´´Observe as tendências mas não Siga a maioria`` Thiago Prado


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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Cartéis de drogas no México



Para discutir formas de intensificar o combate contra o comércio de drogas na fronteira entre o México e os Estados Unidos, o presidente Barack Obama visitou o país no mês de abril de 2009. Na pauta, o grande número de armas de fogo dos EUA que chega aos cartéis mexicanos. A fronteira é um dos mais movimentados pontos de passagem de drogas do mundo, apesar de 30.000 agentes de segurança participarem da operação contra o crime organizado no país. Estima-se que o narcotráfico mexicano, quase todo direcionado aos EUA, movimenta cerca de 20 bilhões de dólares e que dois terços das cerca de 350 toneladas de cocaína que entram no país anualmente cheguem via México. Há dois anos o presidente mexicano Felipe Calderón colocou militares nas ruas para enfrentar os cartéis, o que intensificou ainda mais a violência. Entenda como o narcotráfico opera na fronteira americana.
1. Quais as drogas mais vendidas pelos cartéis mexicanos?
2. Quais os principais cartéis de drogas no México?
3. O México supera a Colômbia no tráfico de cocaína para os Estados Unidos?
4. Como é feito o transporte das drogas?
5. Em quais regiões do México atuam os cartéis?
6. De onde vêm as armas usadas pelos traficantes?
7. Quantas mortes já foram causadas pelo tráfico?
8. Que medidas já foram tomadas contra a ação dos cartéis?
9. Como reage a população mexicana diante da situação?




1. Quais as drogas mais vendidas pelos cartéis mexicanos?

Cocaína e maconha.


2. Quais os principais cartéis de drogas no México?

O Cartel de Sinaloa é um dos mais perigosos e fortemente armados do país e é hoje o principal responsável pela distribuição de cocaína no mundo, transportando a droga desde os campos de cultivo até as ruas das grandes cidades dos EUA. Joaquin Guzman, seu chefe, conhecido como El Chapo, foi considerado neste ano como um dos homens mais ricos do mundo pela revista americana Forbes. Foi capturado 16 anos atrás, mas desde 2001 voltou à ativa.

Los Zetas: grupo paramilitar, originalmente formado para trabalhar para o Cartel del Golfo em uma ação "antiguerrilha" contra os zapatistas na década de 1990, ao lado dos EUA e de Israel. Hoje atuam hoje de forma independente, promovendo operações complexas de narcotráfico que demandam armamentos sofisticados. Seus integrantes traficam armas, promovem sequestros, recolhem os resgates e cometem assassinatos. Suspeita-se que eles sejam financiados por grandes empresas mexicanas. Los Zetas aceitam trabalhos de outros cartéis, como dos Beltrán Levya e do Cartel de Juárez.

O Cartel del Golfo existe desde a década de 1940, entrou para o narcotráfico nos anos 1970 e começou a controlar todas as atividades desse tipo no nordeste do México. Entre 2005 e 2007, seus integrantes enfrentaram o Cartel de Sinaloa pelo controle da cidade de Nuevo Laredo, na fronteira com o Texas. Quem comanda as ações do Cartel del Golfo é Heriberto Lazcano. Seu verdadeiro líder, Osiel Cárdenas, está preso desde 2003.

La Família Michoacana é um grupo que surgiu pequeno, mas está entre os quatro cartéis mais fortes do México. No momento, seus integrantes estão em confronto com os grupos Los Zetas e Beltrán Levya, reagindo aos roubos e sequestros provocados por estes.

O Cartel de Tijuana ficou bastante enfraquecido depois das prisões de seus líderes e do combate do governo ao tráfico. A organização, retratada no filme do diretor Steven Soderbergh Traffic (vencedor de 4 Oscar em 2001), controla o corredor Tijuana (México)-San Diego (EUA). Seu último líder, Fernando Sánchez Arellano, está em guerra com o antecessor, Teodoro García Simental, que teria se aliado ao Cartel de Sinaloa.

