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domingo, 1 de maio de 2011

Nova Grande Potência

Nova Grande Potência (Handelsblatt, Alemanha, 15/3/2011)

Por Alexander Busch
Versão em português: Embaixada do Brasil em Berlim

Brasil | O maior país da América do Sul pretende assegurar o seu futuro através de investimentos em defesa, energia e infra-estrutura.

Ela logo mandou tirar o crucifixo na parede e a Bíblia do seu escritório. Muletas verbais, tais como “eu acredito que,” “eu espero” e “talvez” não constam no seu vocabulário. A primeira reunião do seu gabinete foi marcada para sexta-feira à tarde - os ministros tiveram que adiar seus voos habituais para a terra natal.

Dilma Rousseff só é Presidenta do Brasil desde o início do ano, mas o seu objetivo já ficou claro. A especialista em energia e Ministra de longa data quer fazer do Brasil uma grande potência no palco do mundo. Para tanto, baseia-se no trabalho dos seus antecessores - o Presidente Fernando Henrique Cardoso proporcionou ao Brasil na década de noventa a estabilidade econômica, o antecessor Luiz Inácio Lula da Silva acabou com a pobreza, antigamente opressiva. Agora o Brasil aspira ser algo mais do que um país que fornece matérias primas, com um mercado consumidor de 193 milhões de habitantes para as multinacionais.

Graças às recém-exploradas reservas de petróleo offshore no Atlântico, o Ministro da Energia, Edison Lobão, apresenta o seu país como grande potência energética. Paralelamente, o Brasil deve continuar sendo um dos maiores produtores mundiais de eletricidade sem emissões: várias usinas hidrelétricas gigantes estão em construção, projetos de energia eólica e solar em grande escala estão planejados.

O Brasil também desenvolve a energia nuclear: urânio produzido no país, cujo valor conforme as estimativas otimistas do governo soma US$100 bilhões, deve ser aplicado no futuro em oito novas usinas nucleares. O Brasil também pretende exportar e recuperar elementos de combustível. Só uma bomba atômica própria não consta de maneira alguma na agenda, como os políticos e militares em Brasília não cansam de afirmar.

Mas a grande potência econômica Brasil tem igualmente ambições políticas, que se espelham em crescentes gastos na área de defesa. O Ministério da Defesa encomenda novos submarinos, aviões de caça, helicópteros e veículos blindados - produtos que também são projetados pelo governo como sucessos de exportação. A economia entendeu a mensagem: a empresa de construção civil e química Odebrecht vai desenvolver, em conjunto com a multinacional européia EADS, tecnologia de monitoramento e segurança para ser usada em grandes eventos como a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. A produtora brasileira de aviões Embraer está desenvolvendo uma avião para transportes de tropas - em conjunto com as forças armadas do Chile, da Colômbia e dos países da OTAN Portugal e da República Checa.

Mesmo fora da indústria de defesa o otimismo está em moda. Rousseff transformou este imenso país em um imenso canteiro de obras. Até 2014, cerca de um trilhão de dólares deve ser aplicado para renovar e ampliar a infra-estrutura do país. A Presidenta pretende afrouxar, por decreto, a regulamentação ambiental para novas barragens, estradas e portos para acelerar os processos de aprovação – os ambientalistas ficam chocados.

Os investimentos públicos devem acelerar ainda mais o atual fluxo de investimentos privados estrangeiros para o Brasil. E de fato empresas de todo o mundo se estabelecem no país. Acima de todas as chinesas, que no ano passado investiram 17 bilhões de dólares no Brasil, quase um terço dos FDI totais. È difícil passar uma semana sem que uma empresa alemã anuncie novos planos: Exemplos disso são o produtor de máquinas a laser Trumpf, a empresa de aço C.D. Wälzholz, a empresa investidora em comercio eletrônico Group Buying Global, a companhia eletrônica Weidmuller, a produtora de colas Henkel, a produtora de autopeças Brose. Várias empresas de engenharia alemãs se instalaram recentemente perto dos inúmeros projetos. O Deutsche Bank tornou-se rapidamente um fator importante no âmbito de fusões e aquisições.

Dinheiro para luxo. É mais um símbolo da época dourada: Conforme um estudo da empresa Dasein Executive Search, os CEOs de empresas industriais em São Paulo e Rio de Janeiro ganham os maiores salários do mundo. Os produtores de bens de luxo que chegam no país se beneficiam com as classes altas da economia - da construtora de iates Ferretti da Itália até a envasadora de champanhe francesa Krug que faz parte do grupo LVMH. Mas mesmo no extremo inferior da escala de renda aconteceu alguma coisa. Muitos ex-pobres hoje podem financiar pela primeira vez um carro, um apartamento ou uma viagem.

