´´Observe as tendências mas não Siga a maioria`` Thiago Prado


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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A história da bomba atômica no Irã


Os primeiros inimigos

O Irã possuía três inimigos em suas fronteiras. De um lado, o Taleban, que governava o Afeganistão, e a Al Qaeda, a quem os afegãos concediam abrigo. Do outro, estava Saddam Hussein, no Iraque. Este cenário durou até ocorrer o 11 de Setembro e os Estados Unidos ajudarem indiretamente o Irã ao derrubar do poder seus rivais. Melhor, colocou no lugar administrações simpáticas a Teerã, com Hamid Karzai, no Afeganistão, e uma coalizão controlada por xiitas, no Iraque.

A Al Qaeda é inimiga do Irã por questões religiosas. Sunita, a rede terrorista considera os xiitas infiéis. O regime de Teerã, assim como a maioria dos iranianos, seguem a corrente xiita, e, por sua vez, consideram os sunitas infiéis. O Taleban também é sunita, se encaixando no mesmo perfil da Al Qaeda. Some-se à questão religiosa as disputas territoriais que quase levaram afegãos e iranianos a uma guerra no fim dos anos 1990. Para completar, os pashtus compõe a maior parte do Taleban, enquanto o Irã concede apoio a etnias mais fracas.

Saddam Hussein travou uma guerra de dez anos com o Irã nos anos 1980. Foi o mais sangrento conflito do século 20 no Oriente Médio, matando bem mais pessoas do que todas as disputas entre árabes e israelenses. Nesta guerra, os iranianos introduziram a prática dos atentados suicidas justamente contra soldados iraquianos. Antes disso, um muçulmano xiita jamais havia se matado. Os sunitas demorariam um pouco mais.

Irã e Iraque possuíam disputas territoriais. A questão religiosa não teve tanta importância. Por mais que tenha combatido xiiitas nos anos 1990 e tenha nascido sunita, Saddam não tinha religião. Seu vice, Tariq Aziz, era cristão caldeu. O problema com o Irã era territorial e o expansionismo do líder iraquiano. Foi uma guerra nacionalistas. Aliás, xiitas iraquianos, no Exército de Saddam, combateram xiitas iranianos. Afinal, eles são árabes, não persas.

O expansionismo e as ameaças externas

Sem o Taleban e Saddam, o Irã se sentiu mais livre, podendo levar adiante sonhos expansionistas para o Oriente Médio. O regime de Teerã intensificou seu apoio ao grupo xiita libanês Hezbollah, concedeu apoio a organizações xiitas no Iraque e, nas áreas palestinas, se uniu ao Hamas, que, mesmo sunita, viu em Teerã um aliado forte para se livrar do isolamento imposto pelos países árabes e Israel. Também formou uma forte aliança com a Síria, uma ditadura secular, mas, de certa forma, sob o controle político de uma elite alauíta e econômico dos sunitas.

Ao mesmo tempo que isso ocorria, o Irã se sentia ameaçado pelos Estados Unidos. Em 2003, a Guerra no Iraque era um sucesso e no Afeganistão também. A administração de George W. Bush advertia que os iranianos poderiam ser os próximos. Em 2005, foi eleito o radical Mahmoud Ahmadinejad para presidente. Ele pode não ter todo o poder do Irã, onde quem comanda é o líder supremo, Ali Khamanei. Mas seu discurso assustou Israel. Logo, os israelenses começaram a se sentir ameaçados e, consequentemente, passaram a cogitar um ataque contra o Irã.

Com a possibilidade de ser atacado tanto por Israel e pelos EUA, o normal seria o Irã buscar uma bomba atômica. O regime de Teerã sabe que o armamento serve para conter os adversários. Os EUA nunca se meteram com o Paquistão, China e relutam em fazer algo contra a Coréia do Norte porque eles possuem armas nucleares. A arma, neste caso, não serviria para atacar. Por mais radical que seja o regime em Teerã, não há lógica em bombardear Tel Aviv ou Haifa. Em minutos, os americanos e os israelenses varreriam todas as cidades iranianas com mais de 50 mil habitantes do mapa. Sem falar que, no ataque às cidades israelenses, milhares de palestinos seriam mortos também.

O Tratado de Não Proliferação

Mas, mesmo que seja apenas para defesa, o Irã não pode ter estas armas por ser signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear, ficando sujeito a leis internacionais. Precisa colaborar com a Agência Internacional de Energia Atômica. A decisão de integrar o tratado foi de Teerã. Ninguém os obrigou. Outros países não assinaram justamente por se sentirem ameaçados.

Israel, por exemplo, esteve envolvido em quatro guerras contra seus vizinhos, sem falar em conflitos contra grupos palestinos e libaneses. Com sua existência ameaçada, optou por desenvolver armas nucleares, garantindo assim a sua segurança, em vez de assinar o tratado. Oficialmente, os israelenses não negam e tampouco confirmam possuírem armas. A Índia e o Paquistão são inimigos. Como um se sente ameaçado pelo outro, levaram adiante uma corrida armamentista. Hoje, os dois tem armas nucleares e não são signatários.

Os indícios

Não dá para dizer com certeza se o Irã está em busca de armas nucleares. Mas há indícios, como uma usina pequena demais para fins civis, os obstáculos impostos às ações da AIEA, a falta de necessidade de energia nuclear em um país com petróleo abundante, os recentes testes com mísseis de médio alcance. Além disso, entra toda a lógica realista acima.

Pode ser que todos estejam errados, como foi o caso do Iraque de Saddam, onde também existiam indícios. Neste caso, o Irã estaria blefando para se mostrar forte, ao colocar todos estes obstáculos. Fica difícil saber.

Por enquanto, a tática do Ocidente é tentar dialogar. Se não funcionar, endurecer as sanções. Um risco de uma ação dos EUA é nula com Barack Obama no poder. Mas os americanos usam as ameaças de ataque preventivo de Israel como barganha na hora de falar com Teerã. Amanhã, vamos ver o que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e a Alemanha decidem em discussões com os iranianos em Genebra.

Os riscos

Antes de terminar, apenas para ficar claro, o Ocidente não quer que o Irã possua a bomba atômica porque 1) poderia haver uma corrida armamentista na região, com a Turquia e os países árabes buscando a bomba 2) o Irã poderia conceder uma bomba suja para grupos como o Hezbollah 3) os EUA não querem um país inimigo com o armamento 4) o regime de Teerã não é considerado confiável 5) Ameaçado, Israel poderia levar adiante um ataque preventivo e, em uma espiral, haver uma guerra regional em uma das regiões mais estratégicas do mundo

Os 60 anos da revolução chinesa

A CHINA celebra amanhã, 1º de outubro, os 60 anos da revolução que mudou a história dessa grande nação asiática e influencia de forma decisiva as estratégias geopolíticas e econômicas da atualidade.

Hoje, a contribuição da China para o crescimento mundial é superior à dos EUA e sua economia é considerada mais aberta que a do Japão pelos padrões internacionais. E, se podemos dizer que a China de economia agrária corresponde a um país de passado remoto, vale dizer também que a China dos produtos de baixo valor agregado já pertence ao passado recente, uma vez que se amplia a presença de mercadorias de alta tecnologia na pauta de exportações chinesas.

O Brasil restabeleceu relações diplomáticas com a China em 1975. A aproximação entre os dois países foi intensificada nos governos dos presidentes Fernando Henrique e Lula.

Hoje, a China é o principal destino das exportações brasileiras, superando os EUA, e os dois países fabricam juntos satélites e aviões. A ausência de "contenciosos históricos", como disse o presidente Lula, permite ampla área de cooperação entre as duas nações, da economia à diplomacia.

O que chama a atenção na revolução chinesa de 1949 é o fato de a construção da nova China ter se dado sobre base econômica extremamente atrasada, o que tornou desafios e conquistas ainda mais surpreendentes. Nos anos que precederam a conquista do poder pelo Partido Comunista, a atividade industrial moderna representava 10% da produção nacional, contra 90% da agricultura e da indústria artesanal. Era uma base "pobre e inexpressiva", como costumam definir os próprios chineses.

A reforma agrária posta em marcha pelo governo revolucionário golpeou a estrutura feudal e dos senhores da guerra e liberou a força produtiva de 300 milhões de camponeses, que puderam ter acesso à terra e dedicar-se com entusiasmo à produção.

O Estado aboliu oficialmente atividades consideradas degradantes, como a dos eunucos e a das concubinas, e desenvolveu campanha contra o comércio e o uso do ópio. Em 1952, a produção industrial chinesa já havia aumentado 77,6% em relação a 1949, ano da revolução. Os salários dos trabalhadores tiveram ganho de 70%, e a renda dos agricultores, um aumento de 30% em relação ao período anterior.

A partir daí, a China conheceu uma fase de turbulências marcada por dois movimentos: o primeiro, o Grande Salto à Frente, de caráter voluntarista, buscava alcançar resultados econômicos acima das possibilidades reais e das condições do país. A economia chinesa declinou rapidamente por três anos consecutivos, e o povo viu-se ante grandes dificuldades.

O segundo equívoco recebeu o nome de Grande Revolução Cultural. De traço subjetivista, afetou seriamente o entusiasmo popular na construção nacional, prejudicou a democracia socialista e o equilíbrio da vida social e política. Após dez anos da Revolução Cultural, a economia chinesa estava, em 1976, à beira do colapso. Vistos em perspectiva, esses 60 anos da nova China podem ser divididos em duas grandes etapas.

A que vai de 1949 a 1978, de refundação do Estado e consolidação da independência nacional, de superação do atraso econômico e social e da construção da unidade do povo e do país. Um período muito difícil: tratava-se de modernizar uma sociedade marcada pelo atraso e por desequilíbrios seculares. A grande figura desse período foi o líder maior da transição revolucionária, Mao Tse-tung.

