Mercado em expansão
Fábio Grecchi Enviado especial ao Rio de Janeiro
Quem viu o filme O Senhor da Guerra, com Nicholas Cage, lembra- se bem da sequência de
abertura. Começa numa linha de usinagem de balas, passa pelo carregador de um fuzil e sugere que a
mesma bala termina na cabeça de um adolescente, num dos inúmeros conflitos que ainda assolam a
África.
Esse, em tese, é o lado sujo, negro, do comércio internacional de armamentos, que não
respeitaria embargos e leis internacionais. Mas há o lado limpo, ascéptico, legal, que paga impostos e
gera divisas, e é uma fonte inesgotável de interesse de vários países do mundo. É justamente este que
está montado na Laad – Latin America Aero & Defense, que se realiza até amanhã, no Riocentro.
Tal mercado é tão lucrativo quanto o tráfico de armas e o de drogas, e rende aos cofres públicos
de várias nações um valor difícil de ser mensurado, mas calculado em trilhões de dólares. Um setor que
não conhece a crise econômica internacional.
Não fosse assim, não estariam com estandes montados na Laad países pouco prováveis como
Bulgária,Turquia e Sérvia, todos mostrando aquilo que têm de melhor no setor. Sinal de que trata-se de
uma área cuja competição oferece espaço a todos.
Armas convencionais
Os gigantes do setor, como as norte-americanas Boeing, Grumann, General Dynamics, a
francesa Marcel Dassault ou ainda a britânica British Aerospace, naturalmente que não poderiam faltar.
Países vêm em bloco, como Israel, Índia, Coreia do Sul, África do Sul ou Polônia, mostrar a força de sua
indústria armamentista. Também ficam claros blocos que se formam nesta área, com as joint-ventures
entre empresas russas e indianas. Não é sem razão que os estandes de indústrias dos dois países ficam
um ao lado do outro .
Tudo aquilo que se vê na Laad é relacionado, sobretudo, a armamento convencional. Aviões,
navios, sistemas de mísseis, aviônicos, bombas, balas, equipamentos de infantaria, softwares etc. estão
à venda. E não faltam expositadores espiando – e não espionanando, diga- se – uns aos outros.
Todos fazem questão de apresentar orgulhosamente seu produto. E os militares, que se exibem
fardados e alguns até mesmo em traje de voo, fazem questão de mostrar que estão num ambiente que
lhes pertence. Param, indagam, mexem e debatem com os expositores.
Apesar da fartura de elementos, nada chama tanto a atenção dos frequentadores da Laad quanto
as armas de mão. Pistolas, fuzis, submetralhadoras são deliciosamente manuseadas. Militares das mais
variadas patentes, e até mesmo outros que não se apresentam como tal, mas demonstram enorme
intimidade com os artefatos, apertam gatilhos, travam e destravam, carregam e descarregam todo tipo de
arma leve.
Onipotência
Os expositores sabem mexer com a onipotência que uma arma dá ao ser humano comum: no
estande da Glock, fabricante austríaca de pistolas em polímero, há propagandas que ressaltam as linhas
sensuais de seus produtos – mulheres em trajes mínimos são colocadas junto às armas. No da CZ, da
República Tcheca, as armas ficam sobre um balcão, à disposição dos interessados, que podem
manuseá- las com tranquilidade.
Mas a Laad não é somente sobre aquilo que os mais radicais poderiam chamar de "mercado da
morte". Há estandes de equipamentos contra incêndio, contra catástrofes naturais, voltados para as
defesas civis.
Também há equipamentos para equipar as várias polícias do mundo, desde coletes a prova de
balas a uniformes completos para tropas de choque. A Babel tecnológica não parece causar dramas de
consciência. Indagado sobre a questão moral de uma feira deste gênero, o expositor russo respondeu
em inglês perfeito: "Who cares?"
JORNAL DE BRASÍLIA 16/04/2009
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