antiga colônia inglesa do Ceilão, o Sri Lanka conseguiu a independência em 1948. Não ocorrera uma única rixa racial entre os cingaleses e tâmeis durante a primeira metade do século XX, independente da posição relativa bem mais favorável dos tâmeis, por fatores históricos, como o maior domínio inglês em regiões habitadas por eles. Os tâmeis foram, em boa parte, educados por ingleses e americanos, que deram maior ênfase a matemática e ciência. Prosperaram então, a despeito das regiões mais ricas em recursos naturais estarem no controle dos cingaleses.

Na independência, as posições de poder, riqueza e prestígio estavam principalmente nas mãos das elites cultas que falavam inglês, freqüentemente cristãs, tanto de cingaleses quanto de tâmeis. A maioria, formada por cingaleses, pretendia tomar o poder. Adotaram o lema da "língua própria" contra a dominação do inglês. Como tantos outros lemas políticos, o pleito pela "língua própria", em lugar do inglês, escondia outros interesses obscuros. Houve rápida transição para a defesa de "somente o cingalês" como idioma do Sri Lanka, visando na verdade ao acesso de empregos, especialmente do governo. Atingir as minorias tâmeis era o real alvo dessa medida.

Um ambicioso membro do governo, Solomon Bandaranaike, partiu para a oposição, criando seu próprio partido em 1951, e levando a bandeira da luta pela língua própria. Ele não representava todos aqueles em nome dos quais falava com tanta estridência. Era na verdade um aristocrata cingalês, cristão educado em Oxford. Mas Bandaranaike converteu-se ao budismo, esforçou-se para falar cingalês e se tornou defensor radical da cultura, idioma e religião cingaleses. Com certeza seus objetivos não eram religiosos. Ele pretendia ser primeiro-ministro. E conseguiu.

Sua administração produziu a legislação que especificou "só o cingalês" como idioma oficial de Sri Lanka. Essa política tornou-se foco de desavenças intergrupos em vista de sua potencialidade para influir profundamente sobre as oportunidades na educação e emprego. O governo instituiu ainda a aposentadoria obrigatória para os funcionários que não fossem capazes de falar o cingalês, dando um duro golpe nos tâmeis. A Constituição de Sri Lanka foi reformada para eliminar os preceitos que garantiam direitos às minorias. Como em vários outros casos, a democracia era apenas um caminho para a ditadura da maioria.

Bandaranaike chegou a tentar um acordo com os tâmeis, cedendo em alguns pontos, devido à forte reação destes. Mas a reclamação dos cingaleses, já lutando para perpetuar os novos privilégios, evitou que o acordo entrasse em vigor. Em 1959, um extremista budista cingalês assassinou Bandaranaike, alegando que ele traíra a causa. Os partidos políticos cingaleses aproveitaram o pretexto dos direitos dos grupos e competiram para ganhar os votos da maioria, oferecendo manutenção de regalias. Como em todos os demais casos de cotas, o que era para ser temporário vira permanente. Em 1972, foi introduzido um "sistema distrital de cotas", fazendo despencar a proporção de estudantes tâmeis universitários.

Depois que apelos, protestos e campanhas de desobediência civil fracassaram na luta pela autonomia dos tâmeis, começou um movimento de guerrilha, e as demandas dos tâmeis escalaram-se, inclusive pregando a separação do país. Em 1975, foi formado o grupo guerrilheiro Tigres Tâmeis, e Sri Lanka estava em rota de guerra civil. Foi uma guerra repleta de atrocidades, de ambos os lados. Os tâmeis, sem o direito de secessão pacífica, começaram a fugir de Sri Lanka. A vizinha Índia recebeu mais de 40 mil tâmeis refugiados.

Tentando a paz, uma disposição na Constituição de 1978 reconheceu os direitos de idioma dos tâmeis, mas já era impossível restabelecer o status quo ante. Era muito pouco, muito tarde! A guerra civil prosseguiu por décadas, deixando mais de 70 mil mortos. Diferente da crença bastante difundida, não foi quando as disparidades econômicas eram maiores que a rixa intergrupo atingiu seu pico. Ao contrário, os cingaleses e os tâmeis conviviam pacificamente nos anos 1920, quando a minoria tâmil era mais rica em termos relativos. Não foram as desigualdades que conduziram à violência intergrupos, mas a politização de tais diferenças, assim como a promoção de políticas de identidade de grupos, como as cotas.

O caso de Sri Lanka é sintomático, demonstrando o perigo de medidas racistas, como as cotas. O uso político das desigualdades, mesmo que oriundas de causas históricas diversas, acaba favorecendo alguns inescrupulosos oportunistas, pois o benefício é concentrado e os custos são mais dispersos. Mas com o tempo, os resultados catastróficos são inevitáveis. Sri Lanka é uma boa prova de que as cotas podem transformar paz em sangue!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O dano psíquico da guerra

Eu não poderia ter ficado mais surpreso quando li, na semana passada, a notícia de que um sargento havia matado a tiros cinco de seus colegas no Iraque. O fato de ter acontecido num centro de saúde mental em meio à zona de guerra apenas confere um verniz extra de sordidez e ironia a esta tragédia.

O dano psíquico desta guerra tola e aparentemente sem fim tem agravado-se desde o primeiro dia. Da mesma forma, é igualmente chocante a maneira pela qual o país tem negado este estrago.

Segundo autoridades, John Russell, sargento do Exército de 44 anos de idade que reconhecidamente enfrentava sérios problemas e estava em sua terceira excursão ao Iraque, chegou ao centro de aconselhamento na tarde do dia 11 de maio e abriu fogo, matando um oficial do Exército, um da Marinha e três soldados.

Isto é o que acontece em tempos de guerras. As guerras e o ato de matar são indissociáveis e isto pode desencadear inúmeras formas de matar. Este é o motivo pelo qual é absolutamente repugnante entrar em guerras desnecessárias, assim como é imoral enviar nossos filhos aos campos de batalha – tanto do ponto de vista físico quanto psíquico – perigos dos quais buscamos protegê-los.

Os efeitos colaterais das guerras do Iraque e do Afeganistão têm sido devastadores, mas não há razão para que as pessoas se surpreendam com isto. Havia já inúmeras evidências de que estas guerras trariam à tona imensos problemas. Ao falar do Iraque em 2004, o médico Stephen Joseph, assistente da Secretaria de Defesa na administração Clinton, declarou: "Eu tenho uma sensação muito forte de que as consequências no âmbito da saúde mental contarão a história desta guerra do ponto de vista médico".

Eu me lembro de ter escrito um artigo sobre Jeffrey Lucey, um fuzileiro naval de 23 anos que se encontrava profundamente deprimido e sofria de transtorno do estresse pós-traumático quando retornou depois de servir nos primeiros meses da guerra do Iraque. Ele descreveu eventos terríveis que presenciou e tornou-se extremamente crítico quanto a si mesmo.

Mas o país abranda sua consciência e reprime a sua culpa com a invocação covarde: "Ah, eles são voluntários. Eles sabiam onde estavam entrando".

terça-feira, 19 de maio de 2009

Guerra assimétrica muito além do David versus Golias

Os ataques de 11 de setembro de 2001, dramaticamente, recolocaram os assuntos de segurança no centro da agenda mundial. O século XXI, longe de presenciar um estado superior da evolução do homem por meio do socialismo, ou do triunfalismo liberal do fim da história (ironicamente as duas utopias desfeitas derivam do pensamento de Hegel). Nasceu sob o signo do que se costuma chamar de conflito de baixa intensidade, antagonismos étnicos, religiosos, nacionalistas e provocados por outras ideologias. Ou seja, não obstante um poderio militar sem par na história da humanidade os EUA enfrentam uma ameaça que apesar de ser ínfima quando comparada com sua capacidade conseguiu lhe infligir um duro ataque em seus centros de gravidade.

Do ponto de vista estratégico, ataques terroristas da rede Al Qaeda, incursão israelense em Gaza, a insurgência no Iraque, têm uma característica comum. Esses conflitos se dão entre forças estatais regulares e forças irregulares que podem ser consideradas transnacionais (já que agem, recrutam e buscam financiamento e apoio globalmente) e incorpóreas (já que não são Estados), ou seja, são forças desiguais em meios de combate, em regras de engajamento, em controle político, em sujeição a tratados e legislações e em pressão da opinião pública A esse tipo de combate se convencionou chamar no campo dos estudos estratégicos de Guerra Assimétrica ou guerras de Quarta Geração.

