24/07/2010
Mundo
O Correio conversou por telefone com o ministro da Defesa do Equador, Javier Ponce, que ocupa a Presidência temporária do Conselho de Defesa da Unasul, sobre o papel do organismo regional para a solução de conflitos na região. Em Quito, ele disse que o órgão deve atuar mais a “médio prazo”, construindo a confiança mútua, enquanto a Unasul pode ter um papel político mais imediato.
O presidente do Equador disse que pediria uma reunião de emergência dos chanceleres da Unasul. O senhor pensa em fazer o mesmo no Conselho de Defesa?
Na verdade, quem pediu a reunião foi o governo da Venezuela, e o presidente Rafael Correa está analisando a possibilidade. Por enquanto, o Conselho de Defesa não tem prevista uma reunião.
Como o senhor avalia a crise entre Colômbia e Venezuela?
Minha percepção pessoal é de que teria sido preferível que fosse o novo presidente da Colômbia (Juan Manuel Santos) a tomar uma decisão a respeito da suposta presença de guerrilheiros das Farc na Venezuela — porque é ele quem terá de enfrentar o conflito.
O ministro da Defesa da Venezuela, general Carlos Mata, disse que as tropas estão em alerta máximo ante a possibilidade de “agressão” da Colômbia. Esse tipo de anúncio não aumenta a tensão?
Bom, mas a tensão se origina na denúncia da Colômbia — devemos ter isso claro. Acho que (os colombianos) deveriam ter buscado algum tipo de contato ou de acerto direto antes de chegar à denúncia pública. Então, desse ponto de vista, entendo que um anúncio como o da Colômbia explica a decisão venezuelana.
Por que a Colômbia preferiu levar o caso à OEA, em vez da Unasul?
Não é de estranhar, porque esse é fundamentalmente o papel da OEA. Quando Equador sofreu o ataque de março de 2008, levamos o caso à OEA.
Quando veremos os países sul-americanos levando questões desse tipo para consideração na Unasul e no Conselho de Defesa?
Acho que a Unasul também é cenário para analisarmos nossos conflitos, mas de outra perspectiva: mais da análise política, da integração regional. O papel da OEA é mais de recepção de demandas jurídicas. Nesse sentido, a Unasul chegará a tratar desse tema. O Conselho de Defesa, não necessariamente.
Em quais casos o senhor entende que o Conselho de Defesa poderia atuar?
O papel do Conselho de Defesa se refere à transparência e ao fluxo de informação sobre as forças armadas de cada país. O conflito entre Colômbia e Venezuela é eminentemente diplomático. Em função disso é que os chanceleres podem atuar. É certo que tem conotações de ordem militar, mas as preocupações do conselho vão mais para o lado de sustentar políticas de médio prazo, de criação de medidas de confiança, de abertura, de transparência da informação.
O senhor está otimista com a posse do ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos na Presidência da Colômbia?
Um novo governo cria um novo cenário, e não necessariamente esse cenário do novo governo colombiano vai ser o mesmo de Álvaro Uribe. Isso, evidentemente, cria expectativas de que as coisas sejam tratadas de outra maneira, com outra linguagem e em outras condições.
E como estão os preparativos para a reunião do Conselho de Defesa, prevista para 22 e 25 de novembro?
Esperamos que o encontro trate de aspectos substanciais do continente, que não fique apenas em temas de assistência por desastres naturais, com cooperação por meio da ONU, mas que se abordem realmente as questões da defesa de nossos países, as medidas necessárias de confiança mútua. Seguiremos avançando também no tema dos gastos militares, e a ideia final é conseguir níveis de homologação desses gastos — levando em conta, claro, as dimensões e as circunstâncias de cada país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário