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segunda-feira, 4 de maio de 2009

O crime compensa

A invasão de sistemas acaba virando um bom negócio. Os hackers conseguem recompensas e até empregos nas empresas que prejudicaram
ROBERTA NAMOUR



Recentemente, um garoto de 17 anos virou uma celebridade depois de infectar pelo menos 190 contas do Twitter, a rede social de microblog que mais cresceu no ano passado. Dias após o feito, Mikeyy Mooney foi contratado por uma empresa de desenvolvimento de aplicativos para a internet como consultor de segurança. Sua história é compartilhada por um time de hackers que deu certo. Apesar de cometerem um crime - já que invasão de sistemas sem autorização ou danificação de conteúdo de terceiros podem ser considerados uma violação, - a capacidade intelectual dessas pessoas desperta o interesse de grandes empresas. Companhias como Apple e Microsoft costumam pagar verdadeiras fortunas pelas descobertas de hackers. Algumas empresas chegam a contratá-los como funcionários. A recompensa sai mais barato do que o prejuízo causado pela propagação da brecha do sistema.

Outros hackers acabam criando seu próprio negócio, como é o caso de Steve Jobs e Steve Wozniak, fundadores da Apple. Quando jovens, praticavam atividades como a de alguns hackers mal-intencionados. Mas depois usaram seus conhecimentos para criar o primeiro computador pessoal. Linus Torvalds, criador do Linux, é outro hacker famoso. Ele ajudou a promover o conceito do software de código aberto no mundo. Os hackers estão conquistando uma posição na sociedade e já até existe uma hierarquia entre eles. Mas há uma linha tênue entre esse comportamento e o crime puro e simples. "Eles começam como meninos prodígios, mas, se não souberem canalizar o conhecimento para o bem, podem facilmente virar grandes criminosos", alerta Jeferson d'Addário, sócio-diretor da Daryus Consultoria. O mercado criou até uma expressão para diferenciar esses grupos: os hackers e os crackers. Em comum entre eles está o sentimento de desafio quando se deparam com um sistema novo.

Pela definição, hacker é uma pessoa com alta capacidade intelectual, em busca de novas tecnologias. Em sua maioria são jovens ou pessoas com dificuldades de se relacionar socialmente. "Costumam ser mais introspectivos, mas no mundo virtual acabam mostrando suas garras", diz D'Addário. O mais famoso hacker da história, considerado o Pelé das invasões de sistemas, é o americano Kevin Mitnick. Após causar um prejuízo de mais de US$ 80 milhões ao invadir o comando de defesa dos EUA, foi preso. Hoje é consultor de segurança de multinacionais. Seu melhor amigo, Kevin Poulsen, ganhou um Porsche ao invadir a central telefônica de uma rádio que estava promovendo um concurso. Mas acabou detido ao invadir computadores do FBI. Um outro americano, Robert Morris, ficou milionário após vender um serviço para o Yahoo!. Antes disso, fez a internet parar em 1988 com a propagação de um vírus. O mais curioso é que Morris é filho de um cientista da Agência Nacional de Segurança dos EUA.

Vender a descoberta de falhas para grandes companhias virou um ótimo negócio. Algumas empresas de segurança se especializaram em promover concursos para quebrar sistemas operacionais. Oferecem como recompensa prêmios em dinheiro e depois tentam vender as falhas para os donos dos sistemas. Um hacker ganhou US$ 10 mil ao invadir o MacBook Air, o notebook da Apple, em menos de dois minutos. Ao ganhar, Charlie Miller teve de assinar um acordo para não revelar as informações até que a patrocinadora do evento notificasse a Apple. Em um outro caso, um estudante alemão, de 25 anos, descobriu falhas nos navegadores da Mozilla e da Apple, e no Internet Explorer 8, da Microsoft. Ele ganhou US$ 5 mil por invasão. De acordo com D'Addário, apesar de possuírem um time de especialistas, a importância dos hackers para as gigantes da tecnologia é muito grande. "O hacker é uma pessoa que olha a tecnologia com outros olhos. Seu desafio é identificar falhas que o programador não consegue enxergar", afirma.

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