O grupo Beltrán Levya fazia parte do Cartel de Sinaloa e se tornou independente. Trabalha em conjunto com outros cartéis, como Los Zetas, contra as forças do Cartel de Sinaloa.

O Cartel de Juárez já foi responsável por cerca de 50% das substâncias ilegais que entram nos EUA pelo México e considerado o responsável pelo crescimento das vendas de heroína mexicana no Texas. Também está em confronto direto com grupo de Sinaloa.



3. O México supera a Colômbia no tráfico de cocaína para os Estados Unidos?

O México já servia de passagem para a droga produzida na Colômbia, principalmente depois que a repressão se intensificou no Caribe e no sul da Flórida, nos anos 1980. Com o aumento da repressão na própria Colômbia, os cartéis mais famosos foram destruídos, como os de Medellín e Cali, o que abriu oportunidades para os mexicanos. Hoje, o país domina a distribuição e o comércio de cocaína nos estados das regiões oeste e central dos EUA, enquanto os colombianos controlam parte do tráfico no leste do país. A produção da cocaína permanece basicamente nas mãos dos sul-americanos. A maconha consumida pelos americanos é quase toda cultivada no México.


4. Como é feito o transporte das drogas?

Os cartéis não economizam nos meios de levar a droga aos EUA. Em junho de 2008, foi capturado na costa do estado de Oaxaca, no sul do México, um submarino carregado com quase 6 toneladas de cocaína. Em novembro de 2007, foram encontrados contêineres com mais de 23 toneladas da droga, em porto do oeste mexicano. Traficantes mexicanos usavam aviões comerciais para transportar grandes quantidades de droga, como Amado Carrillo, conhecido como "O senhor dos céus". Mas a forma mais comum é por baixo da terra, em vários túneis ao longo dos 3.200 quilômetros de fronteira que separam México e EUA. Muitos dos túneis são passagens ligadas à rede de esgotos, podendo ter mais de 1 quilômetro.


5. Em quais regiões do México atuam os cartéis?

Principalmente nas cidades da fronteira com os EUA, como Juárez, Reynosa, Matamoros e Tijuana. O posto de fiscalização mais movimentado do país fica entre Tijuana e a vizinha americana San Diego, na Califórnia. Por ali passam cerca de 43.000 veículos por dia, e os agentes fiscalizam os carros aleatoriamente. Nesse trecho a polícia faz uma média de quinze apreensões de drogas a cada 24 horas. Mas regiões do interior do México já sofrem com a violência dos traficantes, como Michoacan, Monterrey, Cidade do México e Guadalajara.


6. De onde vêm as armas usadas pelos traficantes?

90% das armas usadas pela polícia mexicana vêm dos Estados Unidos, o que facilita a chegada também às mãos dos vários cartéis, apesar de a legislação mexicana exigir que o Ministério da Defesa aprove todas as importações. Armas destinadas à polícia ou às forças armadas são facilmente levadas até os traficantes por meio de agente corruptos. Mas o trânsito ilegal também é forte na fronteira. Segundo texto da instituição americana Brookings, especializada em questões diplomáticas, cerca de 2.000 armas são contrabandeadas dos EUA para o México diariamente.

7. Quantas mortes já foram causadas pelo tráfico?

Em 2008, cerca de 7.000 pessoas foram mortas em crimes relacionados ao tráfico, como assaltos, sequestros e assassinatos. Nos primeiros meses de 2009, calcula-se que o tráfico já matou mais de mil.


