´´Observe as tendências mas não Siga a maioria`` Thiago Prado


http://www.speedtest.net
http://geotool.servehttp.com/


segunda-feira, 31 de maio de 2010

Apontar para quem?

Na América do Sul temos a vantagem de não haver até o momento situações como a do Irã ou a da Coreia. Se alguma nação daqui evoluísse para o produção da bomba, atrairia imediatamente os Estados Unidos de maneira ainda mais decisiva do que hoje
Por Alon Feuerwerker

A presença brasileira no imbróglio alavancou o noticiário aqui sobre a crise em torno do projeto nuclear iraniano. Menos badalada, outra confusão forma-se no Extremo Oriente, entre as duas Coreias. A do Sul acusa a do Norte de ter afundado um navio militar.
As Coreias estão tecnicamente em estado de beligerância desde o conflito dos anos 1950. Ele acabou num armistício, mas nunca chegou a haver acordo de paz.
Por que há duas Coreias? O arranjo vem do fim da Segunda Guerra Mundial. Entre os entendimentos das grandes potências, um previa que derrotada a Alemanha Nazista a União Soviética entraria efetivamente em guerra contra o Japão. E a península coreana seria compartilhada por americanos e soviéticos.
A cristalização da Guerra Fria transformou a península em zona de grande tensão e criou uma divisão nacional que o Norte, governado pelo Partido Comunista, jamais aceitou. E o Norte tentou resolver o assunto à força, invadindo o Sul. Quase conseguiu. Ocupou praticamente todo o vizinho.
No pedaço de chão que sobrou, tropas americanas e outras, sob a bandeira da ONU. desembarcaram e empurraram os norte-coreanos para bem além da separação original. Os militares dos Estados Unidos chegaram à fronteira com a China, ameaçando unificar a península sob a batuta do Sul.
Mas aí os chineses, já governados por Mao Tsé-Tung, não acharam graça e entraram na guerra, empurrando os americanos para os limites de 1950. Aí o conflito parou. Morreram uns 800 mil do lado aliado e 1,5 milhão do lado sino-norte-coreano. Para que tudo ficasse como estava antes de a bagunça estourar.
A divisão das Coreias sobreviveu ao fim da Guerra Fria, também porque a existência do Norte é um vetor de equilíbrio regional entre chineses e americanos. E porque o Norte investe maciçamente em força militar como elemento estabilizador do status quo. E do poder dominante ali.
Paradoxal é que a militarização do Norte e a ameaça permanente de conflito acabam consolidando a presença americana. É mais ou menos o que acontece no Oriente Médio, onde a potencial nuclearização do Irã abre caminho para reforçar estrategicamente o papel da Casa Branca.
Já escrevi que nunca antes o movimento nacional palestino esteve tão limitado às opções políticas de Washington. E a escalada da presença americana no levante será a resposta “natural” à persistência de um Irã ameaçador para os aliados dos Estados Unidos. Fala-se de Israel, mas este tem mais meios do que os vizinhos árabes para defender-se dos iranianos.
Um cenário de paz duradoura no Extremo Oriente e no Oriente Médio levaria à integração econômica de cada região e à redução da necessidade de alinhamentos — ou de intervenção externa. Mas não é o que se delineia.
Na Coreia do Norte e no Irã, a militarização e o fechamento político parecem ser a resposta de grupos voltados unicamente a manter-se no poder, incapazes de proporcionar bem-estar a seus povos ou de sobreviver num ambiente de democracia. E toda ação traz junto reação.
Na América do Sul temos a vantagem de não haver até o momento situações como a do Irã ou a da Coreia, do contrário haveria obstáculos intransponíveis à integração regional.
Eis uma variável que os apologistas da bomba brasileira deveriam levar em consideração: como nas duas regiões citadas, se alguma nação daqui evoluísse para o produção da bomba atrairia imediatamente para cá os Estados Unidos de maneira decisiva. Ainda mais decisiva do que hoje.
Numa América do Sul democrática, pluralista e completamente livre das armas de destruição em massa a liderança brasileira é natural, pelo peso específico em território, população e economia. Numa outra situação, não seria.
Ficaríamos os sulamericanos mais parecidos com as áreas atuais de conflito. Aliás, ainda sobre este assunto, todo mundo que busca armas nucleares é para apontá-las em direção a alguém. Com objetivos expansionistas ou dissuasórios.
E nós, apontaríamos nossos mísseis nucleares para quem?

domingo, 30 de maio de 2010

Brasil é prioridade

A Finmeccanica, maior grupo italiano no ramo aeroespacial e de defesa, aposta nos projetos militares de modernização de equipamentos para conquistar mercado
Lourenço Flores
Enviado especial
Finmeccanica/Divulgação

Roma — A Finmeccanica, o maior grupo italiano no setor aeroespacial e de defesa, decidiu transformar o Brasil em prioridade imediatamente. Oitava maior companhia mundial no setor — e com atuação crescente nas áreas de energia e transporte —, vê no país uma enorme oportunidade para crescer. O grupo não esconde que o acordo assinado entre Brasil e Itália em abril, que inclui a previsão de uma série de investimentos italianos no país, representa enormes chances de entrar em um dos poucos mercados mundiais hoje em crescimento acelerado e ainda não dominado pelas empresas norte-americanas do setor. O Brasil, que defende com unhas e dentes a necessidade de transferência de tecnologia nos projetos militares, resiste à postura dos EUA nessa questão, em geral pouco dispostos até a negociar essa possibilidade.
“Para nós, o Brasil é muito importante. O acordo entre Berlusconi e o presidente Lula abre muitas possibilidades, inclusive para a transferência de tecnologia, que seria impossível sem isso”, assegura o CEO do grupo Finmeccanica, Pier Francesco Guarguaglini. Embora não façam previsões nem de valores de investimentos nem de faturamento, os italianos querem entrar com todas as forças nos projetos de modernização das Forças Armadas, em particular no da Marinha, já que a concorrência FX-2, para a compra dos novos caças da Forca Aérea Brasileira (FAB), provavelmente será vencida pelos franceses, desbancando o sueco Grippen (que conta com uma série de componetes das empresas do grupo italiano).
Mesmo que o Rafale, da francesa Dassault, leve o contrato, a Finmeccanica já prevê a necessidade de modernização dos atuais aviões de treinamento, os Super Tucanos. Como os novos caças serão muito mais avançados, potentes e velozes, pertencentes à chamada 5ª geração, independentemente da empresa escolhida, a FAB necessitará de um avião de treinamento com uma menor distância de desempenho em relação aos novos aviões de combate para assegurar a capacitação dos pilotos. É aí que a Alenia Aermacchi, uma das integrantes do grupo, pretende entrar, oferecendo o M346, um avião de treinamento que pode até funcionar como um caça leve de combate.
Outra possibilidade é a concorrência que envolve a construção de novas fragatas para a Marinha brasileira, com a necessidade de fornecimento de sistemas de armamento e de defesa, bem como para a nova corveta da classe Barroso.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

"Todos sabem há décadas que Israel tem arma nuclear"

