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terça-feira, 19 de maio de 2009

Guerra assimétrica muito além do David versus Golias

Os ataques de 11 de setembro de 2001, dramaticamente, recolocaram os assuntos de segurança no centro da agenda mundial. O século XXI, longe de presenciar um estado superior da evolução do homem por meio do socialismo, ou do triunfalismo liberal do fim da história (ironicamente as duas utopias desfeitas derivam do pensamento de Hegel). Nasceu sob o signo do que se costuma chamar de conflito de baixa intensidade, antagonismos étnicos, religiosos, nacionalistas e provocados por outras ideologias. Ou seja, não obstante um poderio militar sem par na história da humanidade os EUA enfrentam uma ameaça que apesar de ser ínfima quando comparada com sua capacidade conseguiu lhe infligir um duro ataque em seus centros de gravidade.

Do ponto de vista estratégico, ataques terroristas da rede Al Qaeda, incursão israelense em Gaza, a insurgência no Iraque, têm uma característica comum. Esses conflitos se dão entre forças estatais regulares e forças irregulares que podem ser consideradas transnacionais (já que agem, recrutam e buscam financiamento e apoio globalmente) e incorpóreas (já que não são Estados), ou seja, são forças desiguais em meios de combate, em regras de engajamento, em controle político, em sujeição a tratados e legislações e em pressão da opinião pública A esse tipo de combate se convencionou chamar no campo dos estudos estratégicos de Guerra Assimétrica ou guerras de Quarta Geração.

É preciso empreender um esforço de definir de maneira clara, objetiva e não legalista, ou seja, de maneira mais ampla possível definir guerra assimétrica. Já que esse tema é campo fértil para a influência ideológica.

Guerra assimétrica: Definições

A guerra de primeira geração da era moderna tem seu marco com o uso das armas de fogo. O apogeu desse tipo de deflagração militar foram as guerras napoleônicas.

A segunda geração tem suas bases nas inovações introduzidas pela revolução industrial que aumentaram sobremaneira as capacidades de emprego de pessoal e a capacidade de destruição dos engenhos de guerra.

A terceira geração se caracteriza pelo emprego de forças de maneira rápida com apoio de forças blindadas, o ápice desse tipo de enfrentamento combinado em vários meios, foram os ataques tipo Blitzkrieg (termo alemão para guerra-relâmpago), principalmente os das divisões de blindados panzers. Eram guerras orientadas para a conquista de objetivos estratégicos.

É preciso ter em mente, também, que em um teatro de operações tradicional a população civil é considerada inimiga. Contudo as guerras de quarta geração introduzem aspectos de busca do desestimulo do apoio da população a um conflito, são conflitos de baixa intensidade (uso de táticas de insurgência, terrorismo e forças irregulares). Os conflitos dessa quarta geração se baseiam nas assimetrias. Nesse sentido podemos adotar com um bom grau de abrangência a definição empregada pela Marinha do Brasil (BRASIL. Estado Maior da Armada. EMA305: Doutrina Básica da Marinha. Brasília. 2004) para guerra assimétrica:

“A guerra assimétrica é empregada, genericamente, por aquele que se encontra muito inferiorizado em meios de combate, em relação aos de seu oponente. A assimetria se refere ao desbalanceamento extremo de forças. Para o mais forte, a guerra assimétrica é traduzida como forma ilegítima de violência, especialmente quando voltada a danos civis. Para o mais fraco, é uma forma de combate. Os atos terroristas, os ataques aos sistemas informatizados e a sabotagem são algumas formas de guerra assimétrica.”

Vale ressaltar que do ponto de vista dos pequenos em conflito assimétrico busca-se o apoio da opinião pública interna e externa para sua causa, assim essa tática é particularmente influente quando se combate forças de países democráticos que são sujeitos a pressão da opinião pública. Outro ponto é que com essa tática tenta dissuadir a potencia de usar seus recursos superiores sob pena de censura por uso excessivo de violência, desproporcionalidades.

Embora satisfatória a definição acima (e seu adendo) de guerra assimétrica ela fica presa ao que muitos chamam de imagem Davi contra Golias, ou seja, se prende a diferença de poder (tamanho) entre os contendores quando a tecnologia, também, pode ser decisiva nesse cenário, para ilustrar com a mesma imagem foi o uso da funda como uma arma de precisão atacando o ponto fraco do inimigo que Davi venceu. Ao que Sun Tzu já ensinara: “atacai-o [o inimigo] onde não estiver preparado. Executai vossas investidas somente quando não vos esperar”.

Assim de modo amplo uso da assimetria pode ser entendido como o uso de alguma diferença para obter vantagem, a história é cheia de exemplos de inovações mudando o balanço de poder em guerras (desde os Barcos trirremes atenienses na Batalha de Salamina, por exemplo). Por isso mesmo o U.S Army War College tem estudos que procuram aprofundar e diferenciar os vários tipos de assimetria e os tipos de estratégia que derivam do emprego ou não da assimetria como estratégia de combate, o texto é elucidador, embora seja como era de se esperar é focado na posição americana.