É preciso empreender um esforço de definir de maneira clara, objetiva e não legalista, ou seja, de maneira mais ampla possível definir guerra assimétrica. Já que esse tema é campo fértil para a influência ideológica.

Guerra assimétrica: Definições

A guerra de primeira geração da era moderna tem seu marco com o uso das armas de fogo. O apogeu desse tipo de deflagração militar foram as guerras napoleônicas.

A segunda geração tem suas bases nas inovações introduzidas pela revolução industrial que aumentaram sobremaneira as capacidades de emprego de pessoal e a capacidade de destruição dos engenhos de guerra.

A terceira geração se caracteriza pelo emprego de forças de maneira rápida com apoio de forças blindadas, o ápice desse tipo de enfrentamento combinado em vários meios, foram os ataques tipo Blitzkrieg (termo alemão para guerra-relâmpago), principalmente os das divisões de blindados panzers. Eram guerras orientadas para a conquista de objetivos estratégicos.

É preciso ter em mente, também, que em um teatro de operações tradicional a população civil é considerada inimiga. Contudo as guerras de quarta geração introduzem aspectos de busca do desestimulo do apoio da população a um conflito, são conflitos de baixa intensidade (uso de táticas de insurgência, terrorismo e forças irregulares). Os conflitos dessa quarta geração se baseiam nas assimetrias. Nesse sentido podemos adotar com um bom grau de abrangência a definição empregada pela Marinha do Brasil (BRASIL. Estado Maior da Armada. EMA305: Doutrina Básica da Marinha. Brasília. 2004) para guerra assimétrica:

“A guerra assimétrica é empregada, genericamente, por aquele que se encontra muito inferiorizado em meios de combate, em relação aos de seu oponente. A assimetria se refere ao desbalanceamento extremo de forças. Para o mais forte, a guerra assimétrica é traduzida como forma ilegítima de violência, especialmente quando voltada a danos civis. Para o mais fraco, é uma forma de combate. Os atos terroristas, os ataques aos sistemas informatizados e a sabotagem são algumas formas de guerra assimétrica.”

Vale ressaltar que do ponto de vista dos pequenos em conflito assimétrico busca-se o apoio da opinião pública interna e externa para sua causa, assim essa tática é particularmente influente quando se combate forças de países democráticos que são sujeitos a pressão da opinião pública. Outro ponto é que com essa tática tenta dissuadir a potencia de usar seus recursos superiores sob pena de censura por uso excessivo de violência, desproporcionalidades.

Embora satisfatória a definição acima (e seu adendo) de guerra assimétrica ela fica presa ao que muitos chamam de imagem Davi contra Golias, ou seja, se prende a diferença de poder (tamanho) entre os contendores quando a tecnologia, também, pode ser decisiva nesse cenário, para ilustrar com a mesma imagem foi o uso da funda como uma arma de precisão atacando o ponto fraco do inimigo que Davi venceu. Ao que Sun Tzu já ensinara: “atacai-o [o inimigo] onde não estiver preparado. Executai vossas investidas somente quando não vos esperar”.

Assim de modo amplo uso da assimetria pode ser entendido como o uso de alguma diferença para obter vantagem, a história é cheia de exemplos de inovações mudando o balanço de poder em guerras (desde os Barcos trirremes atenienses na Batalha de Salamina, por exemplo). Por isso mesmo o U.S Army War College tem estudos que procuram aprofundar e diferenciar os vários tipos de assimetria e os tipos de estratégia que derivam do emprego ou não da assimetria como estratégia de combate, o texto é elucidador, embora seja como era de se esperar é focado na posição americana.

Segundo o Joint Strategy Review 1999, Washington, DC: The Joint Staff, 1999, p. 2. “[...] Asymmetric methods require an appreciation of an opponent’s vulnerabilities. Asymmetric approaches often employ innovative, nontraditional tactics, weapons, or technologies, and can be applied at all levels of warfare— strategic, operational, and tactical—and across the spectrum of military operations”


Guerra assimétrica: dimensões, níveis e formas

Dimensões

No que tange ao uso das táticas assimétricas podem ser classificadas quanto a sua dimensão como positiva e negativa. Sendo a primeira quando empregadas pelas forças americanas. Pode também, ser de curto ou longo prazo, já que eventualmente no curso de uma escaramuça elementos surpresas perdem seus efeitos como a Blitzkrieg, que eventualmente foi derrotada pelos soviéticos, e pelos ingleses e americanos na África.

Seu emprego pode ser deliberado ou circunstancial, ou seja, pode derivar de uma estratégia clara de combate por meios assimétricos ou resultar de variações táticas produzidas por circunstancias de combate. Com por exemplo, o emprego de forças irregulares vietcongs numa fase da guerra, mas a tomada completa do Vietnã se deu por meio do emprego de forças regulares, simétricas por parte dos Norte – Vietnamitas.

Podem ser de baixo ou alto risco, sendo o baixo risco o uso de tecnologias e treinamentos superiores, que podem ter alto custo, mas numa hipótese de emprego aumentam as chances de sucesso, táticas de alto risco são as de caráter, “traiçoeiro”, por exemplo, o ataque japonês a Pearl Habor, que acirrou os ânimos da população americana e criou coesão em torno do envolvimento militar ativo dos EUA na Segunda Guerra.

Classificam, também, em discretas ou conjuntas, sendo as operações conjuntas de táticas assimétricas e uso regular o mais perigoso no ponto de vista americano. E por ultimo, podem ser quanto a sua dimensão material ou psicológico, sendo assimetria material uma superioridade per se, e psicológico a capacidade de impor uma imagem de combatentes temíveis, como os Zulu, por exemplo.

Níveis

Podem ter um nível de combate e um midiático. No nível de combate é o emprego propriamente dito de táticas inovadoras, ou meios que busquem diminuir suas debilidades, como o emprego de submarinos pelos nazistas para diminuir a desvantagem quando comparado ao tamanho da marinha britânica.

No nível midiático é a busca do chamado “moral high ground”, ou seja, buscar difundir que se tem razão, ou buscar se pintar de vitima, e angariar apoio, fundos e pressões da opinião pública.

Formas

São seis as formas de assimetria, método, tecnologia, perseverança, moral, organizacional e paciência.

Método é uso de táticas, doutrinas de defesa e empregos inesperados. Tecnologia é a face mais visível da assimetria se dá pelo emprego de sistemas de armas mais eficientes e destrutivos que o do inimigo. Perseverança surge quando se depara com um inimigo disposto a agüentar níveis de pressão altos, grandes perdas e riscos elevados. Moral é guando um inimigo consegue impor um sentimento de derrotista entre as tropas. Organizacional tanto pode ser vantagens advindas de boas práticas de gestão e emprego de forças, como pode ser por um alto nível de decisões descentralizadas, ou seja, um sistema que pode funcionar autonomamente mesmo com a liderança isoladas. Paciência é o uso da resistência como forma de desestimular um inimigo que culturalmente prefira vitórias rápidas.

Em resposta a isso os estudos do supracitado War Collage fazem as seguintes recomendações:

“Adopt a more general and complete definition of asymmetry and use this as a foundation for doctrine.
Integrate the five strategic concepts, Maximum Adaptability and Flexibility, Focused Intelligence, Minimal Vulnerability, Full Dimensional Precision, and Integrated Homeland Security into American national security strategy.”


Conclusões

Guerras assimétricas são conflitos entre forças com capacidades diferentes, derivam da capacidade de dissuasão do poderio militar convencional americano e das maiores potências que torna um combate normal e um teatro de operações regular, contudo esse cenário não contribui para o aumento da estabilidade já que grupos ideologicamente motivados e coesos optam por meios de combate assimétrico, seja na forma de ataques terroristas, seja provocando combates em zona urbana com baixas colaterais civis enormes.

Graças ao fenômeno da comunicação global instantânea principalmente desde a revolução dos satélites e da atual era da informação as táticas assimétricas quase sempre disparam freios de ordem política, já que todos os políticos são de uma maneira ou de outra afetados por pressões da opinião pública, claro que é preciso um regime aberto, para isso.

