´´Observe as tendências mas não Siga a maioria`` Thiago Prado


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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Baixa remuneração faz com que técnicos qualificados abandonem Exército para ingressar na iniciativa privada

Edson Luiz

Publicação: 26/10/2009 09:18 Atualização: 26/10/2009 09:25

Rio de Janeiro – O Brasil está se tornando uma referência no desenvolvimento de tecnologia militar na América Latina, mas corre o risco de ver um trabalho de mais de duas décadas atrasar por vários anos. A cada dia que passa, as Forças Armadas estão perdendo seus melhores quadros técnicos para a iniciativa privada por causa dos baixos salários. Somente este ano, 10 especialistas de várias áreas deixaram o Instituto Militar de Engenharia (IME) e não foram substituídos. No Centro de Tecnologia do Exército(1) (CTEx), não há renovação de pessoal e muitos estão prestes a se aposentar. Quando os militares não perdem seus técnicos para empresas, perdem para outros órgãos do governo que pagam melhores salários.

O problema é considerado tão sério que foi um dos assuntos da última reunião do Alto Comando do Exército, realizada há duas semanas, em Brasília. O diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT) do Exército, general Augusto Heleno Ribeiro Pereira se mostrou preocupado com o cenário que viu no Rio de Janeiro, onde esteve na semana passada. Ele recebeu muitas queixas de subordinados. “Há uma evasão significativa”, diz Heleno. “É uma pena a gente perder engenheiros top de linha dessta forma. Foi um investimento do Exército”, acrescenta o general.

Todos os profissionais que trabalham na área de ciência e tecnologia do Exército foram formados nas próprias fileiras da Força. Além dos militares, o IME e o CTEx contratam civis, mas o processo de seleção para o instituto é tão rigoroso que poucos conseguem passar. No CTEx, a situação é inversa, já que muitos dos especialistas são civis, mas em número reduzido. “Alguns estão próximos a se aposentar, pois o último concurso que tivemos foi em 1990”, afirma o subchefe do centro, coronel Hildo Vieira Prado Filho.

No CTEx também existe outro problema. Como 78% dos engenheiros que trabalham no local são oficiais, eles são obrigados a fazer cursos de graduação e suas vagas não são preenchidas. Com isso, os projetos em que estavam envolvidos ficam paralisados. “Hoje temos mais militares do que civis, mas o ideal seria o contrário disso”, afirma Prado. “Quando os militares retornam ao centro estão desatualizados, pois eles não são substituídos”, observa o coronel. O mesmo problema ocorre no Centro de Avaliação do Exército (CAEx), onde é testado tudo que é desenvolvido no CTEx.

“A evasão é causada pela questão salarial. Isso impossibilita a realização profissional. O engenheiro acaba não trabalhando naquilo que gosta”, explica o general Heleno. No caso do IME, as dez perdas deste ano foram para concursos públicos e a iniciativa privada, onde os salários são melhores e as perspectivas de crescimento, maiores. Segundo o diretor de ensino do instituto, general Amir Elias Abdalla Kurban, há casos em que empresas assumem a indenização que os técnicos teriam que pagar ao governo.

Além de especialistas nas áreas em que trabalham, os engenheiros militares possuem profundo conhecimento de questões estratégicas, como o desenvolvimento do míssil Superfície-Superfície, hoje em fase de avaliação no CTEx. Mas não apenas pesquisas voltadas para a área militar estão sendo trabalhadas pelos especialistas. No centro, por exemplo, os jovens oficiais estão testando a transformação de resíduos de petróleo em fibras de carbono, cuja tecnologia hoje só é dominada pela China e Estados Unidos. Durante a pesquisa, os engenheiros do Exército descobriram um tipo de piche menos poluente para ser usado na indústria de alumínio.


1- Doutores e mestres integram quadro
Ao todo 780 funcionários trabalham no Centro de Tecnologia do Exército. Há 516 militares, sendo que 115 são pós-graduados -— doutores ou mestres — e 219 são civis, com 53 graduados. O CTEx está situado em uma área de 28km de preservação ambiental, onde também está o Centro de Avaliação do Exército (CAEx). Além dos técnicos na área militar, o quadro dos dois órgãos têm biólogos que cuidam da fauna e flora do local.

O repórter viajou a convite do Comando do Exército

domingo, 18 de outubro de 2009

Na mira dos traficantes

Comércio ilegal de artilharia pesada no Brasil inflaciona e aumenta o número de roubos a empresas de vigilância e postos policiais. Nos últimos meses, foram levadas cerca de 500 peças de vários calibres. Metralhadora pode valer mais de R$ 200 mil

Edson Luiz

O cerco internacional ao comércio clandestino de armas vem causando sérios problemas ao Brasil. Com o aumento do preço no mercado negro, que elevou, por exemplo, de R$ 5 mil para R$ 40 mil o valor de um fuzil AK-47, o crime organizado está mirando suas ações onde há concentração de armamentos e munições, como empresas de vigilância, postos policiais e fóruns. Somente em 15 ataques desferidos nos últimos meses, foram roubadas cerca de 500 armas de vários calibres — e muito pouco acabou recuperado. O crescimento dos assaltos a esses locais fez com que a Polícia Federal emitisse um informe secreto para todos os órgãos públicos de segurança alertando que a situação pode se agravar.

As primeiras preocupações começaram em março deste ano, quando, em uma ação ousada, criminosos entraram no centro de treinamento da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), em Ribeirão Pires, no interior de São Paulo. Foram roubadas 111 armas de vários calibres e modelos, além de milhares de munições. Em um primeiro momento, a ação foi atribuída ao Primeiro Comando da Capital (PCC), mas a tese terminou descartada. A polícia chegou à conclusão de que o armamento tinha sido levado por criminosos especializados e que já havia um destino definido para o produto: o mercado negro.

Em seguida, outros assaltos foram registrados no mesmo período, inclusive em uma guarnição do Exército, em Caçapava (SP), onde foram roubados sete fuzis, e em pelo menos dez fóruns de Justiça espalhados pelo interior do país. Só em dois deles — Camaçari (BA) e Pindamonhangaba (SP) — foram levadas 130 armas. “Os nossos depósitos de armas são um descalábrio”, critica o coordenador da organização não governamental Viva Rio, Antônio Rangel. “Todas as semanas assaltam fóruns pelo interior do Brasil, pois não existe segurança, as armas ficam espalhadas pelo chão ou desviadas para os bandidos”, lamenta.