Segundo o Joint Strategy Review 1999, Washington, DC: The Joint Staff, 1999, p. 2. “[...] Asymmetric methods require an appreciation of an opponent’s vulnerabilities. Asymmetric approaches often employ innovative, nontraditional tactics, weapons, or technologies, and can be applied at all levels of warfare— strategic, operational, and tactical—and across the spectrum of military operations”


Guerra assimétrica: dimensões, níveis e formas

Dimensões

No que tange ao uso das táticas assimétricas podem ser classificadas quanto a sua dimensão como positiva e negativa. Sendo a primeira quando empregadas pelas forças americanas. Pode também, ser de curto ou longo prazo, já que eventualmente no curso de uma escaramuça elementos surpresas perdem seus efeitos como a Blitzkrieg, que eventualmente foi derrotada pelos soviéticos, e pelos ingleses e americanos na África.

Seu emprego pode ser deliberado ou circunstancial, ou seja, pode derivar de uma estratégia clara de combate por meios assimétricos ou resultar de variações táticas produzidas por circunstancias de combate. Com por exemplo, o emprego de forças irregulares vietcongs numa fase da guerra, mas a tomada completa do Vietnã se deu por meio do emprego de forças regulares, simétricas por parte dos Norte – Vietnamitas.

Podem ser de baixo ou alto risco, sendo o baixo risco o uso de tecnologias e treinamentos superiores, que podem ter alto custo, mas numa hipótese de emprego aumentam as chances de sucesso, táticas de alto risco são as de caráter, “traiçoeiro”, por exemplo, o ataque japonês a Pearl Habor, que acirrou os ânimos da população americana e criou coesão em torno do envolvimento militar ativo dos EUA na Segunda Guerra.

Classificam, também, em discretas ou conjuntas, sendo as operações conjuntas de táticas assimétricas e uso regular o mais perigoso no ponto de vista americano. E por ultimo, podem ser quanto a sua dimensão material ou psicológico, sendo assimetria material uma superioridade per se, e psicológico a capacidade de impor uma imagem de combatentes temíveis, como os Zulu, por exemplo.

Níveis

Podem ter um nível de combate e um midiático. No nível de combate é o emprego propriamente dito de táticas inovadoras, ou meios que busquem diminuir suas debilidades, como o emprego de submarinos pelos nazistas para diminuir a desvantagem quando comparado ao tamanho da marinha britânica.

No nível midiático é a busca do chamado “moral high ground”, ou seja, buscar difundir que se tem razão, ou buscar se pintar de vitima, e angariar apoio, fundos e pressões da opinião pública.

Formas

São seis as formas de assimetria, método, tecnologia, perseverança, moral, organizacional e paciência.

Método é uso de táticas, doutrinas de defesa e empregos inesperados. Tecnologia é a face mais visível da assimetria se dá pelo emprego de sistemas de armas mais eficientes e destrutivos que o do inimigo. Perseverança surge quando se depara com um inimigo disposto a agüentar níveis de pressão altos, grandes perdas e riscos elevados. Moral é guando um inimigo consegue impor um sentimento de derrotista entre as tropas. Organizacional tanto pode ser vantagens advindas de boas práticas de gestão e emprego de forças, como pode ser por um alto nível de decisões descentralizadas, ou seja, um sistema que pode funcionar autonomamente mesmo com a liderança isoladas. Paciência é o uso da resistência como forma de desestimular um inimigo que culturalmente prefira vitórias rápidas.

Em resposta a isso os estudos do supracitado War Collage fazem as seguintes recomendações:

“Adopt a more general and complete definition of asymmetry and use this as a foundation for doctrine.
Integrate the five strategic concepts, Maximum Adaptability and Flexibility, Focused Intelligence, Minimal Vulnerability, Full Dimensional Precision, and Integrated Homeland Security into American national security strategy.”


Conclusões

Guerras assimétricas são conflitos entre forças com capacidades diferentes, derivam da capacidade de dissuasão do poderio militar convencional americano e das maiores potências que torna um combate normal e um teatro de operações regular, contudo esse cenário não contribui para o aumento da estabilidade já que grupos ideologicamente motivados e coesos optam por meios de combate assimétrico, seja na forma de ataques terroristas, seja provocando combates em zona urbana com baixas colaterais civis enormes.

Graças ao fenômeno da comunicação global instantânea principalmente desde a revolução dos satélites e da atual era da informação as táticas assimétricas quase sempre disparam freios de ordem política, já que todos os políticos são de uma maneira ou de outra afetados por pressões da opinião pública, claro que é preciso um regime aberto, para isso.

Embora o termo invoque a imagem de luta de forças pequenas contra grandes potências (Davi contra Golias), mas essa imagem romantizada não abrange o tema como um todo. Já que a assimetria, também, é o uso de meios inesperados e “exóticos” ou de meios tecnologicamente superiores para vencer uma guerra.

A meta dos pequenos que se usam da guerra assimétrica é induzir a adoção de políticas desejadas pelos pequenos e assim influenciado decisivamente a política das grandes potências, conseguindo assim seus objetivos. Nesse sentido o pequeno busca nos termos proposto por Clausewitz de “compelir o inimigo a fazer a sua vontade”. Sem, no entanto, vencer a guerra e dominar o território do inimigo.

O terrorismo face mais conhecida e controversa da guerra assimétrica será abordado num próximo post. E pra variar, esse ensaio não tem como objetivo esgotar o tema, mormente o objetivo é apresentar um tema muito interessante.

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