A CHINA celebra amanhã, 1º de outubro, os 60 anos da revolução que mudou a história dessa grande nação asiática e influencia de forma decisiva as estratégias geopolíticas e econômicas da atualidade.
Hoje, a contribuição da China para o crescimento mundial é superior à dos EUA e sua economia é considerada mais aberta que a do Japão pelos padrões internacionais. E, se podemos dizer que a China de economia agrária corresponde a um país de passado remoto, vale dizer também que a China dos produtos de baixo valor agregado já pertence ao passado recente, uma vez que se amplia a presença de mercadorias de alta tecnologia na pauta de exportações chinesas.
O Brasil restabeleceu relações diplomáticas com a China em 1975. A aproximação entre os dois países foi intensificada nos governos dos presidentes Fernando Henrique e Lula.
Hoje, a China é o principal destino das exportações brasileiras, superando os EUA, e os dois países fabricam juntos satélites e aviões. A ausência de "contenciosos históricos", como disse o presidente Lula, permite ampla área de cooperação entre as duas nações, da economia à diplomacia.
O que chama a atenção na revolução chinesa de 1949 é o fato de a construção da nova China ter se dado sobre base econômica extremamente atrasada, o que tornou desafios e conquistas ainda mais surpreendentes. Nos anos que precederam a conquista do poder pelo Partido Comunista, a atividade industrial moderna representava 10% da produção nacional, contra 90% da agricultura e da indústria artesanal. Era uma base "pobre e inexpressiva", como costumam definir os próprios chineses.
A reforma agrária posta em marcha pelo governo revolucionário golpeou a estrutura feudal e dos senhores da guerra e liberou a força produtiva de 300 milhões de camponeses, que puderam ter acesso à terra e dedicar-se com entusiasmo à produção.
O Estado aboliu oficialmente atividades consideradas degradantes, como a dos eunucos e a das concubinas, e desenvolveu campanha contra o comércio e o uso do ópio. Em 1952, a produção industrial chinesa já havia aumentado 77,6% em relação a 1949, ano da revolução. Os salários dos trabalhadores tiveram ganho de 70%, e a renda dos agricultores, um aumento de 30% em relação ao período anterior.
A partir daí, a China conheceu uma fase de turbulências marcada por dois movimentos: o primeiro, o Grande Salto à Frente, de caráter voluntarista, buscava alcançar resultados econômicos acima das possibilidades reais e das condições do país. A economia chinesa declinou rapidamente por três anos consecutivos, e o povo viu-se ante grandes dificuldades.
O segundo equívoco recebeu o nome de Grande Revolução Cultural. De traço subjetivista, afetou seriamente o entusiasmo popular na construção nacional, prejudicou a democracia socialista e o equilíbrio da vida social e política. Após dez anos da Revolução Cultural, a economia chinesa estava, em 1976, à beira do colapso. Vistos em perspectiva, esses 60 anos da nova China podem ser divididos em duas grandes etapas.
A que vai de 1949 a 1978, de refundação do Estado e consolidação da independência nacional, de superação do atraso econômico e social e da construção da unidade do povo e do país. Um período muito difícil: tratava-se de modernizar uma sociedade marcada pelo atraso e por desequilíbrios seculares. A grande figura desse período foi o líder maior da transição revolucionária, Mao Tse-tung.
A segunda etapa vai de 1978 aos nossos dias. Período de reformas e abertura. Nessa etapa, a China realizou ampla mudança no campo e nas cidades e nos diferentes setores da economia. Os grandes acontecimentos que marcaram essa fase foram as decisões da terceira sessão plenária do 11º Comitê Central, em 1978, e a fala de Deng Xiaoping aos líderes de Shenzhen, em 1992, quando propôs a busca de um novo caminho do socialismo com características chinesas, a economia socialista de mercado.
Antes de mudar os rumos da China, a direção chinesa mudou o pensamento do Partido Comunista. Adotou como orientação a centralidade da questão nacional, o desenvolvimento da indústria e da agricultura e a elevação do bem-estar do seu povo. O fundamental é a defesa da independência e da unidade da nação e do povo.
É paradoxal que o mais poderoso partido comunista enalteça a unidade do país e do povo, enquanto ONGs e lideranças pretensamente marxistas do Terceiro Mundo valorizam a fragmentação de seus povos a partir da exaltação de subdivisões étnicas e raciais de suas sociedades.
ALDO REBELO , 53, jornalista, é deputado federal pelo PC do B-SP SP e presidente do Grupo Parlamentar Brasil-China. Foi presidente da Câmara dos Deputados e ministro-chefe da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais (2004).
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