A segunda etapa vai de 1978 aos nossos dias. Período de reformas e abertura. Nessa etapa, a China realizou ampla mudança no campo e nas cidades e nos diferentes setores da economia. Os grandes acontecimentos que marcaram essa fase foram as decisões da terceira sessão plenária do 11º Comitê Central, em 1978, e a fala de Deng Xiaoping aos líderes de Shenzhen, em 1992, quando propôs a busca de um novo caminho do socialismo com características chinesas, a economia socialista de mercado.

Antes de mudar os rumos da China, a direção chinesa mudou o pensamento do Partido Comunista. Adotou como orientação a centralidade da questão nacional, o desenvolvimento da indústria e da agricultura e a elevação do bem-estar do seu povo. O fundamental é a defesa da independência e da unidade da nação e do povo.

É paradoxal que o mais poderoso partido comunista enalteça a unidade do país e do povo, enquanto ONGs e lideranças pretensamente marxistas do Terceiro Mundo valorizam a fragmentação de seus povos a partir da exaltação de subdivisões étnicas e raciais de suas sociedades.

ALDO REBELO , 53, jornalista, é deputado federal pelo PC do B-SP SP e presidente do Grupo Parlamentar Brasil-China. Foi presidente da Câmara dos Deputados e ministro-chefe da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais (2004).

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O poder revolucionário da nanotecnologia

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO ECONOMIA DIGITAL

Ethevaldo Siqueira

Nanotecidos não molham nem mancham. Nanocristais de óxido de zinco podem ser utilizados para fabricar telas ou filtros solares invisíveis, capazes de bloquear a luz ultravioleta. Nanocristais de prata matam bactérias e previnem infecções. O nanoalumínio é um perigoso explosivo. A nanoplatina é um catalisador incrível, que acelera a velocidade das reações químicas. O ouro nanométrico tem propriedades radicalmente diferentes desse metal em seu estado normal. Uma faca de cozinha com fio de corte nanométrico é um instrumento tão afiado que bastará encostar levemente na pele e já estará cortando.

Aplicações práticas de substâncias e produtos como esses, que parecem mágicos, começam a fazer parte de nosso cotidiano, como resultado do progresso da nanotecnologia, um dos campos emergentes mais fascinantes e promissores da ciência e da tecnologia. Altamente interdisciplinar, a nanotecnologia envolve física, química, biologia, ciência dos materiais e praticamente todas as disciplinas da engenharia.

Segundo Henrique Eisi Toma, professor titular do Departamento de Química Fundamental do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), considerado um dos maiores especialistas nessa área no País, "a nanotecnologia fará uma revolução muito maior do que a da microeletrônica, e fará surgir especialidades tecnológicas ou industriais como a nanoquímica, os nanoplásticos, os nanotêxteis, a nanoeletrônica e até os nanocosméticos".

Para se ter uma ideia mais clara da nanotecnologia, é essencial que compreendamos o mundo nano, ou seja, o mundo das dimensões muito pequenas. Em grego, nanós significa anão. Daí a palavra nanico.

Recordemos que o metro tem 100 centímetros. Ou mil milímetros. Ou um milhão de micrômetros. Ou um bilhão de nanômetros. Por outras palavras, um nanômetro equivale a um bilionésimo do metro. Vale lembrar ainda que um nanômetro pode comportar até 7 átomos alinhados. E um nanotubo de carbono é 100 mil vezes mais fino que um fio de cabelo. Conceitualmente, é bom lembrar que a nanotecnologia trabalha com partículas ou objetos que têm entre dez e 100 nanômetros.

O mais surpreendente nesse mundo nanométrico é que os materiais construídos nessa escala apresentam propriedades físicas e químicas bastante diferentes, graças aos efeitos da mecânica quântica.

O professor Toma explica que existem duas razões principais para as diferenças qualitativas no comportamento dos materiais em nanoescala. Primeira: os efeitos da mecânica quântica que se manifestam e passam a atuar nas dimensões muito pequenas e conduzem a uma nova física e nova química. A segunda é a relação entre uma superfície muito grande e o volume dessas estruturas.

O primeiro cientista a conceber a ideia da nanotecnologia foi o físico norte-americano Richard Feyman, ao proferir, em 1959, uma palestra na Sociedade Americana de Física, com o título de Há muito espaço lá em baixo (There"s plenty of room at the bottom). Ele começou sua palestra observando que a oração do Pai Nosso já havia sido escrita sobre a cabeça de um alfinete. Em seguida, perguntou ao auditório: "Por que não podemos escrever os 24 volumes da Enciclopédia Britânica nessa mesma cabeça de alfinete?"

Por ser muito nova, a nanotecnologia ainda enfrenta preconceitos e equívocos. Para refutá-los, o professor Henrique Toma, lembra: "Nosso mundo é essencialmente nanométrico. Ou seja, o mundo nano não é coisa nova, artificial, criada pelo homem. Ele está na natureza e em nós mesmos, nas biomoléculas que promovem a vida. Ele está no arco-íris, na asa da borboleta, no brilho das pedras e do asfalto, e em tudo que ingerimos, do leite ao café, e muita coisa que respiramos".

