A política impossível
JARBAS PASSARINHO
Escritor
Os políticos insistem em citar Bismarck pela metade. Ele disse que a política é a arte do possível e do indicado. As duas condições não podem ser separadas no ato político. O que pode ser possível pode não ser indicado e vive-versa. O presidente Lula, todavia, inovou. No jantar com os parlamentares do PMDB,
definiu à sua moda: "A política é a arte do impossível".
Os militares que enfrentaram as guerrilhas comunistas estão igualmente convencidos de que em política muita coisa, de fato, é impossível de explicar. O que lhes foi missão, em plena guerra fria – os
Estados Unidos sangrando no Vietnã – de evitar que tivéssemos aqui algo como outro Vietnã, que os
comunistas chegassem ao poder através da luta armada, parece hoje, na sociedade em que vivemos, que foi
um erro imperdoável. Claro que perdemos uma guerra importante: a das comunicações. Àquele tempo a
sociedade civil pensava como nós. O jornal Estado de Minas, em editorial, saudava a reação mineira que
tinha iniciado a contra-revolução de combate à ameaça comunista. A via concreta e a ela se referia com
todas as letras. Do mesmo modo, e pelo mesmo motivo, o então bispo Paulo Evaristo Arns, vice-provincial
dos franciscanos, desceu de Petrópolis e veio ao encontro das vanguardas mineiras, que vinham de Juiz de
Fora para lutar contra efetivos muito maiores e muito mais equipados, os do Rio de Janeiro. Seriam
esmagados com certeza, se as tropas que se supunham leais ao governo as tivessem confrontado. Viraram
heróis. Hoje são considerados reacionários que desejavam o poder e só por isso se arriscavam.Teria sido melhor – perguntam-se alguns deles – ter deixado que o país se alinhasse aos
guerrilheiros treinados na China de Mao Tse Tung, ainda no governo Goulart, ou Cuba, ponta de lança da
revolução leninista? Não seria mais recomendável fazer real o simulado tripé de sustentação de Jango,
imaginado por um general mais conhecido como cavalo branco, a marca então popular de um tipo de wisky?
Ou provocar os Estados Unidos, que dividia com a União Soviética os dois maiores exércitos do mundo e,
entretanto, eram incapazes de vencer um pequeno país subdesenvolvido? Não foram eles, pela boca de
John Foster Dulles, que disseram que não há países amigos, mas interesses comuns? Qual o nosso
interesse, senão poupar o Brasil de vir a ser imensa Cuba? Indagam o que ocorre hoje? Não seria melhor
deixar que o Brasil fosse dominado e transformado por um satélite graças a uma revolução vitoriosa de
marinheiros, fuzileiros navais e sargentos da Marinha e da Aeronáutica, amotinados em favor de um regime
que prometia, desde o século 19, erigir uma sociedade sem classe, todos iguais? Onde ninguém fosse capaz
de explorar seu semelhante impunemente, ainda que fosse impossível pensar que isso não passaria de
utopia, iniciada por Lênin e consolidada por Stalin vigente desde 1917 na URSS, sob a liderança imbatível do
"guia genial de todos os povos"? Por que acreditar em Ignace Lepp, em Raymond Aron, Solsenitsen e outros
"renegados" anunciando campos de concentração que nunca existiram? Por que viemos a modernizar um
país onde os generais-presidentes deixaram espólio modesto de generais, gente de classe média, e só se
limitaram a combater a inflação galopante, a corrupção generalizada, a rasgar estradas, a construir Itaipú e
Tucuruí, a reformar a educação, a dar empregos a todos e deixar a economia na oitava posição no mundo,
tudo devido a uma "ditadura implacável?".
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