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domingo, 21 de setembro de 2008

Como aprender mais sem estudar mais

O neurocientista americano Wilkie Wilson afirma que a adolescência é uma oportunidade única para “turbinar” a mente. Para ele, as condições químicas do cérebro e a emotividade dos adolescentes criam um ambiente favorável pra a retenção de informações
thiago cid


Se você é adolescente e reclama que seus pais pegam muito no seu pé por causa dos estudos, no fundo você sabe que eles estão certos em te mandar sair do computador e estudar mais. O motivo é sempre o mesmo: “se você quer ser alguém na vida, tem que estudar!” O neurocientista Wilkie Wilson, da Universidade de Duke, no Estados Unidos, diz o mesmo. Mas com uma explicação científica que não vai cheirar a implicância de pai. Ele afirma que o cérebro adolescente tem uma capacidade maior de reter informações em nível consciente. Os motivos ainda estão sendo estudados, mas ele garante que se o jovem fizer um esforço maior nesta parte da vida, irá aprender mais sem ter de estudar mais – o que soa como melodia para qualquer ouvido adolescente. “Por isso digo a eles que pensem que há apenas uma chance para deixar o cérebro super ‘antenado’. Não desperdicem”.

Para Wilson, que passou os últimos 20 anos estudando a maneira como o cérebro armazena as informações, a explicação é simples: o cérebro está em formação, e se você exercitá-lo bastante agora, os ganhos serão permanentes. Mas por exercitá-los é bom que se entenda que a ginástica cerebral não é apenas empenhar-se nos estudos. “Aprenda esportes difíceis, linguagens de computador, viaje, conheça pessoas, participe de debates“, aconselha Wilson. O esforço combinado dos estudos com experiências que exigem raciocínio e interação social permitem que o cérebro de um adolescente fique “plugado”. Os benefícios são “capacidades humanas sofisticadas”, como a habilidade para fazer várias coisas ao mesmo tempo e a capacidade de antecipar as conseqüências de fatos e das próprias ações.

O professor Wilson não quer dizer que os adultos não continuam aprendendo. Ele salienta que os jovens devem ter consciência que se exercitarem o cérebro agora, irão ter ganhos permanentes que se traduzirão em facilidade de aprendizado e clareza de pensamento por toda a vida. Os cérebros jovens têm características muito próprias que permitem este impulso na adolescência. Como jovens, explica Wilson, “eu me refiro aos adolescentes, mas também a uma pessoa até o início dos vinte anos”. A química do cérebro do adolescente é diferente da encontrada no cérebro de um adulto. Os neurocientistas acreditam que essa diferença cria um ambiente favorável à retenção das informações.

Correr riscos de maneira positiva é ponto-chave da estratégia
Além disso, a mesma química cerebral faz com que os jovens tenham mais capacidade de correr riscos. Se desafiados de maneira positiva, os adolescentes podem mostrar desempenhos fantásticos porque fazem tudo de maneira apaixonada.“Assim como os esportes, se os estudos forem vistos como um desafio, algo que os motive a se superar, com certeza eles irão achar divertido e se empenhar nisso. “Esse é o motivo de eu incentivar que se proponha desafios. Para não ser algo que eles considerem chato. Se eles concluírem que estudo é chato, mesmo que saibam da importância, podem não se dedicar a eles”.

Usar a capacidade do adolescente de aceitar desafios e correr riscos de uma maneira positiva é um dos pontos-chave nas estratégias do professor Wilson para turbinar a mente dos jovens. Em vez de utilizar esse flerte com a adrenalina de forma destrutiva, como drogas e sexo irresponsável, o jovem pode ser estimulado como aprendendo coisas instigantes como esportes radicais, alguma técnica artística ou até abrindo seu próprio negócio – uma prática que o neurocientista aconselha, pois promove uma grande mudança na cabeça dos jovens em termos de responsabilidade, desempenho e até uma ambição saudável.

A tática de Wilson para convencer o adolescente é falar diretamente a eles. Além de mostrar os benefícios futuros de um esforço extra agora, ele tem um outro argumento, que não precisa de ciência nenhuma para fazer efeito. “Viva a vida, mas também se lembre que esse é o momento que você tem para estudar. É frustrante ficar mais velho e se dar conta que deveria ter jogado menos videogame para estudar mais e ter uma profissão melhor”.

Em entrevista a ÉPOCA, o professor Wilson citou sete conselhos simples os adolescentes afiarem mente e aproveitar essa oportunidade única para deixá-la afiada por toda a vida.