A história se repetiu em cidades de grande porte, como Maceió, onde 40 armas foram roubadas do fórum, e Imperatriz (MA), onde o número de artefatos furtados não foi divulgado. Outros assaltos ocorreram em Ribeirão das Neves (MG), Rio Branco (AC), Inocência (MS), Olinda (PE), Remanso (BA) e Igarapé (MG). Ao todo, sumiram 130 armas de fóruns, escola de vigilância e delegacias de polícia. O aumento nos ataques começou a partir do momento em que o comércio ilegal enfraqueceu, principalmente no Paraguai, onde o preço também foi crescendo a cada ano. “Vamos tentar avaliar, em 2010, a situação real dos depósitos de armas no Brasil. Muitas vezes, as condições em que elas estão armazenadas é por falta de treinamento da polícia”, afirma Rangel.

Segundo o delegado federal Marcos Dantas, coordenador do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), as operações contínuas da PF nas fronteiras e a legislação brasileira têm contribuído para a diminuição da entrada de armas. “As convenções da OEA e da ONU proibindo a fabricação e comercialização ajudou no combate ao tráfico. Hoje não se vê pelo mundo exemplos como o do filme O senhor das armas. Isso está acabando”, acrescenta o delegado.

De olho nos mais pobres

O filme, estrelado por Nicolas Cage, conta a história de um negociante de armas que fica rico vendendo para países pobres ou em conflitos étnicos. O personagem é Yuri Orlov, um russo que se muda para os Estados Unidos, torna-se integrante da ONU e entra para o tráfico de armas. Porém, começa a rever seus negócios quando passa a ser perseguido pela Interpol.

O que circula no Brasil

Os levantamentos feitos pela Polícia Federal indicam que as armas que entram clandestinamente no Brasil são de segunda mão, mas muitas delas de extrema precisão. A maioria é de origem europeia e americana. O custo varia de acordo com o traficante. As principais armas em circulação ilegal no país são as seguintes:

FUZIS

Sig Sauer – Fabricado na Suíça e na Áustria, é comum nos morros e favelas do Rio de Janeiro. É um fuzil de assalto com uma cadência de 700 tiros por minuto. Seu preço pode variar também de acordo com seu estado de conservação.

AK-G3 – Também fuzil de assalto, é fabricado na Alemanha. É um dos preferidos do crime organizado no Brasil. Sua cadência é de 750 tiros por minuto e o preço também varia de acordo com sua conservação.

AK-47 – Um dos fuzis de assalto mais conhecidos do mundo, o Avtomat Kalashnikov já não tem muita aceitação no Brasil por um motivo: o preço. Seu custo no mercado negro subiu de R$ 8 mil para R$ 40 mil.

AR-15 – Era um dos fuzís preferidos do crime organizado, mas hoje é considerado obsoleto e até ganhou um apelido pejorativo dos usuários: Melissinha. Custa em torno de R$ 25 mil e tem cadência de 750 tiros por minuto.

CZ – Originário da antiga Tchecoslováquia, é um dos preferidos dos criminosos, principalmente no Rio, onde houve várias apreensões. É a arma usada pelo exército da Bolívia, de onde é desviado para o Brasil.

M-16 – É a arma que vem substituindo o AR-15. Fabricado nos Estados Unidos, tem precisão e calibre maiores.

Morinco – A arma é mais uma versão do AK-47 de fabricação russa. Porém, é de origem chinesa e nos últimos anos tem sido contrabandeado para a América do Sul. Cerca de 3,5 mil fuzis foram apreendidos na Colômbia.

Ruger – O fuzil americano também é encontrado no Brasil, mas em pequena escala, principalmente no Rio de Janeiro. É uma das marcas mais tradicionais no mercado de armamento em todo o mundo.

Barretts – É uma das armas mais poderosas que entra no Brasil ilegalmente. O fuzil é o mesmo usado pelas forças americanas que atuam contra o terrorismo no Afeganistão. O artefato chega no país a cerca de R$ 280 mil.

Revólveres e pistolas

Além das marcas brasileiras de revólveres — maioria entre as que são encontradas no mercado negro —, algumas estrangeiras fazem parte do arsenal dos criminosos. As principais são:

Glock – É considerada uma das melhores pistolas do mundo. De origem austríaca, é a marca utilizada pela Polícia Federal brasileira.

Lhama – De fabricação espanhola, a pistola é hoje encontrada principalmente nos morros e favelas do Rio de Janeiro.

Ruger – A pistola é uma das mais tradicionais do mundo. É fabricada nos Estados Unidos e muitas vezes chega ao Brasil pelos aeroportos.

Fuzis caros e populares

Um fuzil AR-15, que em 2005 chegava aos morros e favelas do Rio de Janeiro e a outros estados por R$ 5 mil, passou a custar R$ 20 mil em 2008, e este ano seu preço é de R$ 25 mil. Armamento antes apreciado pelos traficantes, o AR-15 hoje é o produto que tem menos valor no mercado negro, onde chega a ser chamado pejorativamente de “Melissinha”. Apreciado em todo mundo pela sua precisão, o fuzil russo AK-47, que antes era vendido por R$ 8 mil, chega ao Brasil por R$ 40 mil. Mesmo assim, alguns deles são similares fabricados na Ucrânia. Pela mesma quantia se adquire em M-16, um dos preferidos dos criminosos.

Em casos mais ousados, o traficante faz entrar no Brasil armamentos de grande poder de destruição, como a metralhadora antiaérea .50, usada para abater aviões e que está sendo usada pelas forças americanas no Afeganistão. A Barrets custa no mercado ilegal cerca de R$ 280 mil e estava em poder do assaltante de bancos João Ferreira Lima, preso em Minas Gerais em fevereiro passado. A arma normalmente era usada para grandes roubos no Nordeste. (EL)

ARMAS

Rota ainda passa pelo Paraguai

País vizinho tenta endurecer combate ao tráfico de fuzis e metralhadoras, mas o caminho do comércio clandestino é bem maior no Sul

Edson Luiz

O Paraguai continua sendo o maior fornecedor de armas de fogo para o Brasil, apesar dos acordos bilaterais assinados entre os dois países, no qual as autoridades vizinhas se comprometiam a controlar a comercialização clandestina. Quase todos os artefatos vêm dos Estados Unidos, da Europa e do território paraguaio e seguem também para a Colômbia, onde abastecem a guerrilha e grupos paramilitares. As estimativas são de que existam pelo menos 850 milhões de armas em todo o mundo, sendo que 200 milhões de uso militares, justamente o tipo preferido do crime organizado.

