Fareed Zakaria
A iniciativa de reformar o Pentágono, conduzida atualmente pelo secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, é modesta. Ele não está tentando cortar o orçamento real de sua pasta, quer apenas aumentar a eficiência reduzindo a burocracia, o desperdício e o trabalho feito em duplicidade. A economia que Gates tenta obter é perfeitamente razoável: US$ 100 bilhões em cinco anos, período ao longo do qual o Pentágono vai gastar aproximadamente US$ 3,5 trilhões.
Mesmo assim, Gates provocou intensa oposição por parte dos suspeitos de sempre – prestadores de serviços de defesa, lobistas e comentaristas de guerra. Enfrenta, aliás, resistência enérgica de seu próprio partido (o Republicano). Mas são os republicanos, e não Gates, que estão abandonando suas melhores tradições quanto a estratégias de defesa.
Será que alguém pode questionar seriamente as ideias de Gates quanto aos méritos? Ele observou que a disparada dos preços de equipamentos de defesa levou ao absurdo de navios destróieres custarem de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões e aviões bombardeiros saírem por US$ 2 bilhões. O setor privado eliminou os organogramas, ao passo que o Pentágono multiplicou as camadas da burocracia. Há quase uma década, o ex-secretário de Defesa Donald Rumsfeld, que antecedeu a Gates, disse que havia 17 escalões de pessoal entre ele e um oficial de linha. Gates acha que atualmente sejam uns 30 escalões.
Se alguns democratas aderiram à reforma de Gates, a maioria dos republicanos está cegamente contra. Eles deveriam se dar ao trabalho de ler os dois últimos discursos de Gates, um para a Liga Naval e o outro na Biblioteca Eisenhower.
Há uma década, havia 17 escalões entre o secretário
de Defesa e um oficial de linha. Hoje, são 30
Gates se revela abertamente um admirador do ex-presidente Dwight Eisenhower (1953-1961). Respeita o comedimento de Eisenhower, a ênfase nas contrapartidas envolvidas no financiamento das Forças Armadas, a relutância em criar o que chamava de “complexo industrial militar”. “(Eisenhower achava que) até uma superpotência como os EUA, então perto do auge de sua força e prosperidade em comparação ao resto do mundo, não tinha recursos políticos, econômicos e militares ilimitados. Usá-los em uma área, por exemplo, numa guerra prolongada no mundo em desenvolvimento, diminuiria a força disponível para fazer qualquer outra coisa”, afirmou Gates sobre o presidente, na biblioteca que o homenageia. “(Eisenhower) detestava ver sua amada república tornar-se um estado de músculos e guarnições – militarmente forte, mas estrategicamente insolvente.”
No espírito de Eisenhower, Gates perguntou em seu discurso para a Liga Naval: “Nós realmente deveríamos reagir tão mal a uma diminuição temporária planejada de 100 caças da Marinha e do corpo de fuzileiros navais se as Forças Armadas dos EUA possuem mais de 3.200 aeronaves táticas de combate de todos os tipos? O número de navios de guerra que o país tem e está construindo realmente coloca os EUA em risco se a frota de guerra americana é maior do que as 13 maiores marinhas seguintes juntas, das quais 11 são de aliados e parceiros? É uma ameaça séria que até 2020 os EUA vão ter só 20 vezes mais caças ‘invisíveis’ que a China?”.
A seriedade de propósito de Eisenhower se refletiu mais do que apenas na estratégia militar. Ele era um verdadeiro conservador fiscal, acreditando que o governo deveria administrar déficits durante recessões, mas superávits durante a recuperação. Em 1960, o vice-presidente dele, Richard Nixon, implorou-lhe para cortar impostos para dar um impulso temporário à economia – e, assim, ajudar suas próprias perspectivas eleitorais. Eisenhower se recusou, com o intuito de deixar o gabinete com um excedente no orçamento, o que acabou se mostrando ser o último em mais de três décadas.
Robert Gates é um conservador genuíno na tradição de Eisenhower. Infelizmente, contando Gates e o quadro de Eisenhower pregado atrás de sua mesa de trabalho, há só duas pessoas desse tipo em Washington hoje em dia.
´´Observe as tendências mas não Siga a maioria`` Thiago Prado
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terça-feira, 31 de agosto de 2010
sábado, 28 de agosto de 2010
Forças Armadas alemãs estão diante da maior reforma do pós-guerra
A Bundeswehr está prestes a passar por sua maior reforma no pós-guerra. As mudanças nas Forças Armadas alemãs deverão não apenas reduzir seu orçamento, mas também provocar modificações estruturais que ainda são alvo de controvérsia no cenário político do país.
Segundo os planos revelados nesta segunda-feira (23) pelo ministro da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, as alterações previstas reduzirão em um terço o número de soldados, que cairá de 252 mil para entre 165 mil e 170 mil.
"As Forças Armadas ficarão menores, melhores e mais eficientes", argumentou Guttenberg, que acredita que a reforma as tornará mais modernas do que no modelo atual.
O ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schäuble, pretende cortar 8,3 bilhões de euros dos gastos militares como parte do plano nacional de austeridade que visa economizar 80 bilhões nos próximos quatro anos.
O orçamento anual destinado ao setor de defesa na Alemanha é de 31,2 bilhões de euros, o quarto maior das forças da Otan. Os Estados Unidos, que lideram a lista da Otan, gastam 13 vezes mais que a Alemanha. Reino Unido e França ocupam o segundo e terceiro lugar respectivamente.
Serviço obrigatório
Ainda segundo os planos futuros, o serviço militar deixaria de ser obrigatório, medida que poderia começar a valer já a partir de meados de 2011. Em vez de recrutar os jovens, o serviço militar do país empregaria cerca de 7.500 voluntários. Esse ponto da reforma, no entanto, é alvo de críticas.
"O total de 7.500 voluntários por ano está longe de ser o bastante para se obter jovens satisfatoriamente qualificados", argumentou Rainer Arnold, especialista em política de defesa da bancada social-democrata no Parlamento alemão. Para ele, seriam necessários, no mínimo, entre 20 e 30 mil voluntários.
A chanceler federal, Angela Merkel, afirmou não ser contra o fim do serviço militar obrigatório, mas não quis se declarar favorável a um determinado modelo.
Apesar de o alistamento militar perder seu caráter obrigatório, o ministro Guttenberg ressaltou que esse item não será excluído da Lei Fundamental. "Algumas pessoas podem dizer que sabem como o mundo será daqui a dez ou vinte anos. Eu não. Por isso, é muito importante que o alistamento fique na constituição."
Também a obrigatoriedade do serviço civil, que é hoje uma alternativa ao alistamento militar, será suspensa. Entretanto, a atividade representa um grande apoio ao trabalho de diversas instituições sociais no país. Por isso, também a ministra da Família, Kristina Schröder, planeja substituí-lo por um serviço nacional voluntário.
A ministra espera atrair cerca de 35 mil homens e mulheres por ano para o novo serviço voluntário. O trabalho nas instituições teria seis meses de duração, podendo chegar a 24 meses em casos excepcionais, com um salário de 500 euros mensais.
"Não tenho a ilusão de que conseguiremos substituir completamente o que temos agora", disse a ministra, defendendo a qualidade do atual modelo. No entanto, Schröder destacou que o novo projeto ofereceria as oportunidades do serviço civil também às mulheres.
Em 2009, cerca de 68 mil homens foram convocados ao serviço militar, e outros 90 mil optaram pelo serviço civil.
Até a queda do Muro de Berlim em 1989, a Alemanha evitou participação em conflitos armados, limitando a atuação dos soldados a serviços de ajuda humanitária.
Nas últimas décadas, entretanto, a Bundeswehr participou de missões na Somália, no Kosovo, no Congo e no Afeganistão, onde a Alemanha possui o terceiro maior contingente das forças internacionais.
Fonte: Deutsche Welle
Segundo os planos revelados nesta segunda-feira (23) pelo ministro da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, as alterações previstas reduzirão em um terço o número de soldados, que cairá de 252 mil para entre 165 mil e 170 mil.
"As Forças Armadas ficarão menores, melhores e mais eficientes", argumentou Guttenberg, que acredita que a reforma as tornará mais modernas do que no modelo atual.
O ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schäuble, pretende cortar 8,3 bilhões de euros dos gastos militares como parte do plano nacional de austeridade que visa economizar 80 bilhões nos próximos quatro anos.
O orçamento anual destinado ao setor de defesa na Alemanha é de 31,2 bilhões de euros, o quarto maior das forças da Otan. Os Estados Unidos, que lideram a lista da Otan, gastam 13 vezes mais que a Alemanha. Reino Unido e França ocupam o segundo e terceiro lugar respectivamente.
Serviço obrigatório
Ainda segundo os planos futuros, o serviço militar deixaria de ser obrigatório, medida que poderia começar a valer já a partir de meados de 2011. Em vez de recrutar os jovens, o serviço militar do país empregaria cerca de 7.500 voluntários. Esse ponto da reforma, no entanto, é alvo de críticas.
"O total de 7.500 voluntários por ano está longe de ser o bastante para se obter jovens satisfatoriamente qualificados", argumentou Rainer Arnold, especialista em política de defesa da bancada social-democrata no Parlamento alemão. Para ele, seriam necessários, no mínimo, entre 20 e 30 mil voluntários.
A chanceler federal, Angela Merkel, afirmou não ser contra o fim do serviço militar obrigatório, mas não quis se declarar favorável a um determinado modelo.