Diversos fenômenos da natureza têm inspirado pesquisas em nanotecnologia, como, por exemplo, as características das patas das lagartixas que andam no teto sem cair. Ou no mundo das cores, pois as ondas de luz têm dimensões nanométricas. Até a cor azul dos olhos das pessoas é um bom exemplo porque não decorre de pigmentos, mas de um fenômeno do mundo nano.

"Muitos setores da tecnologia já trabalham nessa área", explica o professor Toma, "com o propósito de produzir revestimentos coloridos sem o uso de pigmentos, ou que mudem de cor por meio de estímulos físicos ou químicos (efeito camaleão)".

Há substâncias que têm uma grande afinidade pela água e, por isso, são chamadas de hidrofílicas. Outras, contrariamente, têm repulsa. São as hidrofóbicas. Sobre elas a água não consegue permanecer parada e acaba carregando todos os detritos de sujeira, tornando o material autolimpante. É o conhecido como efeito Lótus, observado através das gotículas brilhantes de água que ficam dançando sobre as folhas dessa planta aquática.

Esses fatos não são mera curiosidade. Na realidade, com base no efeito Lótus, a nanotecnologia deverá criar tecidos e revestimentos autolimpantes, para produtos como roupas de trabalho, capas de chuva e artigos esportivos.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Conhecimento que impõe respeito

Vasconcelo Quadros e Leandro Mazzini, Jornal do Brasil

BRASÍLIA - Especialista em estratégia militar e ex-ministro Alberto Mendes Cardoso, ex-chefe da Casa Militar e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Fernando Henrique Cardoso, confirmou ontem que o Brasil já domina o conhecimento e, se quisesse, poderia dirigir a tecnologia à construção da bomba nuclear.

– O país sabe como fazer, mas há fatores que impedem – admitiu o militar, que lembrou o fato de que o Brasil, além de processar urânio apenas para fins pacíficos, tem compromisso expresso na Constituição para não desenvolver armas atômicas e está submetido aos tratados internacionais de não proliferação de armas nucleares.

Uma das maiores autoridades do país em energia nuclear, com 35 anos de atividade no setor, o professor do Instituto Militar de Engenharia (IME) do Exército, Rex Nazaré Alves, também confirma, conforme noticiou o Jornal do Brasil no domingo, que o país já domina o conhecimento e a tecnologia necessária para a fabricação da bomba. Ele diz que se o país tivesse interesse, desenvolveria a bomba atômica porque já atingiu um padrão de conhecimento.

– O Brasil cumpre seus compromissos internacionais – ressaltou Alves, que foi assessor especial do Ministério da Ciência e Tecnologia, do GSI e atualmente dirige o departamento de Tecnologia da Fundação ao Amparo à Pesquisa do Estado do Rio. Alves não é favorável à bomba, mas diz que o Brasil deve desenvolver e dominar toda a cadeia do conhecimento. – O respeito surge quando a outra parte se faz respeitar. Um dos princípios é o desenvolvimento. Tem que dominar a tecnologia nuclear e todas as outras, senão não é desenvolvimento. Desse ponto de vista temos todo o conhecimento.

Alves também lembra que o Brasil é fiel à Constituição e aos tratados e que se optasse por construir a bomba, acabaria com a paz no continente Sul Americano.

– Não é necessário ter a bomba. O importante é ter as condições para fabricar – completa o general Cardoso. A posição do ex-ministro de FHC e de Alves coincidem com as descobertas do físico Dalton Girão Ellery Barroso, do IME, sobre o avanço da pesquisa brasileira para o domínio do conhecimento sobre a bomba atômica.

No livro A Física dos Explosivos Nucleares, onde publica a maior parte de sua tese de doutorado no IME, Barroso mostra cálculos e equações em que desvendou a figura de uma ogiva nuclear americana, a W-87, cujo modelo original era mantido em segredo. O que se sabia, até então, eram as dimensões externas da ogiva. Barroso foi ao interior da figura. Chegou a resultados aceitáveis pela comunidade científica usando um sistema de cálculos computacionais que ele mesmo criou para fazer o cruzamento de modelos físicos e matemáticos conhecidos. No final, acertou até a potência do artefato, que tem 300 quilotons.

As conclusões provocaram uma reação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), entidade que fiscaliza os programas nucleares no mundo, que tentou retirar de circulação o livro com a tese Simulação Numérica de Detonações termonucleares em Meios Híbridos de Fissão-Fusão Implodidos pela Radiação. O caso provocou um conflito de posições entre os ministros da Defesa, Nelson Jobim, e das Relações Exteriores, Celso Amorim. Jobim refutou as suspeitas de que o Brasil pudesse estar fazendo experimentos nucleares e garantiu o trabalho do físico brasileiro. Senadores da Comissão de Relações Exteriores e Defesa pretendem convocar Jobim, Amorim e outras autoridades militares para explicar o caso no Congresso.