8. Que medidas já foram tomadas contra a ação dos cartéis?

Nos primeiros anos de mandato, o presidente Felipe Calderón colocou soldados nas ruas. Em meados de 2008, eram mais de 30.000. Analistas dizem que a medida incentivou ainda mais a violência dos cartéis, que se sentiram ameaçados ou simplesmente quiseram reforçar seu poder. Em março de 2009, as autoridades americanas anunciaram um programa de 184 milhões de dólares para colocar mais 360 agentes em postos fronteiriços. Durante o governo de George W. Bush, foi anunciado um pacote de ajuda de três anos, de 1,4 bilhão de dólares, também destinado a comprar equipamentos para combate às drogas. Estima-se que nos EUA 6 milhões são viciados em heroína, cocaína e metanfetamina.


9. Como reage a população mexicana diante da situação?

Muitas pessoas se incomodam com a presença militar nas ruas, mas consideram uma "mal necessário". "É como se estivéssemos em guerra. Existem soldados por todos os lados, e uma cidade militarizada não é uma cidade. Não se pode dirigir sem ser parado, nem sair sem ser revistado", diz o estudante Glen Villarreal Zambrano. "De certa forma, os militares nos fazem sentir mais seguros. Estamos realmente precisando de apoio, inclusive internacional", complementa.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Orçamentos em Defesa dos Países da América do Sul

Os dados mostram o número total de soldados ativos e de reservistas, o orçamento destinado à Defesa em 2007 e 2008, além do número de soldados para cada 100 mil habitantes em cada uma das nações.

Os números foram condensados pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), uma das mais respeitadas organizações de análise de conflitos do mundo, e comentados por Salvador Raza, diretor do Centro de Tecnologia Relações Internacionais e Segurança (Cetris), com sede em Campinas.







Argentina

Orçamento de defesa 2008: R$ 3,4 bilhões
Forças ativas: 76 mil
Soldados para cada 100 mil hab.: 153
Reservistas: -
Total: 76 mil

“Sofre com a degradação do material militar, que está desestruturado. A Argentina está em um processo de redesenho lento e demorado, que deverá levar cerca de 10 anos. As Forças Armadas sofreram muito nos últimos anos com a pressão do governo, que retirou grande parte da autonomia que eles tinham. Por isso, caíram brutalmente em capacidade operacional e de equipamentos. Além de tudo isso, a crise econômica que eles enfrentam gera ainda mais dificuldades.”






Bolívia
Orçamento de defesa 2008: R$ 447 milhões
Forças ativas: 46,1 mil
Soldados para cada 100 mil hab.: 498
Reservistas: 37,1 mil
Total: 83,2 mil

“A situação é parecida com o Paraguai, mas tem uma diferença: há três ‘Bolívias’ na prática: La Paz, Santa Cruz e Cochabamba. Elas são regiões diferentes e com condicionamento diferente. A Bolívia nunca teve uma força armada expressiva, mas sempre teve um contingente militar orientado para ações policiais. Não é uma força armada forte. Ela sofreu muito nos conflitos do passado e não conseguiu voltar a ser o que era. A Bolívia se aproximou da Venezuela, mas agora mantém um distanciamento seguro. Ao longo dos últimos anos, as Forças Armadas foram voltadas para o combate ao narcotráfico.”







Brasil

Orçamento de defesa 2008: R$ 43 bilhões
Forças ativas: 326.435
Soldados para cada 100 mil hab.: 170
Reservistas: 1.340.000
Total: 1.666.435

“Neste período de compras, o País está em um processo contratual. As Forças Armadas do Brasil estavam muito fracas em termos de equipamento, o material era obsoleto, havia a necessidade de reciclagem. No entanto, isso não significa que o Brasil estava desprotegido. Por trás disso havia uma potência regional, com capacidade de transformar toda a estrutura do País em poder de maneira rápida. Além disso, sempre tivemos um Exército grande. A Força Aérea possui um núcleo mínimo operacional e a Marinha consegue fazer ações limitadas de patrulha. Mesmo mal, um núcleo mínimo de tarefas podia ser feito aliado a esse potencial natural.”