Apesar de o alistamento militar perder seu caráter obrigatório, o ministro Guttenberg ressaltou que esse item não será excluído da Lei Fundamental. "Algumas pessoas podem dizer que sabem como o mundo será daqui a dez ou vinte anos. Eu não. Por isso, é muito importante que o alistamento fique na constituição."
Também a obrigatoriedade do serviço civil, que é hoje uma alternativa ao alistamento militar, será suspensa. Entretanto, a atividade representa um grande apoio ao trabalho de diversas instituições sociais no país. Por isso, também a ministra da Família, Kristina Schröder, planeja substituí-lo por um serviço nacional voluntário.
A ministra espera atrair cerca de 35 mil homens e mulheres por ano para o novo serviço voluntário. O trabalho nas instituições teria seis meses de duração, podendo chegar a 24 meses em casos excepcionais, com um salário de 500 euros mensais.
"Não tenho a ilusão de que conseguiremos substituir completamente o que temos agora", disse a ministra, defendendo a qualidade do atual modelo. No entanto, Schröder destacou que o novo projeto ofereceria as oportunidades do serviço civil também às mulheres.
Em 2009, cerca de 68 mil homens foram convocados ao serviço militar, e outros 90 mil optaram pelo serviço civil.
Até a queda do Muro de Berlim em 1989, a Alemanha evitou participação em conflitos armados, limitando a atuação dos soldados a serviços de ajuda humanitária.
Nas últimas décadas, entretanto, a Bundeswehr participou de missões na Somália, no Kosovo, no Congo e no Afeganistão, onde a Alemanha possui o terceiro maior contingente das forças internacionais.
Fonte: Deutsche Welle
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Campanha busca atrair sul-americano para a Copa
Daniel Rittner, de Buenos Aires
A classe média emergente da América do Sul é uma das principais apostas do governo brasileiro para alcançar a meta de atrair 7,5 milhões de turistas estrangeiros ao país, em 2014, ano da Copa do Mundo. Para não depender excessivamente do fluxo de visitantes de países ricos, que se veem às voltas com crises financeiras e índices elevados de desemprego, a aposta na vizinhança foi reforçada e os recursos destinados a ações publicitárias na região aumentaram para US$ 4,5 milhões neste ano, acréscimo de 600% sobre 2009.
A Argentina, maior país emissor de turistas ao Brasil, tem visto na televisão a cabo e nos cinemas um vídeo produzido pelo cineasta Fernando Meirelles. O filme será veiculado nos meses de agosto e setembro. Outra inserção comercial, na TV aberta, já havia sido transmitida, por uma semana, logo após o apito final da Copa da África. Ambos fazem parte da campanha intitulada "O Brasil te chama, celebre a vida aqui".
De acordo com o Ministério do Turismo, o objetivo é aproveitar a realização da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016 para "emocionar, impactar e motivar" os argentinos a fazer suas viagens, de lazer ou de negócios, ao Brasil, independentemente dos eventos esportivos, usados apenas como "ganchos". Nas ruas, a campanha estará em outdoors, painéis em aeroportos e outros tipos de mídia externa. Na mídia impressa, os anúncios serão publicados em veículos especializados e em revistas voltadas ao público final. Anúncios em mídia on-line vão representar 20% dos investimentos.
"A premissa fundamental é que temos que apostar fortemente no mercado sul-americano. No México, 90% dos turistas estrangeiros vêm dos EUA. Na Europa, boa parte do turismo se dá entre países vizinhos. Se essa máxima é verdadeira para eles, deve ser para a gente também", afirmou ao Valor o ministro do Turismo, Luiz Barretto. Ele inicia hoje visita a Buenos Aires para lançar oficialmente a campanha e reunir-se com autoridades argentinas. "Além de batalhar para crescer nos mercados de longo alcance, temos uma imensa avenida a ser percorrida na América do Sul, onde as condições econômicas são bem melhores do que há dez anos."
O ministro já tem em mãos os resultados de pesquisa feita pela FGV Projetos, com 4.835 pessoas, na África do Sul. O levantamento detectou que o perfil dos visitantes à Copa do Mundo foi de homens, solteiros, com ensino superior, de 25 a 34 anos, viajando com amigos e teve 17,6 noites de estada no país. Quase metade dos turistas (47%) havia feito pela primeira vez uma viagem de "longo alcance" - com voo superior a cinco horas de duração. Para 70% dos entrevistados, o fato de o Brasil ser a próxima sede "pesará positivamente" na decisão de assistir à Copa. Para argentinos e uruguaios, a proporção sobe para 75% e 78%, respectivamente.
A pesquisa da FGV indica ainda que, para 75% dos consultados, o idioma não é uma barreira para vir ao país. A beleza e a diversidade natural, assim como o interesse por conhecer o Brasil, são apontados como razões para comprar uma passagem em 2014. Mas o principal fator, para 42% do total, é a Copa -- assistir às partidas e apoiar a seleção de seu próprio país.
Para o ministro Barretto, isso mostra que o governo não deve descuidar das ações publicitárias em lugares mais distantes, mas também aproveitar o crescimento dos vizinhos para reforçar a imagem de uma "Copa da América do Sul". Ele nota que a África do Sul atraiu poucos visitantes da região, porque os países próximos têm baixíssima renda per capita e pouca tradição no futebol. Aqui, diz Barretto, a situação é de fanatismo pela bola e renda em expansão, com o desejo de viajar mais.
Há três anos, o número de turistas estrangeiros se mantém estabilizado em torno de 5 milhões de pessoas, embora eles tenham aumentado os gastos no Brasil para cerca de US$ 6 bilhões - eram US$ 2,3 bilhões em 2003. O objetivo é elevar o número em 10% ao ano e chegar a 7,5 milhões de turistas em 2014. Segundo o ministro, a experiência de países que sediaram eventos de grande porte é que, depois de um pico em ano de Copa ou Olimpíada, o volume de turistas recua. "Mas nunca ao patamar anterior".
A classe média emergente da América do Sul é uma das principais apostas do governo brasileiro para alcançar a meta de atrair 7,5 milhões de turistas estrangeiros ao país, em 2014, ano da Copa do Mundo. Para não depender excessivamente do fluxo de visitantes de países ricos, que se veem às voltas com crises financeiras e índices elevados de desemprego, a aposta na vizinhança foi reforçada e os recursos destinados a ações publicitárias na região aumentaram para US$ 4,5 milhões neste ano, acréscimo de 600% sobre 2009.
A Argentina, maior país emissor de turistas ao Brasil, tem visto na televisão a cabo e nos cinemas um vídeo produzido pelo cineasta Fernando Meirelles. O filme será veiculado nos meses de agosto e setembro. Outra inserção comercial, na TV aberta, já havia sido transmitida, por uma semana, logo após o apito final da Copa da África. Ambos fazem parte da campanha intitulada "O Brasil te chama, celebre a vida aqui".
De acordo com o Ministério do Turismo, o objetivo é aproveitar a realização da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016 para "emocionar, impactar e motivar" os argentinos a fazer suas viagens, de lazer ou de negócios, ao Brasil, independentemente dos eventos esportivos, usados apenas como "ganchos". Nas ruas, a campanha estará em outdoors, painéis em aeroportos e outros tipos de mídia externa. Na mídia impressa, os anúncios serão publicados em veículos especializados e em revistas voltadas ao público final. Anúncios em mídia on-line vão representar 20% dos investimentos.
"A premissa fundamental é que temos que apostar fortemente no mercado sul-americano. No México, 90% dos turistas estrangeiros vêm dos EUA. Na Europa, boa parte do turismo se dá entre países vizinhos. Se essa máxima é verdadeira para eles, deve ser para a gente também", afirmou ao Valor o ministro do Turismo, Luiz Barretto. Ele inicia hoje visita a Buenos Aires para lançar oficialmente a campanha e reunir-se com autoridades argentinas. "Além de batalhar para crescer nos mercados de longo alcance, temos uma imensa avenida a ser percorrida na América do Sul, onde as condições econômicas são bem melhores do que há dez anos."
O ministro já tem em mãos os resultados de pesquisa feita pela FGV Projetos, com 4.835 pessoas, na África do Sul. O levantamento detectou que o perfil dos visitantes à Copa do Mundo foi de homens, solteiros, com ensino superior, de 25 a 34 anos, viajando com amigos e teve 17,6 noites de estada no país. Quase metade dos turistas (47%) havia feito pela primeira vez uma viagem de "longo alcance" - com voo superior a cinco horas de duração. Para 70% dos entrevistados, o fato de o Brasil ser a próxima sede "pesará positivamente" na decisão de assistir à Copa. Para argentinos e uruguaios, a proporção sobe para 75% e 78%, respectivamente.
A pesquisa da FGV indica ainda que, para 75% dos consultados, o idioma não é uma barreira para vir ao país. A beleza e a diversidade natural, assim como o interesse por conhecer o Brasil, são apontados como razões para comprar uma passagem em 2014. Mas o principal fator, para 42% do total, é a Copa -- assistir às partidas e apoiar a seleção de seu próprio país.
Para o ministro Barretto, isso mostra que o governo não deve descuidar das ações publicitárias em lugares mais distantes, mas também aproveitar o crescimento dos vizinhos para reforçar a imagem de uma "Copa da América do Sul". Ele nota que a África do Sul atraiu poucos visitantes da região, porque os países próximos têm baixíssima renda per capita e pouca tradição no futebol. Aqui, diz Barretto, a situação é de fanatismo pela bola e renda em expansão, com o desejo de viajar mais.