Embora o termo invoque a imagem de luta de forças pequenas contra grandes potências (Davi contra Golias), mas essa imagem romantizada não abrange o tema como um todo. Já que a assimetria, também, é o uso de meios inesperados e “exóticos” ou de meios tecnologicamente superiores para vencer uma guerra.

A meta dos pequenos que se usam da guerra assimétrica é induzir a adoção de políticas desejadas pelos pequenos e assim influenciado decisivamente a política das grandes potências, conseguindo assim seus objetivos. Nesse sentido o pequeno busca nos termos proposto por Clausewitz de “compelir o inimigo a fazer a sua vontade”. Sem, no entanto, vencer a guerra e dominar o território do inimigo.

O terrorismo face mais conhecida e controversa da guerra assimétrica será abordado num próximo post. E pra variar, esse ensaio não tem como objetivo esgotar o tema, mormente o objetivo é apresentar um tema muito interessante.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Epidemias esquecidas

Com o mundo voltado para o surto da gripe A, que já matou 72 pessoas desde o fim de abril, doenças como malária, cólera e dengue, que fazem milhões de vítimas a cada ano, não recebem a atenção devida

Da Redação



Enquanto o mundo se espanta com a gripe suína, que já contaminou 8.480 pessoas em 39 países e matou 72 pessoas, outras epidemias e até endemias — que acontecem de forma contínua ou com uma periodicidade característica — mais fatais não recebem a atenção que deveriam. A Organização Mundial de Saúde (OMS) revela números preocupantes, especialmente referentes à África, que é refém de, pelo menos, três grandes vilãs: cólera, malária e poliomielite. Essas doenças endêmicas também são as principais responsáveis por assolar os países do sul da Ásia afetados por grandes catástrofes climáticas, como Mianmar. Na América do Sul e no Brasil, dengue e malária figuram como as maiores ameaças.

Segundo a OMS, 3,3 bilhões de pessoas — metade da população do planeta —, correm o risco de contrair malária. Por ano, aproximadamente 250 milhões são infectadas e, destas, cerca de um milhão não sobrevive. Na África, o cenário é ainda mais desolador: uma criança morre de malária a cada 30 segundos, sendo essa a responsável por 20% da mortalidade infantil. “Expandir as áreas livres de malária no continente africano requer ações decisivas dos governos, de organizações não governamentais (ONGs), do setor privado e da sociedade civil”, afirmou o diretor regional da OMS para a África, Luis Sambo, durante o Dia Mundial de Combate à Malária, em abril deste ano. Causada por parasitas, a doença transmitida por mosquitos é ainda mais difícil de ser contida em lugares sem saneamento básico.

Assim como a malária, a cólera atinge particularmente regiões pobres, sem condições básicas de saneamento. Transmitida por alimentos e água contaminados pela bactéria Vibrio cholerae, a cólera é uma infecção intestinal que pode matar por desidratação causada por diarreia e falência dos rins. De acordo com a OMS, atualmente a doença é considerada endêmica em diversos países, e a situação é ainda mais drástica pelo fato de o patogênio da cólera (organismo que a desencadeia) não poder ser extinguido do meio ambiente. Um dos lugares mais atingidos é o Zimbábue, onde os mais de 12 milhões de habitantes vivem sob a sombra da cólera. De agosto de 2008 até março deste ano, a doença já fez mais de quatro mil vítimas fatais no país, que registra cerca de 90 mil contaminados.

Um pouco mais acima do continente, na região centro-oeste africana, Níger, Nigéria e Chade sustentam uma endemia de meningite. Apesar de ser facilmente prevenida, a doença atingiu níveis alarmantes nesses países, com 56 mil infectados e quase dois mil mortos. Diante dos números, os governos da região e a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) mobilizaram a maior campanha de vacinação da história. Atualmente, 250 equipes de trabalho vacinam 1,5 milhão de homens e mulheres com idade entre 2 e 30 anos todos os dias. O trabalho conjunto das equipes médicas e dos governos procura impedir que se repita o surto de dez anos atrás, quando 25 mil pessoas perderam a vida por conta da doença.

Em março deste ano, a OMS lançou ainda um alerta para o vírus da pólio na Etiópia, no Quênia, em Uganda e no Sudão. A ação se concentrou principalmente na cidade de Porto Sudão, ao sul do país, que foi a origem do vírus que contaminou Arábia Saudita, Iêmen e Indonésia no surto de pólio entre 2004 e 2006.



BRASIL

Como os casos de cólera no Brasil são concentrados nos estados amazônicos, é a dengue que mais assola o país como um todo. Segundo a OMS, a taxa de letalidade da dengue por aqui é seis vezes maior do que a considerada aceitável. Desde o início do ano até 30 de abril, 87 pacientes com dengue hemorrágica ou com complicações da doença morreram, o que equivale a 6% do total de infectados. Pelos padrões da OMS, o máximo seria 1%. “É um índice muito alto, que revela ainda falhas importantes na assistência aos doentes”, disse o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue, Giovanini Coelho à agência Estado no último sábado. Das 87 mortes confirmadas pela doença, a maioria foi registrada na Bahia e em Mato Grosso.



“O Japão está pronto para tomar todas as medidas necessárias para evitar que a gripe se espalhe pelo país”

Taro Aso, primeiro-ministro do Japão



O número

US$ 92 milhões

Serão gastos pelo México para impulsionar o turismo. Segundo o ministro de Turismo, Rodolfo Elizondo, o governo iniciará, nesta semana, uma campanha nacional e internacional para reaquecer o setor.

Nacionalismo de esquerda regional explora ''imperialismo'' do Brasil

Na entrevista coletiva em que afirmou ter um filho com o presidente Fernando Lugo, no dia 22, a professora Damiana Morán denunciou interesses de outros países no escândalo de paternidades do ex-bispo. Alertou que era preciso tomar cuidado para não desviar a atenção de temas importantes, como o da "soberania energética" - como Lugo chama a exigência de revisão do Tratado de Itaipu. A imprensa paraguaia concluiu que Damiana, militante do movimento político de Lugo, via um dedo do Brasil no escândalo.

O episódio indica o grau de sensibilidade dos paraguaios à presença do Brasil em seu país. Mas não é só no Paraguai que isso se dá. A elevação do perfil político do Brasil no mundo é até bem vista. Mas sua atuação econômica na região tem aguçado nos vizinhos a rejeição ao "imperialismo brasileiro" - termo cunhado em 2007 pelo jornal paraguaio ABC Color.

O curioso é que se trata, predominantemente, de um choque de nacionalismos de esquerda. De um lado, o presidente Lula converteu a busca desse protagonismo brasileiro numa de suas ocupações principais. De outro, são seus colegas de esquerda que reagem a ele: Evo Morales, na Bolívia, Rafael Correa, no Equador, e Lugo, no Paraguai, de modo mais estridente; Hugo Chávez, na Venezuela, e Cristina Kirchner, na Argentina, de forma pontual.

"As pessoas no Paraguai gostam do Lula. É um dos políticos de maior credibilidade", diz Francisco Capli, diretor do First Análises e Estudos, de Assunção, que fez pesquisas de opinião sobre o tema. "Mas a imagem do Brasil não é boa. Está muito ligada a Itaipu, e a percepção majoritária é de tratamento injusto do Paraguai." Capli cita como outras fontes de tensão os 300 mil brasiguaios - fazendeiros brasileiros em frequentes conflitos com sem-terra paraguaios - e o aperto da Receita Federal ao contrabando de Ciudad del Este.

"A imagem do presidente Lula como líder emergente regional que se contrapõe à hegemonia americana serve para compensar esses pontos negativos", analisa o sociólogo Alejandro Vial, consultor de organismos multilaterais em Assunção. "Lula mostra-se sensível às demandas do Paraguai. É uma liderança que não se impõe pela força militar, ao contrário da tradição, o que causa uma percepção muito boa."

No livro A Percepção do Brasil no Contexto Internacional, editado em 2007 pela Fundação Konrad Adenauer, três especialistas observam que só a China e a Rússia têm mais fronteiras que o Brasil. Mesmo assim, desde o fim do século 19 (depois da Guerra do Paraguai), o Brasil, "apesar de seu tamanho e inegável poder militar", vive em paz com seus vizinhos. "Isso tem sido possível graças a uma sofisticada política externa, fundada na ?mediação construtiva?." Trata-se da variante brasileira do "soft power" (poder brando).

