´´Observe as tendências mas não Siga a maioria`` Thiago Prado


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segunda-feira, 27 de abril de 2009

A imprescindibilidade do Estado

O Estado moderno como conceito e como ordenamento político institucional começa a
desenvolver-se na Europa, a partir do século XIII. A sua característica principal é a busca da
centralização do poder em uma instância que abarque as relações políticas fundamentais. Entre os
séculos XVI e XVIII a noção do Estado assentou-se em uma concepção mercantilista da economia, que
buscava aumentar o poder dos Estados às expensas dos demais Estados rivais. Não foi sem razão que
esta doutrina econômica resultou paralela ao surgimento e auge do absolutismo.
Ao final do século XVIII, tanto o mercantilismo como o absolutismo entraram em crise. A
convergência da economia de mercado na área econômica e do estado de direito no campo político,
gerou as bases de uma nova ordem. A chamada ordem liberal, a qual buscava traçar limites precisos ao
Estado, locando barreiras ao exercício de seu poder. Não obstante, longe de iniciar-se nesse momento o
declínio do Estado, o mesmo vai adquirir novos ares com a aparição do fenômeno nacionalista. De
acordo com ele, a lealdade fundamental do cidadão deveria ser dirigida ao Estado-Nação.
O período compreendido entre o final do século XVIII e início do século XIX é conhecido com a
"Era das Revoluções". Durante esse espaço de tempo, ocorreram a Revolução Americana, a Revolução
Francesa e a Guerra da Independência Hispano-Americana. Todas elas se assentaram sobre a idéia do
Estado-Nação como conceito superior. A tese da soberania popular, originária de Rousseau, provê as
bases para a consolidação deste novo conceito de Estado. Ao longo do século XIX o poder deste se
fortaleceu na Europa, cavalgando sobre a idéia do nacionalismo. Surgiram nesse momento novos
Estados centralizados como Alemanha e Itália.
O século XX levou o Estado a limites nunca vistos anteriormente. Nele se produziu a
"estadolatria" dos totalitarismos fascistas e comunistas. Terminada a Segunda Guerra Mundial, por sua
parte, o Estado-Nação identificou-se com o processo de descolonização na Ásia e na África, expandindo
o seu âmbito em nível planetário. O período compreendido a partir da II Guerra caracterizou-se pela
contraposição de dois superestados e de seus respectivos aparatos e sistemas de alianças.
Entretanto, ao iniciar a década final do século XX, um autêntico cataclismo fez sacudir em seus
alicerces a noção de Estado, conduzindo-o a uma intensa crise histórica. As ameaças que hoje recaem
sobre este antigo e familiar conceito são tão grandes quanto variados. Nos aspectos jurídico, político e
econômico, a sobrevivência do Estado como instituição fundamental está seriamente comprometida. Isto
foi o resultado inevitável do colapso do comunismo, que trouxe consigo a implantação de todo um
conjunto de paradigmas emergentes.
A nova linguagem do Direito Internacional se assenta em noções como "soberanias limitadas",
"tutelas internacionais", "direito de ingerência" e "administrações supranacionais", todas as quais têm
como denominador comum o desconhecimento do Estado como ator essencial da vida internacional. No
campo político, o poder que tradicionalmente deteve o Estado está tendendo a fluir em distintas direções.
Para cima, em direção aos organismos supranacionais e coletivos, tais como o Conselho de Segurança
da ONU, a União Européia e a Organização Mundial de Comércio. Para os lados, para Organizações não
Governamentais enraizadas com a sociedade civil as quais emergem ao interior dos próprios Estados.
Para baixo, em direção a regiões cada vez mais autônomas, que se consideram representativas de
identidades étnicas e culturais. Entre os dois últimos segmentos e o primeiro tendem a estabelecer-se
relações cada vez mais diretas que obstam o Estado central. O Estado, desta maneira, vai perdendo o
seu caráter de articulador fundamental da vida nacional e de interlocutor natural em matéria
internacional.
Entretanto, é no campo econômico onde as ameaças contra o Estado apresentam-se maiores. A
queda do Muro de Berlim trouxe consigo a preeminência do econômico sobre o político e, também, do
âmbito do privado sobre o público. Por sua vez, o processo de desregulação, que tem evidenciado a
economia nestes últimos anos, acompanhado de um gigantesco salto tecnológico, tem proporcionado
uma extraordinária vitalidade ao fenômeno econômico, permitindo acumulações de capital nunca antes
imaginadas. Acuado frente aos mercados financeiros, aos megaconglomerados da comunicação social e
à fusão das grandes corporações transnacionais, o Estado apresenta-se cada vez mais impotente.

Destruir o Estado significa, entretanto, sufocar as reivindicações dos povos, deixar sem intérprete
o sofrimento dos excluídos, perder o sentido do coletivo e renunciar a mobilizar as forças espirituais dos
cidadãos em função de um ideal superior. Destruir o Estado é retirar do jogo a única instituição que foi
capaz, nos anos trinta e no pós-guerra, de sustentar a economia e de reverter suas grandes crises. Hoje,
quando o frenesi dos mercados ameaça condenar à pobreza centenas de milhões de seres humanos,
torna-se mais necessário do que nunca contar com essa instituição ancestral, indispensável e
insubstituível: o Estado.

Manuel Cambeses Júnior
Coronel-aviador, conferencista especial da ESG, membro do Instituto de Geografia e História
Militar do Brasil e vice-diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica.

resenha jornal monitor mercantil 27-04-09

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Coisas da Política - O novo manual do torturador

Mauro Santayana

O primeiro suspeito de participar do atentado de 11 de Setembro, Abu Zubaida, foi submetido ao afogamento simulado 83 vezes. Na 84ª, confessou. Jalid Sheji Mohamed teve que ser submetido ao mesmo processo 183 vezes. Ao lado, com o bisturi afiado, um cirurgião velava: se fosse necessário, os interrogados seriam submetidos a rápida traqueostomia, como informou o New York Times, em editorial.

Os interrogatórios, realizados pelos órgãos de segurança e das Forças Armadas dos Estados Unidos, fazem lembrar os utilizados pela Inquisição Romana (no século 13) e pela Inquisição Espanhola (a partir do fim do século 15). Revela-se agora que, antes mesmo da prisão do primeiro suspeito dos atentados de 2001, já havia sido elaborado um manual do torturador – semelhante ao Directorium inquisitorum, do famoso inquisidor de Aragon, Nicolau Eymerich, que ocupou, na Inquisição Espanhola, o papel que desempenharia, em seguida, o mais notório ainda Torquemada. O Manual dos inquisidores, com instruções posteriores, ensinava as técnicas de tortura e o emprego dos instrumentos, como capacetes que dispunham de parafusos, a fim de apertar o crânio do "examinado", a conhecida "roda", que espichava os braços e pernas, e o emprego de instrumentos perfurantes. Só a morte, durante o processo inquisitorial, livrava os suspeitos da prisão perpétua (como clemência) ou da fogueira. Torquemada também redigiu suas instruções, e ampliou a competência da Inquisição para além da heresia, a fim de punir pecados profanos, como a sodomia, a poligamia, o adultério – e mandou 2 mil pessoas para a fogueira.

O presidente Obama, pressionado pela opinião pública, autorizou, com alguma relutância, a investigação dos atos de tortura cometidos pelos agentes americanos, com a recomendação de que não sejam identificados os que cumpriram ordens mas, sim, os que as elaboraram e as emitiram. Ao fazê-lo, o presidente lamenta que os Estados Unidos tenham perdido os valores morais, em um dos capítulos mais difíceis de sua História. O presidente se equivoca: os valores morais dos Estados Unidos nunca foram levados em conta pelos seus governos, quando se tratava de estrangeiros. Truman não titubeou em empregar a bomba atômica contra Hiroxima, queimando, na grande fogueira, 80 mil não combatentes. É provável que não conhecesse o efeito devastador do engenho no dia 6 de agosto, quando houve o bombardeio, mas já o conhecia quando determinou o ataque a Nagasaki, três dias depois.

O presidente Kennedy tampouco levou em conta os "valores morais" da América, quando autorizou o emprego da dioxina contra os arrozais e as selvas do Vietnã, determinou o ataque à Bahia dos Porcos e decidiu que João Goulart deveria ser deposto, conforme revelações do Departamento de Estado. Recorde-se que, em 64, os americanos enviaram a Minas e ao Uruguai o agente Dan Mitrioni, a fim de ensinar técnicas de tortura. Que valores morais determinaram a cooptação dos golpistas que mataram Salvador Allende, eleito de acordo com as regras da democracia norte-americana?

A sua história tem sido a do confronto permanente entre os princípios dos peregrinos puritanos, que permanecem latentes em parte de sua sociedade, e as razões do capitalismo imperial, que os negam. Algumas vezes (e este momento parece ser uma delas), cidadãos norte-americanos atuam e reclamam o retorno àqueles valores – mas a plutocracia se rearticula e reconduz o Estado a seu serviço.

Bush, Rumsfeld e Cheney parecem ter sido os responsáveis diretos pela ordem de torturar em Guantánamo, Abu Ghraib e em dezenas de prisões clandestinas em torno do mundo e em navios que ainda vogam, com prisioneiros, no Pacífico. Eles continuarão tranquilos, e só poderão ser punidos pela História – como os que, a serviço dos Estados Unidos, autorizaram a tortura aqui e em outros lugares. Não se fale nas formas particulares de tortura infligidas nas mulheres vietnamitas, com emprego de serpentes, que eram introduzidas em seus corpos. O uso dos animais continua, com os cães de Abu Ghraib e a imobilização dos interrogados em caixas com insetos.

Enquanto Obama fala em valores morais, os bancos voltam a ganhar dinheiro e a desviar, para novas falcatruas, parte do capital que receberam dos contribuintes, conforme investigação do Congresso, em 20 inquéritos e seis auditorias. Pelo menos lá os banqueiros não se sentem tão à vontade diante do Congresso – como se sente, aqui, o senhor Daniel Dantas.

