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domingo, 17 de maio de 2009

Sem alarde, Alemanha vira gigante das armas

BERLIM. Sem muito alarde, com fama de pacifista e ecológica, a Alemanha tornou-se nos últimos anos um gigante armamentista e o terceiro maior exportador mundial de armas. Num estudo divulgado esta semana pelo Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), a Alemanha só exporta menos armas que Estados Unidos e Rússia, que ocupam, respectivamente, o primeiro e o segundo lugares no ranking.

Para os analistas, a Alemanha, que aumentou as suas exportações em 70% nos últimos cinco anos (comparando com os dados de 1999 o crescimento chegou a 123%), tirou bastante proveito da queda da Cortina de Ferro, há 20 anos, consolidando ainda mais sua posição em um setor industrial onde encontrou limitações até a reunificação do país, em 1990. Depois da Segunda Guerra Mundial, os alemães receberam uma proibição quase total de produzir armas, mas aprenderam a contornar os limites impostos.

- A primeira metralhadora alemã depois da guerra foi produzida na Espanha - lembra Otfried Nassauer, do Centro de Informação para Segurança Transatlântica de Berlim (BITS), autor de um estudo sobre a indústria armamentista alemã.





Vendas ilegais para regimes da Síria e do Irã

As proibições foram ao longo dos anos gradualmente abolidas, mas algumas limitações continuaram a existir até a reunificação. Desde então, vigora uma política aparentemente restritiva de exportação de armas, sendo que na prática as empresas do país conseguiram controlar, no ano passado, dez por cento do mercado mundial.

O governo alemão adotou uma posição pacifista contra a invasão do Iraque, em 2003, mas as empresas alemãs forneceram armamento para os Estados Unidos, usado na guerra, embora a própria Constituição do país proíba a exportação de armas para países envolvidos em conflito armado. Também a Geórgia recebeu armas alemãs, indiretamente, durante o recente conflito com a Rússia.

Para aumentar o controle das exportações de armas, o governo do ex-chanceler federal Gerhard Schröder, de coalizão social-democrata com os verdes (1998-2005), elaborou uma série de critérios para este tipo de comércio, pondo a questão dos direitos humanos como prioridade para a avaliação dos países interessados em fazer encomendas na Alemanha.

Mas mesmo o Partido Verde, do ex-vice-chanceler Joschka Fischer, terminou se rendendo aos interesses econômicos do país. Eles não recusaram o fornecimento de equipamentos para a Turquia, apesar da alegação de que essas armas poderiam ser usadas contra o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). A restrição era feita apenas quando o assunto era divulgado e causava polêmica.

Países alvos de embargo internacional, como o Irã e a Síria, recebem também, por canais indiretos, armamento alemão. Segundo Otfreid Nassauer, os equipamentos são transferidos para a zona franca de Dubai e de lá vendidos para terceiros, sem que ninguém possa comprovar o seu destino final.

Os produtos mais vendidos da indústria bélica alemã são os veículos militares e as armas de alta tecnologia. De acordo com Nassauer, a empresa Howaldtwerke Deutsche Werft, uma subsidiária da ThyssenKrupp, é a principal fornecedora de submarinos para o mundo inteiro, também para a América do Sul. Mas o Brasil, que tem no arsenal da Marinha submarinos alemães, recusou a compra de um modelo mais novo, capaz de passar mais tempo submerso, para fazer encomenda de um equipamento similar à França.

De acordo com Claudia Roth, membro do Partido Verde, a falta de transparência no comércio bélico torna possível empresas venderem também para países onde os direitos humanos não são respeitados. Marc Boemken, do Centro Internacional de Conversão de Bonn, completa:

- Apenas os interesses econômicos são levados em consideração no caso do comércio armamentista.

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