Entretanto, ele pode ter-se tornado brando demais. "O Brasil só tem saído perdendo", critica Clodoaldo Bueno, professor de política externa da Universidade Estadual Paulista, em Assis. "A Argentina impõe barreiras comerciais e o Brasil acha que está tudo bem, aceita sem contrapartidas."

Igualmente, Bueno diz que "Lula precisa ser mais firme" com a Bolívia, que empurrou goela abaixo do Brasil aumento de 285% no preço do gás, nacionalizou duas refinarias que a Petrobrás tinha comprado a pedido do governo boliviano e reviu contratos de exploração de petróleo. "É a Bolívia que depende do mercado brasileiro, e o Brasil negocia como se ele é que dependesse do gás boliviano", diz o especialista. "O governo brasileiro é obrigado a defender seus cidadãos", acrescenta, referindo-se à detenção de funcionários da construtora Odebrecht na Bolívia. "Se a Bolívia se irritar conosco, não acontece nada. Vai invadir o Brasil?"

"As relações estão muito mais tranquilas, porque o governo sabe que o Brasil não depende do gás da Bolívia, e é clara a nossa dependência do mercado brasileiro", confirma o cientista político Carlos Toranzo, da Fundação Friedrich Ebert, em La Paz. "A Bolívia vê o Brasil como irmão mais velho. Quando a crise econômica se agravar, o governo boliviano terá de ser cauteloso em relação ao Brasil." Quanto a Lula, é visto como alguém que apoia Evo em todas as eleições, diz Toranzo.

DIVIDENDOS

Atacar o Brasil rende dividendos políticos. As investidas do presidente Rafael Correa contra a Petrobrás e a construtora Odebrecht coincidiram com sua campanha para a reeleição em abril, observa a socióloga Berta García, da Pontifícia Universidade Católica do Equador. Passada a eleição, Correa voltou a elogiar a liderança regional exercida por Lula. "Correa elegeu-se prometendo combater a corrupção e rever todos os contratos. Ele sabe que o povo gosta disso", diz a socióloga.

As relações do Brasil com a Venezuela têm sido "muito mais positivas" do que com outros países governados por esquerdistas, nota Carlos Romero, cientista político venezuelano. Isso porque são muito vantajosas para o Brasil, que tem superávit de dois terços no comércio bilateral, e porque empresas brasileiras não têm posições tão dominantes na Venezuela. Já a oposição acha que Lula tem sido "muito pouco sensível a suas lutas" contra o que considera "autoritarismo" de Chávez.

No futuro próximo, no entanto, Romero prevê conflitos entre Chávez e Lula, com a radicalização do venezuelano e sua opção pela Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), em detrimento da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), postulada pelo Brasil. Em contraposição ao Conselho de Segurança Regional, da Unasul, Chávez está criando um órgão equivalente na Alba. "Chávez não está muito convencido de estar sob o guarda-chuva de Lula", diz Romero.

Clodoaldo Bueno recorda que o Barão do Rio Branco, precursor da política externa brasileira, mantinha "retórica elevada com todos os países da América Latina e evitava conflitos, mas repelia qualquer tentativa de ingerência nos nossos assuntos". Para Bueno, Lula rompeu essa tradição. "Ele precisa ter mais cautela, ser mais reservado e pragmático. Não pode influenciar as eleições na Venezuela", diz, referindo-se ao apoio explícito a Chávez em 2006, dias antes de ele tentar a reeleição. "O presidente não pode ficar prisioneiro do próprio discurso. Assim, quando tem de falar mais firme, sente-se mais à vontade."




FRASES

Clodoaldo Bueno
Professor de política externa da Unesp

"Lula precisa ser mais firme. Se a Bolívia se irritar conosco, não acontece nada. Vai invadir o Brasil?"

Carlos Romero
Cientista político

"Chávez não está muito convencido de estar sob o guarda-chuva de Lula"

domingo, 17 de maio de 2009

Sem alarde, Alemanha vira gigante das armas

BERLIM. Sem muito alarde, com fama de pacifista e ecológica, a Alemanha tornou-se nos últimos anos um gigante armamentista e o terceiro maior exportador mundial de armas. Num estudo divulgado esta semana pelo Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), a Alemanha só exporta menos armas que Estados Unidos e Rússia, que ocupam, respectivamente, o primeiro e o segundo lugares no ranking.

Para os analistas, a Alemanha, que aumentou as suas exportações em 70% nos últimos cinco anos (comparando com os dados de 1999 o crescimento chegou a 123%), tirou bastante proveito da queda da Cortina de Ferro, há 20 anos, consolidando ainda mais sua posição em um setor industrial onde encontrou limitações até a reunificação do país, em 1990. Depois da Segunda Guerra Mundial, os alemães receberam uma proibição quase total de produzir armas, mas aprenderam a contornar os limites impostos.

- A primeira metralhadora alemã depois da guerra foi produzida na Espanha - lembra Otfried Nassauer, do Centro de Informação para Segurança Transatlântica de Berlim (BITS), autor de um estudo sobre a indústria armamentista alemã.





Vendas ilegais para regimes da Síria e do Irã

As proibições foram ao longo dos anos gradualmente abolidas, mas algumas limitações continuaram a existir até a reunificação. Desde então, vigora uma política aparentemente restritiva de exportação de armas, sendo que na prática as empresas do país conseguiram controlar, no ano passado, dez por cento do mercado mundial.

O governo alemão adotou uma posição pacifista contra a invasão do Iraque, em 2003, mas as empresas alemãs forneceram armamento para os Estados Unidos, usado na guerra, embora a própria Constituição do país proíba a exportação de armas para países envolvidos em conflito armado. Também a Geórgia recebeu armas alemãs, indiretamente, durante o recente conflito com a Rússia.

Para aumentar o controle das exportações de armas, o governo do ex-chanceler federal Gerhard Schröder, de coalizão social-democrata com os verdes (1998-2005), elaborou uma série de critérios para este tipo de comércio, pondo a questão dos direitos humanos como prioridade para a avaliação dos países interessados em fazer encomendas na Alemanha.

Mas mesmo o Partido Verde, do ex-vice-chanceler Joschka Fischer, terminou se rendendo aos interesses econômicos do país. Eles não recusaram o fornecimento de equipamentos para a Turquia, apesar da alegação de que essas armas poderiam ser usadas contra o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). A restrição era feita apenas quando o assunto era divulgado e causava polêmica.

Países alvos de embargo internacional, como o Irã e a Síria, recebem também, por canais indiretos, armamento alemão. Segundo Otfreid Nassauer, os equipamentos são transferidos para a zona franca de Dubai e de lá vendidos para terceiros, sem que ninguém possa comprovar o seu destino final.

Os produtos mais vendidos da indústria bélica alemã são os veículos militares e as armas de alta tecnologia. De acordo com Nassauer, a empresa Howaldtwerke Deutsche Werft, uma subsidiária da ThyssenKrupp, é a principal fornecedora de submarinos para o mundo inteiro, também para a América do Sul. Mas o Brasil, que tem no arsenal da Marinha submarinos alemães, recusou a compra de um modelo mais novo, capaz de passar mais tempo submerso, para fazer encomenda de um equipamento similar à França.

De acordo com Claudia Roth, membro do Partido Verde, a falta de transparência no comércio bélico torna possível empresas venderem também para países onde os direitos humanos não são respeitados. Marc Boemken, do Centro Internacional de Conversão de Bonn, completa:

- Apenas os interesses econômicos são levados em consideração no caso do comércio armamentista.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Globalização perversa

O prestigioso sociólogo francês Henri Mendras batizou o termo "contra-sociedade" para referir-se a todos os integrantes de uma determinada sociedade que não podem ou não querem seguir o ritmo e as exigências que esta impõe de modo implacável.

Seu expoente natural seria aquele indivíduo que, por impossibilidade ou simples falta de desejo, não consegue adaptar-se à velocidade com que se move o seu entorno social, transformando-se, consequentemente, em um verdadeiro pária dentro da sociedade a que pertence. Ou seja, um homo sacer, um desadaptado, um ser verdadeiramente excluído.

Nos dias atuais, bem poderíamos falar de uma contra-sociedade mundial. A mesma estaria composta por todos aqueles que não conseguiram assimilar o ritmo evolutivo da sociedade globalizada. O número de desadaptados pode contabilizar-se em dezenas de milhões.