Quinta-feira, 23 de Abril de 2009 - 00:00

terça-feira, 21 de abril de 2009

Hackers invadem programa de caças dos EUA, afirma o Wall Street Journal



Hackers têm invadido o mais caro programa de armas do Pentágono, o projeto Joint Strike Fighter , de US$ 300 milhões, segundo reportagem do Wall Street Journal. O projeto Joint Strike Fighter, também conhecido como F-35 Lightning II, é o "ponto focal para oferecer caças de nova geração de preço acessível para a Marinha, Aeronáutica, etc", segundo o Departamento de Defesa.

O diário cita fontes oficiais do atual governo e da administração passada e afirma que os invasores conseguiram copiar e retirar dados relacionados ao design e aos sistemas eletrônicos, tornando mais simples a construção de defesas contra o avião. Os espiões não acessaram material confidencial, que é armazenado em computadores não conectados à internet, diz o WSJ.

No início do mês o WSJ já havia denunciado uma invasão de ciberespiões aos sistemas de controle da rede elétrica dos EUA . Segundo aquela reportagem, na ocasião os invasores instalaram programas que poderiam ser utilizados para interromper o sistema.

A nova invasão teria sido possível por conta de vulnerabilidades nas redes de duas ou três empresas contratadas para construir o caça. A Lockheed Martin é a principal empresa envolvida. A Northrop Grumman e a BAE Systems PLC também têm papéis importantes no projeto. A Lockheed Martin e a BAE não quiseram comentar o caso e a Northrop repassou as perguntas para a Lockheed, disse o jornal.

O WSJ informa ainda que oficiais do Pentágono não quiseram comentar o ocorrido, mas a Força Aérea iniciou uma investigação. A identidade dos invasores e a extensão do prejuízo causado não puderam determinados.
Segundo ex-militares dos EUA, os ataques parecem ter se originado da China, apesar de considerarem difícil determinar a origem exata, por causa da facilidade de se esconder identidades na internet.

A Embaixada chinesa afirmou que o país "se opõe e proíbe todas as formas de crimes online". Segundo fontes oficiais, também ocorreram violações no sistema de controle de tráfego da Força Aérea dos EUA nos últimos meses.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A geopolítica da pirataria

A geopolítica da pirataria

No Chifre da África e no sudeste da Ásia, a ação de piratas é muitas vezes sintoma do desgoverno e da miséria de seus países

Flávia Tavares - O Estado de S.Paulo

- O capitão Richard Phillips, do navio Maersk Alabama, foi catapultado ao status de herói quando, depois de se oferecer como refém de piratas somalis para salvar sua tripulação, foi resgatado por um destróier americano no domingo. A operação acabou com três piratas mortos e um preso. No momento de sua captura, Phillips não foi obrigado a caminhar sobre uma rampa com uma espada nas costas: teve armas pesadas apontadas para a cabeça. Os piratas não usavam lenços e tapa-olho: eram somalis subnutridos em um bote infestado de ratos e doenças. A pirataria moderna não carrega em seus baús aventuras românticas à moda dos antigos corsários. Somente a degradação de criminosos que, muitas vezes sem opção de trabalho em terra, partem para a contravenção nos mares.

Nesse cenário, o Chifre da África, ali onde a Somália quase encosta no Iêmen, é emblemático. A ponta de continente que está separada da Ásia pelo Golfo de Áden é especialmente assolada pela miséria e pelo desgoverno. Fica fácil fazer as contas: os piratas somalis tinham em suas mãos, até o fechamento desta edição, 16 navios e mais de 280 reféns, de acordo com um relatório semanal do International Maritime Bureau. E a pirataria rendeu, em 2008, algo entre US$ 50 milhões e US$ 80 milhões em resgates. Neste ano, até o ataque ao Maersk Alabama, foram 66 sequestros de navios no Chifre da África. "Enquanto o dinheiro continuar entrando nos bolsos dos piratas, o problema não será resolvido", explica Peter Chalk, especialista em segurança internacional da consultoria americana Rand Corporation e cientista político graduado na University of British Columbia, no Canadá. E ele faz um alerta: "A saída para a pirataria não é militar. É a diminuição da pobreza."

Por que voltamos a lidar com um crime tão antigo?

São dois fatores principais. O primeiro é o aumento da frota comercial navegando pelos mares: 85% das commodities do mundo são transportadas por navio. Isso aumentou a variedade de alvos a serem escolhidos pelos piratas. Em segundo lugar, a dependência do comércio naval congestionou algumas vias marítimas, como o Canal de Suez, o Estreito de Malaca, o Canal do Panamá, etc. Por conta do número de embarcações nessas áreas, os navios têm de reduzir a velocidade e se tornam alvos muito vulneráveis.

O que os governos dos países dessas regiões têm feito para combater os bucaneiros?

Há uma inabilidade desses países em monitorar suas costas, por falta de recursos. Desde o 11 de Setembro, vários deles instalaram equipamentos de segurança em terra e isso reduziu ainda mais as verbas para a vigilância costeira. Outro fator é a corrupção, tanto na elite militar quando entre oficiais dos governos. Esse problema é muito evidente no sul da China, nas Filipinas, particularmente na Indonésia e até mesmo no Brasil. Falando especificamente do Chifre da África, a falta de governo estabelecido na Somália, endêmica desde 1991, quando a ditadura de Siad Barre caiu, é uma questão fundamental.

É possível identificar uma data para o início da pirataria moderna?

Ela começou no sudeste da Ásia, no fim dos anos 90, com a crise financeira no continente. A criminalidade aumentou e os recursos para o monitoramento das águas diminuíram. Os piores casos aconteceram na Indonésia, no Estreito de Malaca, até 2006, quando Cingapura e Malásia pressionaram o governo indonésio para tomar medidas de repressão. No Chifre da África, o pico de ataques vem acontecendo há 18 meses, quando os piratas somalis deixaram de visar a barcos de pesca pequenos e partiram para o ataque a navios de carga.

O que os levou a dar esse "salto de qualidade" na escolha dos alvos?

Eles simplesmente perceberam que podiam dominar navios maiores e os donos dessas embarcações estavam dispostos a pagar o resgate. Os pedidos começavam em US$ 10 mil, os empresários aceitavam. Os piratas foram aumentando o valor e chegaram aos milhões de dólares atuais.

Por que os empresários aceitam pagar resgates tão altos?

Porque esse é um prejuízo até aceitável comparado ao que seria a perda completa da carga. A indústria marítima evita qualquer situação que aumente seus custos operacionais. Isso quase sempre significa cortes em gastos com segurança. Os donos de navio simplesmente ignoram as instruções para navegar longe da costa, porque navegar próximo a ela reduz o tempo de viagem. Só que isso aumenta a exposição a ataques. As tripulações dessas embarcações também são cada vez menores.

Como os piratas, organizados em pequenos bandos, conseguem dominar navios cargueiros enormes?

Assumir o controle de uma embarcação de grande porte não é tão complicado quanto parece. A parte mais difícil consiste em ir chegando com o pequeno barco de assalto perto de um alvo que é muito maior do que ele. São essas manobras de aproximação que permitem que os piratas lancem seus ganchos e escalem o navio. Então, basta haver alguém no bando que saiba navegar bem e alguém forte para escalar. E vale lembrar que, uma vez a bordo, os piratas enfrentam tripulações de uma dúzia de homens desarmados e instruídos pelas companhias marítimas a não reagir ao ataque.

Embora com roupas simples, vestindo camisetas e bermudas, os piratas parecem bem armados. Onde eles conseguem esse equipamento?

Houve uma proliferação global de armas nos últimos tempos. No passado, eles invadiam navios com facões, pistolas, mas hoje usam lançadores de granada, fuzis, armamento pesado, vindos de traficantes de armas da África, onde se consegue basicamente qualquer coisa, ou do Iêmen, que tem uma importância enorme nesse comércio ilegal. Em outros casos, as armas são roubadas de Forças Armadas, de estoques de antigas guerrilhas ou vêm de guerras civis.

Além de investir em armas, o que os piratas fazem com o dinheiro obtido nos sequestros?

As pessoas que executam os ataques são chamadas de "guardas". Elas não são o cérebro da operação. O cérebro são os negociadores do resgate, que ficam em terra. Quando o resgate é pago, cerca de 60% do dinheiro vai para esses negociadores, 20% para os guardas e o restante é dividido em investimentos nos equipamentos dos próximos ataques e na própria comunidade costeira. Não à toa, essas comunidades protegem os piratas: muitas vezes, elas dependem da pirataria para sobreviver economicamente.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, declarou que uma das formas de combater a pirataria seria rastrear e bloquear esse dinheiro. Isso é possível?

No Chifre da África, antigamente o pagamento do resgate era depositado em contas bancárias em Dubai. Mas hoje ele é feito em dinheiro vivo. No caso do Sirius Star, sequestrado em novembro de 2008, o resgate foi de US$ 3 milhões, pago em notas de US$ 50 ou menores. Boa parte desse dinheiro é transferida para outros países pelo sistema hawala. Esse processo é usado também por imigrantes para mandar dinheiro para casa ilegalmente. É antiquíssimo e baseado simplesmente na confiança.

Como funciona?

Um indivíduo dá ao corretor de hawala uma quantia em dinheiro e pede que a mesma quantia seja entregue a alguém em outro país. O primeiro corretor contata um colega na cidade onde o dinheiro será entregue, e o instrui a dar a quantia ao destinatário. Os fundos são trocados sem registro e sem movimentação física dos valores, por isso o dinheiro se torna não rastreável. É a mesma dificuldade que os EUA têm em identificar os recursos do tráfico de drogas ou do terrorismo, movimentados pelo mesmo sistema.

As grandes potências usam enormes destróieres para enfrentar homens em botes e tentam rastrear dinheiro não rastreável. A impressão é de que não sabem o que fazer.