Historiador que revelou prova do arsenal diz que notícia foi a tentativa de vendê-lo
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Toda nova informação sobre o suposto programa nuclear de Israel desperta enorme interesse, dada a ambiguidade que envolve o tema. Não foi diferente com a notícia, divulgada nesta semana, de que em 1975 o ministro da Defesa israelense, Shimon Peres (hoje presidente), teria oferecido armas nucleares ao regime do apartheid sul-africano.
A revelação está num livro que consumiu seis anos de pesquisa do historiador americano Sasha Polakow-Suransky e é considerada uma rara prova do arsenal atômico de Israel -que o país não nega nem admite ter.
Folha - Em que medida os documentos revelados em seu livro comprovam a oferta israelense? Peres negou tudo. Sasha Polakow-Suransky - Peres está sendo evasivo. Ele está certo quando diz que sua assinatura não aparece nas minutas das reuniões, mas ela aparece no documento que garante sigilo para a negociação sobre a venda de mísseis Jericó. Os documentos mostram acima de qualquer dúvida que o tema foi discutido em uma série de encontros em 1975. As frases usadas para descrever as ogivas são vagas, o que é comum nesse tipo de negociação. A confirmação de que o governo sul-africano viu a discussão como uma oferta nuclear explícita está num memorando do chefe do Estado-Maior, R. F. Armstrong, que detalha as vantagens do sistema de mísseis Jericó para a África do Sul, mas só se os mísseis tivessem ogivas nucleares. É a primeira vez que aparece um documento com a discussão sobre mísseis nucleares em termos concretos. O acordo nunca foi fechado, mas a discussão ocorreu, e o alto escalão sul-africano entendeu a proposta israelense como oferta nuclear.
Qual era o objetivo de Israel? Principalmente financeiro. Peres também estava buscando financiamentos conjuntos e precisava oferecer algo em troca à África do Sul. No encontro de 4 de junho, Peres sugeriu a Pieter Botha [então ministro da Defesa] que a África do Sul financiasse entre 10% e 5% de um projeto de um jato leve e 33% de um sistema balístico de cognome "Assaltante". Israel tinha o know-how, e a África do Sul tinha dinheiro.
Há outras revelações sobre o elo entre Israel e o regime do apartheid em seu livro? Muitas. As principais são a continuação do projeto dos mísseis Jericó na África do Sul nos anos 80, quando especialistas israelenses ajudaram a construir projéteis de segunda geração para carregar ogivas nucleares; e a venda de "yellow cake" [concentrado de urânio] da África do Sul para Israel em 1961.
Os documentos revelados em seu livro são a evidência mais clara até hoje do arsenal nuclear israelense? Não. As fotos de Mordechai Vanunu [técnico nuclear israelense condenado por traição] em 1986 são muito mais definitivas. O significado dos documentos não é provar que Israel tem armas nucleares, o que o mundo todo sabe há décadas. A notícia aqui é que a possível transferência de tecnologia nuclear foi debatida no alto escalão.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Energia nuclear, meio ambiente e soberania

Samuel Pinheiro Guimarães

Para entender o Protocolo Adicional ao Acordo de Salvaguardas com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) é indispensável vê-lo no contexto da questão nuclear em seus três aspectos fundamentais: a guerra nuclear, a não-proliferação e o desenvolvimento tecnológico.
O centro da questão nuclear é o Tratado de Não-Proliferação (TNP). O principal objetivo desse tratado é evitar uma guerra nuclear. A principal possibilidade de guerra nuclear não pode estar, logicamente, nos países que não detêm armas nucleares, mas sim naqueles que detêm armas nucleares. Portanto, o principal objetivo do TNP tem de ser o desarmamento, a eliminação dos estoques de armas nucleares de posse dos países nuclearmente armados: os Estados Unidos, a Rússia, a China, a França e a Inglaterra.
Os países nucleares se comprometeram solenemente a eliminar (e não apenas reduzir) os seus estoques nucleares. Há 42 anos não cumprem esse compromisso e, ao contrário, praticaram a proliferação vertical, aumentando a eficiência das armas nucleares, sua precisão, sua miniaturização.
Apesar de não terem cumprido o seu compromisso de desarmamento nuclear e de desarmamento total, os países nucleares insistiram e insistem apenas em forçar os países não-nucleares a aceitar obrigações crescentes, criando cada vez maiores restrições à difusão de tecnologia nuclear, inclusive para fins pacíficos, a pretexto de evitar a proliferação.
A questão real é que os países nucleares, ao continuarem a desenvolver suas armas e a ampliar sua eficácia ? e, portanto, a intimidar os países não-nucleares em determinadas situações ?, estimulam esses países a procurar se capacitar. Isso ocorreu historicamente com a então União Soviética (1949), a França (1960) e a China (1964), que acharam fundamental desenvolver sua capacidade militar nuclear para servir de instrumento de dissuasão ? e não de ataque, em razão do enorme desequilíbrio dos estoques. Os Estados Unidos têm, atualmente, 10 mil ogivas; a Rússia, 13 mil; a França, 300; a China, 200; e a Inglaterra, 150.
Hoje em dia, até mesmo por causa da menor possibilidade de conflito nuclear que existe entre a Rússia e os Estados Unidos, o novo argumento dos países nucleares é a possibilidade de grupos terroristas adquirirem o conhecimento tecnológico nuclear ou armas nucleares.
Esse conhecimento já existe e é disponível. A questão é a capacidade de desenvolver industrialmente as armas e os vetores para atingir os alvos. Nenhum grupo terrorista detém os vetores (mísseis, plataformas, aviões), nem a estrutura industrial para produzir o urânio enriquecido, nem a técnica para fabricar detonadores.
Finalmente, a questão essencial do Protocolo Adicional. O Tratado de Não-Proliferação prevê que todos os países membros assinem Acordos de Salvaguardas com a AIEA. Os Estados nucleares assinaram "acordos voluntários", em que submetem a inspeções poucas instalações nucleares civis e nenhuma militar. Os demais Estados têm de submeter à inspeção todas as suas instalações nucleares. O objetivo do Acordo de Salvaguardas é verificar se há desvio de material nuclear da instalação (reatores, fábricas de enriquecimento, etc.) para outros fins, em especial militares.
O Brasil tem atividades nucleares exclusivamente para fins pacíficos, como determina a Constituição federal. O País tem também um Acordo de Salvaguardas com a AIEA, juntamente com a Argentina, que permite aos inspetores da agência verificar as atividades das instalações nucleares brasileiras. Tudo, naturalmente, com o devido respeito à soberania nacional e aos nossos interesses econômicos.
Nos anos 1990, a AIEA, por proposta dos Estados Unidos, elaborou um modelo de Protocolo Adicional aos Acordos de Salvaguarda bilaterais, a ser assinado pelos países-membros, permitindo a visita de inspetores da AIEA, sem aviso prévio, a qualquer local do território nacional dos países não-nucleares, para verificar a existência de qualquer atividade nuclear, desde a pesquisa, usinas nucleares até a produção de equipamentos, como ultracentrífugas e reatores.
Ora, esse Protocolo Adicional tem dois aspectos: uma violação inaceitável da nossa soberania, em especial diante da natureza notoriamente pacífica das atividades nucleares no Brasil, uma suspeita injustificada sobre os nossos compromissos constitucionais e internacionais; e uma prejudicial intromissão em atividades brasileiras na área nuclear, com graves danos econômicos.
Essa intromissão causa graves danos econômicos em razão das perspectivas que se abrem para o Brasil na produção de combustível nuclear, que estará em forte demanda no mundo nos próximos anos, dada a necessidade de enfrentar a crise ambiental.
A solução da crise ambiental no mundo passa pela reformulação da matriz energética, tanto nos países grandes emissores tradicionais, como os Estados Unidos, quanto nos de rápido desenvolvimento, como a China e a Índia. Uma das mais importantes fontes de energia, não geradora de gases de efeito estufa, é a nuclear. O Brasil tem grandes reservas de urânio, tem o conhecimento tecnológico do ciclo completo de enriquecimento do urânio e a capacidade industrial para produzir reatores, ultracentrífugas, pastilhas, etc.
Ora, as ultracentrífugas brasileiras, desenvolvidas com tecnologia brasileira, são as mais eficientes do mundo e há fortes interesses de certos países em ter acesso às suas características, o que seria possível caso viessem a assinar o Protocolo Adicional ao Acordo de Salvaguardas: desnecessário, intrusivo e humilhante.
MINISTRO DA SECRETARIA DE ASSUNTOS ESTRATÉGICOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Brasil domina neste ano ciclo industrial completo do urânio, revela oficial da Marinha