O fim da festa não está à vista: De acordo com a previsão do banco Itaú Unibanco, o PIB do Brasil deve crescer nos próximos dez anos uma média de 4,5% anuais. A Alemanha teria que crescer 1,4% por ano até 2021 - o que não é nada certo - para evitar ser ultrapassada pelo Brasil.

O forte crescimento, os investidores estrangeiros e a alta dos preços de exportação para soja e minério de ferro também fizeram subir o valor externo da moeda de forma continua. Desde 2003, o valor do Real frente ao dólar dobrou. Assim, o Brasil tornou-se caro para estrangeiros: O país está agora em segundo lugar no famoso índice Big Mac do “Economist” de Londres: Só na Suíça, os hamburgers são mais caros do que em São Paulo. Ricos brasileiros gostam de gastar seu real forte em outros países - e , por exemplo, constam em Miami entre os mais importantes compradores de imóveis.

Quase não se escutam vozes pessimistas ou até mesmo céticas acerca do desenvolvimento econômico do país. Uma das poucas pertence a Fábio Barbosa, presidente da Federação Bancária Brasileira e chefe do Banco Santander no Brasil: “Com todo o entusiasmo não devemos esquecer das nossas fraquezas”, diz ele.

As fraquezas ainda são muitas: A primeira é o sistema educacional, que ainda parece o de um país subdesenvolvido atrasado. Conforme os dados oficiais, os jovens brasileiros permanecem por mais tempo na escola ou em outras instituições educacionais que seus pais - mas no estudo comparativo internacional Pisa os resultados do Brasil são terríveis. O número de analfabetos, reprovação escolar e abandono de cursos universitários é tremendamente elevado. A economia em expansão sofre com uma falta de trabalhadores qualificados, enquanto o desemprego juvenil é altíssimo. Quem não tem educação não participa das novas riquezas.

Taxa de homicídios triplicou.

Esta é outra causa para o aumento da criminalidade, especialmente no Nordeste, a tradicional região economicamente atrasada do Brasil. Naquela região, a taxa de homicídios triplicou em uma década e em algumas partes já é igual a das regiões mais perigosas do México. O fato de que o Nordeste já há anos está crescendo mais rápido do que o resto do país não muda o quadro.

O Estado, cujos representantes em Brasília projetam de maneira tão otimista o futuro papel de potência mundial do seu país, não é bem preparado para combater estas distorções. Nos rankings comparativos, índices de corrupção e estudos comparativos de produtividade, o Brasil regularmente consta entre os países do último terço. Alíquotas de impostos altas, regulamentos burocráticos, uma Justiça sobrecarregada e leis trabalhistas ultrapassadas prejudicam a economia, e ainda há falta de transparência, para usar uma expressão mais simpática para o mal da corrupção.

Isso se aplica também para projetos de prestígio: uma equipe seleta em volta do representante da Fifa, Ricardo Teixeira, organiza a copa de 2014. O oficial da área de esporte, que teve que responder a vários processos por suborno, na opinião de muitos de seus conterrâneos é mais poderoso do que qualquer Presidente. Na verdade, ele pode gastar isento de impostos e sem controle os bilhões destinados para os estádios e para a infra-estrutura da Copa do Mundo. A questão de quem recebe o apoio do BNDES e de quem não é outro mistério. Os brasileiros atualmente observam com horror como uma companhia de exportação de carnes e couro, o grupo Bertin, tentou ascender a multinacional de energia com a ajuda do BNDES. Em Belo Monte, no afluente do Amazonas, Xingu, a empresa tentou a construção de uma barragem gigante - com capacidade de mais de onze gigawatts de energia, seria a terceira maior usina hidrelétrica mundo. Na licitação do enorme projeto, a empresa de carnes, com o apoio do governo, corajosamente deu um lance mais baixo do que várias corporações do ramo. Na semana passada, Bertin deixou estourar o projeto - o grupo simplesmente não tem o dinheiro.

“O governo precisa urgentemente melhorar a produtividade do Estado”, diz o especialista em assuntos da América Latina Walter Molano do banco de investimentos BCP. “Caso contrário, após a grande festa, vem uma ressaca terrível.”

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