Há três anos, o número de turistas estrangeiros se mantém estabilizado em torno de 5 milhões de pessoas, embora eles tenham aumentado os gastos no Brasil para cerca de US$ 6 bilhões - eram US$ 2,3 bilhões em 2003. O objetivo é elevar o número em 10% ao ano e chegar a 7,5 milhões de turistas em 2014. Segundo o ministro, a experiência de países que sediaram eventos de grande porte é que, depois de um pico em ano de Copa ou Olimpíada, o volume de turistas recua. "Mas nunca ao patamar anterior".
Retrato de um país que pode parar
O tão falado apagão logístico virou realidade e gargalos na infraestrutura põem em risco a competitividade do País
Renée Pereira - O Estado de S.Paulo
No início deste mês, a fila de navios à espera de autorização para atracar no Porto de Santos, maior da América Latina, bateu novo recorde: o congestionamento chegou a 119 navios parados, enquanto em dias normais esse número não passa de 10. No transporte aéreo, o Aeroporto de Guarulhos, o maior do Brasil, teve de fazer mutirão para liberar cargas que estavam ao relento por falta de áreas para armazenagem. Cenas como essas revelam que o alerta feito por inúmeros especialistas, vistos pelo governo como catastrofistas, não era mero achismo. O apagão logístico virou realidade no Brasil e será um dos maiores desafios para o próximo governo.
No ano passado, por causa da crise financeira mundial, os gargalos foram amenizados. Mas bastou o País reagir e crescer acima da média para os problemas voltarem com força. Na área de transporte, falta tudo. As estradas continuam em péssima qualidade, especialmente as que atendem o agronegócio, concentrado no Centro-Oeste. O mais lógico seria escoar a safra pelos portos da Região Norte. Mas grande parte dos grãos exportados sai pelos portos do Sul e do Sudeste, depois de percorrer milhares de quilômetros de estradas.
O caminho para atingir os terminais do Norte é precário, cheio de obstáculos, como é o caso da BR-163, que liga Cuiabá a Santarém. Mas, hoje, mesmo que houvesse rodovias adequadas para escoar a produção pelo Norte, os portos da região não têm capacidade para atender toda a demanda, afirma o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais, Sérgio Teixeira Mendes. O resultado é que quase toda a safra vai para Santos e Paranaguá.
Apesar dos investimentos em andamento, os dois portos vivem em constante colapso. Nas últimas semanas, Santos virou um estacionamento de navios que não conseguiam atracar. Mais uma vez a culpa é de São Pedro e do aumento das exportações de açúcar. O porto não tem infraestrutura para embarcar o produto quando chove. Resultado: tudo para.
A degradação da infraestrutura do Brasil não se limita à parte logística. Um dos setores mais atrasados é o de saneamento básico. O País ainda registra números alarmantes de excluídos dos serviços públicos, considerados essenciais para o bem-estar da população. Apesar dos programas de universalização criados pelo governo, milhares de brasileiros ainda não sabem o que é ter luz e água - seja tratada ou não - dentro de casa. Telefone e coleta de esgoto são serviços que nem passam pela cabeça de muitas famílias.
O setor de energia, depois do racionamento de 2001, parece estar entrando nos eixos. Mas a tarifa cobrada do consumidor ainda é uma das maiores do mundo, alerta o diretor da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Carlos Cavalcanti.
1-PORTOS
Responsáveis por 95% do comércio exterior brasileiro, os portos viraram o grande entrave ao crescimento do País. Todo ano a história se repete: basta começar a safra de grãos para os problemas virem à tona, como as gigantescas filas de caminhões nas rodovias e de navios no mar. A situação é decorrente dos longos anos sem investimentos, que condenaram alguns terminais à estagnação e decadência.
Algumas ações tentam recuperar a capacidade dos portos, como o Programa Nacional de Dragagem (PND), mas o resultado ainda é limitado. O objetivo é atacar uma das principais deficiências dos terminais: a baixa profundidade dos canais para receber grandes embarcações. Com as novas gerações de navios, muitos portos já saíram da rota dos armadores.
O resultado foi a maior concentração de escalas no Sul e Sudeste, onde o sistema portuário já está saturado. Em Santos e Paranaguá, os maiores do País, os acessos terrestres são o maior obstáculo. Mas há também carência na infraestrutura de alguns terminais, que não conseguem operar em períodos de chuva, por exemplo.
Apesar de algumas iniciativas, a velocidade de investimentos não tem sido compatível com a demanda. A solução do problema exige atuação mais firme.
2- FERROVIAS
O renascimento da ferrovia no Brasil está diretamente ligado ao avanço do agronegócio e do setor mineral. Seu alcance, no entanto, ainda é muito limitado. A malha nacional tem apenas 28 mil quilômetros (km) de extensão e ainda não consegue atender áreas que se transformaram em grande produtoras de grãos, como Mato Grosso.
Mas a ferrovia brasileira não é apenas pequena. Ela também é muito mal aproveitada. Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), apenas 10% das ferrovias (3 mil km) estão plenamente ocupadas. Outros 7 mil km estão sendo usados abaixo da capacidade e 18 mil km são subutilizados.
Além de pequena, ela atinge poucos setores da economia. Até o ano passado, apenas dez produtos, quase todos granéis para exportação, somavam 91% de tudo que era transportado. Só o carregamento de minério de ferro representou 74,37% da movimentação das ferrovias.
Para completar a lista de problemas, alguns gargalos reduzem a eficiência do transporte, pois diminuem a velocidade do trem. Um deles é a invasão da faixa de domínio, como a construção de casas à beira dos trilhos. No total, são 372 pontos, sendo 183 invasões de moradias. Outro problema são as passagens de nível (cruzamento de carros, por exemplo), que somam 12 mil em todo o País.
3- RODOVIAS
A matriz brasileira de transporte é quase toda baseada em rodovias. Hoje 60% de toda carga movimentada no País é transportada por caminhões. Teoricamente, isso implicaria ter uma malha rodoviária boa para atender à demanda, cada vez mais crescente. Mas essa não é uma realidade no Brasil, que tem apenas 11% da malha nacional pavimentada.
Hoje há estradas de terra batida que fazem parte de importantes corredores de exportação. É o caso, por exemplo, da BR-163, entre Cuiabá e Santarém. Embora pareça mais uma trilha, a rodovia é caminho para o transporte de soja exportada pelos portos do Norte. Parte da estrada está em obras. A previsão para o término é 2012.
Até o ano passado, 69% das estradas pavimentadas no Brasil eram classificadas como ruins, péssimas ou regulares, segundo a Pesquisa Rodoviária 2009, da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Apenas 13,5% das estradas foram considerados ótimos e 17,5%, bons.
De acordo com o estudo, a má qualidade das estradas provoca aumento médio de 28% no custo do transporte rodoviário de carga. Só em relação ao consumo de combustível, o aumento do custo de transporte pode chegar a 5%, comparado aos veículos que trafegam em rodovias com excelente pavimentação, como as de São Paulo.
4 - AEROPORTOS
O setor aéreo foi o último a integrar a lista de gargalos da infraestrutura nacional. No caso do transporte de passageiros, o aumento da demanda evidenciou a falta de planejamento do setor, que a exemplo das outras áreas da infraestrutura também padeceu durante décadas sem investimentos adequados.
Nos últimos anos, viajar de avião virou um teste de paciência para os passageiros, que nunca sabem se chegarão ao seu destino na data prevista. Se nada for feito com urgência, a tendência é piorar ainda mais. De acordo com estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o transporte aéreo de passageiros no Brasil deve triplicar nos próximos 20 anos.
No setor de carga, a situação não é muito diferente. Com o aumento no volume de importações (superior a 40%), os terminais entraram em colapso. Os problemas são iguais aos dos portos: faltam áreas de armazenagem, instalações (câmaras refrigeradas) para produtos especiais e mão de obra suficiente para liberar as mercadorias dentro de padrões internacionais.
Sem áreas suficientes, as cargas são armazenadas ao relento, no pátio, ao lado dos aviões. Ao ficarem expostas ao sol ou à chuva, muitas mercadorias são danificadas, o que complica ainda mais o processo de retirada do produto da área alfandegária.
Em alguns casos, os terminais demoram mais para liberar a mercadoria do que o tempo que ela gastou para sair do país de origem e chegar ao Brasil. O problema também tem afetado o embarque de produtos exportados.
5- ENERGIA
Depois de passar pelo racionamento de 2001, o setor de energia elétrica conseguiu criar uma cultura de planejamento. Pelo menos na área de geração de energia elétrica. Todos os anos, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal responsável pelos estudos de novos empreendimentos, põe à disposição projetos para serem leiloados e construídos. O lado negativo é que quando não há projetos hidrelétricos para serem concedidos, a estatal recorre às térmicas movidas a óleo diesel e óleo combustível, mais caras e poluentes. De qualquer forma, o governo tem conseguido afastar o risco de racionamento.
Mas, se na geração os riscos estão mais controlados, a distribuição tem revelado sinais de saturação. No fim do ano passado e início deste ano, os brasileiros enfrentaram uma série de blecautes localizados, além do apagão de novembro, que atingiu 18 Estados. Os desligamentos provocaram a piora na qualidade da energia entregue aos brasileiros.
Em 2009, pela primeira vez desde a privatização, os indicadores superaram as metas estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de 17,9 horas. Na avaliação de especialistas, uma das explicações é a falta de manutenção da rede. Outro problema que atormenta os brasileiros é o preço da conta de luz, uma das mais altas do mundo por causa da elevada carga tributária.