E, mais ainda, dia a dia aumenta o número de pessoas que, em todas as regiões do planeta, albergam o temor e a angústia de sentirem-se excluídas das filas dos seres produtivos. São pessoas comuns que vivem atormentadas e sob ameaça permanente da exclusão social.

Os números dessa contra-sociedade têm sido manejados com bastante frequência. Michel Rocard, ex-primeiro-ministro francês, aponta os seguintes dados: 30% da população ativa dos Estados Unidos vivem em situação de pobreza ou precariedade social, ao passo que 30% da população ativa nas três grandes regiões do mundo industrializado podem qualificar-se como desocupados ou marginalizados.

Por sua parte, Jacques Chirac, então presidente da França, assinalava, em março de 1998, que os países que compõem a União Européia contavam com 18 milhões de desempregados e 50 milhões de cidadãos sob a ameaça de exclusão social. Os países integrantes da OCDE, o clube dos Estados mais ricos do planeta, contam hoje com 35 milhões de desempregados.

E o que dizer dos países em vias de desenvolvimento? A conjunção entre um desenvolvimento técnico acelerado, sustentado na automação, associado à ausência ou abandono generalizado das normas de proteção social, estão fazendo aumentar, assustadoramente, os números de desempregados e de subempregados.

O Brasil, lamentavelmente, é um bom exemplo de país que tem aumentado substancialmente sua competitividade e inserção na economia global às custas de um notável incremento das filas de desempregados.

A lógica deste perverso processo é simples. Sob o impacto de uma competição produtiva sem fronteiras e sem mesuras, em que a redução de custos transformou-se em dogma, não há espaços para considerações sociais.

Existe a tendência, por essa via, a um nivelamento por baixo, na qual a mão-de-obra mais barata, ou a substituição desta pela tecnologia, determinam a sobrevivência dos produtos no mercado. A tecnologia e a redução de custos laborais são os grandes dinamizadores do novo crescimento econômico.

Como bem assinala a revista Fortune, em sua edição de abril de 2006: "Os avanços tecnológicos unidos aos implacáveis desempregos em massa dispararam a produtividade e elevaram, consideravelmente, os ganhos da indústria".

Frente a essa dura realidade, os países apresentam a tendência de transformarem-se em um autêntico bazar persa, competindo entre si para fazer maiores concessões ao grande capital, como via para captar inversões e garantir o crescimento econômico. O resultado dessa postura é que se observa o abandono do sentido do coletivo e do imprescindível papel do Estado em matéria de arbitragem e de observância da regulamentação social.

Que outra coisa poderia fazer o Estado? Este se vê incapacitado para fazer frente ao volume e à dinâmica dos capitais privados. Os três maiores fundos de pensão estadunidenses, Fidelity Investments, Vanguard Group, Capital Research & Managements, controlam em torno de US$ 500 bilhões. Impotente, o Estado teve de adaptar-se às exigências do grande capital, sem poder evitar que o homem se transforme, cada vez mais, no lobo do próprio homem.

A força emergente após o ocaso do Estado é, obviamente, o grande capital privado transnacional. Este governa a economia globalizada, passando por cima de fronteiras e atropelando governos, impondo leis à sua conveniência e promovendo uma acirrada e desumana competição entre países, a serviço de seus interesses.

Prova inconteste disso encontramos no acordo multilateral sobre inversões que está sendo negociado na Organização Mundial de Comércio, que submeteria as leis regulatórias dos países membros à s objeções internacionais, restringindo a capacidade dos Estados para ditar políticas econômicas de interesse nacional.

A pergunta a fazer, nesse caso, é a seguinte: que lógica domina o grande capital transnacional? Esta se sintetiza em uma consideração fundamental: a rentabilidade imediata. A necessidade de dar resposta à s exigências de curto prazo, de um gigantesco número de acionistas anônimos, tem se transformado, efetivamente, na razão de ser fundamental do processo econômico em curso.

Dentro desse contexto, as grandes corporações competem ferozmente entre si para captar as preferências dos acionistas, livrando-se de tudo aquilo que possa significar um peso na busca por maiores rendimentos.

Porém, quem é esse acionista anônimo que sustenta a engrenagem e dita as regras da economia globalizada? Este não é outro, senão o homem comum: o operário, o gerente médio, o funcionário público, o profissional liberal, a dona-de-casa. Ou seja, o mesmo homem comum que vive atormentado pelo fantasma do desemprego e com medo de vir a engrossar, com sua presença, as filas da grande contra-sociedade dos dias atuais.

Através de sua cotização e na busca de máximo rendimento para as suas economias, investe em fundos de pensões mutuais ou, através de pequenas inversões de capitais, nas bolsas de valores. Dessa maneira, paradoxalmente, ele tem se transformado em atuante protagonista deste perverso processo econômico que o atemoriza e o encurrala.

Segundo um curioso processo circular imposto por esta globalização perversa em que vivemos na atualidade, o homem comum tem se transformado em seu próprio inimigo, erigindo-se feroz e desapiedadamente frente a si mesmo.



Manuel Cambeses Júnior

Coronel-aviador; conferencista especial da ESG, membro titular do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e vice-diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica (Incaer).

Mulas globalizadas

Com quilos de cocaína escondidos em malas, amarrados ao corpo ou mesmo no estômago, 15 pessoas foram presas este ano no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. Dez eram estrangeiros. São homens e mulheres, a maioria jovens, da África, Romênia, Lituânia, Espanha e Holanda que, por dinheiro, toparam buscar a droga no Brasil. São os chamados mulas. Com eles, a Polícia Federal apreendeu, entre janeiro e a primeira quinzena de maio, um total de 82,8kg de pó — quase 60% dos 139,2kg apreendidos em todo o ano passado.

O trabalho de investigação dos agentes conta com informações privilegiadas e a observação de passageiros e bagagens. “O suspeito é monitorado desde o dia em que chega ao Brasil. Não é sorte. É um trabalho duro da equipe”, afirma o superintendente da PF no Distrito Federal, Disney Rosseti. Os estrangeiros também são maioria entre os detidos nos aeroportos de Guarulhos e Congonhas, em São Paulo. Das 111 prisões por tráfico de drogas este ano nos dois terminais, até abril, 94 não eram de brasileiros. Lá, a PF apreendeu 291,2kg de cocaína.

Só no mês passado, foram 52 estrangeiros presos tentando embarcar com drogas em aeroportos do Nordeste, São Paulo, Brasília e no terminal de Foz do Iguaçu, no Paraná, cidade que faz fronteira com a Argentina e o Paraguai. Os gringos são enquadrados com base na legislação brasileira (veja o que diz a lei) e cumprem pena no Brasil. Depois, são mandados de volta para o país de origem. Os presídios possuem alas próprias para eles. Junto com os homens detidos por tráfico de drogas no aeroporto de Brasília, por exemplo, está o ex-militante italiano Cesare Battisti.

As mulas geralmente são jovens desempregados. Alegam quase sempre que não são usuários nem traficantes, que apenas fariam o transporte das drogas. Isso, no entanto, não os exime de responder por tráfico. “O fato de os estrangeiros serem maioria entre os presos atesta a globalização do narcotráfico. E que Brasília não é apenas um ponto de redistribuição interna”, comenta o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília Argemiro Procópio Filho, autor de livros e artigos sobre o tráfico de entorpecentes.

Para o historiador e economista da Universidade de São Paulo (USP) Osvaldo Coggiola, outro estudioso do assunto, as “mulas” estrangeiras comprovam a sofisticação do tráfico. Ele lembra que os transportadores são “peixe miúdo”. E destaca que as pessoas se arriscam porque existe chance de que a droga passe. “Quando são poucos os meios de sair de uma vida de pobreza, as pessoas fazem qualquer coisa, topam qualquer negócio”, completa o argentino Coggiola, antes de decretar: “Mais apreensões significa que o tráfico está crescendo”.

Na rota do tráfico
A América Latina é a maior produtora mundial de cocaína. Países como Colômbia e Bolívia detêm o controle da maior parte do tráfico internacional. O Brasil e Brasília estão na rota. Na maioria das vezes, a droga que sai da Região Norte ou mesmo de São Paulo precisa passar pelo aeroporto da capital federal para chegar à Europa. O terminal Juscelino Kubitschek serve de conexão entre todas as regiões. De acordo com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), é o terceiro em movimentação de aeronaves e o quarto em circulação de passageiros.