23:17 - 07/09/2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

EUA dominam 68% do mercado de armas

País lucrou US$37,8 bilhões em vendas em 2008, tendo como principais clientes nações em desenvolvimento

Thom Shanker

NOVA YORK. Apesar da recessão que deu um golpe no mercado bélico global ano passado, os Estados Unidos expandiram seu papel como líder no fornecimento de armamentos, aumentando sua fatia no mercado em mais de dois terços de todos os negócios internacionais, conforme novo estudo do Congresso. O país assinou acordos no valor de US$37,8 bilhões em 2008, ou 68,4% de todos os negócios do mercado global de armas, um aumento bastante significante em relação às vendas do ano anterior, que somaram US$25,4 bilhões.

A Itália ficou num distante segundo lugar, com US$3,7 bilhões em 2008 enquanto a Rússia se posicionou em terceiro, fechando o ano com US$3,5 bilhões - uma queda considerável em comparação a 2007, quando Moscou fechou acordos no valor de US$10,8 bilhões.

O crescimento na venda de armamentos pelos Estados Unidos ano passado foi particularmente notável em oposição à tendência mundial. Em 2008, o valor total de venda de armas em todo o mundo foi de US$55,2 bilhões, o que representa uma queda de 7,6% em relação a 2007.

Essa ampliação dos negócios americanos "foi atribuída não somente às novas grandes encomendas de clientes no Oriente Médio e na Ásia, mas também à manutenção de equipamentos e aos contratos de serviços de apoio com um número amplo de clientes dos Estados Unidos globalmente", de acordo com o estudo, intitulado "Transferência de armamento convencional para países em desenvolvimento".

Lucro extraordinário em tempos de crise

O relatório anual foi produzido pelo Serviço de Pesquisa do Congresso e foi considerado a mais detalhada coleta de dados de vendas globais de armas não classificadas disponíveis para o público.

O declínio no mercado de armamentos em 2008 pode ser explicado pela relutância de muitas nações em fazer novas encomendas de armas "diante da severa recessão internacional", escreveu Richard F. Grimmett, especialista em segurança internacional e principal autor do estudo.

O relatório de Grimmett considera o aumento nas vendas pelos Estados Unidos "extraordinário" em tempos de crise. Nesse mercado altamente competitivo, países buscam lucro e influência política por meio das vendas de armamentos, em particular para as nações em desenvolvimento.

A venda de armas para países em desenvolvimento alcançou um volume de US$42,2 bilhões em 2008, apenas uma expansão simbólica em comparação aos US$41,1 bilhões de 2007.

Os Estados Unidos são o líder não apenas na venda de armas globalmente, mas também especificamente para nações em desenvolvimento, assinando US$29,6 bilhões em acordos com estes países, ou 70,1% dos negócios feitos com esse grupo. O estudo mostra que os contratos fechados pelos Estados Unidos no passado incluem US$6,5 bilhões em defesa aérea para os Emirados Árabes, US$2,1 bilhões em jatos militares para o Marrocos e US$2 bilhões em helicópteros para Taiwan. Entre os principais clientes estão Índia, Iraque, Arábia Saudita, Egito, Coreia do Sul e Brasil.

A Rússia ficou em segundo lugar nessa categoria em 2008, com US$3,3 bilhões em vendas para países em desenvolvimento, cerca de 7,8% desses acordos. O relatório aponta que apesar de Moscou continuar a ter China e Índia como seus principais clientes, o novo foco russo é a América Latina, especialmente a Venezuela. A França ficou em terceiro, com US$2,5 bilhões, ou 5,9% desse mercado.

O principal comprador de armas em 2008 entre as nações em desenvolvimento foram os Emirados Árabes (US$9,7 bilhões), seguido da Arábia Saudita (US$8,7 bilhões) e do Marrocos (US$5,4 bilhões).

Geisel e Lula

Carlos Alberto Sardenberg*

Não foi por acaso que parte da esquerda brasileira se encantou com a política econômica do presidente Ernesto Geisel, na década de 70. O general, que trazia uma bronca dos americanos, a qual caía muito bem para o figurino, tinha uma visão de economia muito ao gosto do que se chamou de ala desenvolvimentista da América Latina: o Estado comanda as atividades econômicas, investindo, financiando, subsidiando, autorizando (ou vetando) os negócios e a atuação de empresas, determinando ainda quais setores devem ser estimulados. Mais ainda: com a força das estatais e seus monopólios, o governo organizava empresas para atuar em determinadas áreas.

O presidente Geisel, como se vê, tinha mais poderes do que o presidente Lula. Todos os setores importantes da economia estavam nas mãos de estatais, de modo que o controle era mais direto. Além disso, havia o AI-5, instrumento de poder absoluto. Quando o presidente dizia a um empresário ou banqueiro o que deveria fazer, a proposta, digamos assim, tinha uma força extra.

Lula, mesmo com menos poderes, tenta fazer do mesmo modo. Geisel era o dono da Vale. Lula não é, mas pressiona os atuais controladores da mineradora para que ajam deste ou daquele modo.