6-saneamento
Durante muitos anos, o atraso do Brasil no setor de saneamento básico foi atribuído à falta de um marco regulatório adequado para atrair a iniciativa privada. As novas regras vieram em 2006, depois de 20 anos de atraso, mas até hoje os investimentos não deslancharam. Nos últimos anos, o governo federal reforçou o orçamento para a área por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O problema, que antes era dinheiro, passou a ser a falta de projetos. Para conseguir o capital, as prefeituras precisavam apresentar o projeto das obras, mas boa parte não conseguiu cumprir o requisito. Resultado: uma parcela significativa da população continua sem os serviços básicos de saneamento.
Um exemplo disso é a capital de Rondônia, Porto Velho. Quase toda a cidade não tem esgoto tratado nem água potável. As obras apenas começaram a sair do papel por causa das hidrelétricas do Rio Madeira, Santo Antônio e Jirau, que tornaram a região mais visível no cenário nacional.
De acordo com os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes a 2008, apenas 52,5% da população brasileira é atendida por rede de esgoto. No caso do abastecimento de água, o número é melhor: 82% da população tem água em suas moradias.
Renée Pereira - O Estado de S.Paulo
No início deste mês, a fila de navios à espera de autorização para atracar no Porto de Santos, maior da América Latina, bateu novo recorde: o congestionamento chegou a 119 navios parados, enquanto em dias normais esse número não passa de 10. No transporte aéreo, o Aeroporto de Guarulhos, o maior do Brasil, teve de fazer mutirão para liberar cargas que estavam ao relento por falta de áreas para armazenagem. Cenas como essas revelam que o alerta feito por inúmeros especialistas, vistos pelo governo como catastrofistas, não era mero achismo. O apagão logístico virou realidade no Brasil e será um dos maiores desafios para o próximo governo.
No ano passado, por causa da crise financeira mundial, os gargalos foram amenizados. Mas bastou o País reagir e crescer acima da média para os problemas voltarem com força. Na área de transporte, falta tudo. As estradas continuam em péssima qualidade, especialmente as que atendem o agronegócio, concentrado no Centro-Oeste. O mais lógico seria escoar a safra pelos portos da Região Norte. Mas grande parte dos grãos exportados sai pelos portos do Sul e do Sudeste, depois de percorrer milhares de quilômetros de estradas.
O caminho para atingir os terminais do Norte é precário, cheio de obstáculos, como é o caso da BR-163, que liga Cuiabá a Santarém. Mas, hoje, mesmo que houvesse rodovias adequadas para escoar a produção pelo Norte, os portos da região não têm capacidade para atender toda a demanda, afirma o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais, Sérgio Teixeira Mendes. O resultado é que quase toda a safra vai para Santos e Paranaguá.
Apesar dos investimentos em andamento, os dois portos vivem em constante colapso. Nas últimas semanas, Santos virou um estacionamento de navios que não conseguiam atracar. Mais uma vez a culpa é de São Pedro e do aumento das exportações de açúcar. O porto não tem infraestrutura para embarcar o produto quando chove. Resultado: tudo para.
A degradação da infraestrutura do Brasil não se limita à parte logística. Um dos setores mais atrasados é o de saneamento básico. O País ainda registra números alarmantes de excluídos dos serviços públicos, considerados essenciais para o bem-estar da população. Apesar dos programas de universalização criados pelo governo, milhares de brasileiros ainda não sabem o que é ter luz e água - seja tratada ou não - dentro de casa. Telefone e coleta de esgoto são serviços que nem passam pela cabeça de muitas famílias.
O setor de energia, depois do racionamento de 2001, parece estar entrando nos eixos. Mas a tarifa cobrada do consumidor ainda é uma das maiores do mundo, alerta o diretor da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Carlos Cavalcanti.
1-PORTOS
Responsáveis por 95% do comércio exterior brasileiro, os portos viraram o grande entrave ao crescimento do País. Todo ano a história se repete: basta começar a safra de grãos para os problemas virem à tona, como as gigantescas filas de caminhões nas rodovias e de navios no mar. A situação é decorrente dos longos anos sem investimentos, que condenaram alguns terminais à estagnação e decadência.
Algumas ações tentam recuperar a capacidade dos portos, como o Programa Nacional de Dragagem (PND), mas o resultado ainda é limitado. O objetivo é atacar uma das principais deficiências dos terminais: a baixa profundidade dos canais para receber grandes embarcações. Com as novas gerações de navios, muitos portos já saíram da rota dos armadores.
O resultado foi a maior concentração de escalas no Sul e Sudeste, onde o sistema portuário já está saturado. Em Santos e Paranaguá, os maiores do País, os acessos terrestres são o maior obstáculo. Mas há também carência na infraestrutura de alguns terminais, que não conseguem operar em períodos de chuva, por exemplo.
Apesar de algumas iniciativas, a velocidade de investimentos não tem sido compatível com a demanda. A solução do problema exige atuação mais firme.
2- FERROVIAS
O renascimento da ferrovia no Brasil está diretamente ligado ao avanço do agronegócio e do setor mineral. Seu alcance, no entanto, ainda é muito limitado. A malha nacional tem apenas 28 mil quilômetros (km) de extensão e ainda não consegue atender áreas que se transformaram em grande produtoras de grãos, como Mato Grosso.
Mas a ferrovia brasileira não é apenas pequena. Ela também é muito mal aproveitada. Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), apenas 10% das ferrovias (3 mil km) estão plenamente ocupadas. Outros 7 mil km estão sendo usados abaixo da capacidade e 18 mil km são subutilizados.
Além de pequena, ela atinge poucos setores da economia. Até o ano passado, apenas dez produtos, quase todos granéis para exportação, somavam 91% de tudo que era transportado. Só o carregamento de minério de ferro representou 74,37% da movimentação das ferrovias.
Para completar a lista de problemas, alguns gargalos reduzem a eficiência do transporte, pois diminuem a velocidade do trem. Um deles é a invasão da faixa de domínio, como a construção de casas à beira dos trilhos. No total, são 372 pontos, sendo 183 invasões de moradias. Outro problema são as passagens de nível (cruzamento de carros, por exemplo), que somam 12 mil em todo o País.
3- RODOVIAS
A matriz brasileira de transporte é quase toda baseada em rodovias. Hoje 60% de toda carga movimentada no País é transportada por caminhões. Teoricamente, isso implicaria ter uma malha rodoviária boa para atender à demanda, cada vez mais crescente. Mas essa não é uma realidade no Brasil, que tem apenas 11% da malha nacional pavimentada.
Hoje há estradas de terra batida que fazem parte de importantes corredores de exportação. É o caso, por exemplo, da BR-163, entre Cuiabá e Santarém. Embora pareça mais uma trilha, a rodovia é caminho para o transporte de soja exportada pelos portos do Norte. Parte da estrada está em obras. A previsão para o término é 2012.
Até o ano passado, 69% das estradas pavimentadas no Brasil eram classificadas como ruins, péssimas ou regulares, segundo a Pesquisa Rodoviária 2009, da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Apenas 13,5% das estradas foram considerados ótimos e 17,5%, bons.
De acordo com o estudo, a má qualidade das estradas provoca aumento médio de 28% no custo do transporte rodoviário de carga. Só em relação ao consumo de combustível, o aumento do custo de transporte pode chegar a 5%, comparado aos veículos que trafegam em rodovias com excelente pavimentação, como as de São Paulo.
4 - AEROPORTOS
O setor aéreo foi o último a integrar a lista de gargalos da infraestrutura nacional. No caso do transporte de passageiros, o aumento da demanda evidenciou a falta de planejamento do setor, que a exemplo das outras áreas da infraestrutura também padeceu durante décadas sem investimentos adequados.
Nos últimos anos, viajar de avião virou um teste de paciência para os passageiros, que nunca sabem se chegarão ao seu destino na data prevista. Se nada for feito com urgência, a tendência é piorar ainda mais. De acordo com estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o transporte aéreo de passageiros no Brasil deve triplicar nos próximos 20 anos.
No setor de carga, a situação não é muito diferente. Com o aumento no volume de importações (superior a 40%), os terminais entraram em colapso. Os problemas são iguais aos dos portos: faltam áreas de armazenagem, instalações (câmaras refrigeradas) para produtos especiais e mão de obra suficiente para liberar as mercadorias dentro de padrões internacionais.
Sem áreas suficientes, as cargas são armazenadas ao relento, no pátio, ao lado dos aviões. Ao ficarem expostas ao sol ou à chuva, muitas mercadorias são danificadas, o que complica ainda mais o processo de retirada do produto da área alfandegária.
Em alguns casos, os terminais demoram mais para liberar a mercadoria do que o tempo que ela gastou para sair do país de origem e chegar ao Brasil. O problema também tem afetado o embarque de produtos exportados.
5- ENERGIA
Depois de passar pelo racionamento de 2001, o setor de energia elétrica conseguiu criar uma cultura de planejamento. Pelo menos na área de geração de energia elétrica. Todos os anos, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal responsável pelos estudos de novos empreendimentos, põe à disposição projetos para serem leiloados e construídos. O lado negativo é que quando não há projetos hidrelétricos para serem concedidos, a estatal recorre às térmicas movidas a óleo diesel e óleo combustível, mais caras e poluentes. De qualquer forma, o governo tem conseguido afastar o risco de racionamento.