A Polícia Federal intensificou o combate ao tráfico a partir de julho de 2007, quando Brasília ganhou voos diretos para a Europa. O aumento do número de apreensões forçou a cúpula da polícia a mudar a estrutura da unidade do aeroporto e a anunciar a criação de uma delegacia especializada em serviços de inteligência no local. Existem cerca de 70 funcionários da PF lotados no terminal. A intenção da superintendência é separar os que cuidam da parte administrativa dos que atuam nas investigações.

A nova unidade deve ser oficialmente inaugurada este ano. Mas, segundo o superintendente Disney Rosseti, a ideia já está em funcionamento. Um desdobramento disso, exemplifica ele, é a emissão de passaportes, desde março, em postos do Serviço de Atendimento Imediato ao Cidadão, o Na Hora. Antes, os documentos só podiam ser retirados no aeroporto. Até o fim do ano, Brasília também terá voos diretos para Atlanta, nos Estados Unidos. “Será mais uma rota para a gente se preocupar”, diz Rosseti.

Estrangeiros detidos no DF
3 Romenos
2 Holandeses
2 Lituanos
1 Espanhol
1 Serra-leonense
1 Sul-africano

O que diz a lei

As mulas presas nos aeroportos são enquadradas no artigo 33 da Lei n.º 11.343/06, que define o tráfico ilícito de drogas. A pena para quem transporta entorpecentes varia de cinco a 15 anos de cadeia. A punição pode ser aumentada em até dois terços caso o tráfico seja internacional, interestadual ou em transportes coletivos. Se o réu for primário, a pena pode ser reduzida em até dois terços.

Tentativas de despistas

A Polícia Federal tem mapeadas as rotas consideradas de risco, conhece o perfil das mulas e está atenta à movimentação no aeroporto dia e noite. O trabalho de investigação obriga os transportadores da droga a inovarem para tentar burlar as ações da equipe de inteligência. O local onde o entorpecente é escondido surpreende os agentes.

Em junho do ano passado, uma africana de 20 anos foi presa com 5kg de cocaína escondida em alças de bambu de bolsas femininas. Na primeira apreensão deste ano, em janeiro, outra africana, de 21 anos, que seguia de Manaus para Portugal, acabou detida durante a conexão em Brasília com a mesma quantidade de pó camuflada em velas aromatizantes.

Um homem de 29 anos, também africano, foi abordado em abril enquanto se preparava para embarcar para Lisboa. Apesar das atitudes suspeitas dele, os policiais não encontraram droga na mala ou mesmo amarrada ao corpo, como em situações anteriores. Depois da revista, o homem contou que havia engolido 45 cápsulas com cerca de 20g de cocaína cada. Levou um dia para expelir tudo.

As apreensões mais comuns são quando a droga está em fundos falsos de bagagem. Geralmente, os traficantes usam pimenta-do-reino, naftalina ou café para disfarçar o cheiro. E colocam os tabletes de cocaína entre travesseiros para tentar enganar as máquinas de raios X. Em dois dos flagrantes deste ano, o pó estava escondido em embalagens de camisas sociais masculinas.

Em alguns casos, no entanto, os traficantes nem se dão ao trabalho de dificultar a ação da polícia: jogam a droga dentro da mala, entregam a encomenda às mulas e contam com a sorte. Foi o que aconteceu na maior apreensão do ano até aqui, em março, quando um brasileiro de 32 anos tentava levar 21,2kg de cocaína de Manaus para Belo Horizonte. O pó estava em duas malas, sem disfarce.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Práticos de Santos ganham até R$ 200 mil

Os práticos do Porto de Santos têm salários mensais de R$ 150 mil a R$ 200 mil. É o que diz nota emitida pelo Syndarma- Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima, cuja denúncia baseia-se, segundo a entidade, em estudo feito pelo Centro de Estudos em Gestão Naval da Universidade de São Paulo (CEGN-USP), por encomenda do ministro da Secretaria Especial de Portos (SEP), Pedro Brito. Práticos são pessoas habilitadas pela Marinha que atuam individualmente ou
organizados em associações. Eles conhecem os canais de navegação em cada porto e sobem aos navios para orientar o comandante da embarcação.
O estudo, que teve por objetivo apurar as razões dos altos custos da praticagem nos portos brasileiros, focou duas praticagens brasileiras, a de Santos, e a que opera entre Fazendinha, no Amapá, e a de Itacoatiara, no Amazonas. De acordo com o documento, os preços cobrados por estas duas
praticagens são 120% maiores do que os das praticagens internacionais usadas para comparação pelo CEGN-USP. O preço da praticagem tem impacto sobre os custos de empresas de comércio exterior, por ser um dos componentes do custo de frete.
A Praticagem de Santos distribuiu nota contestando vários pontos do estudo e o Syndarma, entidade presidida pelo empresário Hugo Figueiredo, por sua vez, também emitiu nota em defesa do trabalho. De acordo com a nota do Syndarma, o estudo é “um trabalho sério, desenvolvido com
imparcialidade, fazendo uso de ferramentas científicas adequadas, e que mostra de maneira irrefutável como a praticagem de Santos obtém salários astronômicos através da exploração de um modelo que permite a criação de um monopólio e não estabelece um órgão regulador dos preços praticados por este monopólio”.
A nota do Syndarma diz que, conforme o estudo, atribuindo-se a cada prático de Santos o salário mensal de R$ 24 mil, empresa de propriedade deles, em 2007, após todos os seus custos pagos e provisionadas as reservas para substituição futura de seus bens, produziu um lucro de cerca de R$ 30
milhões. Como os próprios práticos são os acionistas únicos da empresa, afirma ainda a nota, a distribuição do lucro eleva os salários mensais para R$ 94 mil. “É importante frisar que as hipóteses utilizadas pelo CEGN-USP foram extremamente conservadoras e não levaram em conta as receitas da praticagem de Santos em São Sebastião. O Syndarma estima que levando em consideração o porte e a frequência de navios neste último porto, o salário mensal de cada prático em Santos deva ficar entre R$ 150 mil e R$ 200 mil”, destaca o Syndarma. No comunicado, o sindicato afirma ainda que, inicialmente, o Brasil optou pelo modelo de serviço público prestado pelo estado, em que os práticos eram funcionários da Marinha. “Posteriormente, o serviço de praticagem foi privatizado e mantido como monopólio”, segue a nota. “Até a presente data, porém, não foi criado, através de Lei, e com obrigações claramente estabelecidas, o indispensável órgão regulador dos preços praticados por este monopólio.”
“Para benefício de toda a cadeia de comércio exterior brasileiro, e o necessário desenvolvimento de nossa cabotagem, urge que o Governo ponha termo a este equívoco, criando imediatamente um órgão regulador dos preços das praticagens brasileiras”, defende a nota.