FONTE: AGÊNCIA BRASIL

Por Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O Brasil está pronto para dominar o ciclo nuclear completo em escala industrial. A inauguração da primeira fase da Usina de Hexafluoreto de Urânio (Usexa), prevista para este ano, permitirá que o país atue em todas as etapas do beneficiamento do mineral radioativo, desde a extração até a fabricação do combustível nuclear em grande proporção.

Com isso, o Brasil fica independente de outros países no processo de enriquecimento, garantindo suprimento para as usinas nucleares e também para o futuro submarino nuclear. A informação foi divulgada pelo coordenador do Programa de Propulsão Nuclear da Marinha, capitão de mar e guerra André Luis Ferreira Marques.

A Agência Brasil teve acesso exclusivo ao Centro Tecnológico da Marinha, no complexo militar de Aramar, em Iperó (SP), onde fica a Usexa, e constatou o ritmo acelerado das obras. Na mesma área estão sendo construídos os prédios do Laboratório de Geração Nucleoelétrica (Labgen), responsável pela fabricação do reator do futuro submarino nuclear.

“A Usexa começará a funcionar nos próximos meses em fase de comissionamento, quando se testam o sistema e os equipamentos para demonstrar que eles operam corretamente. As temperaturas, as pressões, as vazões, se as válvulas estão funcionando e se a instrumentação está dando informação confiável. Mas não vamos botar o urânio, ainda.”

Segundo o militar, o yellow cake – urânio em forma de um pó amarelo - só deve começar a ser processado em 2011. A Usexa é formada por 40 quilômetros de tubos, tanques, fornos e milhares de válvulas, onde o mineral é misturado com outros produtos químicos para sair em estado gasoso, o hexafluoreto de urânio, ou UF6. Esse gás passa por ultracentrífugas para ser enriquecido, separando o urânio 238 - mais abundante, mas que não interessa ao processo - do urânio 235, mais instável e que produz energia mais facilmente.

O objetivo da Usexa é produzir combustível para o submarino nuclear brasileiro, que deve entrar em operação por volta de 2020. No complexo de Aramar serão produzidas 40 toneladas de UF6 por ano. Atualmente só seis países têm condições de fazer a conversão do yellow cake em gás: França, Rússia, Canadá, Estados Unidos, Brasil e Irã. O UF6 que o Brasil usa ainda é processado no Canadá.

O trabalho é complexo e a quantidade de urânio usada é muito grande. De acordo com Ferreira Marques, mil quilos de yellow cake geram apenas um quilo de gás UF6. Isso produz uma quantidade de efluente muito grande, gerando um passivo ambiental (lixo) que tem de ser administrado. “O grande problema hoje nessas unidades de conversão de urânio é fazê-las passar pelo licenciamento ambiental. Nós estamos seguindo essas leis direitinho”, garantiu o capitão. Ele ressaltou que, em Aramar, o material que sobrar será reprocessado várias vezes para minimizar o impacto ambiental.

O gás é convertido novamente em pó e segue para o último estágio, que é a fabricação das pastilhas que alimentarão os reatores nucleares. A montagem das varetas do reator - onde ficam as pastilhas - é feita em uma unidade na Universidade de São Paulo (USP). Para alimentar as usinas Angra 1 e 2 e a terceira unidade, que está sendo construída, os volumes de urânio necessários chegam a 400 toneladas de UF6 por ano para cada uma. Esse combustível será produzido na unidade das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), no município fluminense de Resende, onde funciona um complexo de ultracentrífugas operando em cascata.

“Cada usina de Angra pede de 400 a 500 toneladas por ano. A produção em Aramar é dirigida para as necessidades do Ministério da Defesa. Existem conversações para nós sermos consultores técnicos da INB para eles fazerem lá em Resende uma unidade de 1.200 toneladas de UF6 por ano”, informou Ferreira Marques.

domingo, 23 de maio de 2010

Calderón sofre com efeitos da luta contra o tráfico

O México chora os seus mortos - são 22.700 executados à bala ou na lâmina do machado desde que a guerra ao narcotráfico foi declarada, em 2007, e mergulhou o país em um banho de sangue. Decidido a enfrentar o grande desafio dos cartéis da droga, que plantaram raízes em 11 Estados, e sob pressão dos EUA, que exigem o bloqueio da entrada de cocaína, heroína e maconha em seu território, o presidente Felipe Calderón, já no primeiro ano de mandato, partiu para o tudo ou nada.

Convocou as forças de segurança, mobilizou compulsoriamente todo o contingente da Polícia Federal e das polícias estaduais e municipais e militarizou a repressão. Mandou o Exército para as ruas. Cinquenta mil soldados vasculham o país conflagrado. Tanques, bazucas e morteiros para destruir o inimigo.

Calderón está convencido de que o caminho é esse, pela honra e resgate da soberania de seu país, à beira dos 200 anos de independência. Por isso, pretende cumprir à risca os termos da famosa Iniciativa Mérida - protocolo de cooperação pelo qual o México se compromete a aniquilar os narcotraficantes, enquanto os americanos injetam US$ 1,4 bilhão para capacitação e treinamento das forças de Calderón.

A meta da qual o presidente não abre mão é recuperar territórios dos quais o crime organizado se apossou. Cidades inteiras caíram nas mãos do tráfico e o governo admite que o México, em alguns episódios, guarda semelhança com a Colômbia. Nas últimas semanas, dois políticos mexicanos foram assassinados e um ex-senador sumiu. É ano de eleições, o País vai eleger governadores, deputados e prefeitos. O pleito está sob ameaça em algumas localidades. Alguns partidos estão abrindo mão de candidaturas.

Calderón é um determinado, não admite capitular. Em Washington, o subsecretário de Estado dos EUA para o Narcotráfico Internacional, David Johnson, questionou o desempenho do Exército do México. A Human Rights Watch, ONG mundialmente reconhecida, pediu ao governo Barack Obama que cobre do presidente mexicano respeito aos direitos humanos.

O centro do conflito é Ciudad Juárez, ao norte. Aqui, em dois anos e quatro meses - de janeiro de 2008 até abril -, 5.002 mexicanos perderam a vida.