Chile

Orçamento de defesa 2008: R$ 4 bilhões
Forças ativas: 60.560
Soldados para cada 100 mil hab.: 368
Reservistas: 40.000
Total: 100.560

“No Chile, as Forças Armadas são modernas. Não são ‘top de linha’, mas são bem dimensionados. Um exército robusto, mecanizado e bom, especializado no homem, com soldados bem treinados. Tem uma marinha também robusta que em um dado momento era a maior da região, com bons submarinos e fragatas. A Força Aérea é bem equilibrada e relativamente moderna.”







Colômbia

Orçamento de defesa 2008: R$ 95 milhões
Forças ativas: 267.231
Soldados para cada 100 mil hab.: 594
Reservistas: 61.900
Total: 329.131

“É a força armada mais sofisticada da América do Sul, não só pelo equipamento, mas também pela capacidade de se redesenhar de maneira muito rápida. Eles pensam longe, a universidade está muito presente. A Colômbia possui uma força armada que em termos de material está bem, mas em termos de conceito, está muito bem. Eles superam todos os outros.”







Equador

Orçamento de defesa 2008: R$ 43,5 milhões
Forças ativas: 57.983
Soldados para cada 100 mil hab.: 416
Reservistas: 118.000
Total: 200.983

“O Equador estava bem, mas parou no tempo. E nesta parada, estão repensando a função institucional para incorporar tarefas mais de polícia do que de força armada, em um movimento semelhante ao ocorrido na Bolívia.”







Paraguai

Orçamento de defesa 2008: R$ 234,9 milhões
Forças ativas: 10.650
Soldados para cada 100 mil hab.: 156
Reservistas: 164.500
Total: 175.150

“O país está em uma situação que sempre esteve: muito ruim. Eles compraram alguns equipamentos brasileiros no passado, alguns caças Xavante. Eles estiveram durante muito tempo sob o guarda-chuva brasileiro, mas deixamos o Paraguai de lado e o equipamento deles está praticamente inutilizado. Em termos materiais, o país não tem, na prática, capacidade de defesa. No entanto, tem um exército zeloso e com espírito de corpo forte, talvez o mais forte que se pode encontrar.”







Peru

Orçamento de defesa 2008: R$ 2,34 bilhões
Forças ativas: 114.000
Soldados para cada 100 mil hab.: 391
Reservistas: 188.000
Total: 302.000

“É um caso à parte. O Peru teve um crescimento político substantivo e a força armada cresceu junto. Elas são bem desenhadas, mas relativamente pequenas. Houve um esforço de modernização principalmente na área de exército e da Força Aérea para fazer frente a Chile, Equador e Bolívia. No entanto, elas não foram desenhadas para enfrentar múltiplas ameaças simultâneas. Podem enfrentar um conflito de média intensidade e outro pequeno, não mais do que isso. Nos últimos anos, este esforço foi mantido, com bom fluxo financeiro e de material internacional.”



Uruguai

Orçamento de defesa 2008: R$ 529 milhões
Forças ativas: 25.382
Soldados para cada 100 mil hab.: 739
Reservistas: -
Total: 25.382

“Em situação diferente, o Uruguai reduziu as Forças Armadas em um desenho voltado para operações de paz. É o país que mais participa, em números relativos, de operações deste tipo. Eles fizeram uma opção por ser uma força de autodefesa pequena, praticamente voltada para a proteção da costa. São Forças Armadas voltadas para ‘manter o status’.”







Venezuela

Orçamento de defesa 2008: R$ 5,7 bilhões
Forças ativas: 115.000
Soldados para cada 100 mil hab.: 435
Reservistas: 8.000
Total: 123.000

“A Venezuela sofreu um ‘Booster Frio’, ou seja, uma injeção de material que não altera em igual proporção a capacidade de combatência, por não ter sido acompanhado de um desenvolvimento sistêmico das Forças Armadas. Isso não se transforma em poder, não gera novos mecanismo de doutrina e outros elementos, além de ter uma ‘curva de decaimento’ muito rápida. Os equipamentos da Venezuela tendem a ficar obsoletos e aumentar o custo de manutenção. Eles fizeram uma alteração muito radical no desenho das Forças Armadas. Eles criaram um exército popular que orbita em torno do regular. Isso faz com que eles tenham criado uma outra força armada.”


