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sábado, 27 de setembro de 2008
Russia e os Brics
NUM LIVRO DE MEMÓRIAS, ESCRITO em 1995, o ex-presidente russo Mikhail Gorbachev fez uma confidência. Disse que, quando iniciou a abertura política e econômica da então União Soviética, não foram poucos os agentes da KGB que protestaram contra a intenção de privatizar serviços públicos considerados, até então, essenciais. Vinte e três anos após a Perestroika, os agentes da KGB estão no poder, num trabalho iniciado pelo espião Vladimir Putin, que ficou oito anos na Presidência e é o atual primeiro-ministro. Além de continuar mandando no país, sua camarilha tomou conta dos negócios privados. Na Rússia, oito das dez maiores empresas concentram- se no setor energético. Delas, sete são comandadas por apaniguados de Putin. No clube dos dez bilionários russos a premissa se repete: oito são homens próximos ao ex-agente da KGB. Para esta turma – e também para boa parte da população – a economia nunca foi tão robusta e atraente. Mas para quem faz negócios, a realidade é bem diferente. Não bastassem as críticas referentes à corrupção e às falhas do sistema judicial, a Rússia voltou a mostrar a cobiça armamentista da época dos czares ao invadir a vizinha Geórgia e pôr em risco o sistema de abastecimento de gás e petróleo da Europa. “Muitas empresas vão rever seus planos de investimento na Rússia, graças à instabilidade política do país”, disse à DINHEIRO Jaime Ardilla, presidente da GM no Brasil. “Dos países dos BRIC’s, a Rússia é o único que nos preocupa”.
Do ponto de vista numérico, a Rússia está parelha aos seus companheiros da sigla, que foi criada pelo economista Jim O’Neill, da Goldman Sachs, e ainda reúne Brasil, Índia e China. De início, os US$ 28 bilhões investidos no país no ano passado estão de acordo com a realidade dos BRIC’s. O problema começa quando os números são destrinchados. Do montante russo, US$ 13 bilhões são fruto do encerramento de uma disputa entre a Shell e a estatal Gazprom. Outros US$ 5 bilhões são dinheiro vindo do paraíso fiscal de Chipre, onde magnatas russos depositam suas reservas. O resultado é que apenas US$ 9,5 bilhões teriam sido efetivamente investidos no país. “A realidade é que os estrangeiros não se sentem seguros com a Rússia”, afirma Vladimir Milov, presidente do Instituto de Política Energética de Moscou. “A força com a qual o Estado tomou conta da economia que gera dividendos, como os recursos energéticos, sufoca os verdadeiros investidores.” Uma pesquisa da consultoria suíça Rainbow Insight, que presta serviços para o Fórum Econômico Mundial, colheu as impressões de 51 CEOs de grandes multinacionais. Ela mostra que os maiores problemas enfrentados pelos empresários são, por ordem, as barreiras administrativas, a transparência nas leis, a corrupção e a ausência de um sistema judicial independente. Todos esses pontos já foram, mais de uma vez, denunciados pela OCDE como empecilhos para o desenvolvimento da Rússia. “O maior problema continua sendo a incerteza sobre as políticas de governo”, disse à DINHEIRO Blanka Kalinova, economista-sênior da divisão de investimentos da OCDE. “Há uma sensação de que o Estado pode interferir a qualquer momento num projeto que não agrade frontalmente aos seus interesses.”
Todo esse quadro se agravou com a ascensão de Dimitri Medvedev à Presidência. Por sua ordem, o Parlamento russo baixou um pacote diminuindo as garantias legais de investidores estrangeiros. Além disso, Medvedev dá sinais de que passará a decidir unilateralmente quando um investimento é considerado passível de expropriação ou não. Essas barreiras só têm aumentado a dificuldade para a entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio, cujo pedido está parado na fila desde 1993. “A Rússia tem rompido acordos em uma média de dois por dia”, brinca Anders Aslund, economista do Peterson Institute for International Economics, em Washington. “Não fossem os números que tem apresentado na economia, e mesmo assim inflados pela alta das commodities, ela não estaria no mesmo grupo de Brasil e China.” Na terça-feira 23, a Transparência Internacional deu sua contribuição ao isolamento russo ao divulgar o ranking anual sobre corrupção. A Rússia apareceu mal, no 175º lugar, bem distante de seus companheiros de bloco. A Índia ficou em 85º, o Brasil, em 80º e a China, em 72º. É algo que condiz com a tradição russa de não adotar padrões internacionais. Vladimir Milov lembra que, enquanto a maior parte da Europa já vivia sob o calendário gregoriano no fim do século 18, a Rússia só adotou o modelo vigente após o fim da revolução bolchevique, em 1917. Não é o caso de esperar mais de 100 anos para ver a Rússia moldar seu sistema ao que é comumente aceito no mundo dos negócios, mas bem que a trupe de Putin e Medvedev poderia contribuir para melhorar a frágil imagem de seu país.
ISTOÉ DINHEIRO
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