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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A história da bomba atômica no Irã


Os primeiros inimigos

O Irã possuía três inimigos em suas fronteiras. De um lado, o Taleban, que governava o Afeganistão, e a Al Qaeda, a quem os afegãos concediam abrigo. Do outro, estava Saddam Hussein, no Iraque. Este cenário durou até ocorrer o 11 de Setembro e os Estados Unidos ajudarem indiretamente o Irã ao derrubar do poder seus rivais. Melhor, colocou no lugar administrações simpáticas a Teerã, com Hamid Karzai, no Afeganistão, e uma coalizão controlada por xiitas, no Iraque.

A Al Qaeda é inimiga do Irã por questões religiosas. Sunita, a rede terrorista considera os xiitas infiéis. O regime de Teerã, assim como a maioria dos iranianos, seguem a corrente xiita, e, por sua vez, consideram os sunitas infiéis. O Taleban também é sunita, se encaixando no mesmo perfil da Al Qaeda. Some-se à questão religiosa as disputas territoriais que quase levaram afegãos e iranianos a uma guerra no fim dos anos 1990. Para completar, os pashtus compõe a maior parte do Taleban, enquanto o Irã concede apoio a etnias mais fracas.

Saddam Hussein travou uma guerra de dez anos com o Irã nos anos 1980. Foi o mais sangrento conflito do século 20 no Oriente Médio, matando bem mais pessoas do que todas as disputas entre árabes e israelenses. Nesta guerra, os iranianos introduziram a prática dos atentados suicidas justamente contra soldados iraquianos. Antes disso, um muçulmano xiita jamais havia se matado. Os sunitas demorariam um pouco mais.

Irã e Iraque possuíam disputas territoriais. A questão religiosa não teve tanta importância. Por mais que tenha combatido xiiitas nos anos 1990 e tenha nascido sunita, Saddam não tinha religião. Seu vice, Tariq Aziz, era cristão caldeu. O problema com o Irã era territorial e o expansionismo do líder iraquiano. Foi uma guerra nacionalistas. Aliás, xiitas iraquianos, no Exército de Saddam, combateram xiitas iranianos. Afinal, eles são árabes, não persas.

O expansionismo e as ameaças externas

Sem o Taleban e Saddam, o Irã se sentiu mais livre, podendo levar adiante sonhos expansionistas para o Oriente Médio. O regime de Teerã intensificou seu apoio ao grupo xiita libanês Hezbollah, concedeu apoio a organizações xiitas no Iraque e, nas áreas palestinas, se uniu ao Hamas, que, mesmo sunita, viu em Teerã um aliado forte para se livrar do isolamento imposto pelos países árabes e Israel. Também formou uma forte aliança com a Síria, uma ditadura secular, mas, de certa forma, sob o controle político de uma elite alauíta e econômico dos sunitas.

Ao mesmo tempo que isso ocorria, o Irã se sentia ameaçado pelos Estados Unidos. Em 2003, a Guerra no Iraque era um sucesso e no Afeganistão também. A administração de George W. Bush advertia que os iranianos poderiam ser os próximos. Em 2005, foi eleito o radical Mahmoud Ahmadinejad para presidente. Ele pode não ter todo o poder do Irã, onde quem comanda é o líder supremo, Ali Khamanei. Mas seu discurso assustou Israel. Logo, os israelenses começaram a se sentir ameaçados e, consequentemente, passaram a cogitar um ataque contra o Irã.

Com a possibilidade de ser atacado tanto por Israel e pelos EUA, o normal seria o Irã buscar uma bomba atômica. O regime de Teerã sabe que o armamento serve para conter os adversários. Os EUA nunca se meteram com o Paquistão, China e relutam em fazer algo contra a Coréia do Norte porque eles possuem armas nucleares. A arma, neste caso, não serviria para atacar. Por mais radical que seja o regime em Teerã, não há lógica em bombardear Tel Aviv ou Haifa. Em minutos, os americanos e os israelenses varreriam todas as cidades iranianas com mais de 50 mil habitantes do mapa. Sem falar que, no ataque às cidades israelenses, milhares de palestinos seriam mortos também.

O Tratado de Não Proliferação

Mas, mesmo que seja apenas para defesa, o Irã não pode ter estas armas por ser signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear, ficando sujeito a leis internacionais. Precisa colaborar com a Agência Internacional de Energia Atômica. A decisão de integrar o tratado foi de Teerã. Ninguém os obrigou. Outros países não assinaram justamente por se sentirem ameaçados.

Israel, por exemplo, esteve envolvido em quatro guerras contra seus vizinhos, sem falar em conflitos contra grupos palestinos e libaneses. Com sua existência ameaçada, optou por desenvolver armas nucleares, garantindo assim a sua segurança, em vez de assinar o tratado. Oficialmente, os israelenses não negam e tampouco confirmam possuírem armas. A Índia e o Paquistão são inimigos. Como um se sente ameaçado pelo outro, levaram adiante uma corrida armamentista. Hoje, os dois tem armas nucleares e não são signatários.

Os indícios

Não dá para dizer com certeza se o Irã está em busca de armas nucleares. Mas há indícios, como uma usina pequena demais para fins civis, os obstáculos impostos às ações da AIEA, a falta de necessidade de energia nuclear em um país com petróleo abundante, os recentes testes com mísseis de médio alcance. Além disso, entra toda a lógica realista acima.

Pode ser que todos estejam errados, como foi o caso do Iraque de Saddam, onde também existiam indícios. Neste caso, o Irã estaria blefando para se mostrar forte, ao colocar todos estes obstáculos. Fica difícil saber.

Por enquanto, a tática do Ocidente é tentar dialogar. Se não funcionar, endurecer as sanções. Um risco de uma ação dos EUA é nula com Barack Obama no poder. Mas os americanos usam as ameaças de ataque preventivo de Israel como barganha na hora de falar com Teerã. Amanhã, vamos ver o que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e a Alemanha decidem em discussões com os iranianos em Genebra.

Os riscos

Antes de terminar, apenas para ficar claro, o Ocidente não quer que o Irã possua a bomba atômica porque 1) poderia haver uma corrida armamentista na região, com a Turquia e os países árabes buscando a bomba 2) o Irã poderia conceder uma bomba suja para grupos como o Hezbollah 3) os EUA não querem um país inimigo com o armamento 4) o regime de Teerã não é considerado confiável 5) Ameaçado, Israel poderia levar adiante um ataque preventivo e, em uma espiral, haver uma guerra regional em uma das regiões mais estratégicas do mundo

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