Fonte: Terra

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Grupos terroristas do mundo

O terrorismo se tornou um tema bastante evidente em todos os meios de comunicação, principalmente após os ataques de 11 de setembro aos Estados Unidos. O mundo tem observado o terrorismo como uma ameaça constante, o caso citado não foi o único, existem vários grupos espalhados por todos os continentes e que reivindicam diferentes interesses, a seguir os principais grupos terroristas e onde estão localizados no espaço geográfico mundial.

Al Qaeda: grupo fundamentalista islâmico que possui financiadores para o desenvolvimento de ataques em diferentes pontos do planeta, além disso, detém ramificações da organização, configurando assim como uma atitude globalizada. Esse grupo surgiu no Oriente Médio, porém os ataques ocorrem nessa região e em outros pontos do planeta.

Hamas (Movimento de Resistência Islâmica): grupo que atua em locais próximos à fronteira entre a Palestina e Israel que busca a formação do Estado Palestino através de atentados com homens bomba e outras modalidades.

Jihad Islâmico da Palestina: desenvolve suas práticas em Israel, em áreas ocupadas pela Jordânia e Líbano.

Hizbollah (Partido de Deus): desenvolve-se no Líbano, com participantes nos Estados Unidos, Europa, Ásia, África e América do Sul.

Al Jihad: age no Egito, busca implantar um Estado Islâmico, possui ligação no Afeganistão, Paquistão, Iêmen, Sudão, Líbano e Reino Unido.

Organização Abu Nidal: age principalmente no Iraque, Líbano, Líbia e Egito.

Frente Popular para a Libertação da Palestina: atua na Síria, Líbano, Israel e na Palestina.

Frente popular de Libertação da Palestina - Comando Geral: representa um grupo terrorista que surgiu na Palestina, atua na faixa de Gaza, Síria e Líbano.

Brigada dos Mártires do Al-Aqsa: grupo palestino terrorista que atua com ataques, atentados, rebeliões contra Israel.

Grupo Abu Sayyaf: age especialmente no sul das Filipinas e Malásia.

Grupo Islâmico Armado (GIA): age na Argélia, esse grupo terrorista se formou em 1992.

Kach e Kahane Chai: grupo terrorista israelense que busca a implantação do território conforme está expresso na Bíblia, dessa forma seu maior inimigo é a Palestina.

Grupo Islâmico (GI): grupo terrorista que atua no Egito, além do Afeganistão, Sudão, Reino Unido, Iêmen e Áustria.

HUM (Harakat ul-Mujahidin): grupo extremista que age em função do islamismo em países como o Paquistão e Índia, na região da Cachemira.

Movimento Islâmico do Usbequistão: tem suas atuações, sobretudo, no Usbequistão, além do Afeganistão, Tajiquistão e Quirguízia.

Partido dos Trabalhadores do Curdistão: corresponde a um grupo que aspira por território e independência, representa o povo curdo, age na Turquia, Iraque, Síria e Europa Ocidental.

Exército de Libertação Nacional do Irã: grupo que busca a expansão do islamismo.

Tigres Tâmeis: grupo separatista que busca a independência entre o norte e o sul do Sri Lanka.

ETA (Pátria Basca e Liberdade): busca a independência territorial da França e Espanha.

Ira (Exército Republicano Irlandês): luta pela saída das forças britânicas do território da Irlanda, atua em partes da Europa, especialmente na Irlanda do Norte. Esse é um grupo católico.

Ensinamentos da Verdade Suprema: grupo com base religiosa que acredita que o fim do mundo está próximo e esse será decorrente da Terceira Guerra Mundial entre Estados Unidos e Japão.

Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia): corresponde a um grupo guerrilheiro que desenvolve um estado paralelo no Colômbia, sua atuação é mais evidenciada na Venezuela, Panamá e Equador, além dos ataques, atentados e seqüestros ocorridos internamente.

Exército de Libertação Nacional – Colômbia: esse grupo tem sua atuação na Colômbia e têm ideais semelhantes aos praticados em Cuba, promove uma grande quantidade de seqüestros no país, principalmente de estrangeiros.

Autodefesas Unidas da Colômbia: grupo vinculado ao narcotráfico que visa proteger seus negócios contra as ações da Farc, além de garantir o plantio da coca e o mercado de cocaína.

Sendero Luminoso: grupo guerrilheiro que age no Peru em busca da implantação de um estado comunista.

Movimento Revolucionário Tupac Amaru: grupo que atua no Peru e visa à instauração do regime socialista no país.

Frente Revolucionária de Libertação Popular: grupo com ideais marxistas que age na Turquia e contra os Estados Unidos.

Organização Revolucionária 17 de Novembro: atua na Grécia contra Estados Unidos, OTAN e União Européia.

Luta Revolucionária do Povo: grupo que foi criado para confrontar o governo militar e a ditadura que vigorou na Grécia na década de 70.

Grupos separatistas chechenos: grupos terroristas que buscam a independência da Chechênia em relação à Rússia, esses cometem uma série de atentados.

Por Eduardo de Freitas
Graduado em Geografia
Equipe Brasil Escola

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

"Não existe aquecimento global"

Com 40 anos de experiência em estudos do clima no planeta, o meteorologista da Universidade Federal de Alagoas Luiz Carlos Molion apresenta ao mundo o discurso inverso ao apresentado pela maioria dos climatologistas. Representante dos países da América do Sul na Comissão de Climatologia da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Molion assegura que o homem e suas emissões na atmosfera são incapazes de causar um aquecimento global. Ele também diz que há manipulação dos dados da temperatura terrestre e garante: a Terra vai esfriar nos próximos 22 anos.

Em entrevista ao UOL, Molion foi irônico ao ser questionado sobre uma possível ida a Copenhague: “perder meu tempo?” Segundo ele, somente o Brasil, dentre os países emergentes, dá importância à conferência da ONU. O meteorologista defende que a discussão deixou de ser científica para se tornar política e econômica, e que as potências mundiais estariam preocupadas em frear a evolução dos países em desenvolvimento.



UOL: Enquanto todos os países discutem formas de reduzir a emissão de gases na atmosfera para conter o aquecimento global, o senhor afirma que a Terra está esfriando. Por quê?

Luiz Carlos Molion: Essas variações não são cíclicas, mas são repetitivas. O certo é que quem comanda o clima global não é o CO2. Pelo contrário! Ele é uma resposta. Isso já foi mostrado por vários experimentos. Se não é o CO2, o que controla o clima? O sol, que é a fonte principal de energia para todo sistema climático. E há um período de 90 anos, aproximadamente, em que ele passa de atividade máxima para mínima. Registros de atividade solar, da época de Galileu, mostram que, por exemplo, o sol esteve em baixa atividade em 1820, no final do século 19 e no inicio do século 20. Agora o sol deve repetir esse pico, passando os próximos 22, 24 anos, com baixa atividade.

UOL: Isso vai diminuir a temperatura da Terra?

Molion: Vai diminuir a radiação que chega e isso vai contribuir para diminuir a temperatura global. Mas tem outro fator interno que vai reduzir o clima global: os oceanos e a grande quantidade de calor armazenada neles. Hoje em dia, existem boias que têm a capacidade de mergulhar até 2.000 metros de profundidade e se deslocar com as correntes. Elas vão registrando temperatura, salinidade, e fazem uma amostragem. Essas boias indicam que os oceanos estão perdendo calor. Como eles constituem 71% da superfície terrestre, claro que têm um papel importante no clima da Terra. O [oceano] Pacífico representa 35% da superfície, e ele tem dado mostras de que está se resfriando desde 1999, 2000. Da última vez que ele ficou frio na região tropical foi entre 1947 e 1976. Portanto, permaneceu 30 anos resfriado.