EUA se preparam para guerra no ciberespaço

Por DAVID E. SANGER, JOHN MARKOFF e THOM SHANKER

Assim como 64 anos atrás a bomba atômica mudou a guerra e as estratégias de dissuasão, uma
nova corrida internacional começou a desenvolver armas cibernéticas e sistemas para proteger-se delas.
Quando as tropas dos EUA no Iraque queriam atrair membros da Al Qaeda para uma armadilha
elas entravam em computadores do grupo e modificavam a informação que os dirigia ao alvo de armas
americanas.
Ou, quando o então presidente, George W. Bush, ordenou novas maneiras de desacelerar o
programa nuclear do Irã, em 2008, ele aprovou um programa experimental secreto -de resultados ainda
incertos- para entrar nos computadores de Teerã.
E o Pentágono encomendou a fornecedores militares o desenvolvimento de uma réplica secreta
da internet do futuro. O objetivo é simular o que seria necessário para os adversários fecharem as usinas
de energia, as telecomunicações e os sistemas de aviação do país, ou congelar os mercados financeiros
-em uma iniciativa para criar melhores defesas contra esses ataques, assim como uma nova geração de
armas on-line.
Em entrevistas recentes, oficiais militares e de inteligência, assim como especialistas externos
descreveram um enorme aumento na sofisticação das capacidades de guerra cibernética americana.
As inovações mais exóticas em consideração permitiriam que um programador do Pentágono
entrasse sub-repticiamente em um servidor de computadores na Rússia ou na China, por exemplo, e
destruísse um "botnet" -programa potencialmente destrutivo que coordena as máquinas infectadas em
uma vasta rede clandestina- antes que possa ser acionado nos EUA.
Até agora, porém, não há ampla permissão para as forças americanas entrarem na ciberguerra
A invasão do computador da Al Qaeda vários anos atrás e a atividade secreta no Irã foram
individualmente autorizadas por Bush.
A ciberguerra obviamente não seria tão letal quanto uma guerra atômica. Mas quando Mike
McConnell, ex-diretor da Inteligência dos EUA, informou a Bush sobre a ameaça, em maio de 2007, ele
afirmou que se um único grande banco americano fosse atacado com sucesso, o impacto teria
"magnitude maior sobre a economia global" do que os atentados de 11 de Setembro.
Estudos examinaram se torres de telefonia celular, comunicações de serviços de emergência e
sistemas hospitalares poderiam ser paralisados, para semear o caos. Mas a teoria às vezes se torna
real.
"Vimos operações de redes chinesas dentro de algumas de nossas redes elétricas", disse Joel F.
Brenner, que supervisiona as operações de contrainteligência para Dennis Blair, atual diretor da CIA, que
falou na Universidade do Texas no mês passado. "Se eu me preocupo com essas redes e com o sistema
de controle de tráfego aéreo, de suprimento de água, etc? É claro que sim."
Mas a questão mais ampla -que o governo até agora não quis discutir- é se a melhor defesa
contra um ciberataque é o desenvolvimento de uma capacidade robusta de desferir a ciberguerra.
Hoje, quando os computadores do Pentágono são submetidos a um bloqueio, a origem é muitas
vezes um mistério. Sem ter certeza sobre a fonte é quase impossível montar um contra-ataque.
Altos funcionários do Pentágono e do Exército também manifestam preocupação porque as leis e
a compreensão do conflito armado não acompanharam os desafios da guerra cibernética ofensiva. Se
uma base militar for atacada, seria uma resposta legítima e proporcional derrubar a rede energética do
atacante se isso também fechasse seus sistemas hospitalares, de controle de tráfego aéreo ou bancário?
Um alto oficial do Departamento da Defesa disse ainda não ter a resposta para isso, mas sabe
que "é [uma situação] um pouquinho perigosa".
Reportagem de David E. Sanger, John Markoff e Thom Shanker, com redação de Sanger

domingo, 10 de maio de 2009

Sua nova estratégia de carreira

Até meados do ano passado, era bem possível que profissionais de bom desempenho, com formação acadêmica razoável e alguma visibilidade no mercado tivessem até cinco ou seis propostas de trabalho nas mãos. Também era comum que muitos deles trocassem de emprego todos os anos e, em compensação, ganhassem salários 20% ou 30% maiores e assumissem posições mais altas no escalão corporativo. “Se uma pessoa mudasse de trabalho todo ano, em cinco anos, seu salário poderia aumentar 100%”, diz Carlos Eduardo Ribeiro Dias, sócio-gerente da Asap, empresa que atua no recrutamento de executivos em cargos de início de carreira gerencial.

Com a crise econômica, no entanto, o cenário mundial mudou e, inevitavelmente, mudou também a velocidade com que surgem as oportunidades de crescimento. Se você planejava galgar uma promoção nós próximos 12 ou 24 meses, com salários cada vez mais polpudos, possivelmente esteja na hora de rever seu plano. “O que você precisa fazer é adaptá-lo ao atual cenário, que deve durar mais um ou dois anos”, diz Fernando Mantovani, diretor da empresa de recrutamento Robert Half, de São Paulo. Veja quais são as dicas para adaptar seu planejamento à nova realidade do mercado, sem perder a motivação nem desperdiçar oportunidades.

CAUTELA E PACIÊNCIA

O fato de haver menos oportunidades abertas no mercado não é um problema para sua carreira. Afinal, isso não quer dizer que nenhuma proposta vá surgir nos próximos meses. “Mesmo num momento como esse, as empresas continuam tendo uma rotatividade natural”, diz Fernando. Sempre haverá alguém que se aposenta ou que é desligado da empresa por mau desempenho. O momento exige mais cautela e paciência. Isso porque, quando a demanda é menor, é preciso pensar muito mais antes de aceitar uma proposta. “Se não der certo, talvez você não tenha outra oportunidade tão cedo”, diz Carlos Eduardo, da Asap. Sobre movimentos ousados, Rolando Pelliccia, diretor do Hay Group, consultoria de RH de São Paulo, é taxativo: “Decisões de risco devem ser evitadas”. De acordo com ele, não vale a pena neste momento assumir uma posição para a qual você não se sente totalmente preparado. “A cobrança sobre todos os profissionais está alta e não há tempo para aprendizado”, diz Rolando.

EDUCAÇÃO E NETWORKING

Uma boa forma de crescer durante a crise é investir na educação e antecipar o plano de fazer uma pós-graduação ou um curso técnico. “É fundamental aproveitar o período para melhorar sua formação em geral”, diz Luiz Valente, diretor-geral da Hays, multinacional especializada no recrutamento para média e alta gerência. Concentre-se em obter uma visão clara da realidade e das perspectivas da área e do setor em que você atua — um tipo de formação que melhora sua decisão. A educação executiva tem sempre a vantagem adicional de reforçar o networking. A mineira Helena Fulgêncio, de 31 anos, gerente de desenvolvimento sustentável do Grupo Santander Brasil, que o diga. Formada em engenharia civil, a profissional decidiu começar um MBA executivo na Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, no início deste ano, para melhorar sua visão estratégica. “O fato de estarmos num momento de fusão, no banco, e de crise econômica, no mundo todo, fez com que eu antecipasse essa decisão e bancasse o custo”, diz ela, que acredita que o curso lhe possibilitará identificar oportunidades e abrir novas opções de crescimento. Em pouco tempo, sua preparação já surtiu alguns efeitos. Segundo ela, sua visão dos processos do banco já melhorou. “Passei a enxergar o grupo como um todo.” O MBA ainda permite que ela troque experiências com 60 pessoas de diversos segmentos.

MOVIMENTO LATERAL

Outra dica dos especialistas para desenvolver a carreira em tempos de crise é prestar atenção nas oportunidades internas que surgem na empresa. “É possível buscar uma progressão lateral, que talvez não traga aumento de cargo ou salário, mas com certeza aumentará sua empregabilidade e sua experiência”, diz Fernando Mantovani, da Robert Half. Foi o que fez a paulista Fabiana Casolari Cunha, de 36 anos, gerente de marketing da Kodak. Depois de passar seis anos na área de trade marketing da empresa, ela se candidatou ao cargo que ocupa atualmente. Para conquistar essa transferência, Fabiana fez um grande planejamento. A primeira medida foi comunicar a intenção de migrar, registrando seu objetivo no sistema de recrutamento interno da companhia.

A segunda etapa foi aprimorar as competências necessárias para o cargo, principalmente as relacionadas à gestão e liderança e coordenação de projetos. Por fim, Fabiana mudou seu comportamento. “Comecei a dar ‘pitacos’ onde não era chamada”, diz, brincando. “Sugeria uma ideia ou outra numa definição de estratégia, tentava demonstrar que, além de executar bem o meu trabalho em trade marketing, também poderia pensar estrategicamente”, diz. Além disso, tratou de absorver funções de duas áreas que, por causa de uma reestruturação da empresa, foram extintas. Em outubro do ano passado, em meio ao estouro da crise, Fabiana foi escolhida para o cargo de gerente de marketing, acumulando a área de trade marketing, que já era dela. A estratégia que fez para ser transferida, a preparação de liderança e a forma como demonstrou conhecimento foram decisivas para que fosse escolhida. “Se a empresa não me considerasse preparada, possivelmente eu seria substituída por alguém que pudesse comandar as duas áreas”, diz. Hoje, ela trabalha mais horas por dia, tem mais responsabilidades e se sente mais motivada, mesmo sem ter recebido qualquer aumento de salário.