O problema de empenhar tanto a Marinha nesse enfrentamento é que isso não atinge a verdadeira causa da pirataria, que está em terra. Outro aspecto no Chifre da África é o fato de que os piratas não atuam só no Mar Vermelho e no Golfo de Áden, mas também atacam mais ao sul, próximo às Ilhas Seychelles. Então, a área a ser monitorada é de cerca de 5 milhões de km2. Ter 14 países com 22 embarcações no local não é nem de perto suficiente para vigiar uma área dessa magnitude ou proteger todos os navios que passam ali: são 24 mil navios por ano no Golfo de Áden.

O que pode ser feito, então?

Tomar medidas que ofereçam alternativas para que essas pessoas não se envolvam com a pirataria e para que as comunidades costeiras não protejam piratas. Estamos falando de diminuir a pobreza, oferecer oportunidades de emprego, eliminar a corrupção e aumentar a capacidade de defesa dos Estados.

Mas são medidas de longo prazo.

De imediato, é preciso trabalhar com países que tenham um governo soberano para que haja mais esforço de monitoramento, principalmente o Quênia e o Iêmen. É também fundamental envolver o setor privado. A indústria marítima deve se proteger melhor.

Muito tem se falado sobre a possibilidade de os terroristas se associarem aos piratas para fazer atentados. O senhor concorda com isso?

Não há nenhum indício de que haja colaboração entre eles. Do ponto de vista dos piratas, não há benefício em se associar com terroristas. Os objetivos dos dois são muito diferentes: terroristas são motivados por política e ideologias e piratas, por dinheiro. Se essa associação ocorresse, isso atrairia muito mais atenção internacional contra os piratas e eles sairiam prejudicados economicamente.

E do ponto de vista dos terroristas?

Bom, de fato eles até podem copiar as técnicas piratas para fazer seus atentados. Poderiam começar a sequestrar barcos de passageiros para pedir resgates e fazer caixa. Já vimos isso acontecer nas Filipinas. Além disso, os terroristas podem receptar cargas roubadas. Esse foi o maior medo no caso do navio ucraniano Faina, sequestrado em setembro do ano passado, e foi por isso que o caso atraiu tanta atenção internacional. O navio estava carregado de armamento russo e havia o temor de que esse material fosse vendido a terroristas.

Os piratas somalis têm dito que querem se vingar do ataque americano no salvamento do capitão Phillips. Isso não é uma motivação política?

Seria, mas acho que é um blefe, uma tentativa de marcar posição. Isso prova que ações da comunidade internacional podem, involuntariamente, politizar o que tem sido até aqui um movimento puramente econômico. Há quem defenda, na luta contra a pirataria, não só ataques navais mais poderosos, mas também ataques aéreos na Somália, para prevenir que bandos se formem e destruir os já formados. Qualquer ação desse tipo pode politizar demais a questão: os países seriam acusados de tentar ocupar a Somália; as mortes de civis seriam gravíssimas, etc. Tudo isso criaria um problema muito mais grave do que o que já enfrentamos.

Está previsto para o dia 23 um encontro entre vários países para, entre outras coisas, formular ações contra a pirataria. Qual é a sua expectativa sobre essa reunião?

É difícil dizer. De fato, muitos países se mobilizaram rapidamente para enfrentar o aumento da pirataria no Chifre da África. Algumas resoluções foram aprovadas na ONU, forças multinacionais foram enviadas, a União Europeia e a Otan lideraram acordos multilaterais, tudo nos últimos seis meses. Isso mostra um grau de consenso internacional. Mas meu lado mais cínico acredita que a maioria dos navios que estão naquela região só está lá para proteger os navios de seu próprio país. Não acredito que a escala da pirataria represente ameaça suficiente para mobilizar a atenção internacional mais do que fez até agora.

Por quê?

A pirataria não ameaça a segurança nacional de nenhum país ocidental, não ameaça a economia global e nem sequer o comércio marítimo como um todo. O que estamos vendo é simplesmente a reação a alguns casos de maior repercussão, como o do capitão Phillips. Aliás, eu me pergunto o porquê de estarmos tão concentrados no problema no Chifre da África se a pirataria acontece em outras regiões que merecem a mesma ou maior atenção, como o Golfo da Guiné, as águas da Indonésia, Índia, Tanzânia e Bangladesh. Mas o Golfo de Áden está em foco por dois motivos. Primeiro, por ser uma ligação entre a Europa e o Oceano Índico. Em segundo lugar, os piratas agiram a incríveis 500 milhas náuticas (900 quilômetros) da costa, o que realmente chama a atenção. Mas não vi ainda uma reação da comunidade internacional para enfrentar as verdadeiras causas da pirataria. Veremos, isso sim, muita retórica, ideias de mandar ainda mais navios de guerra para a África...

Há a ideia de armar as tripulações.

Espero que isso não seja feito, porque criará diversos problemas legais. Não é certeza que as seguradoras cobririam esses homens armados se eles se ferissem ou morressem. Outra dificuldade é ter uma tripulação armada entrando em águas territoriais - sim, porque os ataques não acontecem só em águas internacionais. Muitos países não aceitariam de forma alguma navios com tripulações armadas em suas águas. Além disso, a ideia de enfrentar tripulantes armados pode deixar os piratas mais violentos e aumentar as mortes em ataques. Só temos certeza de uma coisa: enquanto o dinheiro continuar entrando nos bolsos desses piratas, o problema não irá embora.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Revés na Índia abala Dassault em disputa por caça da FAB

A poucos meses de um desfecho do programa F-X2, que vai reaparelhar a Força Aérea Brasileira (FAB) com pelo menos 36 novos caças de múltiplo emprego, a francesa Dassault sofreu um grande revés. Considerada favorita na disputa da FAB, em função dos acordos militares assinados recentemente entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy, a Dassault teria sido desclassificada de uma concorrência na Índia para a compra de 126 aeronaves - avaliada em US$ 10 bilhões, é a maior aquisição internacional em curso.
A representação da empresa no Brasil não quis se pronunciar, argumentando que a Dassault não foi informada pelo governo indiano da desclassificação, noticiada ontem pela agência "France Presse" e por sites especializados em defesa, citando fontes militares. A dispensa teria ocorrido por descumprimento de especificações técnicas, deixando cinco concorrentes no páreo: o consórcio europeu
EADS (com o Eurofighter), a russa MiG (MiG-35), a sueca Saab (Gripen NG) e as americanas Lockheed Martin (F-16) e Boeing (com o F-18 A/B Super Hornet).
Duas dessas empresas disputam, junto com a Dassault, o contrato da FAB: a Boeing e a Saab. Assim como no Brasil, a transferência de tecnologia é um dos principais critérios avaliados pelosindianos. Tanto que 108 dos 126 caças adquiridos - a exceção envolve apenas as 18 primeiras unidades
da compra - deverão ser fabricados na própria Índia. Das três concorrentes na disputa brasileira, pré-selecionadas entre seis fornecedores inicialmente sondados, a Dassault não é a única preterida em uma grande competição internacional. No fim do ano passado, a Noruega rejeitou uma oferta da Gripen e optou pelo F-35/Joint Strike Fighter da Lockheed Martin. A decisão surpreendeu pela proximidade política e na área de defesa entre os dois vizinhos nórdicos.
No caso da Dassault, a concorrência indiana era importante porque o caça Rafale, que também está sendo oferecido ao Brasil, já participou de campanhas como a do Afeganistão, mas ainda não teve nenhuma venda externa concretizada. Afora as próprias forças americanas, a Boeing só forneceu seu F-18 Super Hornet para a Austrália, embora também participe de disputas na Dinamarca e na Grécia.
A desclassificação do Rafale não é o único fator novo, que pode embolar a decisão do F-X2, cuja encomenda inicial é estimada em mais de US$ 2 bilhões. Inconformados com a sua eliminação no primeiro corte da Aeronáutica, os russos da Sukhoi pediram ao Ministério da Defesa para entregar uma nova proposta e apresentaram sua oferta no mês passado. Conforme já afirmou o ministro Nelson Jobim,
o maior obstáculo para uma encomenda à Sukhoi é a negativa em transferir tecnologia. Os oficiais da FAB, inclusive, sequer consideraram os russos na rodada de visitas e testes que iniciaram para verificar os caças restantes na disputa.
A Rússia acenou com uma participação da Embraer no desenvolvimento de um caça de quinta geração. "Estamos estudando com a Embraer questões de troca de tecnologias, da criação, na base dessa empresa, de áreas para a montagem e a produção, segundo licenças russas, de aviões no futuro", disse na semana passada, à agência RIA Novosti, Alexander Fomin, vice-diretor do Serviço Federal para
a Cooperação Técnico-Militar. "Trata-se de uma direção promissora. Por enquanto, isso está na fase inicial, mas admitimos isso", complementou o dirigente do departamento que controla a exportação de armamentos russos. A
Sukhoi está desenvolvendo um caça com características de alta manobrabilidade e baixa detecção por radar para garantir a superioridade aérea e a precisão na destruição de alvos terrestres e marítimos. Cogita-se que a produção pode começar em 2015 e concorreria com o novo F-22 americano. Um acordo
bilateral firmado com a Índia em 2007 incluiu o país no desenvolvimento da aeronave.
A expectativa da FAB é tomar uma decisão no segundo semestre e fechar o contrato entre o fim de 2009 e o início de 2010.

Valor Economico 17/04/09

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Universidades russas recebem mais de 25 brasileiros em abril e abrem novas vagas de medicina

Estudantes embarcam para cursar biologia, medicina, relações internacionais, farmácia, filologia e jornalismo; Universidade de Kursk inicia novo processo seletivo

Para se diferenciar na busca de uma vaga no mercado de trabalho, é necessário procurar alternativas. Sabendo disso, 29 brasileiros partirão, no dia 29 de abril, para estudar biologia, medicina, relações internacionais, farmácia, filologia e jornalismo na Rússia. Lá, eles serão encaminhados para Universidade Estatal de Belgorod (BelGu) e para a Universidade Amizade dos Povos (Moscou). Já a Universidade Médica Estatal de Kursk (Kursk), além de receber 17 alunos, está com 20 vagas abertas para o curso de medicina em inglês. Os interessados podem realizar as inscrições até 24 de abril por meio da Aliança Russa de Ensino Superior, entidade representante oficial das melhores instituições estatais russas no Brasil. Mais informações através do (11) 3854-2515 ou do site www.aliancarussa.com.br ou www.medicinarussia.com.br. O embarque dessa turma está previsto para o mês de junho.