Geisel montou empresas, como as famosas companhias da área petroquímica, tripartites, constituídas por uma companhia estrangeira, uma nacional privada e uma estatal, na base do um terço cada. Aliás, convém notar: não faltaram multinacionais interessadas. O capital não se move por ideologia, mas por... dinheiro. Devia ser um bom negócio entrar num país sem competição e com apoio do governo local.

Do mesmo modo, as multinacionais do petróleo vão topar (ou não) o novo modelo de exploração do pré-sal não por motivos políticos, mas pela possibilidade de ganhar (ou não) dinheiro. E pela segurança do negócio.

De certo modo, o ambiente todo era mais seguro no tempo de Geisel. Não havia como se opor às determinações do presidente. Fechado o negócio com o seu governo, estava fechado. Com o Legislativo, o Judiciário, partidos e imprensa manietados, como se opor ou mesmo discutir?

Hoje, o presidente Lula tem as limitações de um regime democrático, além de seu poder econômico ter sido muito reduzido depois das privatizações e da rearrumação da ordem econômica. Ainda assim, tem instrumentos poderosos, como o BNDES, e a possibilidade de manipular a carga tributária, aumentando e reduzindo conforme seu interesse neste ou naquele setor.

Ora, o financiamento do BNDES, por ser subsidiado pelo contribuinte brasileiro, é o mais vantajoso da praça. Num país de carga tributária tão elevada, qualquer redução dá uma vantagem enorme ao setor beneficiado. Assim, em vez de se concentrar em seu negócio, pode ser mais útil para o empresário fazer o lobby em Brasília.

De certo modo, Lula até organizou essa ida a Brasília, ao pôr representantes dos empresários no Conselhão (o Conselho de Desenvolvimento) e em diversos comitês, como este mais recente, de avaliação da crise.

Geisel fortaleceu a Petrobrás, da qual, aliás, havia sido presidente. Verdade que a esquerda não gostou dos tais contratos de risco de exploração de petróleo, criados pelo presidente numa tentativa de atrair mais capitais. Mas não funcionou. O que funcionou foi a enorme expansão da Petrobrás, que então já era dona exclusiva do monopólio do petróleo.

Geisel levou-a à petroquímica, ao comércio externo e ao varejo dos postos de gasolina. Com privilégios. Geisel reservou para a estatal a instalação de postos de gasolina em determinadas estradas e áreas.

O presidente Lula trata de devolver à Petrobrás privilégios que perdeu com a Lei do Petróleo de 1997.

Outra coisa comum aos dois governos é o apreço por obras grandiosas. Não é por acaso que Lula tenta retomar alguns programas de Geisel, como as usinas nucleares.

Mas há aí uma grande diferença. Geisel fazia, punha os projetos na rua, como a Ferrovia do Aço, o programa nuclear (feito com os alemães, para bronca dos americanos) e tantos outros. Mais fácil, claro: não tinha licença ambiental, não tinha Ministério Público, nem sindicatos, nem juízes para parar obras na base de liminares.

Hoje, Lula tenta driblar esses "estorvos", mas vai tudo mais devagar.

E - quer saber? - pode até ser bom para o País. O estrago será menor. Porque, esse é o resultado geral, o governo Geisel deixou uma ampla coleção de cemitérios fiscais e empresariais. Enquanto o Brasil conseguiu financiamento externo - com os bancos internacionais passando para os países em desenvolvimento os petrodólares, a juros baratos -, o modelo ficou de pé.

Com a crise mundial dos anos 70 - com inflação e recessão, consequência da alta dos preços do petróleo, de alimentos e, em seguida, do choque de juros - a fonte secou e o Brasil quebrou.

Resultaram estatais tão grandes quanto ineficientes. Lembram-se das teles? Havia a Telebrás e uma estatal federal em cada Estado. E uma linha fixa de telefone, em São Paulo, custava US$ 5 mil.

Resultaram também empresas mistas e privadas absolutamente ineficientes, as produtoras das carroças, que só vendiam alguma coisa aqui dentro porque era proibido importar. De computadores e carros a macarrão. Só quando o comércio externo começou a ser aberto, no governo Collor, a gente soube o que era um verdadeiro espaguete.

Não foi por azar que tivemos uma década perdida, com inflação descontrolada, contas públicas falidas, dívida externa não financiável e empresas incapazes, que só existiam à sombra do dinheiro e da proteção do Estado. Ou seja, com o dinheiro do contribuinte.

Convém pensar nisso quando Lula, por exemplo, força o Banco do Brasil a ampliar o crédito e reduzir os juros na marra ou quando leva o BNDES a financiar cada vez mais bilhões. Os bancos públicos já quebraram mais de uma vez. O Brasil também.

*Carlos Alberto Sardenberg é jornalista

domingo, 6 de setembro de 2009

Geração Y

Jovens dinâmicos, impacientes e insubordinados modificam o mercado de trabalho 14/07/2009
Maxsuel Siqueira

Acompanhe a trajetória de jovens que fazem parte de uma geração que representa hoje o futuro de qualquer empresa.

