´´Observe as tendências mas não Siga a maioria`` Thiago Prado


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quinta-feira, 16 de julho de 2009

Crise de identidade no Iraque com saída das tropas

Thomas L. Friedman

Colunista do New York Times

Estou em um quartel general no centro da cidade de Kirkuk – distrito rico em petróleo no norte do Iraque que é o local mais disputado do país. Os líderes da província – sunitas, curdos, turcos e cristãos – vieram para se reunir com a maior autoridade militar dos EUA: o almirante Mike Mullen, presidente da Junta de Chefes de Gabinete.

Todos os 11 líderes iraquianos estão sentados de um lado da mesa de reunião e oficiais americanos locais me deram um guia, identificando cada político iraquiano, suas tendências políticas e religiosas. Cada líder iraquiano diz ao almirante, por meio de um tradutor árabe, por que a comunidade dele ou dela merece ter essa ou aquela fatia de Kirkuk, até um representante curdo anunciar em inglês: "Quero contar uma piada". É meu dia de sorte.

– Depois que Saddam foi expulso em 2003 havia um cidadão mais velho que queria escrever uma carta para o novo governo para explicar todos os seus sofrimentos na era Saddam – disse Rebwar Talabani, presidente substituto do Conselho da Província. –- Mas ele era analfabeto. Como você deve saber, do lado de fora de nossos escritórios do governo temos escritores profissionais de cartas para analfabetos. Então, o homem relatou ao escritor todos os seus problemas. "Nos anos 50, eles destruíram minha casa", disse. "Nos 60, mataram dois de meus filhos. Nos anos 70, confiscaram minhas propriedades", e por aí vai, até hoje. O escritor da carta escreveu tudo. Quando terminou, o homem perguntou se o escritor podia ler para ele antes de dar ao governador. Então, o escritor leu em voz alta. Quando terminou, o homem bateu na cabeça e disse, "Isso está tão bem feito; não tinha ideia de que tudo isso tinha acontecido comigo".

A piada de Talabani pareceu ter sido direcionada tanto para seus colegas iraquianos quanto para Mullen. Minha tradução: todos aqui temos uma história, e, na maioria das vezes, é dolorosa. Nós, iraquianos, adoramos contar nossas histórias e quanto mais o fazemos melhor fica. Mas com vocês, americanos, indo embora, precisamos decidir se continuamos contando nossas histórias ou se aprendemos a lidar com nossas diferenças.

E essa é minha conclusão acerca dessa visita: os iraquianos sabem quem foram, e nem sempre gostam, mas ainda não sabem que país querem ser. Eles estão exaustos de anos de guerra civil e não querem isso de novo. Nas grandes questões não resolvidas – como o poder será compartilhado em Kirkuk, como os sunitas serão absorvidos pelo governo, como o petróleo e o poder serão divididos entre as províncias e o governo central – as comunidades étnicas diferentes não estão dispostas a ceder muito.

Mullen disse aos líderes iraquianos ao redor da mesa:

– Os Estados Unidos não vão resolver os problemas do Iraque. Isso é trabalho para uma nação soberana. Então, é melhor que os iraquianos ponham as mãos à obra, porque as forças de coalizão não estarão aqui em 18 meses.

É uma importante mensagem - do contrário os iraquianos vão adiar indefinidamente a resolução de suas grandes disputas internas. Não podemos fazer isso para eles, mas nossos diplomatas poderiam ajudá-los a produzir esses compromissos. O vice-presidente Joe Biden fiscaliza a política do Iraque, mas ele tem mais o que fazer. O Iraque precisa de um mediador grande, forte e em tempo integral.

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