Do total dos alunos que viajam no final de abril, 16 são do Estado de São Paulo. Outros três vêm do Maranhão. Amazonas, Ceará e Goiás enviam dois representantes. Já Alagoas, Distrito Federal, Minas Gerais e Rio de Janeiro mandam um estudante.

A vontade de estudar no exterior é um dos principais pontos que motivam brasileiros a embarcar para a Rússia. É o caso do alagoano André Menezes de Souza, de 19 anos. “Quero estudar lá, porque é um país que oferece um ensino de qualidade e, de modo geral, uma estrutura melhor. Estou ciente que terei algumas dificuldades como a adaptação à cultura e ao clima, porém não vejo muitos problemas em enfrentá-los”, explica o aluno, que será encaminhado para Kursk e se juntará a mais de 50 brasileiros que estudam medicina na Universidade e residem no alojamento disponibilizado pela instituição. A cidade possui uma das principais faculdades da Rússia, que tem o reconhecimento da Organização Mundial da Saúde. Apresenta modernos laboratórios em sua estrutura, além de 28 hospitais afiliados e programas especiais que oferecem aos estudantes uma aproximação inovadora na preparação e na prática médica.

O interesse em conhecer uma nova cultura chama a atenção dos estudantes brasileiros. “Sempre quis ir para a Rússia, pois gosto da história do país. Vi a notícia e procurei me informar sobre as vagas. Depois disso, me inscrevi no processo seletivo e fui chamada”, diz Mariana Costa Cavalcante, 19 anos, que irá realizar a Faculdade Preparatória (FP) para o curso de Relações Internacionais em BelGu. A universidade tem mais de 25 anos de experiência em receber estrangeiros. São mais de 18 mil alunos que cursam uma de suas 48 especialidades, o que faz da faculdade uma das referências do ensino russo.

A economia também é um fator determinante para aqueles que optam por estudar na Rússia. No curso de Medicina em Kursk, por exemplo, o aluno investe por ano US$ 2.600,00 (R$ 5.330,00) para realizá-lo em russo e US$ 3.700,00 (R$ 7.880,00) para concluí-lo em inglês. Nos valores anuais estão inclusos: seguro médico, tutoria acadêmica e benefícios como distribuição de livros e moradia, concedidos pelo governo russo.

Vale lembrar que não é necessário ter qualquer conhecimento na língua russa ou inglesa para ingressar em uma das faculdades do país. Os alunos podem iniciar o processo de adaptação na FP, onde aprendem o idioma escolhido aplicado à futura área de atuação. Logo após, eles são encaminhados diretamente para o primeiro ano da faculdade. Com duração de nove meses, o curso da Faculdade Preparatória, pode ser realizada tanto na Rússia quanto no Brasil.

Estudo reconhecido

A Aliança Russa é representante oficial das principais universidades russas no Brasil desde 2005. Seu trabalho consiste na seleção dos candidatos, no processo de orientação da faculdade, na obtenção da documentação necessária para o visto da permanência legal do estudante na Rússia, na entrega da vaga e posterior inscrição na universidade, no encaminhamento do aluno para FP e, posteriormente, para o primeiro ano do curso escolhido e na assessoria durante a viagem até a chegada do estudante ao seu local de destino. Ao longo desses anos, a entidade já enviou mais de 270 brasileiros para a Rússia.

O candidato interessado em estudar na Rússia passa por um processo seletivo avaliado pela universidade de sua escolha e administrado pela Aliança Russa que inclui reunião com os pais, análise de histórico escolar, exames de saúde, exames toxicológicos e checagem de antecedentes criminais, tudo para garantir que o aluno se encaixe no perfil da faculdade.

Ao voltar para o Brasil, o estudante submete o diploma adquirido a um processo de reconhecimento em uma universidade brasileira, um procedimento padrão para qualquer brasileiro que faça graduação em centros de ensino estrangeiros. A boa novidade é que a partir de 2010, os diplomas das universidades russas passarão a ser reconhecidos em toda União Européia (o chamado Diploma Único de Estudos Superiores da Europa).

Serviço:

Aliança Russa de Ensino Superior

Av. Antônio de Souza Noschese, 373

Parque Continental - São Paulo - SP

Tel: + 55 (11) 3854-2513 / 3854-2514 / 3854-2515

Fax: + 55 (11) 3854-2516

CAIXA POSTAL nº 67036 - CEP 05323-970 SP

www.aliancarussa.com.br

A saga do petróleo

A saga do petróleo

RANULFO VIDIGAL
Economista, mestrando do PPED no Instituto de Economia da UFRJ.

O petróleo é a riqueza natural, finita e não renovável, que modelou a base do mundo atual. Em
decorrência, grandes estratégias são postas em prática de modo a permitir o controle de seus
mananciais, na maioria das vezes até através da guerra, como é o caso recente do Iraque.
Ocorreram algumas fases de grande choque do petróleo, como em 1973, onde o barril subiu de 3
para 12 dólares; em 1979, quando atingiu 32 dólares, e mais recentemente quando chegou alcançar
quase 150 dólares por barril.
Em 1994, as reservas provadas mundiais do petróleo era de 1 trilhão de barris contra 1 trilhão e
200 atualmente. Por outro lado, o consumo de óleo no âmbito mundial está na faixa de 85 milhões de
barris por dia, ou 30 bilhões de barris por ano conforme dados da Agência Nacional de Energia.
As reservas provadas atuais recuperáveis com tecnologia de hoje garantem ainda 40 anos de
abastecimento, o que significa dizer que pelo menos uma geração ainda vai viver sob o domínio desta
fonte energética.
Nos Estados Unidos, país responsável por 30% da demanda de energia do mundo, empresas de
diversos ramos opinam no sentido de que no futuro o petróleo continuará sendo o energético mais eficaz
e seguro do século XXI.
Quando comparamos a matriz energética do mundo desenvolvido com relação ao Brasil,
observamos que o petróleo tem participação similar, em torno de 40%. Entretanto, a vantagem relativa
de nosso país está na biomassa e no extraordinário potencial hidroelétrico.
No Brasil, em 2006, a Petrobras descobriu petróleo leve em águas ultraprofundas de mais de 6
mil metros, a partir do fundo do mar. Com isso, nossas reservas provadas atingiram 14 bilhões de barris
e uma autonomia ou auto-suficiência para os próximos 20 anos.
Cresce no mundo a consciência de que o planeta necessita, com urgência, conter a expansão
dos gases de combustão, promotores de efeito estufa e suas conseqüências devastadoras a longo prazo
sobre o planeta. Assim sendo, a exemplo do esforço fiscal da nova presidência dos Estados Unidos,
planeja-se o desenvolvimento de novas tecnologias que viabilizam fontes mais puras de energia ou
fontes alternativas oriundas da biomassa e de força direta da natureza como: os ventos, os mares, as
radiações solares e o hidrogênio.
As iniciativas em estudo no mundo quanto ao emprego de biomassa como fonte alternativa
seguem três vertentes, onde o Brasil é pioneiro: a primeira, da produção e uso em escala comercial do
etanol em alternativa à gasolina; a segunda, o da adição do álcool etílico anidro combustível à gasolina; e
por último, a produção de biodiesel.

MONITOR MERCANTIL 16/04/2009

Mercado em expansão

Mercado em expansão

Fábio Grecchi Enviado especial ao Rio de Janeiro

Quem viu o filme O Senhor da Guerra, com Nicholas Cage, lembra- se bem da sequência de
abertura. Começa numa linha de usinagem de balas, passa pelo carregador de um fuzil e sugere que a
mesma bala termina na cabeça de um adolescente, num dos inúmeros conflitos que ainda assolam a
África.
Esse, em tese, é o lado sujo, negro, do comércio internacional de armamentos, que não
respeitaria embargos e leis internacionais. Mas há o lado limpo, ascéptico, legal, que paga impostos e
gera divisas, e é uma fonte inesgotável de interesse de vários países do mundo. É justamente este que
está montado na Laad – Latin America Aero & Defense, que se realiza até amanhã, no Riocentro.
Tal mercado é tão lucrativo quanto o tráfico de armas e o de drogas, e rende aos cofres públicos
de várias nações um valor difícil de ser mensurado, mas calculado em trilhões de dólares. Um setor que
não conhece a crise econômica internacional.
Não fosse assim, não estariam com estandes montados na Laad países pouco prováveis como
Bulgária,Turquia e Sérvia, todos mostrando aquilo que têm de melhor no setor. Sinal de que trata-se de
uma área cuja competição oferece espaço a todos.

Armas convencionais
Os gigantes do setor, como as norte-americanas Boeing, Grumann, General Dynamics, a
francesa Marcel Dassault ou ainda a britânica British Aerospace, naturalmente que não poderiam faltar.
Países vêm em bloco, como Israel, Índia, Coreia do Sul, África do Sul ou Polônia, mostrar a força de sua
indústria armamentista. Também ficam claros blocos que se formam nesta área, com as joint-ventures
entre empresas russas e indianas. Não é sem razão que os estandes de indústrias dos dois países ficam
um ao lado do outro .
Tudo aquilo que se vê na Laad é relacionado, sobretudo, a armamento convencional. Aviões,
navios, sistemas de mísseis, aviônicos, bombas, balas, equipamentos de infantaria, softwares etc. estão
à venda. E não faltam expositadores espiando – e não espionanando, diga- se – uns aos outros.
Todos fazem questão de apresentar orgulhosamente seu produto. E os militares, que se exibem
fardados e alguns até mesmo em traje de voo, fazem questão de mostrar que estão num ambiente que
lhes pertence. Param, indagam, mexem e debatem com os expositores.
Apesar da fartura de elementos, nada chama tanto a atenção dos frequentadores da Laad quanto
as armas de mão. Pistolas, fuzis, submetralhadoras são deliciosamente manuseadas. Militares das mais
variadas patentes, e até mesmo outros que não se apresentam como tal, mas demonstram enorme
intimidade com os artefatos, apertam gatilhos, travam e destravam, carregam e descarregam todo tipo de
arma leve.