Mas, se na geração os riscos estão mais controlados, a distribuição tem revelado sinais de saturação. No fim do ano passado e início deste ano, os brasileiros enfrentaram uma série de blecautes localizados, além do apagão de novembro, que atingiu 18 Estados. Os desligamentos provocaram a piora na qualidade da energia entregue aos brasileiros.
Em 2009, pela primeira vez desde a privatização, os indicadores superaram as metas estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de 17,9 horas. Na avaliação de especialistas, uma das explicações é a falta de manutenção da rede. Outro problema que atormenta os brasileiros é o preço da conta de luz, uma das mais altas do mundo por causa da elevada carga tributária.
6-saneamento
Durante muitos anos, o atraso do Brasil no setor de saneamento básico foi atribuído à falta de um marco regulatório adequado para atrair a iniciativa privada. As novas regras vieram em 2006, depois de 20 anos de atraso, mas até hoje os investimentos não deslancharam. Nos últimos anos, o governo federal reforçou o orçamento para a área por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O problema, que antes era dinheiro, passou a ser a falta de projetos. Para conseguir o capital, as prefeituras precisavam apresentar o projeto das obras, mas boa parte não conseguiu cumprir o requisito. Resultado: uma parcela significativa da população continua sem os serviços básicos de saneamento.
Um exemplo disso é a capital de Rondônia, Porto Velho. Quase toda a cidade não tem esgoto tratado nem água potável. As obras apenas começaram a sair do papel por causa das hidrelétricas do Rio Madeira, Santo Antônio e Jirau, que tornaram a região mais visível no cenário nacional.
De acordo com os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes a 2008, apenas 52,5% da população brasileira é atendida por rede de esgoto. No caso do abastecimento de água, o número é melhor: 82% da população tem água em suas moradias.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Tailândia autoriza extradição aos EUA de russo suspeito de traficar armas
Agencia EFE
20/08/2010 02h24 - Atualizado em 20/08/2010 07h42
Tailândia autoriza extradição aos EUA de russo suspeito de traficar armas
Segundo os EUA, Viktor Bout, preso na Tailândia, é o 'Mercador da Morte'.
Russo deve ser extraditado em um prazo de três meses.
A Justiça da Tailândia autoriza extradição aos EUA do russo Viktor Bout, suspeito de traficar armas para al-Qaeda e guerrilha colombiana.Justiça da Tailândia autoriza extradição aos EUA do russo Viktor Bout, suspeito de traficar armas para al-Qaeda e guerrilha colombiana.
Um tribunal da Tailândia autorizou nesta sexta-feira (20) a extradição aos Estados Unidos do suposto traficante de armas russo Viktor Bout, conhecido como "Mercador da Morte", para ser julgado por terrorismo e provisão de armamento a grupos de várias partes do mundo, incluindo a guerrilha colombiana e a al-Qaeda.
A decisão do Tribunal de Apelações é celebrada por Washington, que desde a detenção de Bout em Bangcoc, em 2008, e mediante uma operação assessorada por agentes americanos, pressionou a Tailândia e esgotou as vias judiciais para conseguir sua entrega.
A extradição de Bout, de 43 anos, será realizada em um prazo de três meses, indicou o juiz.
Bout, que durante o processo reafirmou sua inocência e questionou as acusações, não conteve as lágrimas após conhecer a decisão, ditada em uma sala cheia, onde estavam sua mulher e filha, assim como funcionários das embaixadas da Rússia e dos EUA.
O advogado tailandês do suposto traficante, Lak Nittiwattanawicha, declarou aos jornalistas no final da audiência que a defesa vai tentar bloquear a extradição, e para isso pedirá a intervenção do governo da Tailândia.
Em agosto de 2008, um tribunal de Justiça tailandês rejeitou a solicitação de extradição realizada pelos EUA, que depois apelou contra essa decisão.
Dois meses depois, Washington fez nova tentativa perante a Justiça da Tailândia para que Bout fosse extraditado, com o envio a Bangcoc do procurador-geral adjunto, David Ogden, que destacou que a extradição era "de grande importância para os EUA".
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusa Bout de participação em operações para a venda às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) de cerca de 800 mísseis, 5 mil fuzis AK-47, explosivos C-4 e minas terrestres, entre outras armas, avaliadas em vários milhões de dólares.
Segundo o FBI, Bout também tentou adquirir uma bateria antiaérea e conspirou para assassinar cidadãos americanos. Se for declarado culpado por esses delitos, pode ser condenado a prisão perpétua pela justiça americana.
Além disso, em fevereiro deste ano, as autoridades americanas acusaram Bout de tentar adquirir de forma ilegal dois aviões nos EUA, entre outros delitos.
Os serviços de inteligência britânicos e americanos afirmam que Bout dirigiu durante anos uma das maiores redes privadas de contrabando de armas e teve negócios com regimes sanguinários na África e Ásia, com ditadores como o liberiano Charles Taylor e com o terrorista Osama bin Laden, que pagava à vista os pedidos da al-Qaeda.
Sua fama inspirou o filme de Hollywood "O senhor das armas", cujo protagonista, Nicholas Cage, relata orgulhoso que aproveitou a queda da União Soviética para ganhar muito dinheiro com os arsenais que adquiriu mediante subornos a generais corruptos.
20/08/2010 02h24 - Atualizado em 20/08/2010 07h42
Tailândia autoriza extradição aos EUA de russo suspeito de traficar armas
Segundo os EUA, Viktor Bout, preso na Tailândia, é o 'Mercador da Morte'.
Russo deve ser extraditado em um prazo de três meses.
A Justiça da Tailândia autoriza extradição aos EUA do russo Viktor Bout, suspeito de traficar armas para al-Qaeda e guerrilha colombiana.Justiça da Tailândia autoriza extradição aos EUA do russo Viktor Bout, suspeito de traficar armas para al-Qaeda e guerrilha colombiana.
Um tribunal da Tailândia autorizou nesta sexta-feira (20) a extradição aos Estados Unidos do suposto traficante de armas russo Viktor Bout, conhecido como "Mercador da Morte", para ser julgado por terrorismo e provisão de armamento a grupos de várias partes do mundo, incluindo a guerrilha colombiana e a al-Qaeda.
A decisão do Tribunal de Apelações é celebrada por Washington, que desde a detenção de Bout em Bangcoc, em 2008, e mediante uma operação assessorada por agentes americanos, pressionou a Tailândia e esgotou as vias judiciais para conseguir sua entrega.
A extradição de Bout, de 43 anos, será realizada em um prazo de três meses, indicou o juiz.
Bout, que durante o processo reafirmou sua inocência e questionou as acusações, não conteve as lágrimas após conhecer a decisão, ditada em uma sala cheia, onde estavam sua mulher e filha, assim como funcionários das embaixadas da Rússia e dos EUA.
O advogado tailandês do suposto traficante, Lak Nittiwattanawicha, declarou aos jornalistas no final da audiência que a defesa vai tentar bloquear a extradição, e para isso pedirá a intervenção do governo da Tailândia.
Em agosto de 2008, um tribunal de Justiça tailandês rejeitou a solicitação de extradição realizada pelos EUA, que depois apelou contra essa decisão.
Dois meses depois, Washington fez nova tentativa perante a Justiça da Tailândia para que Bout fosse extraditado, com o envio a Bangcoc do procurador-geral adjunto, David Ogden, que destacou que a extradição era "de grande importância para os EUA".
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusa Bout de participação em operações para a venda às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) de cerca de 800 mísseis, 5 mil fuzis AK-47, explosivos C-4 e minas terrestres, entre outras armas, avaliadas em vários milhões de dólares.
Segundo o FBI, Bout também tentou adquirir uma bateria antiaérea e conspirou para assassinar cidadãos americanos. Se for declarado culpado por esses delitos, pode ser condenado a prisão perpétua pela justiça americana.
Além disso, em fevereiro deste ano, as autoridades americanas acusaram Bout de tentar adquirir de forma ilegal dois aviões nos EUA, entre outros delitos.
Os serviços de inteligência britânicos e americanos afirmam que Bout dirigiu durante anos uma das maiores redes privadas de contrabando de armas e teve negócios com regimes sanguinários na África e Ásia, com ditadores como o liberiano Charles Taylor e com o terrorista Osama bin Laden, que pagava à vista os pedidos da al-Qaeda.
Sua fama inspirou o filme de Hollywood "O senhor das armas", cujo protagonista, Nicholas Cage, relata orgulhoso que aproveitou a queda da União Soviética para ganhar muito dinheiro com os arsenais que adquiriu mediante subornos a generais corruptos.
domingo, 15 de agosto de 2010
Exército chinês pede uma mudança militar baseada em experiências estrangeiras
O jornal do Exército da China assegurou hoje em seu editorial que é necessário uma mudança da cultura militar para que as forças armadas chinesas possam se renovar em um sentido estratégico e tecnológico, e para que isso ocorra é necessário "aprender com as experiências estrangeiras".
"É preciso aprender dos modelos e experiências dos exércitos estrangeiros (...) porque um Exército que não tem um olhar global é um Exército sem esperança", apontou em seu editorial o "EPL Daily", jornal que pertence ao Exército Popular de Libertação (EPL).
Segundo o "EPL Daily" é fundamental "mudar a cultura das tropas, já que estas ainda têm uma visão do poder militar antiquada".
Além disso, explica como os Estados Unidos desenvolveram sua própria tecnologia, o que representa uma grande economia.