Durante muitos anos o tráfico de armas não foi tratado como um sério problema pelas autoridades paraguaias. Armamento pesado, como o fuzíl AR-15, era comprado para ser utilizado na caça, mas passou a ser um grande negócio para os criminosos. “Sempre há uma modificação nos negócios. Quando o valor da droga está alto no Brasil, enfraquece o do tráfico de armas, e vice-versa. Agora, por exemplo, estão apostando na droga”, conta um delegado da área de inteligência da Polícia Federal.

As autoridades brasileiras estão otimistas com a nova política adotada pelo Paraguai, que impediu a venda de livre de armas de fogo. Lojas em Ciudad del Leste e Pedro Juan Caballero, entre outras, tinham os produtos expostos em suas vitrines e qualquer um podia comprar, sem ser questionado, sendo brasileiro ou paraguaio. Hoje, a situação mudou. O comércio é feito às escondidas, quando há armamentos de grosso calibre envolvidos. “Isso não quer dizer que o tráfico ou venda de armas pequenas tenham acabado”, observa um delegado da Polícia Federal ligado às investigações sobre o tema. Normalmente o destino final era São Paulo, Rio de Janeiro e Nordeste, enquanto que hoje o foco é o Sudeste, inclusive cidades do interior paulista e fluminense.

Formiguinhas

Mas a preocupação das autoridades brasileiras e de outros países da América do Sul é com a entrada de armamentos chineses de alta potência, como os fuzis Norico, uma imitação do russo AK-47, o mais usado nas guerras civis existentes em várias partes do mundo. Além de ter entrado no Brasil algumas vezes, e apreendido pela Polícia Federal, a arma está sendo enviada em massa para a Colômbia, via África, onde também abastece as Farc que, em contrapartida, fornece cocaína aos traficantes. No ano passado, foram descobertos dois carregamentos de 3.500 fuzis.

Se na fronteira sul do país a preocupação é maior, o Norte do Brasil ainda não requer cuidados especiais. A PF tem observado um tráfico de armas em pequena escala. “São os chamados traficantes formiguinhas que carregam revólveres ou pistolas de pequeno porte”, afirma um delegado da Polícia Federal. “Os usuários de armas pesadas no Brasil utilizam mesmo é a rota do Paraguai”, acrescenta. Entretanto, investigações da PF já identificaram carregamentos feitos pelos rios, por onde também são contrabandeados remédios para as Farc. Normalmente, os barcos retornam com droga fornecida pelos guerrilheiros. “Mas o armamento que vai para o grupo não passa pelo Brasil”, diz o delegado.

Em 2005, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara que investigou o tráfico de armas apontou pelo menos 140 pontos de entrada na fronteira brasileira. Segundo o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), a situação segue preocupante, inclusive com a ação do narcotráfico. “Em vários estados, estamos verificando esse tipo de problema”, diz o parlamentar.

Medalhistas fardados

Flávio Canto, Tiago Camilo e Kaio Márcio são algumas das estrelas da seleção de esportistas militares

POR MAHOMED SAIGG, RIO DE JANEIRO

Rio - Fruto de uma parceria firmada entre o Ministério da Defesa, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e diversas Confederações Desportivas do País, o recrutamento de atletas civis para os quadros militares está atraindo grandes ídolos do esporte brasileiro. De olho na possibilidade de treinar em modernas instalações esportivas, medalhistas olímpicos como o judoca Flávio Canto, bronze nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, e a lutadora de tae-kwon-do Natália Falavigna, bronze em Pequim, ano passado, já garantiram suas fardas.

O judoca Flávio Canto festeja o ingresso nas Forças Armadas: ‘Há muito tempo treino no Exército e sei que existem muitos espaços legais’. Foto: Ernesto Carriço / Agência O DIA

Aprovado nos testes realizados na Fortaleza de São João, na Urca, onde funciona a Escola de Educação Física do Exército, o judoca comemora. “Há muito tempo treino nas instalações do Exército e sei que existem muitos espaços legais que podem ser usados inclusive para divulgar o esporte através de projetos sociais. Será uma honra pra mim poder representar as Forças Armadas do meu País”, afirmou o judoca, que lembra que a iniciativa é comum em outros países.

“Em vários países europeus, como Itália, Holanda e Rússia, esse recrutamento já existe e sempre foi um sucesso. Tenho certeza de que no Brasil não será diferente”, acredita Flávio Canto, que citou a recordista mundial do salto com vara, a russa Yelena Isinbayeva. sargento do Exército russo, ela é uma das estrelas esperadas para os Jogos Mundiais Militares do Rio, que deve reunir mais de seis mil atletas.

Na França, o recrutamento de civis para o Exército também já é uma realidade. Ao todo são reservadas 90 vagas para esportistas de alto rendimento. Entre alistados está ex-recordista mundial dos 50 m e 100 m livres, o nadador Alain Bernard.

Entre os atletas de ponta brasileiros recrutados pelo Exército estão os nadadores Kaio Márcio, Joanna Maranhão e Nicholas Santos, e os judocas Thiago Camilo e Luciano Corrêa. Do atletismo foram chamados Keila Costa, Hudson de Souza e Fabiano Peçanha. Todos vão passar por testes físicos que serão realizados entre os dias 19 e 23.

Oportunidade para jovens

Atletas do Vasco da Gama, as jogadoras de futebol feminino Rayanne Simões, 19 anos, e Aline Franca, 20, seguiram os passos de Maycon, destaque da Seleção. Desde maio fazem parte do quadro da Marinha. “Nunca imaginei que um dia seria militar. Mas foi uma das melhores coisas que fiz na vida”, comemora Aline.