Onipotência
Os expositores sabem mexer com a onipotência que uma arma dá ao ser humano comum: no
estande da Glock, fabricante austríaca de pistolas em polímero, há propagandas que ressaltam as linhas
sensuais de seus produtos – mulheres em trajes mínimos são colocadas junto às armas. No da CZ, da
República Tcheca, as armas ficam sobre um balcão, à disposição dos interessados, que podem
manuseá- las com tranquilidade.
Mas a Laad não é somente sobre aquilo que os mais radicais poderiam chamar de "mercado da
morte". Há estandes de equipamentos contra incêndio, contra catástrofes naturais, voltados para as
defesas civis.
Também há equipamentos para equipar as várias polícias do mundo, desde coletes a prova de
balas a uniformes completos para tropas de choque. A Babel tecnológica não parece causar dramas de
consciência. Indagado sobre a questão moral de uma feira deste gênero, o expositor russo respondeu
em inglês perfeito: "Who cares?"

JORNAL DE BRASÍLIA 16/04/2009

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O nosso vestibular, em linhas gerais

Exame de vestibular no Maracanã, no início da década de 70

1808: - Tem início o ensino superior brasileiro, com a criação de dois cursos de Medicina por D. João VI. Até 1911 havia diferentes formas de ingresso.

1911: - O vestibular é instituído. Constava de uma prova escrita de português e uma prova oral de línguas e ciências.

1931: - O Estatuto das Universidades Brasileiras estrutura o ensino secundário, que passa a se organizar em duas etapas: comum, de cinco anos, e complementar, de dois anos, subdividida em pré-jurídico, pré-médico e pré-politécnico. Os vestibulares passaram a fazer correspondência entre a faculdade e o secundário. Eram eliminatórios, e não classificatórios, basicamente com provas discursivas.

1968: - Acontece a unificação do vestibular, com a Lei da Reforma Universitária. O candidato prestava um exame e concorria a várias escolas e diferentes cursos de uma mesma universidade. O concurso passa a ser classificatório, não mais eliminatório.

1988: - Primeiro vestibular isolado da UFRJ. Ao longo dos anos seguintes, outras universidades deixam o vestibular unificado.

1996: - Aprovada a Lei de Diretrizes e Bases. O ingresso ao ensino superior passa a ser feito via processo seletivo a critério de cada escola.

1998: - É criado o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Ao longo dos anos seguintes, sua nota passa a ser usada na seleção de universidades particulares e, em menor número, públicas.

1999: - Parecer do Conselho Nacional de Educação recomenda respeito a competências estabelecidas nas Diretrizes Curriculares do Ensino Médio. Estabelece ainda a fixação do número de vagas, resultado classificatório com igualdade de critérios e realização de p

terça-feira, 14 de abril de 2009

O Enem, as mudanças no vestibular e a geração concurso

Foi com muita expectativa, que, através do O GLOBO vi as primeiras reportagens sobre as mudanças no vestibular pretendidas pelo "nosso guia" e seu ministro. Faz tempo que eu, orientador profissional e professor universitário, vejo de perto o sofrimento dos jovens, que além da árdua tarefa de escolher uma profissão aos 16, 17 anos, precisam se preocupar (talvez ainda mais) em passar no vestibular do curso escolhido.

Triste fiquei ao verificar que a mudança consiste em passar de uma prova para duas (Enem). Será que isso resultará em alguma mudança concreta (além, claro, sobre quem receberá o dinheiro das inscrições)?

Nosso ministro diz ter se inspirado no modelo americano ou "Scholastic Aptitude Test / Scholastic Assessment Test" (SAT). Se for essa nossa fonte de inspiração, que percebamos que o modelo americano vai muito além do SAT (que alias é realizado 7 vezes no ano e, em caso de nota baixa, o aluno tenta novamente, ficando com a nota mais alta):

O SAT foi reformulado em 2005 passando a ter três etapas somente: a seção de leitura crítica, anteriormente denominada seção verbal, que testa a capacidade de compreensão de textos de nível superior escritos em inglês; a seção de matemática, que avalia a capacidade de analisar e resolver problemas - habilidades aprendidas na escola e que serão necessárias na universidade - e abrange questões que envolvem fórmulas de álgebra, figuras geométricas, probabilidade e análise de dados; e, por último, redação, que abrange questões de múltipla escolha para avaliar o uso do inglês formal escrito. Inclui-se também uma breve dissertação.

Depois é realizado o SAT-Subject Tests (Testes de matérias específicas do SAT), que são exames de uma hora de duração que avaliam o conhecimento do estudante em relação a uma determinada matéria acadêmica, e sua capacidade para aplicar tal conhecimento. Existe um total de 20 testes de matérias, tais como francês, química e história geral.

Falta ressaltarmos algo muito importante: para se entrar em uma universidade americana, a nota do SAT não é única. Tão importante ou mais são as outras etapas, como a entrevista com o aluno, cartas de recomendação de professores, seu currículo escolar, sua participação em atividades extras-curriculares (se esteve em grêmio, esportes, banda, coral). Muitas vezes um bom esportista, ou um aluno com bom projeto de ciências numa feira científica, tem mais chances de ser aceito numa universidade do que alguém com boas notas no SAT.

Outro agravante da nossa "inspiração" é a diferença na escolha profissional. No modelo americano, o jovem entra no "college". Os dois primeiros anos de faculdade ("college") são conhecidos como "freshman" e "sophomore". Algumas escolas exigem que os "freshmen" e "sophomores" façam cursos em diferentes áreas do conhecimento: literatura, ciências, ciências sociais, artes, história e assim por diante, dando ao jovem um conhecimento sobre as possibilidades de carreira e disciplinas da universidade. O terceiro e quarto ano são os "upperclassmen", onde um professor-orientador que ensina na área de especialização do estudante ("major") é designado para cada estudante com o propósito de ajudá-lo a selecionar seu programa de estudo, que é quando o jovem realiza realmente sua escolha profissional.

No modelo "abrasileirado", este jovem terá que escolher sua profissão assim que tiver realizado o Enem para escolher um curso. Imaginemos quantos jovens que desejam medicina irão optar por enfermagem ou biologia, por terem somente pontos para isso, e medo de tentar o Enem novamente seis meses depois. Isso já é uma realidade nos consultórios de orientação, pois nossos clientes se baseiam pela famigerada relação candidato/vaga. Imaginem esse mesmo adolescente de posse de sua nota no novo Enem e sabendo para quais cursos pode entrar e quais não pode. Os sonhos darão lugar à praticidade.

Se pretendemos nos inspirar pelos bons resultados da educação superior americana em relação à escolha profissional, que criemos um ingresso ao vestibular flexível, com entrevista, análise de currículo, carta de recomendação dos professores do ensino médio (uma boa forma de valorizar os mestres), entre outras boas idéias americanas, e fujamos da preferência nacional pelo teste de avaliação, que pouco avalia em termos profissionais.

Uma geração que mede sua capacidade somente através de provas só saberá obter resultados dessa forma. Uma prova disso é o que chamo "geração concurso", jovens com pânico do mercado de trabalho, e que sonham com uma prova (concurso público) que garanta a eles estabilidade e segurança.

O Brasil precisa de jovens empreendedores, que saibam trabalhar em grupo, tenham liderança, saibam fazer uma reunião. Só teremos isso em nosso mercado de trabalho com mudanças significativas no ingresso às universidades, e não com uma cópia "mal feita" da parte menos significativa do modelo anglo-saxão.

A política Impossivel

A política impossível

JARBAS PASSARINHO
Escritor

Os políticos insistem em citar Bismarck pela metade. Ele disse que a política é a arte do possível e do indicado. As duas condições não podem ser separadas no ato político. O que pode ser possível pode não ser indicado e vive-versa. O presidente Lula, todavia, inovou. No jantar com os parlamentares do PMDB,
definiu à sua moda: "A política é a arte do impossível".
Os militares que enfrentaram as guerrilhas comunistas estão igualmente convencidos de que em política muita coisa, de fato, é impossível de explicar. O que lhes foi missão, em plena guerra fria – os
Estados Unidos sangrando no Vietnã – de evitar que tivéssemos aqui algo como outro Vietnã, que os
comunistas chegassem ao poder através da luta armada, parece hoje, na sociedade em que vivemos, que foi
um erro imperdoável. Claro que perdemos uma guerra importante: a das comunicações. Àquele tempo a
sociedade civil pensava como nós. O jornal Estado de Minas, em editorial, saudava a reação mineira que
tinha iniciado a contra-revolução de combate à ameaça comunista. A via concreta e a ela se referia com
todas as letras. Do mesmo modo, e pelo mesmo motivo, o então bispo Paulo Evaristo Arns, vice-provincial
dos franciscanos, desceu de Petrópolis e veio ao encontro das vanguardas mineiras, que vinham de Juiz de
Fora para lutar contra efetivos muito maiores e muito mais equipados, os do Rio de Janeiro. Seriam
esmagados com certeza, se as tropas que se supunham leais ao governo as tivessem confrontado. Viraram
heróis. Hoje são considerados reacionários que desejavam o poder e só por isso se arriscavam.Teria sido melhor – perguntam-se alguns deles – ter deixado que o país se alinhasse aos
guerrilheiros treinados na China de Mao Tse Tung, ainda no governo Goulart, ou Cuba, ponta de lança da
revolução leninista? Não seria mais recomendável fazer real o simulado tripé de sustentação de Jango,
imaginado por um general mais conhecido como cavalo branco, a marca então popular de um tipo de wisky?
Ou provocar os Estados Unidos, que dividia com a União Soviética os dois maiores exércitos do mundo e,
entretanto, eram incapazes de vencer um pequeno país subdesenvolvido? Não foram eles, pela boca de
John Foster Dulles, que disseram que não há países amigos, mas interesses comuns? Qual o nosso
interesse, senão poupar o Brasil de vir a ser imensa Cuba? Indagam o que ocorre hoje? Não seria melhor
deixar que o Brasil fosse dominado e transformado por um satélite graças a uma revolução vitoriosa de
marinheiros, fuzileiros navais e sargentos da Marinha e da Aeronáutica, amotinados em favor de um regime
que prometia, desde o século 19, erigir uma sociedade sem classe, todos iguais? Onde ninguém fosse capaz
de explorar seu semelhante impunemente, ainda que fosse impossível pensar que isso não passaria de
utopia, iniciada por Lênin e consolidada por Stalin vigente desde 1917 na URSS, sob a liderança imbatível do
"guia genial de todos os povos"? Por que acreditar em Ignace Lepp, em Raymond Aron, Solsenitsen e outros
"renegados" anunciando campos de concentração que nunca existiram? Por que viemos a modernizar um
país onde os generais-presidentes deixaram espólio modesto de generais, gente de classe média, e só se
limitaram a combater a inflação galopante, a corrupção generalizada, a rasgar estradas, a construir Itaipú e
Tucuruí, a reformar a educação, a dar empregos a todos e deixar a economia na oitava posição no mundo,
tudo devido a uma "ditadura implacável?".