No começo deste mês, o jornal militar pediu por ocasião do 83º aniversário da fundação do Exército maiores esforços para impulsionar a modernização e a defesa nacional.
Já então o editorial afirmava que "a tendência internacional experimenta mudanças profundas e complicadas" e a concorrência em força nacional e geopolítica tinha se tornado mais difícil.
Fonte: EFE
"É preciso aprender dos modelos e experiências dos exércitos estrangeiros (...) porque um Exército que não tem um olhar global é um Exército sem esperança", apontou em seu editorial o "EPL Daily", jornal que pertence ao Exército Popular de Libertação (EPL).
Segundo o "EPL Daily" é fundamental "mudar a cultura das tropas, já que estas ainda têm uma visão do poder militar antiquada".
Além disso, explica como os Estados Unidos desenvolveram sua própria tecnologia, o que representa uma grande economia.
No começo deste mês, o jornal militar pediu por ocasião do 83º aniversário da fundação do Exército maiores esforços para impulsionar a modernização e a defesa nacional.
Já então o editorial afirmava que "a tendência internacional experimenta mudanças profundas e complicadas" e a concorrência em força nacional e geopolítica tinha se tornado mais difícil.
Fonte: EFE
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Almirante chinês diz que exercícios dos EUA beiram confrontação
Um alto estrategista chinês qualificou de provocadores os exercícios navais planejados pelos EUA na região, e acusou o governo Obama de estar tentando cercar a China e de adotar uma abordagem "caótica" em relação a Pequim.
"Por um lado, ele quer que a China tenha um papel nas questões regionais de segurança; por outro, está se envolvendo em cercar a China de forma cada vez mais rígida e constantemente desafiar os interesses centrais da China", escreveu o contra-almirante Yang Yi no Diário do Exército de Libertação.
O Pentágono pretende enviar um porta-aviões ao Mar Amarelo, entre a China e as Coreias, para participar de um exercício conjunto com a aliada Coreia do Sul.
Os EUA dizem que o objetivo das atividades é dissuadir a Coreia do Norte de qualquer ataque, mas o militar chinês, professor da Universidade Nacional de Defesa, disse que elas criarão "inimizade e confronto na região Ásia-Pacífico".
Segundo Yang, os atritos em torno do exercício naval refletem uma instabilidade mais ampla nas relações sino-americanas, e isso é culpa dos EUA. "Raramente houve tanta hesitação e caos na política dos EUA em relação à China", escreveu ele.
Em outro artigo, publicado no China Daily, principal jornal em inglês do país, Yang afirmou que "Washington irá inevitavelmente pagar um preço alto por sua decisão atrapalhada".
Wang Jisi, especialista em relações sino-americanas na Universidade de Pequim, escreveu numa recente análise que "os riscos de uma colisão entre as Marinhas dos dois países nos mares da costa da China está crescendo".
Mas a China dificilmente irá enfrentar diretamente os exercícios conjuntos dos EUA e Coreia do Sul, levando navios para as mesmas águas - o que poderia desencadear uma perigosa escalada nas tensões.
Mas a ira de Pequim contra o governo Obama poderá atrapalhar o avanço das relações militares, que já haviam sofrido restrições por parte da China neste ano, devido à venda de armas dos EUA para Taiwan, que a China considera uma província rebelde.
Fonte: Reuters
"Por um lado, ele quer que a China tenha um papel nas questões regionais de segurança; por outro, está se envolvendo em cercar a China de forma cada vez mais rígida e constantemente desafiar os interesses centrais da China", escreveu o contra-almirante Yang Yi no Diário do Exército de Libertação.
O Pentágono pretende enviar um porta-aviões ao Mar Amarelo, entre a China e as Coreias, para participar de um exercício conjunto com a aliada Coreia do Sul.
Os EUA dizem que o objetivo das atividades é dissuadir a Coreia do Norte de qualquer ataque, mas o militar chinês, professor da Universidade Nacional de Defesa, disse que elas criarão "inimizade e confronto na região Ásia-Pacífico".
Segundo Yang, os atritos em torno do exercício naval refletem uma instabilidade mais ampla nas relações sino-americanas, e isso é culpa dos EUA. "Raramente houve tanta hesitação e caos na política dos EUA em relação à China", escreveu ele.
Em outro artigo, publicado no China Daily, principal jornal em inglês do país, Yang afirmou que "Washington irá inevitavelmente pagar um preço alto por sua decisão atrapalhada".
Wang Jisi, especialista em relações sino-americanas na Universidade de Pequim, escreveu numa recente análise que "os riscos de uma colisão entre as Marinhas dos dois países nos mares da costa da China está crescendo".
Mas a China dificilmente irá enfrentar diretamente os exercícios conjuntos dos EUA e Coreia do Sul, levando navios para as mesmas águas - o que poderia desencadear uma perigosa escalada nas tensões.
Mas a ira de Pequim contra o governo Obama poderá atrapalhar o avanço das relações militares, que já haviam sofrido restrições por parte da China neste ano, devido à venda de armas dos EUA para Taiwan, que a China considera uma província rebelde.
Fonte: Reuters
terça-feira, 3 de agosto de 2010
China compra terras no Brasil
O ex-ministro Antônio Delfim Netto tem razão quando recomenda cuidado com as vendas de terras a empresas da China, controladas pelo Estado ou com participação estatal. Investimentos estrangeiros são de modo geral bem-vindos e podem trazer contribuições importantes ao crescimento do País. Grupos estrangeiros podem fazer bons negócios e ao mesmo tempo fortalecer a economia brasileira com recursos adicionais e, ocasionalmente, com aporte de tecnologia. Mas os "negócios" mudam de sentido quando o investimento é subordinado a razões estratégicas de um Estado estrangeiro. No caso de recursos naturais, e de terras para a agropecuária, avaliar corretamente essa estratégia é uma questão de segurança.
"Os chineses compraram a África e estão tentando comprar o Brasil", disse o professor Delfim Netto em entrevista ao Estado de domingo. Pode haver algum exagero de linguagem, mas a preocupação é justificável. O diretor-geral da FAO, a agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, alertou os governos africanos para o risco de um "neocolonialismo", desta vez baseado no controle de áreas férteis. Companhias de vários países participaram nos últimos anos de uma corrida para comprar terras na África. As chinesas estiveram entre as mais ativas.
A maior estatal chinesa do setor, a China National Agricultural Development Group Corporation, opera em 40 países e 10 mil de seus 80 mil funcionários trabalham no exterior. A empresa detém 6 mil hectares na Tanzânia e criou negócios no setor de alimentos também na Guiné, no Benin e em Zâmbia e já entrou na Argentina e no Peru. Outras companhias chinesas também têm comprado terras em vários países, com o mesmo objetivo: garantir à China produtos indispensáveis ao seu crescimento econômico e à urbanização de centenas de milhões de pessoas.
Desde a última década o governo chinês vem aumentando os investimentos em recursos naturais de outros países. Até agora, seu avanço mais impressionante ocorreu na África, onde os investimentos em mineração e depois na compra de terras foram acompanhados de projetos de cooperação com os países hospedeiros, quase sempre pobres e com baixo grau de desenvolvimento.
O passo seguinte na estratégia foi a negociação de projetos com vários governos latino-americanos. Desde o começo deste ano, foram anunciados planos de investimentos de pouco mais de US$ 11 bilhões no Brasil. Se todos forem concretizados, o estoque de capital chinês no Brasil poderá ocupar a 9.ª posição em ordem de grandeza. Por enquanto, está em 42.º lugar.
Companhias chinesas têm mostrado disposição de investir em vários setores, como produção de aço, exploração de petróleo, distribuição de eletricidade, exploração de minérios e construção do trem-bala entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Parte desses investimentos atende ao objetivo de garantir matérias-primas para uso industrial e para geração de energia.
Ao mesmo tempo, empresas têm procurado oportunidades de investimento no agronegócio. Em abril, a China National Agricultural Development Group Corporation revelou a intenção de comprar terras para produzir soja e milho. Nos primeiros contatos, negociadores da empresa indicaram interesse em terras do Centro-Oeste, especialmente de Goiás.
Na mesma época, representantes do Chongqing Grain Group anunciaram a disposição de aplicar US$ 300 milhões na compra de 100 mil hectares no oeste da Bahia, para produzir soja para os mercados brasileiro e chinês. Funcionários da empresa participaram da comitiva do presidente Hu Jintao.
Um mês depois, o Grupo Pallas International, formado por investidores privados, mas também com participação estatal, divulgou planos de comprar entre 200 mil e 250 mil hectares no oeste da Bahia e possivelmente no conjunto de áreas de cerrado do Maranhão, do Piauí e do Tocantins, conhecido por Mapito.
Negócios desse tipo envolvem o controle de grandes áreas por grupos subordinados à estratégia de uma potência estrangeira. Poderão agir segundo interesses comerciais, como outros investidores, mas poderão seguir uma lógica de Estado - e esse Estado não será o brasileiro.
"Os chineses compraram a África e estão tentando comprar o Brasil", disse o professor Delfim Netto em entrevista ao Estado de domingo. Pode haver algum exagero de linguagem, mas a preocupação é justificável. O diretor-geral da FAO, a agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, alertou os governos africanos para o risco de um "neocolonialismo", desta vez baseado no controle de áreas férteis. Companhias de vários países participaram nos últimos anos de uma corrida para comprar terras na África. As chinesas estiveram entre as mais ativas.
