27/07/2010
O Mundo
CHARLES KUPCHAN
WASHINGTON. Para Charles Kupchan, especialista em segurança e relações internacionais da Universidade Georgetown, o vazamento de informações poderá abalar ainda mais a controversa estratégia de guerra americana. Segundo ele, o conflito no Afeganistão não tem uma solução militar, mas sim política, e a condução de Washington ainda parece distante desse caminho.
O GLOBO: Como o senhor analisa as informações reveladas pelo site Wikileaks?
CHARLES KUPCHAN: Há detalhes vazados que são problemáticos, além de informações adicionais sobre o estado ruim das forças de segurança afegãs. Mas não há nada que muda drasticamente a compreensão do conflito. Os documentos foram divulgados numa hora em que a elite e a opinião pública têm se mostrado críticas à guerra. Agora, as novas informações apenas confirmam a suspeita de que o conflito não tem sido bem conduzido.
O governo e o futuro da guerra sofrerão algum impacto?
KUPCHAN: Há a possibilidade de perda contínua do ímpeto e o crescimento do ceticismo sobre se os esforços estão obtendo sucesso e valendo o sangue derramado. É este tipo de informação que pode solapar o impulso e o apoio à guerra.
Eu acredito que não há solução militar para o conflito, e que a parte mais importante da estratégia dos EUA para os próximos meses será a de modelar um tipo de pacto político, o mais sólido possível, que possibilite o início da retirada de tropas. Nesse sentido, o atual rumo não me agrada. É preciso haver um esforço para que seja criado um governo afegão em Cabul, que ele seja funcional. Mas também é preciso consciência de que esse governo não terá um controle real sobre o Afeganistão: terá de lutar e barganhar com diferentes comunidades, clãs e grupos. Eu estimularia contatos políticos informais. Não acredito que os talibãs possam ser derrotados, mas sim que possam ser suficientemente punidos para que vejam na negociação política a melhor alternativa
É uma guerra sem fim?
KUPCHAN: Os EUA, ao incentivarem a guerra, criam novos inimigos. Muitos dos insurgentes que estão lutando hoje não são extremistas ideológicos com a intenção de atacar os EUA em território americano. Estão lutando contra soldados americanos, que eles vêem como invasores. Quanto mais rápido os EUA reduzirem a sua presença e transferirem mais autoridade aos afegãos, melhor se tornará a situação.
Mas não parece ser esse o caminho escolhido no momento.
KUPCHAN: Vejo que, neste momento, o governo parece intencionado a perseguir os insurgentes em suas terras. Mas, nos bastidores, é difícil saber o que está ocorrendo no front político. Penso que, em termos de discussões e negociações por baixo da mesa — com paquistaneses, afegãos, talibãs, todo o mundo —, há muito mais acontecendo do que nós sabemos. (F.E.)
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