As chances de transformar militares em atletas atraem jovens que nunca tiveram oportunidade de praticar um esporte. “Entrei no Exército para poder treinar. Sempre tive esse sonho, mas não tinha estrutura”, lembra o velocista Bruno Pacheco, 26. Soldado do Exército, ele conquistou a medalha de ouro no revezamento 4x100 e de bronze nos 200 metros rasos do Jogos Mundiais deste ano.

Vice-diretora do Centro de Educação Física da Marinha, a capitão de Mar e Guerra Angela Lage é uma das principais defensoras da inclusão de atletas civis nos quadros militares. “Investir na formação de atletas também é dever das Forças Armadas”, destaca a oficial, que espera chegar às Olimpíadas de 2016 com 180 atletas civis incorporados à Marinha.

OS SELECIONADOS DO EXÉRCITO
BASQUETE
Arthur Luiz Belchior Silva, Fernando Carneiro Coloneze, Frederico Lima Santos, Frederico Rossi dos Santos

ESGRIMA
Cléia Guilhon da Silva, Fernando Augusto Dias Scavasin, João Antônio A. de Souza, Marcos de Faria Cardoso, Renzo Pasquale Zeglio Agresta

FUTEBOL
Bruno Segadas Vianna Carvalho, Fabio Augusto de C. Carvalho, Francis Coutinho de Souza, Luis Fernando Freitas Pinto Filho, Paulo Roberto Braz da Silva

JUDÔ
Alex Wiliam Pombo Silva, Flávio Vianna de Ulhôa Canto, Leandro Marques Guilheiro, Leandro Leme da Cunha, Leonardo Gergis Ferreira Leite, Luciano Ribeiro Corrêa, Tiago Henrique de O. Camilo

TAEKWONDO
Natália Falavigna Silva, Natália Moutinho Nunes M. Pires, Licínio Soares Espindola Júnior, Marcel Wenceslau Ferreira, Márcio Wenceslau Ferreira

TRIATLO
Pâmella Nascimento de Oliveira, Bruno Pereira Matheus, Marcus Vinicius Fernandes, Juraci Moreira Júnior, Reinaldo Colucci

VOLEIBOL
Lucas Provenzano João de Deus, Raphael Florêncio Margarido, Thiago Henrique Sens, Vinícius Mendes de Siqueira

VÔLEI DE PRAIA
Ângela Cristina Lavalle Vieira, Vanilda dos Santos Leão, Bernardo Wermelinger Romano, Jan de Souza Ferreira, Roberto Lustosa Pitta, Rogério de Souza Ferreira são os selecionados nesta categoria

ATLETISMO
Franciela das Graças Krasucki, Thaíssa Barbosa Presti, Vanda Ferreira Gomes, Emmily da Silva Pinheiro, Christiane Ritz dos Santos, Fernanda dos Santos Tavares, Keila da Silva Costa, Vicente Lenilson de Lima, Luis Eduardo Ambrosio, Fabiano Peçanha, Hudson Santos de Souza, Clodoaldo Gomes da Silva, Jefferson Dias Sabino, Rogério da Silva Bispo, Jessé Farias de Lima, Fabio Gomes da Silva e Júlio César Miranda de Oliveira

NATAÇÃO
Juliana Bassi Kury, Monique Andrade Ferreira, Daynara Lopes Ferreira de Paula, Tatiane Mayumi Sakemi, Joana Maranhão de Melo, Nicholas Araújo Dias dos Santos, Rodrigo da Rocha e Castro, Luis Rogério Lima Arapiraca, Gabriel Mangabeira, Kaio Márcio Costa de Almeida, Guilherme Augusto Guido, Lucas Salatta, Henrique Ribeiro Barbosa, Diogo Yabe

sábado, 17 de outubro de 2009

Brasileiro do Pentágono contesta opções de caças para o País

Salvador Raza une-se ao coro de especialistas que defendem a compra de novos armamentos por parte das forças armadas brasileiras, mas é reticente quanto às opções apresentadas.

- Eu defendo entusiasticamente esse plano de compra, mas não necessariamente as opções que são estudadas - disse com exclusividade ao Terra.

A opinião de Raza tem peso: ele é diretor do Centro de Tecnologia Relações Internacionais e Segurança (Cetris) e professor da National Defense University, em Washington - centro acadêmico fundado pelo Departamento de Defesa dos EUA.

O país deve comprar 36 caças Rafale, da companhia francesa Dassault Aviation, que competem em uma licitação com os modelos Gripen NG, da empresa sueca Saab, e os F-18 Super Hornet, da americana Boeing. O Brasil também tem a intenção de adquirir 50 helicópteros e quatro submarinos, sendo um deles, possivelmente, de propulsão nuclear.

Para Raza, "a opções pelos submarinos é acertada, do ponto de vista estratégico. Quanto aos caças, não fico satisfeito com a opção francesa nos moldes oferecidos. Não quero dizer que não é uma boa aeronave, mas não gosto do modelo de gestão de tecnologia deles".

A transferência de tecnologia é outro ponto importante defendido pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, que afirmou que o objetivo é fomentar uma "capacitação nacional" para o desenvolvimento.

- As discussões no Brasil ainda são sobre os equipamentos, que foi justamente o erro venezuelano. É um assunto emocionante, empolgante, mas é o que chamamos de 'assunto de tenente', que analisa se a asa do avião é maior ou menor, por exemplo. Não é isso. O debate principal é sobre a integração desses equipamentos em doutrinas, sistemas de comando e estratégias, e isso ainda foi pouco abordado - defende Raza.

O caso da Venezuela, citado pelo especialista como exemplo de projeto mal conduzido, é o que os profissionais da área militar chamam de "booster frio" - uma injeção de recursos materiais que não altera em igual proporção a capacidade de combatência do país.

Segundo Raza, o investimento dos venezuelanos em armas acabou não se transformando em poder efetivo, além de ter aumentado o custo de manutenção dos novos equipamentos.

No entanto, o diretor do Cetris entende que o país está no caminho certo e não acha que possa haver um "booster frio" brasileiro.

- Acredito que temos gente competente no País para fazer o projeto de força. O problema é que está muito demorado e já somos cobrados por isso. Estamos em um processo contratual, as Forças Armadas do Brasil estavam muito fracas em termos de equipamento. O material já era obsoleto, havia a necessidade de reciclagem - diz Raza.