A maior estatal chinesa do setor, a China National Agricultural Development Group Corporation, opera em 40 países e 10 mil de seus 80 mil funcionários trabalham no exterior. A empresa detém 6 mil hectares na Tanzânia e criou negócios no setor de alimentos também na Guiné, no Benin e em Zâmbia e já entrou na Argentina e no Peru. Outras companhias chinesas também têm comprado terras em vários países, com o mesmo objetivo: garantir à China produtos indispensáveis ao seu crescimento econômico e à urbanização de centenas de milhões de pessoas.
Desde a última década o governo chinês vem aumentando os investimentos em recursos naturais de outros países. Até agora, seu avanço mais impressionante ocorreu na África, onde os investimentos em mineração e depois na compra de terras foram acompanhados de projetos de cooperação com os países hospedeiros, quase sempre pobres e com baixo grau de desenvolvimento.
O passo seguinte na estratégia foi a negociação de projetos com vários governos latino-americanos. Desde o começo deste ano, foram anunciados planos de investimentos de pouco mais de US$ 11 bilhões no Brasil. Se todos forem concretizados, o estoque de capital chinês no Brasil poderá ocupar a 9.ª posição em ordem de grandeza. Por enquanto, está em 42.º lugar.
Companhias chinesas têm mostrado disposição de investir em vários setores, como produção de aço, exploração de petróleo, distribuição de eletricidade, exploração de minérios e construção do trem-bala entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Parte desses investimentos atende ao objetivo de garantir matérias-primas para uso industrial e para geração de energia.
Ao mesmo tempo, empresas têm procurado oportunidades de investimento no agronegócio. Em abril, a China National Agricultural Development Group Corporation revelou a intenção de comprar terras para produzir soja e milho. Nos primeiros contatos, negociadores da empresa indicaram interesse em terras do Centro-Oeste, especialmente de Goiás.
Na mesma época, representantes do Chongqing Grain Group anunciaram a disposição de aplicar US$ 300 milhões na compra de 100 mil hectares no oeste da Bahia, para produzir soja para os mercados brasileiro e chinês. Funcionários da empresa participaram da comitiva do presidente Hu Jintao.
Um mês depois, o Grupo Pallas International, formado por investidores privados, mas também com participação estatal, divulgou planos de comprar entre 200 mil e 250 mil hectares no oeste da Bahia e possivelmente no conjunto de áreas de cerrado do Maranhão, do Piauí e do Tocantins, conhecido por Mapito.
Negócios desse tipo envolvem o controle de grandes áreas por grupos subordinados à estratégia de uma potência estrangeira. Poderão agir segundo interesses comerciais, como outros investidores, mas poderão seguir uma lógica de Estado - e esse Estado não será o brasileiro.
As Forças Armadas e os nossos narizes
DANIEL AARÃO REIS
Um estudioso estrangeiro da história do Brasil, na campanha eleitoral de 1989, surpreendeu-se com um fato que ele considerou inusitado: os diversos candidatos, fosse qual fosse o partido, de direita, de centro ou de esquerda, não se referiam às Forças Armadas. Nenhuma proposta, reflexão alguma. Como se as Forças Armadas simplesmente não existissem ou não tivessem jamais existido. Até os dias de hoje, pode-se dizer que esta atitude permanece inalterada.
No entanto, e como se sabe, desde a fundação da República, as Forças Armadas, e o Exército em particular, são instituições incontornáveis. Protagonizaram, em 1889, o golpe que instituiu o novo regime. Nos anos 1920, o chamado movimento tenentista agitou a sociedade com propostas reformistas. Foram militares os líderes da mais importante rebeldia armada deste país: a coluna guerrilheira liderada por Miguel Costa e Luiz Carlos Prestes, de 1924 a 1927. Em 1930, o episódio que derrubou a Primeira República seria impensável sem a participação dos militares. Na ditadura do Estado Novo (1937-1945), foram as Forças Armadas uma das bases principais de sustentação da política nacionalestatista, desenvolvimentista e industrialista empreendida sob liderança de Getúlio Vargas.
Entre 1945 e 1964, envolveram-se novamente na política. Eram os tempos áureos da Guerra Fria, entre o chamado “mundo livre” (capitalista), capitaneado pelos EUA, e o comunismo internacional, pela União Soviética. As disputas das superpotências galvanizavam as energias políticas, condicionando, embora não determinando, em toda parte, os debates. No início dos anos 1950, o Clube Militar e as discussões ali travadas eram referências fundamentais nos debates políticos. O movimento nacionalista que então emergiu tinha entre os militares muitos adeptos. Mas havia outros mais que optaram pelo alinhamento com os EUA. Insultavam-se como criptocomunistas ou entreguistas, os primeiros favoráveis a alianças com os comunistas num processo de distribuição de renda e de poder; os segundos temendo mais que tudo o comunismo e também as implicações que uma eventual vitória revolucionária pudesse ter para a organização e a própria existência das Forças Armadas como instituição nacional.
Neste período, núcleos militares perpetraram golpes e contragolpes — para salvar ou enterrar a democracia — que abalaram o país.
Em 1964, importantes segmentos das Forças Armadas desfecharam, com amplo apoio civil, um golpe de Estado que instaurou um outro longo período ditatorial, sob liderança militar: os cinco ditadores presidentes foram todos generais do Exército.
Seu protagonismo a partir daí foi tão decisivo que se tornou lugar-comum designar o regime como ditadura militar, quando, a rigor, nenhum óculos de grau é necessário para perceber que a ditadura, desde o início, e até o fim, teve caráter civil-militar.
Em síntese, uma sociedade marcada pelo inter vencionismo dos militares.
É verdade que, desde 1979, quando se encerrou a ditadura e, especialmente, desde 1985, quando assumiu um primeiro presidente civil depois de 21 anos de governos presididos por militares, as Forças Armadas tenderam a sair do proscênio.
Teriam hibernado? O fato é que sobre elas a maioria prefere não falar.
Nada dizer de sua cultura política, ainda presa aos parâmetros anacrônicos da Guerra Fria. De suas opções e indecisões. De seu monolitismo aparente, adquirido depois de 1964, em contraste com o pluralismo anterior.
De sua crise de identidade — servem exatamente para quê as Forças Armadas? Da maneira como a memória nacional é ali cultivada, desde os colégios militares aos sofisticados cursos de estado-maior. Dos processos de formação de seus quadros. Dos procedimentos com que zelam pelos arquivos da nação sob sua guarda e do silêncio com que protegem a tortura praticada nos tempos da ditadura. Do modo como ainda não se reconhecem como simples funcionários públicos, uniformizados e armados pela sociedade que, com os impostos, remunera seu trabalho.
Nada disto é discutido. Nem pelos próprios militares. De quando em vez, em torno de um tema específico, aparecem alguns sinais, mas logo desaparecem, como se estivessem escondidos por uma cortina de fumaça, daquele tipo que se dispara quando, numa batalha, se quer esconder uma força que avança ou que recua.
De sorte que as Forças Armadas, embora visíveis, movem-se com procedimentos próprios, ignorados e não controlados. Contudo, suas marcas na história permanecem, como ferro em brasa no couro dos bois.
Mas quem as vê, embora tão perto dos nossos narizes? George Orwell dizia com propriedade que “ver o que está na frente do próprio nariz é algo que requer esforço constante”. Talvez seja isto que esteja faltando à sociedade brasileira e a seus eminentes líderes políticos e militares: esforço constante.
DANIEL AARÃO REIS é professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense.
Um estudioso estrangeiro da história do Brasil, na campanha eleitoral de 1989, surpreendeu-se com um fato que ele considerou inusitado: os diversos candidatos, fosse qual fosse o partido, de direita, de centro ou de esquerda, não se referiam às Forças Armadas. Nenhuma proposta, reflexão alguma. Como se as Forças Armadas simplesmente não existissem ou não tivessem jamais existido. Até os dias de hoje, pode-se dizer que esta atitude permanece inalterada.
No entanto, e como se sabe, desde a fundação da República, as Forças Armadas, e o Exército em particular, são instituições incontornáveis. Protagonizaram, em 1889, o golpe que instituiu o novo regime. Nos anos 1920, o chamado movimento tenentista agitou a sociedade com propostas reformistas. Foram militares os líderes da mais importante rebeldia armada deste país: a coluna guerrilheira liderada por Miguel Costa e Luiz Carlos Prestes, de 1924 a 1927. Em 1930, o episódio que derrubou a Primeira República seria impensável sem a participação dos militares. Na ditadura do Estado Novo (1937-1945), foram as Forças Armadas uma das bases principais de sustentação da política nacionalestatista, desenvolvimentista e industrialista empreendida sob liderança de Getúlio Vargas.
Entre 1945 e 1964, envolveram-se novamente na política. Eram os tempos áureos da Guerra Fria, entre o chamado “mundo livre” (capitalista), capitaneado pelos EUA, e o comunismo internacional, pela União Soviética. As disputas das superpotências galvanizavam as energias políticas, condicionando, embora não determinando, em toda parte, os debates. No início dos anos 1950, o Clube Militar e as discussões ali travadas eram referências fundamentais nos debates políticos. O movimento nacionalista que então emergiu tinha entre os militares muitos adeptos. Mas havia outros mais que optaram pelo alinhamento com os EUA. Insultavam-se como criptocomunistas ou entreguistas, os primeiros favoráveis a alianças com os comunistas num processo de distribuição de renda e de poder; os segundos temendo mais que tudo o comunismo e também as implicações que uma eventual vitória revolucionária pudesse ter para a organização e a própria existência das Forças Armadas como instituição nacional.