*Guilherme Tossulino, 26 anos, começou a carreira cedo e em pouco tempo passou por diferentes companhias. Formado em Sistemas de Informação, teve pressa em acumular experiências profissionais e atualmente é analista de sistemas do Instituto de Estudos Avançados (IEA), em Florianópolis, Santa Catarina.

*Mestranda do programa de pós-graduação em Ciência, Gestão e Tecnologia, Paula Carina tem um currículo extenso: formou-se em Biblioteconomia e foi pesquisadora de inteligência competitiva, pela Knowteck. Segue carreira pública e, de quebra, presta serviço de consultoria informacional.

*Bacharel em Design Gráfico e especialista em web, Diego Homem mora em Dubai e trabalha como gerente de conteúdo em uma agência web, a Flip Media. "A experiência em Dubai faz parte de um antigo sonho. Quando retornar ao Brasil, não descarto a possibilidade de trabalhar em outras capitais, mas antes quero conhecer o trabalho de TI em outros países", explica.

Guilherme Tossulino, Paula Carina e Diego Homem são típicos representantes da mais nova geração de profissionais que desafiam, mais do que nunca, as regras de atração e retenção de talentos. Eles têm algo a mais em comum: Diego e Guilherme criaram o blog Minha Carreira, espaço onde compartilham tudo que sabem sobre o mundo corporativo. Paula Carina chegou depois e hoje são quatro colaboradores. A caçula é a carioca Liliane Fonseca, de apenas 22 anos. "Futura trainee, quase publicitária e estagiária de Comunicação", como ela mesma se define.

A Geração Y, formada pelos nascidos nos anos 1980, domina um quarto da população mundial e que logo dominará a força de trabalho, consumo e política mundiais. Também conhecida Geração Millenial, já que entraram no mercado na virada do século, é um grupo composto por jovens criativos, familiarizados com diversas tecnologias e ávidos por desafios. Almejam uma carreira meteórica, possibilidade constante de crescimento, flexibilidade de horário e compartilham a idéia do "trabalho para viver, não vivo para trabalhar". Eles enxergam no salário a fonte de recursos para investir em conhecimentos, roupas, viagens, carros e celulares; assinam a maioria dos blogs; sugerem pautas para a imprensa nacional; discutem em fóruns e estão em maior parte nas mídias sociais. Um motivo para investir neles? Não são promessas. Além do mais, vão comandar as empresas e o país em um futuro próximo.

Gestores de grandes companhias se sentem inseguros. Professores são diariamente confrontados por alunos impacientes com aulas expositivas. Pais não sabem o que fazer. A constatação é única: velhas práticas precisam ser revistas. Os jovens Y possuem novos valores profissionais e novos conceitos para conhecidos termos, como fidelidade e paciência. Eles usam a mesma informalidade das conversas por e-mails no contato com o chefe ou presidente da empresa. Não se importam com certos protocolos da hierarquia e acreditam definitivamente que tempo de carreira só é posto no exército.

Geração Y busca por novos desafios no mercado de trabalho

A velha idéia de que "para chegar lá" e ter uma vida feliz é necessário muito esforço e trabalho não funciona com os jovens Y. Eles querem tudo ao mesmo tempo, sem abrir mão de um só momento de lazer. Os pais, não querendo repetir o abandono e a rigidez das gerações anteriores, educaram seus filhos com uma maior flexibilidade. "As gerações que já estão na empresa foram acostumadas em trabalhar com dedicação e reconhecimento por tempo de trabalho. A Geração Y só fica numa empresa se (e enquanto) estiver aprendendo. Não aceitam trabalhar somente por um prato de comida. Precisam se sentir importantes na companhia", afirma a pesquisadora da Companhia de Talentos, Renata Damásio.

Renata Damásio acredita que o Recursos Humanos das companhias vem evoluindo lentamente, deixando de ser apenas uma compartição, atuando de forma estratégica. "O que estamos assistindo é uma retomada da dimensão humana após anos seguidos de ambição material e consumo irresponsável. Na Era Industrial os funcionários eram vistos como recurso, assim como a tecnologia, o capital e a infraestrutura. A geração Y termina por dar um basta nisso, já que sobrenome corporativo e posição no mercado não seguram mais esses jovens nas empresas", explica.

Um relatório anual realizado pela Cia. de Talentos mostrou que a chance de ter novos desafios superou a imagem da empresa como principal razão para escolher um empregador. A última edição foi feita entre maio e junho do ano passado com cerca de 27.661 jovens brasileiros, entre 17 e 28 anos, universitários e graduados. O estudo revelou ainda que crescimento profissional e qualidade de vida estão no topo das necessidades. Do total, 97% afirmaram saber Inglês e 76% disseram estar prontos para enfrentar o mercado de trabalho. De fato, uma nova era. "A empresa ideal é lugar onde eu possa ser ouvido, valorizado, onde tenha a chance de colaborar e aprender", declara o jovem estudante paulistano Sergio Rodrigues, 18 anos.