"O Itamaraty é lento demais para agir"

O historiador inglês Kenneth Maxwell ganhou notoriedade no Brasil ao publicar, no final da década de 70, o livro "A Devassa da Devassa", no qual mostrou como a conjuntura externa influenciou a Inconfidência Mineira. De lá para cá, nunca deixou de acompanhar o que acontece no País. Professor do Centro para Estudos Latino-Americanos da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Maxwell, em entrevista à ISTOÉ, afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva imprimiu uma cara nova para a política externa brasileira, por "saber lidar com os líderes mundiais e ao mesmo tempo falar com o povo". O historiador, no entanto, não poupou críticas ao Itamaraty, que "é lento demais em suas decisões" e "precisa de mais pluralidade e menos carga ideológica". Ele diz que a pretensão do governo Lula por um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas é uma utopia: "As grandes potências não têm a menor intenção de permitir isso. É uma forma mesquinha de fazer política internacional, mas é a realidade."

ISTOÉ - O Brasil alcançou projeção inédita no cenário internacional, com participação em vários fóruns de debate. O sr. concorda?
Kenneth Maxwell - Sem dúvida, é um momento importante. Um movimento completamente novo nesse sentido, porque o Brasil não está só atuando com destaque na América Latina e na África, mas em todos os continentes. Tornou-se um verdadeiro ator global. É claro que com a liderança também vêm a responsabilidade e problemas muitas vezes inesperados, como é o caso de Honduras. Mas, no geral, a imagem do Brasil é muito boa. Lula tem uma popularidade enorme, em comparação com outros dirigentes mundiais.

ISTOÉ - O que explica a projeção do presidente Lula no Exterior?
Maxwell - É um pouco inesperada. Lembro que tive um encontro com Lula no início do primeiro mandato e ele me disse que não se preocuparia muito com o Exterior, que precisava viajar pelo País e não para fora. Só que depois acabou abraçando a política externa. Creio que a virada se deu após o encontro com o presidente americano George W. Bush. Lula estava muito nervoso antes dessa viagem, mas depois acho que seu deu conta de que, se havia chegado ao Bush, poderia ir a qualquer lugar no mundo. Foi um bom encontro, que lhe deu confiança.

ISTOÉ - A conquista da sede para os Jogos de 2016 é resultado exclusivamente dessa popularidade internacional do presidente Lula?
Maxwell - Não. A popularidade internacional do presidente Lula ajuda. Mas o Brasil fez uma preparação excelente. Além disso, Rio é Rio. Isso também ajuda. Apesar de tudo, essa é a hora do Brasil. Nunca um país da América do Sul conseguiu sediar os Jogos. Já era tempo. Vai ser um desafio, mas um desafio merecido.

Fotos: Rica rdo Stuckert/Va lter Campanato/ABr; di
"Lula tem autonomia na comunidade internacional, enquanto o Itamaraty virou uma burocracia pesada"

ISTOÉ - Mas por que Lula chama tanto a atenção?
Maxwell - Ele imprimiu uma cara nova para a política externa brasileira. Sabe lidar com os líderes mundiais e ao mesmo tempo falar com o povo. Seu papel como interlocutor é levado a sério por todos, nos programas de televisão, blogs, todo mundo está falando um pouco sobre Lula. É uma situação nova para um presidente do Brasil. O mais impressionante é que ele só fala português, além, obviamente, de sua origem humilde. Não é comum um operário pobre virar presidente. No Partido Trabalhista inglês deve haver uns três ou quatro membros com origem humilde. Na Rússia, são todos intelectuais.

ISTOÉ - A ênfase na diplomacia presidencial faz sombra ao Itamaraty?
Maxwell - Trata-se de um ponto interessante. Creio que a presença de muitas pessoas fazendo política externa ao mesmo tempo pode levar a certas confusões. O fato é que Lula tem autonomia e atua livremente, enquanto o Itamaraty transformou-se numa burocracia pesada. E isso não é bom. Está claro que a diplomacia tradicional deve ser repensada. É preciso mais inteligência, pluralidade, menos carga ideológica e mais agilidade para lidar com vários temas ao mesmo tempo.

ISTOÉ - A crise em Honduras põe em risco o capital diplomático acumulado pelo governo Lula nos últimos anos?
Maxwell - É uma situação inesperada. O problema é que o Brasil está com várias aspirações de protagonismo internacional, mas às vezes faltam os meios para atingi-las de forma positiva. Ao que parece, o governo Lula não sabia que Zelaya retornaria ao país. Foi surpreendido. Mas o fato é que o Brasil foi arrastado para o centro da crise, com Zelaya abrigado na embaixada brasileira. É uma situação séria, pois o governo Lula tem dito a Zelaya para não se manifestar politicamente, só que ele faz isso o tempo todo.

ISTOÉ - O governo Lula disse que não negocia com golpistas...
Maxwell - É um erro, pois os golpistas são parte do problema e sem dialogar com eles será impossível resolver o impasse. Faltam lideranças em Honduras que possam efetivamente ajudar na busca de uma solução pacífica. E fora de Honduras a situação não é melhor. Os Estados Unidos têm interesses lá, mas a política para a América Latina ainda é pouco inteligente.

ISTOÉ - Em sua opinião, houve ingerência do Brasil em Honduras?
Maxwell - Sim e não. Claro que é ingerência, pois a situação foi criada pelos hondurenhos entre eles mesmos. Mas não é mais ingerência que do resto da América Latina, que declarou ter havido golpe e determinou a reinstalação de Manuel Zelaya no poder.

ISTOÉ - Na recente reunião do G-20, o presidente Lula comemorou a ampliação da cota do Brasil no FMI e também no Banco Mundial, e o enfraquecimento do G-8. São conquistas palpáveis? Maxwell - Há poucos resultados imediatos. A possibilidade de ampliar o G-8 para um G-20 é possível, embora pouco provável, por enquanto. Mas o simples fato de o G-20 existir como fórum de debate é importante, pois significa a possibilidade de estreitar os laços em reuniões que ocorrem quatro vezes por ano. Além disso, o Brasil se pôs como um dos principais interlocutores entre o mundo em desenvolvimento e o mundo desenvolvido. O mais importante, no momento, não é promover as mudanças, mas abrir um canal de negociação e ser ouvido.

