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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Por que é difícil “enxugar” o Pentágono

Fareed Zakaria



A iniciativa de reformar o Pentágono, conduzida atualmente pelo secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, é modesta. Ele não está tentando cortar o orçamento real de sua pasta, quer apenas aumentar a eficiência reduzindo a burocracia, o desperdício e o trabalho feito em duplicidade. A economia que Gates tenta obter é perfeitamente razoável: US$ 100 bilhões em cinco anos, período ao longo do qual o Pentágono vai gastar aproximadamente US$ 3,5 trilhões.

Mesmo assim, Gates provocou intensa oposição por parte dos suspeitos de sempre – prestadores de serviços de defesa, lobistas e comentaristas de guerra. Enfrenta, aliás, resistência enérgica de seu próprio partido (o Republicano). Mas são os republicanos, e não Gates, que estão abandonando suas melhores tradições quanto a estratégias de defesa.

Será que alguém pode questionar seriamente as ideias de Gates quanto aos méritos? Ele observou que a disparada dos preços de equipamentos de defesa levou ao absurdo de navios destróieres custarem de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões e aviões bombardeiros saírem por US$ 2 bilhões. O setor privado eliminou os organogramas, ao passo que o Pentágono multiplicou as camadas da burocracia. Há quase uma década, o ex-secretário de Defesa Donald Rumsfeld, que antecedeu a Gates, disse que havia 17 escalões de pessoal entre ele e um oficial de linha. Gates acha que atualmente sejam uns 30 escalões.

Se alguns democratas aderiram à reforma de Gates, a maioria dos republicanos está cegamente contra. Eles deveriam se dar ao trabalho de ler os dois últimos discursos de Gates, um para a Liga Naval e o outro na Biblioteca Eisenhower.



Há uma década, havia 17 escalões entre o secretário
de Defesa e um oficial de linha. Hoje, são 30



Gates se revela abertamente um admirador do ex-presidente Dwight Eisenhower (1953-1961). Respeita o comedimento de Eisenhower, a ênfase nas contrapartidas envolvidas no financiamento das Forças Armadas, a relutância em criar o que chamava de “complexo industrial militar”. “(Eisenhower achava que) até uma superpotência como os EUA, então perto do auge de sua força e prosperidade em comparação ao resto do mundo, não tinha recursos políticos, econômicos e militares ilimitados. Usá-los em uma área, por exemplo, numa guerra prolongada no mundo em desenvolvimento, diminuiria a força disponível para fazer qualquer outra coisa”, afirmou Gates sobre o presidente, na biblioteca que o homenageia. “(Eisenhower) detestava ver sua amada república tornar-se um estado de músculos e guarnições – militarmente forte, mas estrategicamente insolvente.”

No espírito de Eisenhower, Gates perguntou em seu discurso para a Liga Naval: “Nós realmente deveríamos reagir tão mal a uma diminuição temporária planejada de 100 caças da Marinha e do corpo de fuzileiros navais se as Forças Armadas dos EUA possuem mais de 3.200 aeronaves táticas de combate de todos os tipos? O número de navios de guerra que o país tem e está construindo realmente coloca os EUA em risco se a frota de guerra americana é maior do que as 13 maiores marinhas seguintes juntas, das quais 11 são de aliados e parceiros? É uma ameaça séria que até 2020 os EUA vão ter só 20 vezes mais caças ‘invisíveis’ que a China?”.

A seriedade de propósito de Eisenhower se refletiu mais do que apenas na estratégia militar. Ele era um verdadeiro conservador fiscal, acreditando que o governo deveria administrar déficits durante recessões, mas superávits durante a recuperação. Em 1960, o vice-presidente dele, Richard Nixon, implorou-lhe para cortar impostos para dar um impulso temporário à economia – e, assim, ajudar suas próprias perspectivas eleitorais. Eisenhower se recusou, com o intuito de deixar o gabinete com um excedente no orçamento, o que acabou se mostrando ser o último em mais de três décadas.

Robert Gates é um conservador genuíno na tradição de Eisenhower. Infelizmente, contando Gates e o quadro de Eisenhower pregado atrás de sua mesa de trabalho, há só duas pessoas desse tipo em Washington hoje em dia.

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