O México jamais conheceu tanta dor. Os barões do tráfico, que gira US$ 24 bilhões por ano, não se curvaram ao cerco e responderam com uma brutal e audaciosa contraofensiva. De posse de arsenal bélico - metralhadoras Uzi israelense, fuzis AK-47, da Rússia, fuzis de assalto AR-15, granadas e outros equipamentos de alto poder de fogo -, as temíveis "pandillas", quadrilhas a serviço dos cartéis, assolam o México com ações diabólicas e métodos cruéis.

Violência. É uma época infeliz para o povo de Calderón. Cabeças decapitadas a golpes de machado, mulheres e crianças calcinadas, homens enforcados e pendurados nos becos formam o cenário macabro ao qual o México se habitua. Confrontos marcam o dia a dia de um país doente. Civis indefesos golpeados, presas fáceis dos cartéis que os escolhem como alvo para intimidar e jogar a população contra o governo. O México caótico atinge seu limite.

Procuradores federais mapeiam rotas do tráfico. São dois objetivos: reunir provas cabais contra os líderes do narcotráfico e confiscar bens e ativos. A Procuradoria-Geral da República mostra que, de dezembro de 2006 a 20 de março, foram tomados dos cartéis US$ 390 milhões e 300 milhões de pesos mexicanos. Foram recolhidas 91 toneladas de cocaína, 47 de metanfetaminas, 70 mil armas, 4.950 granadas, 28 mil carros, 470 aviões. Trinta chefões apanhados. Mas tudo isso não basta para abalar a longa era de supremacia do crime organizado.

A grande jornada, com desfecho imprevisível, custa seguidos protestos que desconfortam o governo. Entidades civis, políticos e juristas clamam por mudanças urgentes na estratégia. Denunciam abusos e violações. Do lado de lá, Obama quer mais rigor contra o inimigo comum às duas nações - o intrigante é que 15 milhões de armas clandestinas circulam no México e o grosso do material vem dos EUA, onde são vendidas livremente.

A oposição agita o Congresso, pede o retorno dos militares aos quartéis, sustenta que Exército nas ruas é inconstitucional. A imprensa paga um preço alto. Jornalistas agredidos, executados, por apontarem movimentos do tráfico ou identificarem alto grau de corrupção em setores importantes do poder público - policiais graduados e administradores desleais, a serviço dos cartéis, são desmascarados.

O Comitê para Proteção de Jornalistas indica que, desde 2006, foram 17 os profissionais assassinados. Hostilizados, sob ameaça de bombas, a mídia decreta autocensura. "O México está perdendo a guerra", afirma o professor Edgardo Buscaglia, estudioso da escalada dos narcotraficantes.

O secretário de governo Fernando Gómez Mont é contundente. "A ofensiva é uma decisão irreversível." Calderón avança em sua marcha e manda um aviso a quem dele espera um recuo. "Seguiremos atuando contra o crime organizado em todo o país. Temos um compromisso expresso, de palavra e de trabalho, precisamente contra quem ameaça a segurança e a paz."

Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100523/not_imp555339,0.php

domingo, 16 de maio de 2010

"O Brasil tem que preservar sua tecnologia"

RIO - Se o Brasil hoje é um dos poucos países do mundo com autonomia tecnológica para produzir combustível que usa em suas usinas nucleares, isto se deve, em grande parte, ao trabalho do vice-almirante Othon Pinheiro da Silva, atual presidente da Eletronuclear. A ele cabe enfrentar as pressões de ambientalistas e políticos que chegam a preconizar a paralisação da construção e até funcionamento das usinas atômicas no Brasil, além de um esforço concentrado para levar o país a assinar um protocolo adicional com a Agência Internacional de Energia Atômica, para permitir inspeções que colocam em risco segredos industriais que cercam sua tecnologia exclusiva de enriquecimento de urânio.
Engenheiro naval formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, cursou simultaneamente as especialidades de arquitetura naval e de máquinas, fez mestrado em engenharia mecânica no Instituto de Tecnologia de Massachussets, onde também obteve a graduação em engenharia nuclear.
Pinheiro da Silva fundou e dirigiu o projeto de desenvolvimento do ciclo de combustível para propulsão de submarinos nucleares no Projeto Aramar. No cargo, elaborou o projeto de concepção das ultracentrífugas, que resultou na construção do primeiro reator de pesquisa nacional, driblando um bloqueio tecnológico fervorosamente mantido pelas potências nucleares do planeta.
Nesse quadro, há na Câmara dos Deputados até projeto para que o Brasil simplesmente paralise o funcionamento e construção de usinas nucleares, até que seja concedido licenciamento definitivo pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) abra à inspeção internacional e, mais ultimamente, acusações de que o projeto de Angra III seria obsoleto por não considerar critérios de segurança desenvolvidos após o acidente da usina nuclear de Three Miles Islands, nos Estados Unidos.
Com voz pausada, Pinheiro da Silva diz que boa parte das críticas têm mais a ver com um jogo geopolítico em benefício das potências nucleares do que com preocupações ambientais, e que ignora o fato de que a energia nuclear é complemento indispensável ao suprimento energético do país. Quanto às críticas sobre falta de segurança e obsolescência, ele as inclui numa versão moderna do que o humorista Stanislau Ponte Preta já denominou de Festival de Besteiras que Assola o País (Febeapá) e lembra que a usina de Angra II, por exemplo, no ano passado, destacou-se em grau de confiabilidade, segurança e performance da Associação Mundial de Operadores Nucleares e da Nucleonics Week, conceituada publicação americana especializada em energia nuclear. A seguir, trechos de entrevista que Othon Pinheiro da Silva concedeu ao Jornal do Brasil:

Greenpeace
No processo democrático, as críticas e contraposições são naturais. Mas, honestamente, acho que um certo tipo de crítica tem mais a ver com um jogo geopolítico do que com preocupações ambientais genuínas. Nunca vi o Greenpeace atacando o uso do carvão, porque eles são sustentados pelo lobby do carvão, que é altamente poluente e fonte de 47% da energia produzida no mundo. Nunca vi uma passeata deles contra a poluição da Baía de Guanabara. Mas já mandaram navios desfilar diante da usina Angra I.

Soberania
O Brasil permite inspeção de todas as suas instalações nucleares e declara todas elas. Não há necessidade de se assinar qualquer protocolo adicional, porque isto significar a possibilidade de ser inspecionada qualquer coisa, a qualquer momento, no território nacional. É um absurdo. Quem tem bomba quer inspecionar qualquer coisa, mesmo que não seja nuclear. Isto contraria o preceito básico de nossa Constituição, de que o Brasil é um Estado democrático e soberano.

Segredo industrial
Não é interessante mostrar nossas centrífugas, porque esta é uma tecnologia exclusiva. O importante, no plano internacional, é mostrar a quantidade de urânio enriquecido que se produz. Isto é feito hoje com rigor de miligrama. Mas a máquina é um segredo tecnológico. Coca-Cola todo o mundo bebe, mas ninguém sabe a composição do xarope básico para sua produção. É uma prática industrial comum. As centrífugas são cobertas por um biombo. Não temos nada a esconder, somos um país pacífico. Mas também temos que prezar por nosso patrimônio. Até um determinado momento, não tínhamos assinado o tratado que nos obrigaria a mostrar como obtínhamos o urânio enriquecido. Depois assinamos, mas nossas centrífugas partem de um conceito diferente, são muito boas, mas não é interessante mostrá-las, porque esta é uma tecnologia exclusiva.