Neste período, núcleos militares perpetraram golpes e contragolpes — para salvar ou enterrar a democracia — que abalaram o país.
Em 1964, importantes segmentos das Forças Armadas desfecharam, com amplo apoio civil, um golpe de Estado que instaurou um outro longo período ditatorial, sob liderança militar: os cinco ditadores presidentes foram todos generais do Exército.
Seu protagonismo a partir daí foi tão decisivo que se tornou lugar-comum designar o regime como ditadura militar, quando, a rigor, nenhum óculos de grau é necessário para perceber que a ditadura, desde o início, e até o fim, teve caráter civil-militar.
Em síntese, uma sociedade marcada pelo inter vencionismo dos militares.
É verdade que, desde 1979, quando se encerrou a ditadura e, especialmente, desde 1985, quando assumiu um primeiro presidente civil depois de 21 anos de governos presididos por militares, as Forças Armadas tenderam a sair do proscênio.
Teriam hibernado? O fato é que sobre elas a maioria prefere não falar.
Nada dizer de sua cultura política, ainda presa aos parâmetros anacrônicos da Guerra Fria. De suas opções e indecisões. De seu monolitismo aparente, adquirido depois de 1964, em contraste com o pluralismo anterior.
De sua crise de identidade — servem exatamente para quê as Forças Armadas? Da maneira como a memória nacional é ali cultivada, desde os colégios militares aos sofisticados cursos de estado-maior. Dos processos de formação de seus quadros. Dos procedimentos com que zelam pelos arquivos da nação sob sua guarda e do silêncio com que protegem a tortura praticada nos tempos da ditadura. Do modo como ainda não se reconhecem como simples funcionários públicos, uniformizados e armados pela sociedade que, com os impostos, remunera seu trabalho.
Nada disto é discutido. Nem pelos próprios militares. De quando em vez, em torno de um tema específico, aparecem alguns sinais, mas logo desaparecem, como se estivessem escondidos por uma cortina de fumaça, daquele tipo que se dispara quando, numa batalha, se quer esconder uma força que avança ou que recua.
De sorte que as Forças Armadas, embora visíveis, movem-se com procedimentos próprios, ignorados e não controlados. Contudo, suas marcas na história permanecem, como ferro em brasa no couro dos bois.
Mas quem as vê, embora tão perto dos nossos narizes? George Orwell dizia com propriedade que “ver o que está na frente do próprio nariz é algo que requer esforço constante”. Talvez seja isto que esteja faltando à sociedade brasileira e a seus eminentes líderes políticos e militares: esforço constante.
DANIEL AARÃO REIS é professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense.
A violência da informação
Milton Santos
In Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. III Uma globalização perversa - A violência da informação, pp. 38 - 40, Editora Record, Rio de Janeiro - São Paulo, 2000.
Um dos traços marcantes do atual período histórico é, pois, o papel verdadeiramente despótico da informação. Conforme já vimos, as novas condições técnicas deveriam permitir a ampliação do conhecimento do planeta, dos objetos que o formam, das sociedades que o habitam e dos homens em sua realidade intrínseca. Todavia, nas condições atuais, as técnicas da informação são principalmente utilizadas por um punhado de atores em função de seus objetivos particulares. Essas técnicas da informação (por enquanto) são apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando assim os processos de criação de desigualdades. É desse modo que a periferia do sistema capitalista acaba se tornando ainda mais periférica, seja porque não dispõe totalmente dos novos meios de produção, seja porque lhe escapa a possibilidade de controle.
O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. Isso tanto é mais grave porque, nas condições atuais da vida econômica e social, a informação constitui um dado essencial e imprescindível. Mas na medida em que o que chega às pessoas, como também às empresas e instituições hegemonizadas, é, já, o resultado de uma manipulação, tal informação se apresenta como ideologia. O fato de que, no mundo de hoje, o discurso antecede quase obrigatoriamente uma parte substancial das ações humanas – sejam elas a técnica, a produção, o consumo, o poder – explica o porquê da presença generalizada do ideológico em todos esses pontos. Não é de estranhar, pois, que realidade e ideologia se condunfam na apreciação do homem comum, sobretudo porque a ideologia se insere nos objetos e apresenta-se como coisa.
Estamos diante de um novo "encantamento do mundo", no qual o discurso e a retórica são o princípio e o fim. Esse imperativo e essa onipresença da informação são insidiosos, já que a informação atual tem dois rostos, um pelo qual ela busca instruir, e um outro, pelo qual ela busca convencer. Este é o trabalho da publicidade. Se a informação tem, hoje, essas duas caras, a cara do convencer se torna muito mais presente, na medida em que a publicidade se transformou em algo que antecipa a produção. Brigando, pela sobrevivência e hegemonia, em função da competitividade, as empresas não podem existir sem publicidade, que se tornou o nervo do comércio.
Há uma relação carnal entre o mundo da produção da notícia e o mundo da produção das coisas e das normas. A publicidade tem, hoje, uma penetração muito grande em todas as atividades. Antes, havia uma incompatibilidade ética entre anunciar e exercer certas atividades, como na profissão médica, ou na educação. Hoje, propaga-se tudo, e a própria política é, em grande parte, subordinada as suas regras.
As mídias nacionais se globalizam, não apenas pela chatice e mesmice das fotografias e dos títulos, mas pelos protagonistas mais presentes. Falsificam-se os eventos, já que não é propriamente o fato o que a mídia nos dá, mas uma interpretação, isto é, a notícia. Pierre Nora, em um bonito texto, cujo título é "O retorno do fato" (in História: Novos problemas, 1974), lembra que, na aldeia, o testemunho das pessoas que veiculam o que aconteceu pode ser cotejado com o testemunho do vizinho. Numa sociedade complexa como a nossa, somente vamos saber o que houve na rua ao lado dois dias depois, mediante uma interpretação marcada pelos humores, visões, preconceitos e interesses das agências. O evento já é entregue maquiado ao leitor, ao ouvinte, ao telespectador, e é também por isso que se produzem no mundo de hoje, simultaneamente, fábulas e mitos.
In Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. III Uma globalização perversa - A violência da informação, pp. 38 - 40, Editora Record, Rio de Janeiro - São Paulo, 2000.
Um dos traços marcantes do atual período histórico é, pois, o papel verdadeiramente despótico da informação. Conforme já vimos, as novas condições técnicas deveriam permitir a ampliação do conhecimento do planeta, dos objetos que o formam, das sociedades que o habitam e dos homens em sua realidade intrínseca. Todavia, nas condições atuais, as técnicas da informação são principalmente utilizadas por um punhado de atores em função de seus objetivos particulares. Essas técnicas da informação (por enquanto) são apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando assim os processos de criação de desigualdades. É desse modo que a periferia do sistema capitalista acaba se tornando ainda mais periférica, seja porque não dispõe totalmente dos novos meios de produção, seja porque lhe escapa a possibilidade de controle.
O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. Isso tanto é mais grave porque, nas condições atuais da vida econômica e social, a informação constitui um dado essencial e imprescindível. Mas na medida em que o que chega às pessoas, como também às empresas e instituições hegemonizadas, é, já, o resultado de uma manipulação, tal informação se apresenta como ideologia. O fato de que, no mundo de hoje, o discurso antecede quase obrigatoriamente uma parte substancial das ações humanas – sejam elas a técnica, a produção, o consumo, o poder – explica o porquê da presença generalizada do ideológico em todos esses pontos. Não é de estranhar, pois, que realidade e ideologia se condunfam na apreciação do homem comum, sobretudo porque a ideologia se insere nos objetos e apresenta-se como coisa.
Estamos diante de um novo "encantamento do mundo", no qual o discurso e a retórica são o princípio e o fim. Esse imperativo e essa onipresença da informação são insidiosos, já que a informação atual tem dois rostos, um pelo qual ela busca instruir, e um outro, pelo qual ela busca convencer. Este é o trabalho da publicidade. Se a informação tem, hoje, essas duas caras, a cara do convencer se torna muito mais presente, na medida em que a publicidade se transformou em algo que antecipa a produção. Brigando, pela sobrevivência e hegemonia, em função da competitividade, as empresas não podem existir sem publicidade, que se tornou o nervo do comércio.
Há uma relação carnal entre o mundo da produção da notícia e o mundo da produção das coisas e das normas. A publicidade tem, hoje, uma penetração muito grande em todas as atividades. Antes, havia uma incompatibilidade ética entre anunciar e exercer certas atividades, como na profissão médica, ou na educação. Hoje, propaga-se tudo, e a própria política é, em grande parte, subordinada as suas regras.
As mídias nacionais se globalizam, não apenas pela chatice e mesmice das fotografias e dos títulos, mas pelos protagonistas mais presentes. Falsificam-se os eventos, já que não é propriamente o fato o que a mídia nos dá, mas uma interpretação, isto é, a notícia. Pierre Nora, em um bonito texto, cujo título é "O retorno do fato" (in História: Novos problemas, 1974), lembra que, na aldeia, o testemunho das pessoas que veiculam o que aconteceu pode ser cotejado com o testemunho do vizinho. Numa sociedade complexa como a nossa, somente vamos saber o que houve na rua ao lado dois dias depois, mediante uma interpretação marcada pelos humores, visões, preconceitos e interesses das agências. O evento já é entregue maquiado ao leitor, ao ouvinte, ao telespectador, e é também por isso que se produzem no mundo de hoje, simultaneamente, fábulas e mitos.
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