Operações Militares em Áreas Urbanas
Nos cursos de aperfeiçoamento e especialização em infantaria do corpo de fuzileiros navais
“A pior política é atacar as cidades...
Ataque somente quando não houver alternativa.”
Sun Tzu
Em estudos divulgados pela ONU, no ano de 2025 cerca de 60% da população mundial estará concentrada nas cidades. Em virtude do crescente processo de urbanização, será cada vez mais frequente o emprego de forças militares em epicentros políticos, econômicos, sociais e culturais em todo o mundo.
A realidadeé que muitas das operações militares, se não todas, serão conduzidas em arredores ou no interior de áreas urbanas. O controle de grandes áreas urbanas será crítico nos futuros conflitos para a consecução dos objetivos táticos, operacionais e estratégicos. Aliado a esses fatores, boa parte das cidades está localizada próxima ao mar, tornando os litorais cada vez mais urbanizados, com
a possibilidade real de ocorrência de Operações Militares em Áreas Urbanas durante as Operações Anfíbias. Logo, faz-se necessário o desenvolvimento de uma doutrina para os Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais, bem como o aprimoramento
da instrução e do adestramento específico para esse tipo de operação.
O combate em área urbanizada apregoa o planejamento centralizado e execução descentralizada, implicando um treinamento voltado para desenvolver a iniciativa individual e o trabalho em pequenas frações, os quais precisam ter rapidez, agressividade, coordenação e controle das ações, além de sincronização no uso dos meios disponíveis. As técnicas e táticas individuais de combate, aliadas ao uso correto da iniciativa, influenciam sobremaneira no desenvolvimento do combate, pois nenhum tipo de confronto depende tanto do desempenho individual quanto aquele em área urbanizada.
Em virtude da descentralização das ações militares nesse ambiente operacional, cada vez mais o indivíduo deve ser preparado para o combate urbano.
Exemplos históricos
Alguns exemplos históricos serão comentados sobre como o preparo individual e de pequenas frações influenciaram o desfecho dos combates. Serão abordados dois exemplos. O primeiro tratará de uma comparação entre dois episódios da história dos Fuzileiros Navais norte-americanos: as Batalhas de Huê, na Guerra do Vietnã, e de Fallujah, no Iraque. O segundo, das condutas das forças russas e chechenas durante a Primeira Guerra da Chechênia, em 1994.
Americanos: Durante a Guerra do Vietnã, na chamada Ofensiva do Tet, em 1968, houve um episódio típico de Operações Militares em Áreas Urbanas, ocorrido na cidade de Huê, onde Fuzileiros Navais norte-americanos sofreram pesadas baixas quando tiveram de reconquistar a cidade em questão, tomada por forças nortevietnamitas e por guerrilheiros vietcongues.
Naquela situação, as forças norte-americanas, operando em ambientes rurais e de selva já havia cerca de três anos, depararam-se com uma situação que não estavam habituadas: o combate urbano. Contudo, onde as forças já estavam acostumadas a operar, a realidade era diferente, sendo alguns equipamentos de proteção individuais descartados por causa do peso e do calor causado pela selva.
O inimigo também se comportava de forma diferente, utilizando mais táticas de emboscadas e de lançamento de armadilhas em vez do enfrentamento direto. Porém, em Huê, o inimigo atacou com um efetivo de três batalhões, apoiados por artilharia, de forma coordenada, buscando o enfrentamento direto, tornando a situação diferente.
Essa rápida mudança de cenário operacional e da postura inimiga não foi acompanhada a tempo por uma mudança doutrinária, ocasionando um resultado penoso para os norte-americanos, com cerca de duzentos militares mortos e centenas de feridos em quase um mês de combate.
A realidadeé que muitas das operações militares, se não todas, serão conduzidas em arredores ou no interior de áreas urbanas. O controle de grandes áreas urbanas será crítico nos futuros conflitos para a consecução dos objetivos táticos, operacionais e estratégicos. Aliado a esses fatores, boa parte das cidades está localizada próxima ao mar, tornando os litorais cada vez mais urbanizados, com
a possibilidade real de ocorrência de Operações Militares em Áreas Urbanas durante as Operações Anfíbias. Logo, faz-se necessário o desenvolvimento de uma doutrina para os Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais, bem como o aprimoramento
da instrução e do adestramento específico para esse tipo de operação.