Complemento básico
Depois da água, o combustível mais barato para gerar energia é o urânio, e o país sempre vai precisar de mais energia para sustentar o crescimento que tem. Aqui, nossa principal fonte de energia é hidrelétrica. A nuclear é complementar, mas um complementar indispensável.

Problemas ambientais
No aspecto ambiental, a energia nuclear tem dois aspectos: não contribui para o aquecimento global e não nos força a conviver com rejeito nuclear. Convivemos e sentimos os efeitos de todos os outros. O rejeito nuclear é até mais gravoso. Mas ele fica estocado, separado, enquanto suportamos diariamente fumaça e gases tóxicos dos carros, e os organoclorados (substância tóxica) que jogam em nossos alimentos

Segurança
As usinas nucleares brasileiras não são obsoletas. Existem mais de 400 centrais nucleares operando no mundo. Angra II, no ranking de operação, segurança e desempenho está em 14º lugar, à frente de todas as centrais alemãs, por exemplo. Angra III é irmã gêmea de Angra II. A diferença é que o sistema de instrumentação e controle é bem mais moderno. Como os alemães não entregaram esses componentes, que eram mais leves e eles, por incrível que pareça, faturavam por peso, agora os equipamentos que chegaram são justamente da parte que teve uma evolução tecnológica maior, e que vai ser usada em Angra III.

Histórico
No governo Geisel, foi feito o acordo com a Alemanha e o Brasil exigiu que além das centrais, fosse fornecida a tecnologia dos ciclos. O sistema vendido pelos alemães, chamado jet nozzle, não funcionou. Mas então, nós brasileiros com esforço próprio, desenvolvemos a tecnologia de enriquecimento para integrar o trabalho de diversas instituições de pesquisa existentes no país num projeto nacional. Com isso, superamos o problema da ausência de verba. O trabalho começou em 1979, e em setembro de 1982 tivemos êxito no enriquecimento de urânio no projeto Aramar, com a primeira centrífuga produzida no país por brasileiros.

Recompensa
No mundo, só há três países com reserva de urânio e tecnologia de ciclo de combustível, que são Estados Unidos, Rússia e Brasil. Os outros, ou têm a tecnologia ou têm reserva. Então, o esforço valeu a pena. Hoje, o Brasil tem mais de mil centrífugas operando na Indústrias Nucleares do Brasil (INB).

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A Marinha do Brasil e a realidade orçamentária

Segundo dados do Siafi 2010, disponibilizados em http://contasabertas.uol.com.br/, a dotação autorizada do Ministério da Defesa para este ano é de R$ 60,72 bilhões. Os recursos destinados às forças singulares totalizam R$ 24,55 bilhões para o Exército, R$ 16,27 bilhões para a Marinha e R$ 13,79 bilhões para a Aeronáutica (Força Aérea).

Dos recursos previstos para o Comando da Marinha, R$ 10,87 bilhões (66,8%) correspondem à despesa com pessoal e encargos sociais, R$ 960,52 milhões (5,9%) a outras despesas correntes e R$ 4,43 bilhões (27,2%) a investimentos. No total do Ministério da Defesa, tais porcentagens são de 70,3% para pessoal, 11,8% para despesas correntes e 14,9% para investimentos.

O orçamento da Marinha para este ano registra aumento dos recursos destinados aos investimentos, mas não ao custeio de outras despesas correntes. Todavia, o aumento dos investimentos deverá levar a um aumento dos gastos correntes, para assegurar a operação e a manutenção dos novos meios previstos no Plano de Equipamento e Articulação da Marinha do Brasil (PEAMB).

O total de investimentos previsto no PEAMB é de US$ 84,4 bilhões, dos quais US$ 8,95 bilhões em 2010-2014, US$ 29,36 bilhões em 2015-2022, US$ 30,50 bilhões em 2023-2030 e US$ 15,62 bilhões após 2030. A concretização de tais metas, porém, depende do fluxo contínuo de recursos financeiros, durante duas décadas.

A renovação do Poder Naval não se limita à obtenção de novos meios ou à modernização dos existentes, pois será preciso atender à demanda de pessoal qualificado e adestrado. A lei nº 12.216, sancionada em 11/03/2010, autoriza a ampliação dos quadros de pessoal militar da Marinha, com a criação de 21.507 vagas (3.507 oficiais e 18 mil praças) no período 2010-2030.

O efetivo autorizado da Marinha do Brasil deverá passar de 59,6 mil para 80,5 mil oficiais e praças até 2030, o que corresponde a um aumento de 36%. Nos próximos anos, deverão ser criadas, em média, 218 vagas para oficiais e 771 para praças por ano. Isto resultará em despesa adicional de R$ 27,9 milhões em 2010, de R$ 72,1 milhões em 2011 e de R$ 118,5 milhões em 2012.

Como o Orçamento da União não é impositivo, as verbas autorizadas são passíveis de cortes e contingenciamentos durante o exercício. Este ano, já foram anunciados cortes de R$ 21,5 bilhões, nos recursos para investimento e custeio. O Ministério da Defesa foi o mais atingido, ficando com apenas R$ 10 bilhões dos cerca de R$ 16 bilhões originalmente previstos. Da Marinha teriam sido contingenciados R$ 3,1 bilhões.

O PEAMB vem dar continuidade ao Plano de Reaparelhamento da Marinha (PRM), ora em fase de execução. A Marinha realizou estudos para determinar o quantitativo estratégico de meios flutuantes, aéreos e de fuzileiros navais necessário, numa moldura de tempo que ultrapassa 2030. Entretanto, nada garante que tais estimativas venham a se converter em encomendas firmes.

As metas prioritárias para os próximos anos incluem projetos previstos no PRM e outros que não estavam incluídos naquele plano. Tais projetos incluem a substituição de meios cuja baixa ocorreu recentemente ou deve ocorrer em breve, assim como a modernização de outros, que terão sua vida útil estendida e sua capacidade operativa atualizada.

Até 2017, deve ser concluída a modernização de cinco submarinos, a um custo total de R$ 614,9 milhões, e adquirido um lote de novos torpedos, a um custo de R$ 107,6 milhões. O programa de construção de cinco novos submarinos (quatro convencionais e um nuclear) tem seu custo estimado em 6,7 bilhões de euros. Numa primeira etapa, está prevista a instalação, até 2015, de um estaleiro e de uma base em Itaguaí (RJ).

Foi entregue o primeiro dos seis navios-patrulha de 500 toneladas encomendados, devendo os demais ser entregues até 2014, a um custo unitário de R$ 80 milhões. A construção de um lote inicial de três NPa de 1.800 toneladas (com opção para mais dois), a um custo de R$ 194,7 milhões cada um, deve ser contratada em breve. Até 2015, também serão construídos quatro NPa de 200 toneladas, para águas costeiras e fluviais, por R$ 168 milhões de custo total.

