Newton Carlos
O interesse crescente da China pela América Latina pode ser avaliado, entre outras coisas, pelo envio de missão militar de alto nível ao Equador, à Venezuela e ao Peru. Foi chefiada pelo general Chen Bingde, chefe do Estado-Maior do Exército Popular de Libertação, como é denominado o Exército chinês. Bignde tornou-se a primeira autoridade militar chinesa de alto nível a visitar o continente e a incursão não se limitou, como se viu, a países — no caso, Equador e Venezuela — com regimes supostamente mais identificados com o comunista chinês. O pragmatismo da China ficou mais uma vez comprovado com a escala no Peru da missão comandada pelo general. O governo peruano, cujo presidente, Alan Garcia, vive acusando a Venezuela de municiar a oposição a ele, é hoje uma das referências mais fortes na América Latina de um neoliberalismo encarado como dos mais duros. A China corre atrás de matérias-primas, estejam onde estiverem, que sustentem seus altos índices de crescimento econômico, e nosso continente vai marcando presença cada vez mais forte nessa corrida. No Equador, o interesse é o petróleo. A Petrobras não aceitou as novas regras que aumentam a arrecadação do Estado equatoriano. A China aceitou de bom grado. Uma das empresas petrolíferas chinesas controladas pelo Estado, a Sinopec, tornou-se sócia minoritária (40%) da estatal Petroequador. As transações também envolvem armas. A China se diz “muito feliz” por contribuir para o fortalecimento da capacidade defensiva do Equador. Na relação de vendas estão um sistema de radar e dois porta-aviões de porte médio. O Equador procura fortalecer sua fronteira com a Colômbia, sempre envolta em tensões graves. O Equador também quer que a China o ajude a remontar a base naval de Manta. Não foi renovado o tratado de concessão aos Estados Unidos. A base fica em local estrategicamente importante ao sul do Pacífico. As vendas chinesas ao Equador ocorrem num momento em que são anunciadas compras de armas em vários países latino-americanos. Por exemplo, no Peru, que recorre à Corte Internacional de Justiça procurando reaver territórios perdidos para o Chile numa guerra no século 19. O Chile compra aviões. A China “coloniza” a América Latina foi o título de matéria do El País, de Madri, tratando do que especialistas chamam de “erupção chinesa” ao sul do Rio Grande, parte do mundo que foi considerada quintal dos Estados Unidos. “Já fomos colonizados uma vez, não queremos ser outra vez, queremos ser sócios”, disse um empresário latino-americano citado pelo jornal espanhol. O maior colonizador foi, ironicamente, a Espanha. “Os latino-americanos amam o dinheiro tanto quanto os chineses”, avançou no terreno de uma retórica agressiva o mesmo empresário citado por El País. O xis da questão é como estabelecer os termos dessa sociedade. Em meados de 2010, as empresas chinesas receberam ordens de expandir-se no exterior. É o que revela Yuan Shaobin, diretor do Citic Construction. Sua empresa já conseguiu contratos em países latino-americanos envolvendo mais de US$ 2 bilhões. O presidente da China, Hu Jintao, esteve duas vezes entre nós. A ofensiva dá frutos. A China acumula superavits em boa parte de países latino-americanos. As exceções são Brasil, Argentina, Chile e Peru. Especialistas chamam a atenção para os tipos de inversões. Das 19 maiores, só quatro se destinaram à indústria e à infraestrutura. O grosso concentrou-se em matérias-primas, em atenção à voracidade chinesa nesse terreno. O diretor da Comissão Econômica para a América Latina, Osvaldo Rosales, diz que a boa notícia reside no fato de que os países latino-americanos mantêm relação intensa com a China, “o motor de crescimento do século 21”. O preocupante “é que nós estamos conectando com a mesma estrutura exportadora do século 19, a troca de matérias-primas por manufaturados”. Nenhum país quer produzir somente matérias-primas, sentenciou Rosales. Um dos alertas envolve o Brasil. Oitenta por cento do que o Brasil exporta para a China se referem a ferro, soja e petróleo. Em tempo: o gigante chinês já é o segundo maior exportador para a América Latina. Ganha da União Europeia. Só perde para os Estados Unidos. |
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