O combate em área urbanizada apregoa o planejamento centralizado e execução descentralizada, implicando um treinamento voltado para desenvolver a iniciativa individual e o trabalho em pequenas frações, os quais precisam ter rapidez, agressividade, coordenação e controle das ações, além de sincronização no uso dos meios disponíveis. As técnicas e táticas individuais de combate, aliadas ao uso correto da iniciativa, influenciam sobremaneira no desenvolvimento do combate, pois nenhum tipo de confronto depende tanto do desempenho individual quanto aquele em área urbanizada.
Em virtude da descentralização das ações militares nesse ambiente operacional, cada vez mais o indivíduo deve ser preparado para o combate urbano.
Exemplos históricos
Alguns exemplos históricos serão comentados sobre como o preparo individual e de pequenas frações influenciaram o desfecho dos combates. Serão abordados dois exemplos. O primeiro tratará de uma comparação entre dois episódios da história dos Fuzileiros Navais norte-americanos: as Batalhas de Huê, na Guerra do Vietnã, e de Fallujah, no Iraque. O segundo, das condutas das forças russas e chechenas durante a Primeira Guerra da Chechênia, em 1994.
Americanos: Durante a Guerra do Vietnã, na chamada Ofensiva do Tet, em 1968, houve um episódio típico de Operações Militares em Áreas Urbanas, ocorrido na cidade de Huê, onde Fuzileiros Navais norte-americanos sofreram pesadas baixas quando tiveram de reconquistar a cidade em questão, tomada por forças nortevietnamitas e por guerrilheiros vietcongues.
Naquela situação, as forças norte-americanas, operando em ambientes rurais e de selva já havia cerca de três anos, depararam-se com uma situação que não estavam habituadas: o combate urbano. Contudo, onde as forças já estavam acostumadas a operar, a realidade era diferente, sendo alguns equipamentos de proteção individuais descartados por causa do peso e do calor causado pela selva.
O inimigo também se comportava de forma diferente, utilizando mais táticas de emboscadas e de lançamento de armadilhas em vez do enfrentamento direto. Porém, em Huê, o inimigo atacou com um efetivo de três batalhões, apoiados por artilharia, de forma coordenada, buscando o enfrentamento direto, tornando a situação diferente.
Essa rápida mudança de cenário operacional e da postura inimiga não foi acompanhada a tempo por uma mudança doutrinária, ocasionando um resultado penoso para os norte-americanos, com cerca de duzentos militares mortos e centenas de feridos em quase um mês de combate.
A partir de Huê (Vietnã), as forças norte-americanas perceberam
a necessidade de se aprimorar nas operações urbanas...
a necessidade de se aprimorar nas operações urbanas...
Esse trágico desfecho da Batalha de Huê foi o resultado da falta de doutrina específica para operações urbanas, de equipamentos apropriados e principalmente de treinamento das tropas nesse ambiente.
Huê foi um marco para as forças norte-americanas, influenciando o destino da guerra e acarretando mudanças doutrinárias profundas nos procedimentos a serem adotados em operações urbanas. A partir daí, as forças norte-americanas perceberama necessidade de se aprimorar nesse tipo de combate, principalmente na definição de uma doutrina específica, na pesquisa de armamentos e em equipamentos adequados ao ambiente urbano e, especialmente, no treinamento para as tropas a pé, de infantaria ou de apoio. Isso porque todos se envolveriam naquele tipo de ambiente e precisariam de treinamento específico para trabalhar em conjunto, pois se havia evidenciado para os norte-americanos que as pequenas frações a pé A partir de Huê (Vietnã), as forças norte-americanas perceberam a necessidade de se aprimorar nas operações urbanas. bem treinadas e com procedimentos doutrinários bem definidos seriam fundamentais para o desfecho
dos combates. Hoje em dia, 40 anos após a Guerra do Vietnã, percebe-se uma grande evolução em todos os aspectos nas forças norte-americanas, particularmente
nas tropas em ação no Iraque.
A utilização de armamentos modernos de última geração, associados a um sistema de Comando e Controle (C2) eficaz, promove uma significativa vantagem tecnológica. Entretanto, a maior evolução verificase nas ações efetuadas pelas tropas a pé, que tiveram procedimentos individuais e de pequenas frações desenvolvidos e padronizados. Novos equipamentos de proteção individual foram produzidos,
como coletes e capacetes balísticos; equipamentos de visão noturna, que boa parte dos militares possui; lunetas, desenvolvidas para diversos tipos de armamentos individuais e coletivos; equipamentos de comunicação individuais, entre outros.