Largamente discutido nos Estados Unidos, o tema é novidade aqui no Brasil. "A sociedade passou por diferentes esferas de poder: a posse de terra, de bens, de capital e, recentemente, de informação. O problema é que os mais velhos continuam dando à informação mais valor do que deveria ter hoje. Acreditar que o chefe deve ser o mais bem informado é falso, já que ninguém é capaz de manter informação por muito tempo e muito menos dar conta de estar informado sobre tudo. O jovem Y sabe disso. O que o atrai é a capacidade de conexão, de networking de seu líder", afirma o autor do primeiro livro brasileiro sobre o tema, Sidnei Oliveira.

Para Sidnei Oliveira, as respostas mudaram porque as perguntas não são mais as mesmas. "Os novos profissionais não querem controles rígidos. Eles exigem liberdade para andar com as próprias pernas. Algo como: 'me fale a direção, mas me deixa seguir sozinho. Só me avise se estiver errando, caso contrário não interfira no meu processo. Não questione se estou de Jeans, All Star, se uso pircing
ou se meu cabelo é laranja'", revela.

"A história determina uma cultura, que determina um comportamento", é desta forma que a consultora e presidente do Grupo Foco, Eline Kullock, entende as diferenças de comportamento entre a gerações. Formada em Administração de Empresas e MBA Executivo, Kullock também é sócia, há 13 anos, da Stanton Chase Internacional, multinacional de 'executive search', localizada em Londres. Pesquisadora das tendências do comportamento e a influência dos video games na atuação profissional dos jovens, ela explica como compreender melhor o fenômeno dessa nova geração.

O que define uma geração? Na sua opinião, estas mudanças ocorrem da mesma maneira ao redor do mundo?

Eline Kullock - O assunto ganha força nos países com alta taxa de natalidade. Além disso devemos saber que a história determina uma cultura, que determina um comportamento. Quando a geração Baby Boomer era jovem, o Brasil era subdesenvolvido. Com o tempo passou a ser chamado de país em desenvolvimento. A Geração Y cresceu com uma auto-estima diferente. A geração passada viveu uma ditadura militar e o pior é que não havia uma forma de avisar ao mundo o que estava acontecendo. O Brasil era mais fechado, não havia tantas multinacionais. Atualmente os jovens encontram um mercado expansivo, com muitas opções de escolha e uma acirrada guerra de talentos.

O que esta geração tem de especial em relação às demais?

Todos somos influenciados pelas características de todas as gerações, mas trata-se da primeira que aprendeu com seus pares. Os filhos chegam hoje em casa e perguntam: "Faço vestibular para Midialogia, Ciências do Consumo ou Direito de Internet?" O que responder? Instituições como a família, escola e o trabalho estão perdendo sua força tradicional porque estes jovens se deram conta de que já não temos mais as respostas.

Como definir o momento que estamos vivendo?

Antigamente, dizíamos "geração passada", para falar dos mais velhos. Hoje falamos da convivência de diferentes gerações em casa, na escola, no meio social e no trabalho. A imagem que a gente tinha das pessoas com mais de 60 anos era aquela de nossa avó sentada numa cadeira de balanço. A medicina deixou claro que a vida não acaba na terceira idade, logo os mais velhos não querem se aposentar e levar uma vida monótona. A expectativa de vida aumentou.

Os mais velhos se sentem desconfortáveis com a chegada de novos talentos no trabalho?

O Baby Boomer é pai do jovem Y que está no mercado. A geração X ficou no meio disso e para eles parece injusto que os mais novos encontrem as coisas "mais fáceis", já que foram obrigados a obedecer a controles rígidos por tanto tempo.

Como lidar com os jovens da Geração Y?

Colocando-os para trabalhar em grupo. São bons nisso. Colaboram quando há um objetivo em comum. Afinal, foram eles que criaram e alimentam a wikipédia. Priorizam aprender, portanto buscam e permanecem em empresas de onde possam tirar o máximo de conhecimento e, não é que não gostem de dinheiro, eles gostam, afinal levam uma vida intensa e precisam cobrir essas despesas, mas necessitam sentir que estão crescendo a partir das tarefas que realizam. Algumas empresas já se deram conta de que é preciso oferecer integração entre trabalho e diversão. Quanto a restrições no trabalho, é melhor pensar duas vezes antes de bloquear o acesso ao orkut, msn e outras formas de relacionamento.

O que os tornou tão ansiosos?

Quem já viveu uma experiência fora do Brasil há 20, 30 anos sabe bem do quanto fazer uma ligação era algo raro e caro. É injusto obrigarmos que eles sejam tão pacientes como fomos. Mesmo o que moram fora dos grandes centros urbanos são contaminados pelo novo conceito de tempo, seja pela internet ou mesmo pelo celular. O conceito mudou. Não havia fastfood, drive-through, disc delivery e outras comodidades como temos hoje.