Vá para cama cedo – Se você pensa que seus pais te perturbam para dormir cedo porque eles são chatos, saiba que a implicância pode ter fundamento científico. O sono é importante porque dormindo as células nervosas repetem os pensamentos do dia. Ao fazer isso, elas se modificam e transportam as informações para a área de armazenamento permanente no cérebro. É como se durante o sono o cérebro gravasse um CD com as informações adquiridas durante o dia. Se o sono for interrompido, é como se retirasse o CD no meio da gravação. Não é preciso lembrar que uma noite mal dormida atrapalha a concentração e a performance no dia seguinte. E já que os adolescentes precisam dormir de nove a 10 horas por dia, vá para cama cedo para não ficar dormindo durante as aulas de trigonometria ou química orgânica.

Comece a estudar alguns dias antes da prova – Pode parecer óbvio, mas este conselho não é apenas para você dar conta de repassar toda a matéria em vez de tentar ler todo o livro de biologia em apenas uma noite. Pense no cérebro como um músculo. Ele utiliza cerca de 20% da energia de nosso corpo e aumenta o fluxo de sangue quando é intensamente utilizado, como no caso dos estudos. Os cientistas acreditam que, assim como os músculos, o cérebro produza uma série de subprodutos metabólicos quando é exercitado por muito tempo. O cérebro cansa. E assim como os músculos, o excesso de exercício prolongado pode fazê-lo não funcionar adequadamente. Se você fizer uma maratona ininterrupta de estudos, o cérebro não irá descansar e se limpar destas substâncias. O resultado: apesar do seu esforço, as informações não irão se fixar na memória. O ideal é armazená-las progressivamente, daí o cérebro relaciona de forma a informação nova com a adquirida no dia anterior.

Alimente o cérebro – Já que nossos neurônicos consomem 20% da energia do corpo, você precisa de glicose para que ele não se esgote. Mas glicose não quer dizer açúcar. O cérebro precisa de “combustível de alta octanagem”. Para conseguir dar esse gás, o professor Wilson recomenda alimentos ricos em proteínas e carboidratos complexos. Ele cita os ovos, presentes no famoso café da manhã americano, iogurte, frutas, granola e pão integral.

Exercitar o corpo é exercitar a mente – Para o professor Wilson, exercitar-se é bom para a inteligência por diversos motivos. O exercício eleva a pressão sangüínea e permite que o sangue seja bombeado por todo o corpo, inclusive o cérebro, o que garante mais atenção e foco. O exercício também libera o corpo de tensões e ansiedades, e o estresse é responsável por perda de foco e dificuldade de concentração. O exercício também tem o terceiro benefício de propiciar o nascimento de novos neurônios.

Aprenda na adolescência o que quer que seja lembrado para o resto da vida – Não se sabe se por causa da química cerebral, ou pelo fato de tudo ser relativamente novo aos olhos do adolescente – e já está provado que a mente grava as primeiras experiências e impressões melhor do que as posteriores –, o adolescente tem uma facilidade maior para reter informações. Por isso a idade é apropriada para o aprendizado de línguas, de programas de computação, técnicas artísticas ou outras habilidades que serão levadas para toda a vida.

Use a capacidade de correr riscos - As partes do cérebro que levam o ser humano a experimentar e aceitar riscos é mais desenvolvida em adolescentes. Além disso, o sistema emocional dos adolescentes está se desenvolvendo mais rápido que o sistema intelectual. Isso explica o comportamento passional dos adolescentes. Controlar e usar esse gosto pelo desafio pode deixar o adolescente mais independente à medida que o gosto por tarefas e atividades complexas seja estimulado.

Aprenda o que você ama - Existe uma parte do cérebro chamada sistema de recompensa, que registra todas as sensações boas que acontecem com a pessoa. O organismo então sempre buscará experiências que proporcionem essa sensação boa. É o chamado sistema de recompensa, o mesmo que age quando uma pessoa se vicia em algo: ele sempre quer retornar àquele bem-estar. “Se você faz ou aprende algo que te interessa muito, essa coisa faz com que seu cérebro antecipe a recompensa, e isso proporciona a ele as ferramentas que precisa: foco, atenção e uma descarga de dopamina, substância estimulante do sistema nervoso central”, diz Wilson. A liberação de dopamina proporcionada pelo sentimento de satisfação faz com que a informação seja consolidada na memória. Como os seres humanos são animais complexos, as recompensas que o cérebro busca são mais que comida, água e sexo. Tendemos a buscar a euforia de um bom negócio realizado, a satisfação de uma boa performance profissional. O ponto é que se nos interessarmos por alguma atividade, a dedicação será maior, e essa reação apaixonada é ainda maior em adolescentes.


Época

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