Para atingir esse nível operacional, as tropas norte-americanas, desde sua formação básica e no preparo para emprego no Iraque, receberam treinamento baseado em experiências vividas em situações de combate. Em razão dessas vivências, setores doutrinários desenvolvem, modificam e padronizam a todo tempo procedimentos a serem adotados, mormente os individuais. Diante de tudo o que foi visto, nota-se uma grande preocupação com o indivíduo, com seu preparo e qualificação. A evolução doutrinária dos EUA nas Operações Militares em Áreas Urbanas foi comprovada durante o combate ocorrido em Fallujah, no Iraque, em 2004, quando os norte-americanos realizaram uma grande operação para controlar a cidade e, no seu término, tiveram cerca de vinte mortos e dezenas de militares feridos, em um dos piores episódios ocorridos desde a invasão ao Iraque, em 2003.
Huê foi um marco para as forças norte-americanas, influenciando o destino da guerra e acarretando mudanças doutrinárias profundas nos procedimentos a serem adotados em operações urbanas. A partir daí, as forças norte-americanas perceberama necessidade de se aprimorar nesse tipo de combate, principalmente na definição de uma doutrina específica, na pesquisa de armamentos e em equipamentos adequados ao ambiente urbano e, especialmente, no treinamento para as tropas a pé, de infantaria ou de apoio. Isso porque todos se envolveriam naquele tipo de ambiente e precisariam de treinamento específico para trabalhar em conjunto, pois se havia evidenciado para os norte-americanos que as pequenas frações a pé A partir de Huê (Vietnã), as forças norte-americanas perceberam a necessidade de se aprimorar nas operações urbanas. bem treinadas e com procedimentos doutrinários bem definidos seriam fundamentais para o desfecho
dos combates. Hoje em dia, 40 anos após a Guerra do Vietnã, percebe-se uma grande evolução em todos os aspectos nas forças norte-americanas, particularmente
nas tropas em ação no Iraque.
A utilização de armamentos modernos de última geração, associados a um sistema de Comando e Controle (C2) eficaz, promove uma significativa vantagem tecnológica. Entretanto, a maior evolução verificase nas ações efetuadas pelas tropas a pé, que tiveram procedimentos individuais e de pequenas frações desenvolvidos e padronizados. Novos equipamentos de proteção individual foram produzidos,
como coletes e capacetes balísticos; equipamentos de visão noturna, que boa parte dos militares possui; lunetas, desenvolvidas para diversos tipos de armamentos individuais e coletivos; equipamentos de comunicação individuais, entre outros.
Para atingir esse nível operacional, as tropas norte-americanas, desde sua formação básica e no preparo para emprego no Iraque, receberam treinamento baseado em experiências vividas em situações de combate. Em razão dessas vivências, setores doutrinários desenvolvem, modificam e padronizam a todo tempo procedimentos a serem adotados, mormente os individuais. Diante de tudo o que foi visto, nota-se uma grande preocupação com o indivíduo, com seu preparo e qualificação. A evolução doutrinária dos EUA nas Operações Militares em Áreas Urbanas foi comprovada durante o combate ocorrido em Fallujah, no Iraque, em 2004, quando os norte-americanos realizaram uma grande operação para controlar a cidade e, no seu término, tiveram cerca de vinte mortos e dezenas de militares feridos, em um dos piores episódios ocorridos desde a invasão ao Iraque, em 2003.
As baixas americanas em Fallujah (Iraque) poderiam ter
sido maiores se não houvesse ocorrido uma evolução nos procedimentos
adotados pelos militares e nos equipamentos de proteção individual...
Esses números poderiam ter sido superiores se não houvesse ocorrido uma evolução nos procedimentos adotados pelos militares e nos equipamentos de proteção individual. Comparando-se os episódios, percebe-se um adestramento das forças norte-americanas, pois houvera duzentos mortos, em Huê, e vinte, em Fallujah.
Russos x Chechenos: Outro episódio da história militar recente foi o combate em Grozny, capital da Chechênia, na invasão russa, em 1994, que visava a impedir a independência daquela República, integrante da Ex-União Soviética. Na Batalha de Grozny, uma das piores ocorridas no século XX, houve milhares de mortos, entre russos e chechenos.
Em dezembro daquele ano, uma força militar russa, numérica e tecnologicamente superior, invadiu Grozny, com milhares de soldados e centenas de blindados, baseando-se no Princípio da Massa, e presumiam tornarem-se vitoriosos. Todavia, o terreno urbano comprovou que essa concentração de forças não era suficiente para a vitória, pois não havia doutrina específica nem preparo de pequenas frações para operar naquele ambiente. Isso se deveu ao fato de as tropas russas operarem boa parte do tempo embarcadas em viaturas blindadas, desprezando o princípio básico de apoio mútuo entre os carros e as tropas a pé, demonstrando completo despreparo para o combate, principalmente o urbano.
