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domingo, 23 de maio de 2010

Calderón sofre com efeitos da luta contra o tráfico

O México chora os seus mortos - são 22.700 executados à bala ou na lâmina do machado desde que a guerra ao narcotráfico foi declarada, em 2007, e mergulhou o país em um banho de sangue. Decidido a enfrentar o grande desafio dos cartéis da droga, que plantaram raízes em 11 Estados, e sob pressão dos EUA, que exigem o bloqueio da entrada de cocaína, heroína e maconha em seu território, o presidente Felipe Calderón, já no primeiro ano de mandato, partiu para o tudo ou nada.

Convocou as forças de segurança, mobilizou compulsoriamente todo o contingente da Polícia Federal e das polícias estaduais e municipais e militarizou a repressão. Mandou o Exército para as ruas. Cinquenta mil soldados vasculham o país conflagrado. Tanques, bazucas e morteiros para destruir o inimigo.

Calderón está convencido de que o caminho é esse, pela honra e resgate da soberania de seu país, à beira dos 200 anos de independência. Por isso, pretende cumprir à risca os termos da famosa Iniciativa Mérida - protocolo de cooperação pelo qual o México se compromete a aniquilar os narcotraficantes, enquanto os americanos injetam US$ 1,4 bilhão para capacitação e treinamento das forças de Calderón.

A meta da qual o presidente não abre mão é recuperar territórios dos quais o crime organizado se apossou. Cidades inteiras caíram nas mãos do tráfico e o governo admite que o México, em alguns episódios, guarda semelhança com a Colômbia. Nas últimas semanas, dois políticos mexicanos foram assassinados e um ex-senador sumiu. É ano de eleições, o País vai eleger governadores, deputados e prefeitos. O pleito está sob ameaça em algumas localidades. Alguns partidos estão abrindo mão de candidaturas.

Calderón é um determinado, não admite capitular. Em Washington, o subsecretário de Estado dos EUA para o Narcotráfico Internacional, David Johnson, questionou o desempenho do Exército do México. A Human Rights Watch, ONG mundialmente reconhecida, pediu ao governo Barack Obama que cobre do presidente mexicano respeito aos direitos humanos.

O centro do conflito é Ciudad Juárez, ao norte. Aqui, em dois anos e quatro meses - de janeiro de 2008 até abril -, 5.002 mexicanos perderam a vida.

O México jamais conheceu tanta dor. Os barões do tráfico, que gira US$ 24 bilhões por ano, não se curvaram ao cerco e responderam com uma brutal e audaciosa contraofensiva. De posse de arsenal bélico - metralhadoras Uzi israelense, fuzis AK-47, da Rússia, fuzis de assalto AR-15, granadas e outros equipamentos de alto poder de fogo -, as temíveis "pandillas", quadrilhas a serviço dos cartéis, assolam o México com ações diabólicas e métodos cruéis.

Violência. É uma época infeliz para o povo de Calderón. Cabeças decapitadas a golpes de machado, mulheres e crianças calcinadas, homens enforcados e pendurados nos becos formam o cenário macabro ao qual o México se habitua. Confrontos marcam o dia a dia de um país doente. Civis indefesos golpeados, presas fáceis dos cartéis que os escolhem como alvo para intimidar e jogar a população contra o governo. O México caótico atinge seu limite.

Procuradores federais mapeiam rotas do tráfico. São dois objetivos: reunir provas cabais contra os líderes do narcotráfico e confiscar bens e ativos. A Procuradoria-Geral da República mostra que, de dezembro de 2006 a 20 de março, foram tomados dos cartéis US$ 390 milhões e 300 milhões de pesos mexicanos. Foram recolhidas 91 toneladas de cocaína, 47 de metanfetaminas, 70 mil armas, 4.950 granadas, 28 mil carros, 470 aviões. Trinta chefões apanhados. Mas tudo isso não basta para abalar a longa era de supremacia do crime organizado.

A grande jornada, com desfecho imprevisível, custa seguidos protestos que desconfortam o governo. Entidades civis, políticos e juristas clamam por mudanças urgentes na estratégia. Denunciam abusos e violações. Do lado de lá, Obama quer mais rigor contra o inimigo comum às duas nações - o intrigante é que 15 milhões de armas clandestinas circulam no México e o grosso do material vem dos EUA, onde são vendidas livremente.

A oposição agita o Congresso, pede o retorno dos militares aos quartéis, sustenta que Exército nas ruas é inconstitucional. A imprensa paga um preço alto. Jornalistas agredidos, executados, por apontarem movimentos do tráfico ou identificarem alto grau de corrupção em setores importantes do poder público - policiais graduados e administradores desleais, a serviço dos cartéis, são desmascarados.

O Comitê para Proteção de Jornalistas indica que, desde 2006, foram 17 os profissionais assassinados. Hostilizados, sob ameaça de bombas, a mídia decreta autocensura. "O México está perdendo a guerra", afirma o professor Edgardo Buscaglia, estudioso da escalada dos narcotraficantes.

O secretário de governo Fernando Gómez Mont é contundente. "A ofensiva é uma decisão irreversível." Calderón avança em sua marcha e manda um aviso a quem dele espera um recuo. "Seguiremos atuando contra o crime organizado em todo o país. Temos um compromisso expresso, de palavra e de trabalho, precisamente contra quem ameaça a segurança e a paz."

Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100523/not_imp555339,0.php

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