ISTOÉ - É possível que o Brasil tenha influência de fato no rearranjo do sistema financeiro mundial? Maxwell - Temos que olhar esse cenário em perspectiva. O Brasil hoje tem uma economia muito mais diversificada que no passado e isso permitiu ao País reagir muito bem à crise financeira internacional. Isso mostra que o governo Lula fez o trabalho de casa, isso dá mais poder de influência. Sem dúvida, o Brasil virou exemplo. Só que a situação não é tão simples. Lá fora, Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, ainda lutam para sair da crise. A economia americana começa a dar sinais de recuperação, mas ainda sofre com uma taxa de desemprego de 15% e queda nos índices de produção. Não há indicação de que isso vai mudar nos próximos meses. Quero dizer que o presidente Obama tem muita coisa para resolver primeiro em casa, como a reforma da saúde.

ISTOÉ - Se é remota a perspectiva de mudança do sistema financeiro a curto prazo, qual a chance real da ampliação do Conselho de Segurança, tão almejada pelo Brasil?
Maxwell - Infelizmente, trata-se de uma utopia. Acho muito difícil qualquer mudança no Conselho de Segurança neste momento. Nem sequer a América Latina está unida em torno do Brasil. Logicamente que uma profunda reforma da ONU é desejável. As grandes potências não têm a menor intenção de permitir isso. É uma forma mesquinha de fazer política internacional, mas é a realidade.

ISTOÉ - O apoio explícito do presidente da França, Nicolas Sarkozy, em relação a uma vaga permanente para o Brasil é um ponto a favor?
Maxwell - Não significa muito, uma vez que nem a França sabe se continuaria num Conselho de Segurança reformado, por ampliação ou por substituição de seus membros. A França e a Inglaterra são muito resistentes e não querem deixar suas posições. Cada país candidato também tem o seu problema. A Índia enfrenta a resistência da China, que é um dos cinco membros do Conselho.

Fotos: Rica rdo Stuckert/Va lter Campanato/ABr; di
"O governo atual é uma continuidade de Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco. Quando se olha de fora, são quatro mandatos e meio

ISTOÉ - Como o sr. avalia a parceria estratégica entre Brasil e França na área de defesa?
Maxwell - Nesse caso, vejo um fenômeno negativo que indica uma nova corrida armamentista na América Latina. Além disso, os milhões que serão gastos em armas poderiam ser usados em outras coisas, como saúde e educação. Eu leio na imprensa essa coisa de "parceria estratégica", mas não sei o que há de estratégico num negócio desses. Acho que a França só quer vender armas para um grande país da América Latina. No caso do submarino nuclear, faz algum sentido por causa do pré-sal.

ISTOÉ - O que achou da entrega do Nobel da Paz para Obama?
Maxwell - Foi prematuro, para dizer o mínimo. Quase todo mundo também achou. A indicação dos nomes para o Nobel foi feita antes de 1º de fevereiro, menos de um mês depois de Obama ter tomado posse. Ele está na Presidência há menos de dez meses. Em Oslo, a plateia ficou espantada com a escolha de Obama. Seria muito melhor se ele tivesse recusado o prêmio.

ISTOÉ - Qual é o balanço que o sr. faz da era Lula?
Maxwell - Há muitos aspectos a considerar, mas acho que o principal está no continuísmo que Lula deu a uma política desenvolvida no governo Fernando Henrique, e até no de Itamar Franco. Quando olhamos para o Brasil de fora, não vemos dois mandatos de Lula, mas quatro mandatos e meio. Isso é importante para explicar por que Lula conseguiu muitas coisas boas. Ele é pragmático. Embora seja comparado a Getúlio Vargas, acho que o nacionalismo de Lula é mais suave. De balanço, temos a melhoria considerável de vários índices sociais, menos pobreza, mais pessoas beneficiadas pelo Bolsa Família. A situação econômica e social é melhor que a situação política, já que no Congresso a coisa está bem ruim.

ISTOÉ - O cenário da sucessão de Lula ainda não está definido, mas o sr. arrisca um prognóstico? Maxwell - É muito cedo para dizer, pois José Serra e Aécio Neves ainda não declararam candidatura. O Ciro Gomes ainda não foi confirmado e a Marina Silva ainda precisa divulgar mais seu nome. Não devemos subestimar a influência de Lula, pois ele tem grande popularidade. Pode não conseguir transferir votos para Dilma Rousseff, mas será um ator principal na campanha e influenciará a sucessão. Tudo vai depender também da situação econômica. Se estiver boa, o eleitor tenderá a ser conservador e votar no candidato governista.

FAB cria frota de caças para reforçar defesa da Amazônia

Em meio à tensão entre Venezuela e Colômbia, país deslocará até 16 F-5M para Manaus

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Brigadeiro Juniti Saito diz que a intenção do governo é renovar totalmente a frota de caças e chegar a 88 novos aparelhos até 2025

Num clima de tensão e de armamentismo entre países da América do Sul -como Colômbia e Venezuela-, o governo brasileiro vai criar a primeira unidade de aviões de caça na Amazônia a partir do ano que vem, quando deverá ser transferida para a região uma frota inicial de 12 a 16 aviões do tipo F-5M, que hoje compõem a força operacional de Natal.

Os F-5M são jatos supersônicos adquiridos nos anos 70, modernizados pela Embraer nesta década. Eles vão ficar baseados em Manaus, enquanto as únicas frotas da FAB existentes na região (de turboélices Super Tucanos fabricados pela Embraer) devem continuar em Porto Velho e Boa Vista.

A informação foi dada ontem pelo comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, em palestra a oficiais da reserva, na qual adiantou que a intenção do governo é renovar totalmente a frota de caças e chegar até a 88 novos aparelhos até 2025.

Desse total, 36 serão obtidos inicialmente com o programa FX-2, a ser fechado neste ano. Estão em disputa o F-18 Super Hornet da Boeing (EUA), o Rafale da Dassault (França) e o Gripen NG da Saab (Suécia).
O vencedor não apenas fornecerá as 36 primeiras unidades, como será base para as etapas seguintes da renovação, substituindo gradativamente os Mirage e os F-5, da década de 1970, e o AMX, programa Brasil-Itália da década de 1990. A expectativa da FAB é que, além de adquirir aeronaves, o país também possa se habilitar a montá-las e a produzir parte de suas peças internamente.