Do lado checheno, ocorreu o contrário. Com uma força inferior, porém com conhecimento do terreno, com motivação em defender a cidade a qualquer custo, com tropas a pé organizadas em pequenas unidades dotadas de lança-rojões (RPG), metralhadoras e fuzis e, principalmente, com uma doutrina bem definida para o combate urbano, infligiram um elevado número de baixas nas forças russas. Com essa organização, os chechenos conseguiram, durante um dos combates ocorridos na invasão, destruir cerca de cem blindados russos, de um total de cento e vinte, pois tinham conhecimento de que eles possuíam limitação de elevação nos seus armamentos e, aproveitando-se disso, atacaram, a partir de andares altos dos edifícios, os primeiros e os últimos carros, prendendo os blindados e impedindo-os de manobrarem. Em seguida, investiram sobre os demais carros e a infantaria embarcada.
sido maiores se não houvesse ocorrido uma evolução nos procedimentos
adotados pelos militares e nos equipamentos de proteção individual...
Esses números poderiam ter sido superiores se não houvesse ocorrido uma evolução nos procedimentos adotados pelos militares e nos equipamentos de proteção individual. Comparando-se os episódios, percebe-se um adestramento das forças norte-americanas, pois houvera duzentos mortos, em Huê, e vinte, em Fallujah.
Russos x Chechenos: Outro episódio da história militar recente foi o combate em Grozny, capital da Chechênia, na invasão russa, em 1994, que visava a impedir a independência daquela República, integrante da Ex-União Soviética. Na Batalha de Grozny, uma das piores ocorridas no século XX, houve milhares de mortos, entre russos e chechenos.
Em dezembro daquele ano, uma força militar russa, numérica e tecnologicamente superior, invadiu Grozny, com milhares de soldados e centenas de blindados, baseando-se no Princípio da Massa, e presumiam tornarem-se vitoriosos. Todavia, o terreno urbano comprovou que essa concentração de forças não era suficiente para a vitória, pois não havia doutrina específica nem preparo de pequenas frações para operar naquele ambiente. Isso se deveu ao fato de as tropas russas operarem boa parte do tempo embarcadas em viaturas blindadas, desprezando o princípio básico de apoio mútuo entre os carros e as tropas a pé, demonstrando completo despreparo para o combate, principalmente o urbano.
Do lado checheno, ocorreu o contrário. Com uma força inferior, porém com conhecimento do terreno, com motivação em defender a cidade a qualquer custo, com tropas a pé organizadas em pequenas unidades dotadas de lança-rojões (RPG), metralhadoras e fuzis e, principalmente, com uma doutrina bem definida para o combate urbano, infligiram um elevado número de baixas nas forças russas. Com essa organização, os chechenos conseguiram, durante um dos combates ocorridos na invasão, destruir cerca de cem blindados russos, de um total de cento e vinte, pois tinham conhecimento de que eles possuíam limitação de elevação nos seus armamentos e, aproveitando-se disso, atacaram, a partir de andares altos dos edifícios, os primeiros e os últimos carros, prendendo os blindados e impedindo-os de manobrarem. Em seguida, investiram sobre os demais carros e a infantaria embarcada.
Em Grozny (Chechênia), as tropas russas operaram embarcadas em
viaturas blindadas, demonstrando completo despreparo para o combate urbano...
viaturas blindadas, demonstrando completo despreparo para o combate urbano...
Nos primeiros dias da invasão, cerca de dois mil militares russos haviam sido mortos. Entre muitas, algumas lições podem ser comentadas sobre as experiências observadas durante a Guerra da Chechênia. Os russos fundamentaram-se em sua superioridade numérica de pessoal e de material; porém, em terreno urbano, esse diferencial numérico não surtiu grande efeito. Cerca de dois anos depois, assinaram um tratado de paz e retiraram-se, com aproximadamente sete mil e quinhentos militares mortos e milhares de feridos. Por outro lado, o combatente checheno, apesar de numericamente inferior, estava determinado, conhecia bem o terreno e, principalmente, possuía uma doutrina específica em guerrilha urbana, com pequenas frações bem treinadas, requisitos decisivos para a vitória.
Percebe-se que, tanto no caso norte-americano como no checheno, o preparo individual e de pequenas frações foram fatores fundamentais para a vitória nos combates urbanos.
Percebe-se que, tanto no caso norte-americano como no checheno, o preparo individual e de pequenas frações foram fatores fundamentais para a vitória nos combates urbanos.
Fonte: O anfíbio
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