Um lote inicial de três fragatas de 6.000 toneladas (com opção para mais duas) deve ser encomendado, a um custo unitário de cerca de 450 milhões de euros. Um navio de apoio logístico (NApLog) de 20.000 toneladas (com opção para mais quatro), com custo unitário de US$ 150 milhões, também está previsto. Além disso, estão sendo modernizados o navio-aeródromo (NAe) São Paulo, os navios de escolta e diversos navios empregados no serviço de hidrografia e navegação.

Estão previstas no PRM a obtenção de quatro novos helicópteros multiemprego S-70B Seahawk e a modernização de 12 helicópteros de esclarecimento e ataque AH-11A Lynx, assim como a obtenção de diversos tipos de armamento e munição. A aquisição de material para o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) também está incluída.

Constituem projetos extra-PRM a modernização de 12 aeronaves de interceptação e ataque AF-1/AF-1A Skyhawk e a obtenção de 16 helicópteros de emprego geral EH 725 Caracal, assim como a seleção, obtenção e modernização de um lote de aeronaves de alarme aéreo antecipado, transporte e reabastecimento em vôo.

Aos projetos acima, que cobrem o horizonte temporal até 2015, devem seguir-se projetos de médio e longo prazo, previstos no PEAMB. O novo plano, que visa à expansão dos meios e à revisão da articulação das forças navais, aeronavais e de fuzileiros navais, demandará consideráveis recursos. Estará o Brasil à altura de tal desafio?

Fonte: Monitor Mercantil

terça-feira, 11 de maio de 2010

Guerra blindada

Guerra blindada
Fábricas nacionais de armamentos usados em conflitos bélicos no exterior trabalham em regime de silêncio e com segurança reforçada
Ullisses Campbell

São José dos Campos (SP) — Quem entra pela estrada de asfalto no quilômetro 14 da Rodovia dos Tamoios, no município de São José dos Campos, nem imagina o que a paisagem bucólica esconde. No meio da tranquilidade do campo está instalada uma das maiores fábricas de explosivos e munições do Brasil, a Avibras. A empresa de engenharia fabrica foguetes de longo alcance para abate de aviões, unidades de controle de fogo para derrubar helicópteros que voam em baixa altitude e mísseis que alcançam embarcações a 300km.
O povo que mora ao redor nem sonha com o material que é produzido por trás da muralha de 6m de altura protegida por cerca elétrica farpada e enrolada. A Avibras é uma das empresas brasileiras que alimenta um mercado milionário e polêmico. Na edição de ontem, o Correio mostrou que, na última década, o Brasil exportou, por US$ 17,8 milhões, um total de 777 toneladas de bombas, foguetes, mísseis e todo tipo de munição para países nos quais os embates armados mataram 1,3 milhão de pessoas.
A camponesa Maria de Paula Sodré, 45 anos, saiu do interior da Bahia em 1988 em busca de prosperidade em São José dos Campos. Conseguiu emprego na fazenda Porto Velho, de propriedade de um político da região. Todos os dias caminha por estradas vicinais da Rodovia dos Tamoios. Conhece a Avibras “de ouvir o povo falar”, mas nem sonhava que se tratava de uma fábrica de explosivos. “Já vi a carretas carregando caixas de ferros enormes, mas pensava que tinha naves espaciais lá dentro”, conta.
A unidade da Avibras que fabrica foguetes aeroespaciais também fica em São José dos Campos, mas a 30 quilômetros do local onde se desenvolvem explosivos de guerra. O terreno que a empresa escolheu para pesquisar tecnologia espacial fica atrás da Embraer, longe da área residencial. Nas duas fábricas, não se passa da portaria sem ser convidado. “Você não pode se aproximar porque a empresa está desenvolvendo um projeto secreto. Se quer fazer matéria sobre a fábrica de explosivo, tem que ir para outra unidade”, explica o sentinela na portaria da unidade aeroespacial.
Se no local onde se fabrica sondas espaciais não se passa da portaria, na unidade em que se montam foguetes para abate de aviões não se chega à primeira entrada. A presença de jornalistas com máquinas fotográficas mobiliza a segurança. Eles sequer deixam bater foto da fachada, alegando que se trata de local de segurança máxima. “Vocês não podem ficar nem na calçada da frente”, avisa o guarda particular.

Batas
São José dos Campos é o reduto das fábricas de bombas, mísseis e outros artefatos de guerra. A Mectron, localizada em área urbana, fabrica mísseis para abate de curta e longa distância e armas anticarro. O prédio é modesto para quem desenvolve tecnologia para armas de defesa. Assim como ocorre com a vizinhança da Avibras, os moradores da Mectron não sabem o que é construído do lado de dentro dos muros. “Moro aqui há 20 anos e não sei até hoje com o que esse pessoal mexe. Meu filho mais velho já foi lá pedir emprego, mas disseram que não tinha nada para ele”, conta Benedito Marciano, 52 anos. Ele mora ao lado da Mectron. “A vizinha me falou que eles fabricam bombas, mas não acredito porque já vi mulheres vestidas com bata de enfermeira entrando na empresa depois do almoço”, relata a dona de casa Maria Aparecida Marciano, 56, mulher de Benedito.

Direitos Humanos
Sigilo, a regra do negócio
Diretor-presidente de uma das empresas armamentistas brasileiras afirma que a aura de mistério é exigência dos estrangeiros
Ullisses Campbell

Olhando rapidamente, o prédio parece abandonado. O mato precisa ser aparado, as paredes externas não são pintadas há anos e estão descascando. No pátio, há apenas um Fiat Uno velho. Mas o diretor-presidente da ETR Indústria Mecânica Aeroespacial, Rubens Carlos Jacintho, garante que ali se fabrica motor para foguetes, bombas incendiárias e aéreas, lança-granadas e uma série de artefatos bélicos. “Entre os nossos clientes estão o Ministério da Defesa, os comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, além de governos latino-americanos”, ressalta Jacintho.
A ETR está localizada na periferia de São José dos Campos. Aparentemente, a fábrica está parada. Na Mectron, por exemplo, observa-se um entra e sai de funcionários a todo momento. Na ETR, depois de meia hora batendo palma no portão surge um segurança. O Correio pede para visitar a empresa, mas o funcionário dá a mesma desculpa que todas as empresas deram. “Aqui se desenvolve tecnologia e armas sob o mais absoluto sigilo.”
O diretor-presidente da ETR explica que nenhuma empresa que fabrica armas e munições de guerra permite que pessoas estranhas entrem na área de produção porque os clientes que as contratam exigem sigilo na hora da encomenda. “Aqui você pode entrar só para ver os laboratórios, isso se não estiverem sendo realizados ensaios. Desculpe, mas a empresa trata com clientes estrangeiros e eles são muito exigentes”, conta o relações públicas Regis Borges, da Mectron.

Acrílico
Na condição de anonimato, dois funcionários contaram como funciona a linha de produção da Companhia Brasileira de Cartuchos, a CBC. Boa parte dos 1,2 mil funcionários atua na linha de produção, dividida em seis turnos. A indústria funciona 24 horas por dia. Só para se uma das máquinas quebrar. Um operador III ganha R$ 5,3 mil por mês e trabalha operando as máquinas que enchem os cartuchos de pólvora.
Na linha de produção, segundo os funcionários, há uma série de medidas de segurança. Para evitar acidentes, os funcionários são protegidos por uma tela de acrílico que suporta até disparo à queima-roupa de calibre .38. Cada turno de 8h produz 680 mil cartuchos do mais variados calibres só no setor de armas curtas.