Os concorrentes acenam com a possibilidade de integrar às suas aeronaves componentes que venham a ser fabricados no Brasil, que passaria assim a ser fornecedor nos pacotes de exportação da vencedora.

Os governos e as empresas estrangeiras que concorrem têm tido uma atuação agressiva com o governo, o Congresso e a imprensa, já que se trata de uma das maiores disputas no setor hoje. Além do Brasil, só Índia e Dinamarca estão em processo de compra de caças.

Os novos caças vão aprofundar o remanejamento das bases da Aeronáutica (iniciado com a nova frota de Manaus), que tem dois objetivos básicos: atender a Amazônia e começar a patrulhar a área do pré-sal, faixa de 800 quilômetros entre Espírito Santo e Santa Catarina.

Visando esses dois alvos, o ministro Nelson Jobim (Defesa) irá na próxima quarta para a Itália, onde visitará estaleiros e discutirá parcerias na área de navios-patrulha, que atuam tanto em alto-mar quanto em rios. Esse é um novo projeto da Marinha, agregado ao pacote com a França de compra de submarinos Scorpène e de construção de um submarino nacional de propulsão nuclear.

Jobim, que conversou ontem com o chanceler Celso Amorim no Itamaraty, também discute com países da África, como Angola, uma política comum de proteção do Atlântico Sul. Defesa e Itamaraty tentam acertar ainda projetos de cooperação com a China para desenvolver e operar porta-aviões e um discurso comum do Brasil na conferência internacional sobre o TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), que a ONU patrocina em abril de 2010.

Jobim fez um apelo a Amorim para que o Itamaraty acelere a assinatura de um acordo Brasil-EUA, para que a Força Aérea norte-americana possa adquirir cem aviões Super Tucano da Embraer sem licitação agora e a Marinha do país possa fazer o mesmo mais adiante.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A raposa e o corvo

Aldo Pereira

O francês Rafale nunca foi testado em combate, é mais caro e, por essas e por outras razões, nunca venceu concorrência

Noite de 2 de maio, 1982, guerra das Falklands/Malvinas. Em rápida sucessão, dois torpedos disparados pelo submarino nuclear britânico Conqueror perfuraram o casco do cruzador argentino General Belgrano.

Entre dilacerados e queimados a bordo por explosões primárias e secundárias ou afogados no subsequente naufrágio, a Argentina perdeu naquela noite 323 marinheiros. Chocado, o almirantado argentino recolheu às bases todas as suas unidades, de onde nenhuma delas voltou a sair antes do fim das hostilidades. Dois torpedos, uma esquadra inteira fora de combate.

Livre associação de ideias: se equipada com torpedos Shkval, a frota de submarinos Varshavyanka e Amur, comprados da Rússia pela Venezuela, terá capacidade teórica de varrer do Atlântico, em poucos dias, toda a sucata flutuante da atual marinha de guerra brasileira. Propelido por cavitação, esse míssil subaquático leva menos de um minuto para atingir qualquer navio ou submarino a dez quilômetros de distância, sem lhe dar tempo para manobra defensiva. Que dizer duma estática plataforma?

Na vociferante controvérsia estratégica de hoje, a marinha de superfície aparece como ainda insubstituível para certas operações. Mas as armas decisivas de qualquer confronto aeronaval são agora submarinos, torpedos, aviões, helicópteros, mísseis -e respectivos meios cibernéticos.

Enquanto a Venezuela se arma nessa linha para atacar a Colômbia e instalar ali regime "bolivariano" aparelhado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (oportuno "casus belli" é questão de tempo), o Brasil boceja perante opções tardias de adequada resposta. Lembrado talvez da fábula "A Raposa e o Corvo", tal como recontada por La Fontaine, o presidente francês Nicolas Sarkozy tem recorrido a adulações marqueteiras para levar o ingênuo presidente brasileiro a preferir o Rafale para reequipamento central da Força Aérea Brasileira.

Não será de todo irrelevante lembrar que o bilionário senador Serge Dassault é amigo e patrocinador eleitoral de Sarkozy. Dassault controla a fabricante do Rafale e também importante segmento da mídia francesa (Apesar do que, neste ano, um tribunal lhe cassou o mandato de prefeito de Corbeil-Essonnes, municipalidade próxima de Paris, por compra de votos na última eleição). Dassault espera que o Estado francês o ajude agora a vender o Rafale. Ele e Sarkozy têm custeado, para isso, bajuladoras viagens à França de parlamentares e autoridades brasileiras com influência na decisão.

Mas tão complexa equação seria acessível à maioria desses convidados? Cada variável corresponde a alguma opção aviônica (referente à parafernália eletrônica de bordo) ou de logística, ou ainda a fatores estratégicos, como autonomia tecnológica e garantias de reposição de material perdido em ação. A matéria, desafiadora até para refinadas seleções de especialistas, é decerto inacessível à análise de jornalistas leigos e políticos incultos. Note que, ao adiar o Programa FX, em 2003, Lula impôs ao Brasil irresponsável atraso ao já então precário reaparelhamento de nossa defesa.

Caças-bombardeiros Sukhoi 30MK2, como os da Venezuela, sonho e pesadelo dos pilotos da FAB, são tidos como superiores a qualquer outro, com possível exceção do americano F/A 18 Hornet (dependendo de perícia dos pilotos, armamentos, aviônica). Os fabricantes de ambos, porém, recusam partilhar os segredos da respectiva tecnologia. A precaução visa tanto resguardar mercado quanto prevenir repasse -acidental ou intencional- a adversários potenciais.

Os franceses prometem ser mais flexíveis quanto à transferência, não se sabe bem até que ponto. Mas o Rafale nunca foi testado em combate, é mais caro, e, por essas e outras razões, nunca venceu concorrência. Ao rejeitá-lo, como também a Índia o fez, a Austrália alegou uma razão que o Brasil deveria ponderar: raio de ação relativamente curto. O Rafale foi projetado para guerra na Europa, onde trajeto de mil quilômetros pode transpor meia dúzia de países. Não serve para a vastidão continental da Austrália. Que, aliás, é até pouco menor do que o Brasil.