segunda-feira, 13 de abril de 2009

45 anos da revolução civil-militar de 1964

Ex.mo Sr Presidente do Clube Militar

Tomei conhecimento hoje da critica feita pela representante do grupo "Tortura Nunca Mais" à comemoraçao do movimento de 31 de março.Alguns chamam de Revoluçao, outros de Golpe, prefiro considera-lo como o Movimento Militar de 31 de março.Nao se pode falar em revoluçao, pois nao houve, na época, a quebra do ordenamento institucional. Nem em golpe,uma vez que nao tivemos um processo conflituoso, inclusive com açoes tipicas de guerra civil.Tivemos, sim, uma restauraçao da ordem necessaria ao desenvolvimento do pais, bem como à manutençao das instituiçoes.Permita V. Exa apenas um breve comentario. A época meu pai era tratorista,moravamos em Suzano,na Grande Sao Paulo,e ele trabalhava em obras de
terraplenagem na Capital. Muitas vezes ele era obrigado a dizer a piqueteiros que estava indo para uma greve ou piquete em algum lugar, para nao ser agredido. Isso porque ele levava marmita e algumas frutas em sua maleta, e poderia ser considerado um fura-greve. Apos o movimento ele podia ir trabalhar tranquilo, para garantir nosso sustento e contribuir para o crescimento do pais.E eu podia ir tranquilo à Escola, Publica, que funcionava, e era otima!Dito isso, considero o movimento como um acontecimento historicamente necessario. As circunstâncias da época estavam levando o pais a um caminho perigoso, e algo precisava ser feito.
Houve erros e excessos? Sim houve, e de ambos os lados.
Tivemos atitudes vergonhosas? Sim, e de ambos os lados.
Mas devemos entender que somos humanos, portanto faliveis, cometemos erros,às vezes inominaveis.As vezes em excesso.As feridas nao vao desaparecer, mas ha que cicatriza-las.E tivemos a Anistia, "Ampla,Geral e Irrestrita", como queriam os representantes do outro lado. Feridas cicatrizadas, que todos toquem a vida!
Ficou tudo bem, enfim?
E entao tivemos Brizola, que entregou nosso querido Rio de Janeiro aos traficantes, bicheiros e afins; o Arraes,que nada fez para impedir o crescimento da prostituiçao infantil e da violência na bela terra de Pernambuco. Isso sem contar a Educaçao, cada vez pior, coisa que muito me entristece. Sou do tempo em que as escolas tinham Fanfarras, Bandas, e desfilavamos orgulhosos no 7 de Setembro. Alias,
havia uma rigorosa seleçao para entrar na fanfarra ou na banda,e so participava do desfile quem estava em plenas condiçoes de fazê-lo.

Servir o Exército, isso genericamente, era uma honra.Digo genericamente porque entre nos, na época havia preferências. Eu tinha preferência pela PE, pelo 2o BG, pela Marinha, onde acabei prestando o Serviço Militar. E teve um processo seletivo muito concorrido!
Hoje parece que os brasileiros têm vergonha de suas instituiçoes, de sua Historia, de seus vultos e suas datas.
Era motivo de orgulho ser, por exemplo, socio da Biblioteca do Exército. Eu, um simples Marinheiro, era muito bem recebido por um Tenente ou Capitao na Bibliex; quando precisava viajar, sempre fui muito bem atendido por Oficiais da Base Aérea do Galeao. Sempre tive boa acolhida nas Unidades que, por alguma razao, visitava.
Intolerância?
Que intolerância?

Tive um incidente, uma vez, no 27o GAC, por uma mera questao de interpretaçao do RCont, com um Oficial daquela Unidade, creio que Cel ou TenCel; e, por meio do dialogo chegamos a bom termo, naturalmente
respeitadas a Hierarquia e a Disciplina.Onde esta a intolerância, tao propagada por esses defensores e propagadores de falacias?
Se ha intolerância, é da parte deles. E da parte do atual ministro da justiça (vai em minusculas mesmo!!). E da parte de alguns irresponsaveis hoje ocupando postos importantes, por puro apaniguamento partidario.
E agora essa escoria (perdoe-me o excesso, causado pela indignaçao), ao "botar as maos" no poder, vem com esse revanchismo inoportuno e inconveniente, numa flagrante quebra do contrato politico e social.
Fossem eles os vencedores, talvez nem tivéssemos condiçoes técnicas de promover qualquer manifestaçao, e, se o conseguissemos, seriamos fortes candidatos ao "paredon".Esses que agora vociferam contra manifestaçoes da entao "direita", se nao estao felizes aqui poderiam muito bem ir embora para Cuba ou Coréia do Norte, plantar qualquer coisa ou se prostituir para sobreviver. Se o Comunismo fosse bom a antiga Uniao Soviética nao teria se esfacelado. E os alemaes orientais nao teriam
comemorado a queda do Muro da Vergonha!!
Fico indignado com isso.
Falam em autoritarismo. Que autoritarismo?
Depois da Marinha fui Policial Militar em Sao Paulo, onde por mérito cheguei a 1o Sargento, e depois, por aprovaçao em vestibular, Cadete.Tive diversos atendimentos em que me relacionava com Oficiais e Sargentos das FFAA, e nao tive um unico caso de "carteirada", ao contrario, sempre foram de muita cordialidade; mas colegas do Rio e de Pernambuco tiveram sérios problemas com as "falanges" do Brizola e do Arraes.
Desculpe General, se o incomodo. E que nao aguento mais "essa raça"!! So eles têm direito a se manifestar? So a versao deles é a verdadeira? So eles sao os virtuosos?

O sofrimento da mae do Soldado Mario Kozel (3o Sgt Post-Morten) nao conta?

O mesmo em relaçao à mae do Asp-a-Of PM Carlos Alberto Mendes Junior?

E o dos filhos do Sgt da FAB, covardemente assassinado durante uma escolta em Pernambuco?

E o dos familiares do Delegado Octavio, de Sao Paulo, covardemente assassinado numa esquina de Copacabana, de férias, e desarmado?

Novamente minhas escusas, General.
Saiba Vossa Excelência que ainda ha, no Brasil, gente que nao vai se calar diante dessa injustiça.

Com os votos de sucesso.

Almir Sani Moreira

Técnico Judiciario do Tribunal Regional Federal da 3a Regiao

Sao Paulo - SP

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Exército dos Estados Unidos adota o 'ultimate fighting'

De Michael Brick
Em Fort Bragg, na Carolina do Norte (EUA)

As forças armadas dos Estados Unidos estão adotando um esporte de combate comumente conhecido como "ultimate fighting" que, apenas uma década atrás, era chamado de briga de galos humana, sendo proibido na maioria dos lugares.


Soldado é inspecionado antes de entrar no ringue do ultimate fighting em Fort Bragg


O esporte, também conhecido como artes marciais mistas -envolvendo técnicas como jiu-jitsu, boxe e luta-livre- adotou medidas de segurança que satisfizeram os reguladores da maioria dos Estados norte-americanos. A sua popularidade cresce vertiginosamente, especialmente entre os homens jovens.

No último sábado, um torneio do gênero foi transmito pela primeira vez ao vivo, em horário nobre, por uma rede de televisão. As forças armadas, reconhecendo o fenômeno e suas características demográficas, está utilizando o esporte não só como forma de criar moral e ajudar no recrutamento, mas também como auxílio para o treinamento e aperfeiçoamento das habilidades dos soldados antes que eles sigam para o combate.

Para estimular as tropas, os líderes militares receberam de braços abertos lutadores profissionais que têm nomes como Ace ("Ás") e Huntington Beach Bad Boy ("Garoto problema de Huntington Beach"). O exército realiza grandes torneios entre os soldados. Em um artigo de opinião na revista "Army Times", no ano passado, o major Kelly Crigger pediu aos comandantes que organizassem uma equipe de lutadores que aparecesse na televisão no Ultimate Fighting Championship (UFC), a principal liga profissional deste tipo de luta.

"Muitos dos expectadores são potenciais recrutas", argumentou Crigger.
"O UFC constitui-se em um grande veículo para inserir o nome do exército nas mentes de milhões de jovens norte-americanos".

Nas forças armadas, a adoção do ultimate fighting ocorre com certa reserva. A ênfase do esporte na glória solitária vai de encontro aos recentes esforços do exército para modificar o tema de recrutamento, do desenvolvimento individual ("Seja Tudo Aquilo Que Você Pode Ser; Exército de Um Indivíduo) para a unidade do grupo (Exército Forte; Entre Para o Exército).