O número
1,2 mil
Número de funcionários da CBC, maior fábrica de munição do país

Câmara atenta
Alana Rizzo

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados pretende discutir amanhã a exportação brasileira de armas para países com conflitos étnicos e religiosos, como o Sri Lanka, onde até 100 mil pessoas foram mortas em conflitos étnicos, como mostrou ontem reportagem do Correio. Atualmente, o país fornece munição para sete nações em guerra. Segundo a presidente da comissão, deputada Iriny Lopes (PT-ES), o assunto ainda não foi tratado até pela falta de informações.
“A pauta de exportações brasileiras deve ser de conhecimento público. Não só o parlamento deve ter acesso, mas toda a população. Segundo ela, o país — que faz campanha pelo desarmamento — deveria centrar as atividades econômicas em outras frentes, como alimentos. “Sabemos o que significam essas armas e como aumentam o sofrimento de um povo”, afirmou a deputada, citando dados estatísticos de mortos por armas de fogo no Brasil.
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil também deve colocar o assunto em pauta. Para o presidente da OAB, Ophir Cavalcanti, a complexidade do assunto e a repercussão da venda de armas para países em guerra e para o Irã exigem compreensão do tema. “É preciso esclarecer melhor à população essas questões.” O Congresso Nacional, segundo ele, tem papel fundamental nesse debate.

Sabemos o que significam essas armas e como aumentam o sofrimento de um povo”
Iriny Lopes (PT-ES)

terça-feira, 4 de maio de 2010

O vai e vem globalizado do lixo

O vai e vem globalizado do lixo

A demanda por materiais recicláveis e a necessidade de os países ricos descartar seus resíduos transformam sucata em produto de importação e exportação

André Julião



Chegamos a um momento da história em que a preocupação crescente com o destino do lixo, principalmente nos países ricos, coincide com o fato de que muitas nações precisam dele para suas indústrias – no caso, materiais recicláveis como plástico, aparelhos eletrônicos aposentados e mesmo pneus usados. A questão não seria um problema se tudo o que chegasse a uma cidade da China, por exemplo, fosse totalmente reciclável ou não acabasse sendo manipulado por mulheres e crianças sem nenhuma proteção contra produtos tóxicos como os presentes em componentes de computador. O que deveria ser exceção, porém, é normalmente a regra nesses casos.

O transporte de material reciclável é usado como disfarce para cometer crimes ambientais. Lixo doméstico, hospitalar e tóxico chega a países pobres sem nenhum tratamento e acaba despejado em locais inadequados. Esse comércio ilegal ficou evidente para os brasileiros em junho do ano passado, quando 89 contêineres chegaram aos portos de Santos (SP) e do Rio Grande (RS). O conteúdo, cuja documentação dizia se tratar de plástico, na verdade, era constituído de fraldas sujas a computadores velhos.

Os responsáveis foram multados e o material teve de voltar para a Inglaterra, que o havia exportado. Normalmente, porém, não é isso o que acontece. “Em geral, quando uma carga dessas é presa, há uma briga entre os envolvidos e quem tem de resolver a situação é o poder público”, diz Marcelo Furtado, diretor-executivo do Greenpeace Brasil. Ele lembra que desde 1995 o transporte de lixo tóxico entre países é proibido, como ficou determinado pela Convenção de Basileia.

Mas o mercado de resíduos não inclui apenas lixo. E o Brasil também se beneficia dele. Só em 2009, o País importou quase 60 mil toneladas de sucata de alumínio, a maior parte em forma de latas de bebida. Os números ficam ainda mais significativos quando se leva em conta que mais de 90% do alumínio produzido aqui é depois reciclado, o que já fez da nossa nação campeã mundial de reciclagem de latinhas por oito vezes consecutivas. “Essa indústria não depende de subsídios, ela se autorremunera. Somos uma referência inclusive para outros setores”, diz Henio De Nicola, coordenador da comissão de reciclagem da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).

O mesmo não acontece com o PET, usado para fazer garrafas de refrigerante. Embora a marca de 55% de reciclagem seja considerada exemplar, a indústria precisa de mais. “Há fábricas paradas por falta de material”, afirma Auri Marçon, presidente da Associação Brasileira da Indústria do PET. Ele diz que muitas embalagens de refrigerante, e mesmo de fungicidas agrícolas, chegam ao Brasil como se fossem aparas de plástico – como aconteceu com o lixo inglês apreendido –, o que é proibido. “Só deveria haver importação de material reciclável quando a questão ambiental estivesse equacionada”, defende.

Um projeto de lei no Senado pretende regular agora o mercado de vidros automotivos. A nova regra vai obrigar os fabricantes a recolher e reciclar a mercadoria. Atualmente, entre 15% e 40% do vidro nacional é reciclado. Outro incentivo para todo o setor é uma medida provisória que está em processo de regulamentação. Ela vai dar descontos no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) às empresas do ramo.

Nenhuma lei, contudo, é mais completa do que a que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, já aprovada pela Câmara e em discussão no Senado. Um dos principais méritos da proposta é o que diz respeito à responsabilidade compartilhada. Segundo esse princípio, a destinação do lixo reciclável envolve três atores: a população, que deve separar os resíduos em casa, o poder público, responsável pela coleta seletiva, e as empresas, a quem cabe sua destinação adequada – entre elas a reciclagem. Com essa ação conjunta, aí sim, será possível explorar todo potencial dessa matéria-prima tão abundante.

Depois de 23 anos, petroleiro marca retomada da indústria naval

Depois de 23 anos, petroleiro marca retomada da indústria naval

Carolina Eloy, Jornal do Brasil



RIO - O primeiro navio petroleiro construído no Brasil em 13 anos será lançado ao mar nesta sexta-feira em Pernambuco. A última encomenda tinha sido feita há 23 anos. Batizado de João Cândido e construído no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), a embarcação do modelo Suezmax tem capacidade de transportar 1 milhão de barris de petróleo e faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), destaca o presidente da Transpetro (subsidiária da Petrobras), Sergio Machado. “Este navio marca o momento histórico de retomada da indústria naval no país”, comemora. Com os 49 petroleiros das duas etapas do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef), o setor atingirá 65% de nacionalização na primeira fase, e 70% na segunda, diz Machado. Do total previsto para as duas etapas do projeto, 46 navios foram licitados, 38 contratados e quatro ficam prontos este ano.



Qual a importância do Promef para indústria naval brasileira?

Este lançamento marca o momento histórico de retomada da indústria naval nacional, que volta a ter competitividade mundial. São 23 anos sem construir. Com isso, a frota envelheceu. O Brasil não tem opção de ter ou não ter navios, já que 95% do nosso comércio nacional é por transporte marítimo, que custa US$ 16 bilhões por ano. O valor agregado só existe quando o produto chega ao consumidor, e nós entregamos a nossa marinha mercante para outros países. Significa que empregos e renda foram gerados lá fora. O grande desafio foi mudar essa mentalidade de descrença da nossa indústria para evitar a dependência que ainda temos.



Qual a necessidade de novas encomendas?