Transferência de tecnologia é decerto ponto essencial na barganha em curso. Fator decisivo da derrota da Argentina na guerra das Falklands/ Malvinas foi sua incapacidade de pronta reposição de arsenal e equipamento. Já em nosso caso, a prioridade imediata deve ser superioridade capaz de dissuadir os potenciaisagressores.

Aldo Pereira , 77, é ex-editorialista e colaborador especial da Folha.


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

China tira espaço do Brasil

Chineses são responsáveis por 45% da perda de participação brasileira nos mercados da Argentina e do Uruguai

Liana Verdini

As exportações brasileiras estão perdendo espaço para os produtos chineses na América do Sul, principal destino das manufaturas nacionais. De acordo com estudo da economista Lia Valls, da Fundação Getulio Vargas (FGV), as perdas ainda são pequenas, mas a situação pode se agravar este ano, pois a estratégia desse país oriental é vender produtos manufaturados para nações em desenvolvimento, uma vez que todas as projeções indicam que esse grupo está sofrendo menos perda de renda do que os países desenvolvidos.

Trata-se de uma tentativa da China de compensar a perda de exportações para o mercado dos Estados Unidos, que enfrentam uma das piores recessões de toda a sua história. Esse movimento chinês explica a expressiva perda de mercado no exterior de alguns produtos brasileiros, especialmente siderúrgicos e componentes do setor automobilístico.

Esse é o caso, por exemplo, do dispositivo para comando de acelerador, freio, embreagem, direção ou caixa de marchas vendido ao Uruguai. De acordo com o levantamento da economista, 98% das perdas das exportações brasileiras para o país vizinho são devido ao aumento da participação chinesa na venda desse tipo de componente. Outro exemplo são os tubos para perfuração utilizados na extração de petróleo ou gás comprado do Brasil pela Colômbia. Em 2008, o Brasil perdeu 90% desse mercado para produtos similares chineses.

“O preocupante de tudo isto é que o Brasil está perdendo exportações de produtos de maior valor agregado (mais caros). E isso poderá ter algum impacto em nossa balança comercial se não houver maior atenção das autoridades para essa tendência que está se desenhando”, observa a economista.

Para a realização do estudo, a economista utilizou produtos classificados do sistema harmonizado e cujas exportações brasileiras e chinesas coincidem em cada um dos países pesquisados. O trabalho foi feito para Argentina, Uruguai, Colômbia, Chile, México, Estados Unidos e União Europeia.

A economista ressalta que os produtos brasileiros em que houve perda de mercado para a China ainda representam uma parcela pequena de nossas exportações totais. Por exemplo, no caso argentino, a parcela é de 0,4% de tudo o que o Brasil vende no exterior. Mas já é de 1,3% no mercado dos Estados Unidos e de 1,7% no da União Europeia. O problema é que a China já responde por 45% da perda de participação nos mercados da Argentina e do Uruguai. E mais: em relação ao período anterior estudado pela economista (2006/2007), houve um aumento de 10,5 pontos percentuais na participação chinesa.

Lia Valls explica que as maiores perdas nos Estados Unidos e na Europa foram os produtos do setor siderúrgico. No México, são itens do setor automobilístico. E nos países sul-americanos são itens como máquinas de processamento de dados, itens de bens duráveis da indústria automobilística e da linha branca. Justamente itens que o Brasil vinha conquistando mercado.

O preocupante de tudo isto é que o Brasil está perdendo exportações de produtos de maior valor agregado. E isso poderá ter algum impacto em nossa balança comercial se não houver maior atenção das autoridades para essa tendência que está se desenhando

Lia Valls, economista da FGV

Influência crescente

A maior presença da China no continente é visível. Seu posicionamento de ajudar alguns países latino-americanos a superar a crise econômica global atesta a sua crescente força em uma região que durante muito tempo foi vista apenas como “quintal” dos Estados Unidos, que praticamente a abandonou nos oito anos de governo George W. Bush. Segundo Pamela Cox, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, o progressivo poderio econômico-financeiro da China, especialmente na América do Sul, é mais do que bem-vindo, depois da crise surgida há pouco mais de um ano nos Estados Unidos.

“O crescimento da China é uma coisa boa. Isso levou muito crescimento à região”, disse Cox. Brasil, Peru e, em menor grau, Chile e Argentina têm se beneficiado de fortes laços comerciais com a China e da capacidade do gigante asiático de bancar uma retomada da sua demanda por matérias-primas”, disse.

Ao mesmo tempo, ponderou Pamela Cox, o México e os países da América Central e do Caribe estão mais vinculados ao mercado dos Estados Unidos (EUA) e, por isso, foram mais afetados pela crise. A retomada do mercado chinês para matérias-primas foi alimentada, ao menos parcialmente, pelo enorme estímulo fiscal dado pelo governo local para reduzir os efeitos da crise que se aprofundou com a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, em Nova York. Ela disse que a necessidade de diversificar apostas é possivelmente a maior lição que a América Latina pode tirar da crise.

Entre 2002 e 2008, metade do crescimento latino-americano se deveu ao aumento do preço das commodities, e agora está claro que os EUA não têm condições de importar todas as matérias-primas que a região tem para exportar. “Noventa e cinco por cento das pessoas que vivem na América Latina vivem em um país que exporta commodities (produtos sem valor agregado)”, lembrou.

MEMÓRIA

Discurso oficial

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem defendendo a tese de que, no atual momento de incertezas no mercado mundial, o Brasil precisa aprofundar algumas políticas que vêm sendo implementadas, como a de comércio exterior. Ele se refere especificamente à possibilidade de o país aumentar suas exportações e procurar vender cada vez mais produtos de alto valor agregado, o que melhoraria a competitividade nacional no mundo.

Lula tem defendido a internacionalização das empresas brasileiras como caminho para tornar as companhias mais competitivas. Teoricamente, a estrutura em base global as deixaria menos vulneráveis a crises internas e externas. Além disso, o dinheiro aplicado fora do país poderia voltar em forma de lucros e dividendos, além de um aumento das exportações, o que é bom para o balanço de pagamentos (entrada e saída de dinheiro). Internamente, o governo federal tem trabalhado para reforçar o mercado consumidor, especialmente por meio da ampliação do crédito e da queda dos juros.