A poucos meses de um desfecho do programa F-X2, que vai reaparelhar a Força Aérea Brasileira (FAB) com pelo menos 36 novos caças de múltiplo emprego, a francesa Dassault sofreu um grande revés. Considerada favorita na disputa da FAB, em função dos acordos militares assinados recentemente entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy, a Dassault teria sido desclassificada de uma concorrência na Índia para a compra de 126 aeronaves - avaliada em US$ 10 bilhões, é a maior aquisição internacional em curso.
A representação da empresa no Brasil não quis se pronunciar, argumentando que a Dassault não foi informada pelo governo indiano da desclassificação, noticiada ontem pela agência "France Presse" e por sites especializados em defesa, citando fontes militares. A dispensa teria ocorrido por descumprimento de especificações técnicas, deixando cinco concorrentes no páreo: o consórcio europeu
EADS (com o Eurofighter), a russa MiG (MiG-35), a sueca Saab (Gripen NG) e as americanas Lockheed Martin (F-16) e Boeing (com o F-18 A/B Super Hornet).
Duas dessas empresas disputam, junto com a Dassault, o contrato da FAB: a Boeing e a Saab. Assim como no Brasil, a transferência de tecnologia é um dos principais critérios avaliados pelosindianos. Tanto que 108 dos 126 caças adquiridos - a exceção envolve apenas as 18 primeiras unidades
da compra - deverão ser fabricados na própria Índia. Das três concorrentes na disputa brasileira, pré-selecionadas entre seis fornecedores inicialmente sondados, a Dassault não é a única preterida em uma grande competição internacional. No fim do ano passado, a Noruega rejeitou uma oferta da Gripen e optou pelo F-35/Joint Strike Fighter da Lockheed Martin. A decisão surpreendeu pela proximidade política e na área de defesa entre os dois vizinhos nórdicos.
No caso da Dassault, a concorrência indiana era importante porque o caça Rafale, que também está sendo oferecido ao Brasil, já participou de campanhas como a do Afeganistão, mas ainda não teve nenhuma venda externa concretizada. Afora as próprias forças americanas, a Boeing só forneceu seu F-18 Super Hornet para a Austrália, embora também participe de disputas na Dinamarca e na Grécia.
A desclassificação do Rafale não é o único fator novo, que pode embolar a decisão do F-X2, cuja encomenda inicial é estimada em mais de US$ 2 bilhões. Inconformados com a sua eliminação no primeiro corte da Aeronáutica, os russos da Sukhoi pediram ao Ministério da Defesa para entregar uma nova proposta e apresentaram sua oferta no mês passado. Conforme já afirmou o ministro Nelson Jobim,
o maior obstáculo para uma encomenda à Sukhoi é a negativa em transferir tecnologia. Os oficiais da FAB, inclusive, sequer consideraram os russos na rodada de visitas e testes que iniciaram para verificar os caças restantes na disputa.
A Rússia acenou com uma participação da Embraer no desenvolvimento de um caça de quinta geração. "Estamos estudando com a Embraer questões de troca de tecnologias, da criação, na base dessa empresa, de áreas para a montagem e a produção, segundo licenças russas, de aviões no futuro", disse na semana passada, à agência RIA Novosti, Alexander Fomin, vice-diretor do Serviço Federal para
a Cooperação Técnico-Militar. "Trata-se de uma direção promissora. Por enquanto, isso está na fase inicial, mas admitimos isso", complementou o dirigente do departamento que controla a exportação de armamentos russos. A
Sukhoi está desenvolvendo um caça com características de alta manobrabilidade e baixa detecção por radar para garantir a superioridade aérea e a precisão na destruição de alvos terrestres e marítimos. Cogita-se que a produção pode começar em 2015 e concorreria com o novo F-22 americano. Um acordo
bilateral firmado com a Índia em 2007 incluiu o país no desenvolvimento da aeronave.
A expectativa da FAB é tomar uma decisão no segundo semestre e fechar o contrato entre o fim de 2009 e o início de 2010.
Valor Economico 17/04/09
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