Para que o setor tenha sustentabilidade e competitividade era preciso que os pedidos fossem constantes e com escala, isso nós fizemos nas duas primeiras fases do Promef. E pretendemos continuar com o lançamento dos Promef 3 e 4 que vão contemplar as embarcações necessárias para exploração de óleo na camada de pré-sal, que deve precisar de muitos mais navios.



Qual a demanda de novos pedidos e como é a frota nacional?

O tamanho das encomendas ainda está em fase de estudo. Hoje, temos uma frota de 52 navios petroleiros nacionais, mas operamos com 180, sendo os demais alugados de outros países. Em 2014, vamos ter 108 navios. Sem o Promef, a frota nacional seria de 20 navios em 2015.



Quais foram os desafios para retomar a indústria naval?

Ninguém acreditava que a indústria naval pudesse voltar. Então, este foi o primeiro grande desafio, mostrar que era possível. Outro passo foi descobrir quais eram os problemas do setor até os anos 80. Foi feito um estudo que possibilitou descobrirmos que existiam dois gargalos que deixavam o preço dos navios brasileiros até 70% maior que o dos estrangeiros. O primeiro era o custo de pessoal, mas a mão de obra sozinha não era mais cara, a nossa tecnologia é que estava ultrapassada. O outro problema era o custo do aço, que era até 40% mais caro que o asiático. O preço do aço representa de 20% a 30% do custo do navio, constituindo um grande problema.



Como foram resolvidos esses gargalos?

No caso de pessoal, a solução foi investir em novas tecnologia, novas instalações, porque navios são construídos em qualquer lugar, na beira da praia, mas não se sabe quanto tempo vai demorar e nem quanto vai custar. Nosso objetivo não era só construir navios, mas ter uma indústria com competitividade mundial. No caso do custo do aço, conversamos com as siderúrgicas nacionais para ter o produto com preços similares aos internacionais, ou o setor naval não poderia ser competitivo mundialmente. No início, fizemos licitações e notamos que a instabilidade do preço do aço deixava os estaleiros inseguros, então, decidimos negociar nós mesmo o valor, para aumentar a garantia. Atualmente, compramos de quem tem o melhor preço, já negociamos com Ucrânia, China, Coreia. Esperamos que o aço nacional volte a ser competitivo.



Com as encomendas atuais, o Brasil avançou na comparação mundial?

Há sete anos, a carteira de encomendas do Brasil tinha desaparecido mundialmente. Agora, com o Promef, criado em 2004, o país já passou a ter a quarta maior carteira de encomendas de navios petroleiros do mundo, atrás da Coreia, China e Japão. Nos anos 70, antes da indústria naval perder a força, o país tinha a segunda maior carteira de encomendas, perdendo apenas para o Japão.



Os estaleiros brasileiros já têm tecnologia e preço para serem competitivos internacionalmente?

Cada vez que os estaleiros dobram a produção, o custo para a construção fica até 15% menor. Então, se compararmos o custo financeiro, já somos competitivos, pois temos o financiamento do Fundo da Marinha Mercante (FMM), que tem juros de 3,5% a 6% em até 20 anos. Além disso, os estaleiros já têm tecnologia de ponta para construir as embarcações.



Qual o papel da integração marítima para a logística comercial nacional?

A logística tem papel cada vez maior no comércio. Tanto pelo nosso tamanho, quanto para exploração de petróleo que também fica distante no mar. Um país com quase 8 mil quilômetros de costa e 42 mil quilômetros de rios navegáveis não pode se dar ao luxo de não ter uma marinha mercante forte.



Existem outros projetos para fortalecer a marinha mercante nacional?

Nosso papel é estimular a competitividade nacional, dando a demanda e fazendo com que os estaleiros saiam da zona de conforto. Estamos fazendo isso também com Promef Hidrovia, com a encomenda de 20 empurradores e 80 barcaças, para a hidrovia do Tietê. Esta é outra área que o país tem aproveitado pouco e precisa crescer, já que o modal rodoviário em um país do tamanho do nosso é antieconômico. O custo das rodovias chega a ser quatro vezes mais caro do que em hidrovias. Além disso, as embarcações consomem 13% menos combustível do que as carretas, reduzindo a poluição e aumentando a segurança da mercadoria.

Pentágono revela tamanho de seu arsenal nuclear

Pentágono revela tamanho de seu arsenal nuclear

Dados mostram que EUA possuem 5.113 ogivas

Fernando Eichenberg



WASHINGTON. Pela primeira vez desde 1961, o governo americano revelou ontem parte do tamanho de seu arsenal nuclear. Segundo o Pentágono, os EUA têm 5.113 ogivas nucleares operacionalmente mobilizadas, mantidas na reserva ativa ou armazenadas de forma inativa, além de "alguns milhares" de armamentos estocados para serem inutilizados - fontes não oficiais estimam de 8 mil a 9 mil o número total.

Foi mais um sinal do governo Obama de sua declarada política de transparência nuclear, simbolicamente lançada no mesmo dia em que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, discursou na abertura da reunião de revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), na sede da ONU, em Nova York. A iniciativa de Washington visa também a pressionar a China e a Rússia a revelarem mais detalhes sobre seus estoques de armamento nuclear.



Anúncio pôde ser feito porque não revelava "segredos de Estado"

Em 1992, o Departamento de Energia americano havia proposto a liberação pública das informações sobre o estoque nuclear, mas a iniciativa foi bloqueada pelo Pentágono. Oficiosamente, o anúncio de ontem foi possível graças a um acordo com a inteligência do governo sobre o fornecimento de números, sem, no entanto, revelar "segredos de Estado". Analistas estimam em torno de 22 mil o número de ogivas nucleares no mundo. Segundo a Federação de Cientistas Americanos, 8 mil delas seriam operacionais e 2 mil, nos EUA e na Rússia, estariam prontas para serem acionadas em curto prazo.

O programa americano de desarmamento tem destacado o papel do país como o principal destino do material nuclear a ser reciclado no mundo. No Complexo de Segurança Nacional Y- 12 de Oak Ridge, no Tennessee, e no laboratório de Savannah River, na Carolina do Sul, o urânio de alto enriquecimento, superior a 20% (UAE), é transformado em material de baixo teor (UPE), normalmente entre 3% e 6%, para servir posteriormente como combustível nuclear com fins pacíficos. Segundo a Administração Nacional de Segurança Nuclear (NNSA, na sigla em inglês), 32 países enviaram até agora urânio altamente enriquecido para ser tratado nos EUA. Do total, 18, entre eles Chile e Brasil, já estão completamente "limpos".

Ironicamente, foi no complexo de Oak Ridge, criado em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, que pela primeira vez o urânio foi enriquecido, como parte do Projeto Manhattan para a fabricação da primeira bomba atômica. A partir dos anos 1950, o laboratório de Savannah River também foi importante na estratégia de pesquisas de armamento nuclear americano no período da Guerra Fria. Hoje, são os dois principais centros de transformação do urânio enriquecido que a comunidade internacional teme que caia nas mãos de terroristas.

Ontem, a secretária de Estado, Hillary Clinton, afirmou que a Casa Branca intensificará os esforços para que o Senado aprove os tratados sobre as restrições aos testes e ao uso de armas nucleares. Também foi anunciada uma contribuição de US$50 milhões para as Nações Unidas, como parte de um auxílio aos programas de uso civil nuclear em países em desenvolvimento.