Mas à medida que o esporte cativava os expectadores em canais dirigidos para jovens, os recrutadores e sargentos encarregados do treinamento dos recrutas passaram a prestar atenção no fenômeno.

Em 2006, oficiais da Estação Aérea do Corpo de Fuzileiros Navais em Miramar, na Califórnia, convidaram o lutador do UFC Tito Ortiz, que é apresenta-se como Huntington Beach Bad Boy, para participar do baile de aniversário da base como convidado de honra. O jornal "Marine Times"
recebeu cartas de protesto contra a iniciativa, mas o convite só foi cancelado quando Bad Boy indicou que planejava casar-se com a sua namorada, a atriz pornô Jenna Jameson.

Rich Franklin, o ex-campeão peso-médio do UFC, conhecido como Ace, visita freqüentemente bases dos fuzileiros navais. No ano passado, Matt Hughes, um ex-campeão do UFC na categoria peso-meio-médio, foi aplaudido durante a sua visita a Fort Benning, uma base do exército na Geórgia.

Sem nenhum arranjo formal, as forças armadas também produziram lutadores para as ligas profissionais. Brian Stann, o campeão da categoria peso meio-pesado do World Extreme Cagefighting -competição em que o ringue fechado lembra uma gaiola- lutou no Iraque com os fuzileiros. Em novembro do ano passado, um fuzileiro naval chamado Will Thiery foi promovido na classificação em um torneio na Flórida denominado "Salute to Our Armed Forces" (algo como "Preste Continência às Nossas Forças Armadas"). O sargento James Damien Stelly, que intrega o corpo de Rangers do exército, tendo cumprido três missões no Afeganistão, participou de várias lutas profissionais.

Os promotores procuram capitalizar o interesse geral pelo esporte. Em abril, o Cassino Harrah, em Tunica, Mississipi, promoveu uma noite de luta chamada "Soldados contra Profissionais".

"Temos uma organização como o Exército dos Estados Unidos, que nas nossas mentes personifica os esportes combativos nos quais estamos envolvidos", diz C.J. Comu, organizador do evento. "Este é o perfil dos fãs do esporte: indivíduos do sexo masculino de 18 a 30 anos".

Dentro das forças armadas, os oficiais têm procurado aplicações práticas para esse tipo de luta. Em 2002, o exército publicou uma nova seção do manual de campo sobre técnicas de artes marciais mistas. O seu autor, Matthew C. Larsen, diretor do Programa de Técnicas Combativas do Exército Moderno, considera a competição um poderoso fator de motivação.

"Enquanto abraçamos os nossos valores e aquilo que o exército defende, que é sermos guerreiros, a questão é, que tipo de guerreiros?", diz Larsen, que quando era um jovem fuzileiro naval serviu em Tóquio e conquistou várias faixas pretas. "O jogo das artes marciais mistas é exatamente isto, um jogo. Mas o jogo pode ser um treinamento para a
realidade".

Larsen tem promovido o seu programa com cautela, reconhecendo que um foco excessivo na competição poderia treinar os soldados para vencer competições, e não as batalhas. Mas a natureza mutante da guerra moderna, especialmente quando é travada em corredores apertados de casas iraquianas, ajudou-o na sua argumentação.




"Esses caras podem se encontrar em qualquer situação, de uma batalha de vida ou morte com um mau elemento à tentativa de subjugar um cidadão que sofre de síndrome de Estocolmo, uma pessoa que não desejaríamos machucar", diz Larsen. "Temos que contar com todos estes golpes e movimentos para essas situações diferentes".

Atualmente, bases do exército em todo o país realizam torneios de artes marciais mistas, mandando os vencedores para um campeonato de decisão em Fort Benning. O quarto campeonato anual, marcado para outubro, foi planejado de forma a incorporar, pela primeira vez, regras avançadas que não se distinguem daquelas utilizadas nas artes marciais mistas. As regras, que permitem socos de punho fechado na cabeça e joelhadas, ainda proíbem golpes considerados perigosos, exibicionistas ou inefetivos no campo de batalha, como cotoveladas, mordidas e dedadas nos olhos.

Em janeiro, a Força Aérea adotou o programa. A Marinha treinou algumas unidades. E o Corpo de Fuzileiros Navais treina recrutas em artes marciais desde 2000, com menos ênfase em competição.

Existem diversas ligas profissionais de ultimate fighting em todo o mundo, e a maioria adotou regras desde a era em que valia tudo, quando o derramamento de sangue era comum, e o senador John McCain, republicano pelo Arizona e candidato do seu partido à presidência, chamou o esporte de briga de galos humana. As regras diferem de uma liga para outra, mas a maioria dos lutadores usa luvas abertas para manter os dedos livres, e os golpes contra certas partes do corpo são proibidos.

À medida que as competições militares de artes marciais mistas foram ganhando popularidade, os torneios passaram a lembrar situações de luta real. Depois do primeiro campeonato do exército em 2005, comandantes em Fort Knox permitiram que os soldados lutassem em uma gaiola de aço de dois metros de altura. Larsen tem procurado organizar um torneio em Bagdá para ser transmitido pelo canal "ESPN".

Aqui em Cape Fear Valey, na Carolina do Norte, os soldados da 82ª Divisão Aerotransportada realizaram um torneio na semana passada, quando boatos sobre novas missões de combate disseminaram-se pela base. Dentre os 259 homens e nove mulheres que participaram, muitos sabiam que não estariam disponíveis para competir no campeonato geral do exército em outubro.

Os soldados pareciam ansiosos para testar as suas habilidades. A cabo Melissa Jenkins, 20, de Union City, Indiana, preferiu confrontar homens no torneio de luta do que jogar futebol, correr e participar de vários outros esportes. Ela esforçou-se bastante, mas foi eliminada no início da competição, quando as regras tradicionais de luta-livre vigoravam. As regras das artes marciais mistas foram relaxadas durante as semi-finais.

"Eu sabia que seria difícil", disse Jenkins. "Ele era muito mais forte do que eu, de forma que eu já esperava não ser a favorita".

O diretor do torneio, sargento Jeff Yurk, que participou de torneios de artes marciais em San Diego antes de ingressar no exército, impõe regras esportivas rigorosas. Ele não perde tempo em encerrar uma luta quando um dos lutadores não consegue mais se defender.

"Lidamos com muitos daqueles caras que acabaram de sair da escola secundária e querem fazer parte de algo. É aqui que as artes marciais mistas e o exército atraem o mesmo grupo demográfico", explica Yurk.
"Mas entrar no ringue é a mesma coisa que entrar por uma porta no Iraque, sabendo que há um cara mal intencionado lá dentro, mas mesmo assim seguir em frente".

Um dos participantes do torneio foi Carl Miller, um peso meio-pesado.
Ele retornou de uma missão no Iraque em março, e preferiu treinar para as lutas do que tirar folga. Ele pretende ganhar fama no campeonato geral do exército, ser admitido para aulas de treinamento de alto nível e tornar-se instrutor de artes marciais.

"É um jogo mental", diz ele. "Se eu puder fazer isto, ficarei 20 anos no exército".

Tradução: UOL

Visite o site do The New York Times

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Amazônia terá mais 27 antenas para captar internet em cidades onde acesso chega a ser só aéreo ou fluvial

AMAZÔNIA- O Sistema de Proteção da Amazônia, órgão vinculado à Casa Civil da Presidência da República, prepara três missões nesse mês de abril, para levar internet e telefone (voz e dados) a pontos isolados da Amazônia. Serão instaladas 27 antenas VSATs (Very Small Aperture Terminal), que permitem ao usuário a transmissão e recepção de dados, voz e imagens. O órgão conta atualmente com 612 antenas funcionando na Amazônia Legal, ajudando instituições como o Ibama, Polícia Federal, prefeitura, Forças Armadas, Funai e a Receita Federal nas suas operações, explica o coordenador de Manutenção do Sipam, Marcos Bernardini.

O Sipam também colocará quatro antenas nos Pelotões Especiais de Fronteira no Estado de Roraima, localizados nas fronteiras da Guiana e da Venezuela, nos municípios de Bonfim, Normadia, Pacaraima, Uiramutã. Esses são batalhões ficam em lugares distantes sem comunicação de telefone ou internet.

Também serão instaladas mais 13 antenas em pequenos aeroportos nos municípios - alguns próximos de fronteiras - de Santa Rosa do Purus (Acre), Eirunepé, Palmeira do Javari, Tabatinga, Estirão do Equador, Yauarete, Tunui Cachoeira, Uaupés, Barcelos e Moura (todos no Amazonas), Monte Alegre, Tirios (Pará) e Oiapoque (Amapá).

Nesses municípios, o acesso é somente aéreo ou fluvial. As antenas serão usadas para ajudar na comunicação de telefone e internet nesses lugares e foram solicitadas pela Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (Comara), da Aeronáutica.

No mês passado, o Sipam instalou uma antena em Santa Rosa do Purus, última localidade da fronteira do Brasil com o Peru, no Acre. A antena beneficiou a Polícia Federal (PF), que recebeu o equipamento para o Posto de Controle de Fronteira.

Invasão da floresta no Pará

A ocupação irregular da floresta Amazônica continua. No Pará, em uma marcha vagarosa, vaqueiros conduzem o rebanho de centenas de cabeças de gado sobre a estrada, enquanto carros esperam os animais passarem. Nesse ritmo lento, mas constante, o boi vai invadindo áreas que, por lei, deveriam ser preservadas.

Só na Floresta Nacional do Jamamxim, no oeste do Pará, há mais de 200 mil cabeças. A área protegida foi estabelecida há três anos, mas muitos produtores rurais que estavam lá antes da criação da reserva permanecem no local à espera de uma solução.

- Nós entramos aqui na década de 1980 e 1990. Eles nos legalizam e nós assumimos o compromisso em contrapartida de não derrubar mais - propõe Luiz Helfgtaing, presidente de uma associação de produtores do local.

