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segunda-feira, 8 de março de 2010

Gestão Nixon mencionou divergências com Brasil

Análise confidencial apontou, nos anos 70, empecilhos para "relação especial" com país

Alguns temas em desacordo na época, como energia nuclear, foram tratados por Hillary Clinton na semana passada, em visita ao Brasil

CLAUDIA ANTUNES

DA SUCURSAL DO RIO

Análise confidencial sobre o "poder e o prestígio internacionais" do Brasil encomendada pelo governo de Richard Nixon (1969-1974) dizia que o estabelecimento de um "relacionamento especial" entre os dois países seria difícil -e mencionava pontos de divergência também tratados na visita da secretária de Estado Hillary Clinton, na semana passada.

A possibilidade de uma relação especial e sua natureza voltaram a ser discutidas em círculos da política externa americana, a partir do aumento do peso brasileiro no continente.

No início dos anos 70, a conclusão da análise desagradou Henry Kissinger, assessor de Segurança Nacional de Nixon e defensor da aliança preferencial com o Brasil. O documento apontava como empecilhos o "desejo brasileiro de obter status de grande potência", divergências sobre economia, desarme e energia nuclear e o risco de desagradar países da região.

"O Brasil gostaria de compartilhar nossa influência única no hemisfério, mas nem os EUA nem os vizinhos latino-americanos parecem dispostos a fazer essa concessão", dizia o texto. O documento, obtido pelo historiador Carlos Fico, da UFRJ, na pesquisa para seu livro "O Grande Irmão" (2008), integra informe mais amplo determinado por Kissinger. A íntegra será divulgada no site do Grupo de Estudos sobre a Ditadura da universidade.

Contexto histórico

Fico ressalta as diferenças de contexto. Na época, por exemplo, o regime militar não havia aderido ao TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), o que o Brasil fez em 1997. "Mas a grande diferença é que o Brasil hoje tem importância efetiva nas negociações globais."

Para o historiador, Kissinger pretendia uma "simulação" de relação especial, sobretudo para obter apoio contra o socialista Salvador Allende no Chile.

Shannon O"Neil, pesquisadora do Brasil no Council on Foreign Relations (Washington), ajuda a situar o documento: "Kissinger tinha essa ideia de que escolher um parceiro regional resolveria tudo, o que não cabe mais num mundo que ruma à multipolaridade".

Mas o documento mostra que o tema da "relação especial" é tão antigo quanto a embaixada brasileira em Washington, inaugurada pelo chanceler Rio Branco (1902-1912) e uma das primeiras a se instalarem na capital americana.

O texto adota tom condescendente tanto diante de iniciativas brasileiras de aproximação quanto em relação à cultivada autonomia da política externa nacional.

O interesse americano se tornou mais concreto na Segunda Guerra, quando os EUA tiveram bases no Nordeste. O país foi o único latino-americano a mandar tropas à Europa, mas o movimento foi seguido de decepção pela ausência de um equivalente no continente ao Plano Marshall.

Ditadura

Com o apoio dos EUA ao golpe militar, o governo Castelo Branco (1964-1967) foi francamente pró-EUA, mas fricções posteriores foram agravadas pela relutância dos EUA em fornecer armas e tecnologia nuclear ao Brasil.

No governo Ernesto Geisel (1974-1979), o Acordo Militar de 1952 foi denunciado e reforçado o programa militar secreto pelo qual o Brasil adquiriu o domínio do ciclo de enriquecimento de urânio.

O Memorando de Entendimento assinado em 1976, prevendo consultas mútuas regulares -semelhante ao "diálogo de parceria global" acertado agora na visita de Hillary- caiu logo em desuso.

Mesmo com a aproximação que se seguiu à democratização brasileira, os EUA mantiveram a expectativa de um relacionamento que daria ao país posição subordinada.

Matias Spektor, autor de "Kissinger e o Brasil" e professor da FGV-Rio, diz que o Brasil sempre oscilou entre três estratégias para lidar com a superpotência: o alinhamento automático, raro; o distanciamento, baseado na tese de que estar fora do foco americano dá mais espaço ao país; e o balanceamento "soft", com a diversificação das relações exteriores brasileiras, modelo atual.

As três se esgotaram, avalia Spektor. "As alianças Sul-Sul só em parte satisfazem nosso interesse. Há um modelo novo a ser feito."

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