COMEÇO, MEIO E FIM

Pelo menos até o próximo ano, a tendência, segundo os especialistas, é de que mudanças de cargos e salário ocorram com menor frequência. “Isso vai fazer com que cada passo na carreira de um profissional tenha começo, meio e fim”, diz Carlos Eduardo, da Asap. Por um lado, isso signifi ca ter de assumir as consequências pelos próprios atos. Por outro, os profissionais terão mais tempo para fechar cada ciclo e, de fato, deixar uma marca em cada posição que ocuparem. “Eles não vinham tendo tempo para isso porque logo eram seduzidos por alguma proposta mais atrativa”, diz o consultor. A recomendação, em geral, é aproveitar para planejar, executar e avaliar o que foi realizado. “Antes da crise, as pessoas só paravam para pensar na carreira quando eram demitidas”, diz Arthur Diniz, diretor da Crescimentum Consultoria, de São Paulo. “É um erro. Essa avaliação deveria ser feita com frequência”, diz. A dica é parar para pensar nos seus pontos fortes, nas especializações e nas competências que você ainda tem de desenvolver mas vive adiando. Procure ainda reavaliar seus objetivos pessoais. “O cenário atual estimula a reflexão”, diz Rolando, do Hay Group. Aproveite para pensar como você vai definir sucesso para sua carreira nos próximos anos.

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segunda-feira, 4 de maio de 2009

O crime compensa

A invasão de sistemas acaba virando um bom negócio. Os hackers conseguem recompensas e até empregos nas empresas que prejudicaram
ROBERTA NAMOUR



Recentemente, um garoto de 17 anos virou uma celebridade depois de infectar pelo menos 190 contas do Twitter, a rede social de microblog que mais cresceu no ano passado. Dias após o feito, Mikeyy Mooney foi contratado por uma empresa de desenvolvimento de aplicativos para a internet como consultor de segurança. Sua história é compartilhada por um time de hackers que deu certo. Apesar de cometerem um crime - já que invasão de sistemas sem autorização ou danificação de conteúdo de terceiros podem ser considerados uma violação, - a capacidade intelectual dessas pessoas desperta o interesse de grandes empresas. Companhias como Apple e Microsoft costumam pagar verdadeiras fortunas pelas descobertas de hackers. Algumas empresas chegam a contratá-los como funcionários. A recompensa sai mais barato do que o prejuízo causado pela propagação da brecha do sistema.

Outros hackers acabam criando seu próprio negócio, como é o caso de Steve Jobs e Steve Wozniak, fundadores da Apple. Quando jovens, praticavam atividades como a de alguns hackers mal-intencionados. Mas depois usaram seus conhecimentos para criar o primeiro computador pessoal. Linus Torvalds, criador do Linux, é outro hacker famoso. Ele ajudou a promover o conceito do software de código aberto no mundo. Os hackers estão conquistando uma posição na sociedade e já até existe uma hierarquia entre eles. Mas há uma linha tênue entre esse comportamento e o crime puro e simples. "Eles começam como meninos prodígios, mas, se não souberem canalizar o conhecimento para o bem, podem facilmente virar grandes criminosos", alerta Jeferson d'Addário, sócio-diretor da Daryus Consultoria. O mercado criou até uma expressão para diferenciar esses grupos: os hackers e os crackers. Em comum entre eles está o sentimento de desafio quando se deparam com um sistema novo.

Pela definição, hacker é uma pessoa com alta capacidade intelectual, em busca de novas tecnologias. Em sua maioria são jovens ou pessoas com dificuldades de se relacionar socialmente. "Costumam ser mais introspectivos, mas no mundo virtual acabam mostrando suas garras", diz D'Addário. O mais famoso hacker da história, considerado o Pelé das invasões de sistemas, é o americano Kevin Mitnick. Após causar um prejuízo de mais de US$ 80 milhões ao invadir o comando de defesa dos EUA, foi preso. Hoje é consultor de segurança de multinacionais. Seu melhor amigo, Kevin Poulsen, ganhou um Porsche ao invadir a central telefônica de uma rádio que estava promovendo um concurso. Mas acabou detido ao invadir computadores do FBI. Um outro americano, Robert Morris, ficou milionário após vender um serviço para o Yahoo!. Antes disso, fez a internet parar em 1988 com a propagação de um vírus. O mais curioso é que Morris é filho de um cientista da Agência Nacional de Segurança dos EUA.

Vender a descoberta de falhas para grandes companhias virou um ótimo negócio. Algumas empresas de segurança se especializaram em promover concursos para quebrar sistemas operacionais. Oferecem como recompensa prêmios em dinheiro e depois tentam vender as falhas para os donos dos sistemas. Um hacker ganhou US$ 10 mil ao invadir o MacBook Air, o notebook da Apple, em menos de dois minutos. Ao ganhar, Charlie Miller teve de assinar um acordo para não revelar as informações até que a patrocinadora do evento notificasse a Apple. Em um outro caso, um estudante alemão, de 25 anos, descobriu falhas nos navegadores da Mozilla e da Apple, e no Internet Explorer 8, da Microsoft. Ele ganhou US$ 5 mil por invasão. De acordo com D'Addário, apesar de possuírem um time de especialistas, a importância dos hackers para as gigantes da tecnologia é muito grande. "O hacker é uma pessoa que olha a tecnologia com outros olhos. Seu desafio é identificar falhas que o programador não consegue enxergar", afirma.

América Latina se arma com US$ 500 bi em investimentos

Desembolsos na América do Sul superaram US$ 50 bi em 2008
Júlio Ottoboni
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP)

A articulação do governo brasileiro em criar um núcleo militar integrado de defesa da América do Sul dá seus primeiros sinais junto à indústria de armamentos tanto nacional como estrangeira. O movimento encabeçado pelo Brasil, que teve início em 2006, foi intensificado pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, em 2008. A mobilização conta hoje com o alinhamento da maioria dos governos sul-americanos.

No ano passado, os 12 países da América do Sul aplicaram em defesa mais de US$ 50 bilhões. Segundo estimativas conservadoras de especialistas da área, a região deverá investir nos próximos anos até US$ 500 bilhões em novos equipamentos, ampliação de quadros, renovação de frotas e armamentos.

O Brasil é considerado o único país latinoamericano com estratégia de defesa elaborada para manter o equilíbrio militar regional. Boa parte deste processo surgiu junto aos países membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (Otca), que visa a preservar a maior floresta tropical do planeta e ponto de convergência de grandes interesses internacionais.

O governo divulgou que pretende triplicar a longo prazo a produção dos Centros de Tecnologia da Marinha, Aeronáutica e Exército. O ministro Jobim tem como meta a soberania nacional quanto à produção de material bélico.

– O Brasil não querer ser apenas um comprador de material de defesa, mas um parceiro dos demais países produtores de tecnologia – destacou. – Já firmamos com a França parcerias para a produção de um submarino nuclear, para a construção de helicópteros modelo EC-725, de última geração que serão 50 unidades ao todo. E também queremos desenvolver veículos não tripulados para as três forças.



Blindado nacional

A retomada de projeto de um veículo blindado nacional deixará de ser exclusividade do pólo aeroespacial paulista, grande produtor entre os anos 70 e 80 com a Engesa e a Avibras Aeroespacial. Agora será produzido em Minas Gerais, onde está sendo constituído um novo centro industrial voltado à defesa.

Jobim quer consolidar na política atual do governo algo que até então inexiste: a unificação e integração das três forças. Mesmo antes de tornar oficial o Plano de Defesa Nacional, em dezembro de 2008, o governo procura reorganizar as forças militares e a indústria nacional de defesa. O Ministério da Defesa entende ser necessário desenvolver os setores espacial, cibernético e nuclear.

Os 25 projetos aprovados pelo governo para a área de defesa devem receber ainda este ano recursos superiores a R$ 188 milhões. O apoio financeiro será por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Os projetos serão desenvolvidos pelos centros de tecnologia das Forças Armadas em parceria com empresas privadas. Para 2010, a previsão de investimentos públicos em defesa será de R$ 492,4 milhões.



Míssil brasileiro

A Mectron, empresa do pólo de São José dos Campos (SP) e primeira fabricante de mísseis da América do Sul, será responsável pela industrialização de um míssil específico para o Exército nacional e firmará nos próximos meses parceria com a Marinha para fornecer um produto semelhante e de características próprias.

As negociações com o Exército foram acertadas no fim de 2008. Com o Comando da Marinha faltam só detalhes e será concluído dentro de dois meses. Os investimento somam, nestes dois casos, cerca de R$ 50 milhões. Serão foguetes inteligentes guiados para ataque a tanques e um antiembarcações.