A pecuária é a última etapa de um processo de desmatamento que começa com a derrubada das árvores para vender a madeira e segue com a queimada para limpar a área. Essas atividades já consumiram um quarto da floresta que fica na área de influência da rodovia BR-163, que vai de Cuiabá, em Mato Grosso, a Santarém, no Pará. Um estudo do Ministério do Meio Ambiente mostra que, entre novembro do ano passado e janeiro deste ano, a região foi uma das mais devastadas do País.

Walter Moura, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guarantã, em Mato Grosso, é testemunha da ação ilegal dos madeireiros.

- Em qualquer época, o caminhão entra e sai tranquilamente. Raramente se prende um caminhão aqui extraindo madeira. Nós já sofremos várias ameaças de morte, mas ninguém nunca tomou providencias em relação a isso também - relata.

Em Novo Progresso, no Pará, quem tenta combater a ilegalidade enfrenta dificuldades. Funcionários do Ibama chegaram a ficar ilhados na sede do instituto, pois no dia anterior, haviam sido ameaçados porque apreenderam caminhões com madeira ilegal. Para evitar confrontos, os fiscais foram orientados pela direção do Ibama a não deixar o prédio.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

EUA contribuíram com ascensão de Pol Pot, diz réu do Khmer

PHNOM PENH - O torturador-chefe do regime cambojano do Khmer Vermelho disse nesta segunda-feira a um tribunal especial que as políticas americanas da década de 1970 no Sudeste Asiático contribuíram com a ascensão daquela cruel ditadura.

Kaing Guek Eav, o Duch, primeiro de cinco dirigentes do Khmer Vermelho a ser julgado pelas atrocidades cometidas durante o regime (1975-79) que matou 1,7 milhão de cambojanos, disse que o grupo do ditador Pol Pot teria sumido se os EUA não tivessem se envolvido no Camboja.

"(O presidente dos EUA) Richard Nixon e (o secretário de Estado) Henry Kissinger permitiram que o Khmer Vermelho agarrasse oportunidades de ouro", disse Duch, de 66 anos, no início da segunda semana do seu julgamento, em um tribunal promovido conjuntamente pela ONU e pelo governo do Camboja.

O réu dirigiu a célebre prisão S-21, onde mais de 14 mil "inimigos da revolução" foram torturados e mortos.

Na semana passada, ele pediu perdão por seus crimes. Acusado de crimes contra a humanidade, crimes de guerra, tortura e homicídio, Duch pode ser condenado à prisão perpétua.

Questionado pelo juiz sobre como aderiu ao Khmer Vermelho, Duch deu uma longa e errática explicação, que incluiu as referências a Nixon e Kissinger.

O Camboja se tornou um campo de batalha da Guerra Fria em 1969, quando o governo Nixon começou a bombardear rotas no leste do país que os norte-vietnamitas (pró-soviéticos) usavam para levar homens e suprimentos para seus combates no Vietnã do Sul, que tinha um governo aliado dos EUA.

Em 1970, o príncipe (hoje "rei-pai") do Camboja, Norodom Sihanouk, foi deposto por um golpe comandado pelo general pró-americano Lon Nol, que entrou em guerra contra os comunistas do Vietnã e do próprio Camboja.

Sihanouk posteriormente estabeleceu aliança com o Khmer Vermelho e conclamou os cambojanos a lutarem contra o regime de Lon Nol, derrubado em 1975 pelo Exército de Pol Pot.

"O príncipe Sihanouk convocou o povo cambojano a aderir ao Khmer Vermelho comunista na selva, e isso permitiu que o Khmer Vermelho acumulasse suas tropas entre 1970 e 75," disse ele.

Sem isso, alegou Duch, "acho que o Khmer Vermelho teria sido demolido."

O regime do Khmer Vermelho foi derrubado por uma invasão vietnamita em 1979. Após a morte de Pol Pot, em 1998, Kissinger defendeu a decisão de bombardear o Camboja como sendo parte da Guerra do Vietnã, e disse que o fato não teve relação com as atrocidades cometidas posteriormente no país.

sábado, 4 de abril de 2009

Gastos Militares do Brasil Estão Muito Abaixo dos Demais BRICs

Gastos militares do Brasil estão muito abaixo dos demais Brics

Se no lado econômico os Brics –Brasil, Rússia, Índia e China– têm semelhanças e potenciais de crescimento comparáveis, quando o assunto é defesa o Brasil tem “outra realidade”.

A avaliação de militares e especialistas ouvidos pela BBC Brasil é que os investimentos militares estão abaixo do necessário para um país com o tamanho e com as pretensões do Brasil.

“Não precisamos nos tornar uma potência militar, capazes de conquistas. É apenas uma questão de termos forças compatíveis com a ambição estratégica do país”, diz o general Augusto Heleno Ribeiro, que chefiou as tropas brasileiras em missão no Haiti.

Os historiadores costumam classificar o Brasil como um país de caráter pacifista, ou seja, que evita utilizar recursos militares em situações de conflito com outros países.

O Brasil, por exemplo, está vetado pela constituição de produzir armas nucleares. Já os outros três emergentes do grupo têm esse tipo de arma.

“Não temos a necessidade, felizmente, de ter o aparato que esses países possuem. Mas ainda assim estamos longe do ideal”, diz o general Heleno.

O pesquisador Thomas Costa, da National Defense University, em Washington, diz que o país não precisa necessariamente abrir mão da característica pacifista, mas que essa cultura precisará ser “repensada”, se o país quiser atingir certos objetivos.

“O fato de um país ter uma força bem estrutura não significa que terá de usá-la. Mas a partir do momento em que o Brasil demonstra interesse em participar de questões relativas à segurança mundial, terá de estar preparado para o custo”, diz Costa.

Influência

O Brasil vem pleiteando uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, demanda que se tornou uma das marcas da diplomacia atual.

Ainda que a reforma no Conselho fosse aprovada –o que os especialistas acham improvável, mesmo nos próximos dez anos –a avaliação é de que o país, hoje, não estaria preparado para assumir essa função.

“Se entrarmos no Conselho de Segurança com as forças militares que temos hoje, seríamos apenas enfeite”, diz o especialista em Ciências Políticas e consultor da MCM, Amaury de Souza.

Segundo ele, a diversificação dos polos de poder, uma tendência para os próximos anos, exige que países de média influência, como o Brasil, tenham um arsenal militar relativamente maior. “Um mundo multipolar é também um mundo mais instável”, diz.

Mesmo fora do Conselho de Segurança, o Brasil vem demonstrando interesse em ampliar sua participação em questões internacionais. Recentemente, o Itamaraty tentou contribuir na intermediação entre palestinos e israelenses.

“É o tipo de questão da qual só participa quem tem algum poderio militar. A influência brasileira cresceu muito, mas ainda está restrita a assuntos econômicos”, diz Souza.

Diretrizes

Em novembro passado, o governo brasileiro divulgou sua Estratégia Nacional de Defesa, um conjunto de diretrizes que pretende reformular a questão militar no país.

Mesmo vago, o plano foi bem recebido por especialistas. O texto de quase cem páginas prevê a readequação das três forças armadas de acordo com os “interesses estratégicos” do país.

O texto traça os objetivos de médio e longo prazo para o setor, como por exemplo, a modernização das três forças e o incentivo à indústria bélica nacional.

Falta agora o governo discutir como essas tarefas serão colocadas em prática. O plano não fala, por exemplo, de orçamento e prioridades nos gastos - principal alvo de críticas por especialistas.

O Brasil é 12º país que mais investe em defesa no mundo, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês). É também o campeão na América Latina. A previsão, para este ano, é de um gasto de R$ 50 bilhões.

Desse montante, 80% é destinado ao pagamento de salários e pensões. Outros 12% vão para despesas administrativas (custeio) e 8% para investimentos.

“Esse desequilíbrio compromete a modernização das forças armadas”, diz Souza.

Tabu

Além da questão orçamentária, os especialistas apontam ainda outro fator que pode atrapalhar o desenvolvimento militar brasileiro: a memória da ditadura.

“Em diversos setores da sociedade, sobretudo nas camadas decisórias, existe uma forte rejeição aos militares”, diz o historiador Carlos Fico, da UFRJ. Segundo ele, essa rejeição “não permite nem que o assunto da defesa seja debatido”.

Na avaliação do professor, os militares, por sua vez, “são prisioneiros de velhos hábitos corporativistas”, o que também prejudica o debate.

“O país vai ter de amadurecer para esse debate. As forças armadas precisam acompanhar a maior proeminência do país”, diz.

Nosso Comentário:

Quando o assunto é defesa, o Brasil está a milhares de anos-luz dos outros BRICs, pois Rússia, Índia e China tratam o assunto muito a sério. Eles não se deixam levar por corrupção e não se espelham em revanchismos internos estúpidos. E acima de tudo, não atiram no próprio pé, deixando seus países totalmente desprotegidos.

Mesmo que os russos tenham reduzido bastante seu poderio militar desde o colapso da URSS, seus políticos não deixaram de lado o tema. Pelo contrário, há poucos dias foi divulgado um plano de retorno aos fortes investimentos em suas forças armadas.

O problema brasileiro não é tanto revanchismo ou tabus, é de falta de responsabilidade e de leis de verdade, aquelas que punem de fato seus governantes em todos os níveis.

Em defesa, os investimentos acontecem como em saúde, educação e segurança, onde as coisas hoje parecem que funcionam, mas é tudo ilusão. Todos sabem disso e ninguém reclama. O povo sofre, mas tem é medo dessas chamadas “camadas decisórias”.

As verbas nas mãos dos nossos políticos e seus tecnocratas só existem mesmo para financiar seus interesses. Revanchismo e preconceitos do passado passam longe de suas mentes atarefadas.

Por ainda haver uma grande ausência de planejamento de estado em nível adequado, que governo algum poderia modificar para menos, os investimentos militares continuarão abaixo do necessário para um país com o tamanho e com as pretensões do Brasil.

Mas o que será que pretendem o Brasil e seu povo? Ninguém sabe!

Roberto Silva