UOL: Esse resfriamento vai se repetir, então, nos próximos anos?

Molion: Naquela época houve redução de temperatura, e houve a coincidência da segunda Guerra Mundial, quando a globalização começou pra valer. Para produzir, os países tinham que consumir mais petróleo e carvão, e as emissões de carbono se intensificaram. Mas durante 30 anos houve resfriamento e se falava até em uma nova era glacial. Depois, por coincidência, na metade de 1976 o oceano ficou quente e houve um aquecimento da temperatura global. Surgiram então umas pessoas - algumas das que falavam da nova era glacial - que disseram que estava ocorrendo um aquecimento e que o homem era responsável por isso.

UOL: O senhor diz que o Pacífico esfriou, mas as temperaturas médias Terra estão maiores, segundo a maioria dos estudos apresentados.

Molion: Depende de como se mede.

UOL: Mede-se errado hoje?

Molion: Não é um problema de medir, em si, mas as estações estão sendo utilizadas, infelizmente, com um viés de que há aquecimento.

UOL: O senhor está afirmando que há direcionamento?

Molion: Há. Há umas seis semanas, hackers entraram nos computadores da East Anglia, na Inglaterra, que é um braço direto do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática], e eles baixaram mais de mil e-mails. Alguns deles são comprometedores. Manipularam uma série para que, ao invés de mostrar um resfriamento, mostrassem um aquecimento.

UOL: Então o senhor garante existir uma manipulação?

Molion: Se você não quiser usar um termo tão forte, digamos que eles são ajustados para mostrar um aquecimento, que não é verdadeiro.

UOL: Se há tantos dados técnicos, por que essa discussão de aquecimento global? Os governos têm conhecimento disso ou eles também são enganados?

Molion: Essa é a grande dúvida. Na verdade, o aquecimento não é mais um assunto científico, embora alguns cientistas se engajem nisso. Ele passou a ser uma plataforma política e econômica. Da maneira como vejo, reduzir as emissões é reduzir a geração da energia elétrica, que é a base do desenvolvimento em qualquer lugar do mundo. Como existem países que têm a sua matriz calcada nos combustíveis fósseis, não há como diminuir a geração de energia elétrica sem reduzir a produção.

UOL: Isso traria um reflexo maior aos países ricos ou pobres?

Molion: O efeito maior seria aos países em desenvolvimento, certamente. Os desenvolvidos já têm uma estabilidade e podem reduzir marginalmente, por exemplo, melhorando o consumo dos aparelhos elétricos. Mas o aumento populacional vai exigir maior consumo. Se minha visão estiver correta, os paises fora dos trópicos vão sofrer um resfriamento global. E vão ter que consumir mais energia para não morrer de frio. E isso atinge todos os países desenvolvidos.

UOL: O senhor, então, contesta qualquer influência do homem na mudança de temperatura da Terra?

Molion: Os fluxos naturais dos oceanos, polos, vulcões e vegetação somam 200 bilhões de emissões por ano. A incerteza que temos desse número é de 40 bilhões para cima ou para baixo. O homem coloca apenas 6 bilhões, portanto a emissões humanas representam 3%. Se nessa conferência conseguirem reduzir a emissão pela metade, o que são 3 bilhões de toneladas em meio a 200 bilhões?Não vai mudar absolutamente nada no clima.

UOL: O senhor defende, então, que o Brasil não deveria assinar esse novo protocolo?

Molion: Dos quatro do bloco do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil é o único que aceita as coisas, que “abana o rabo” para essas questões. A Rússia não está nem aí, a China vai assinar por aparência. No Brasil, a maior parte das nossas emissões vem da queimadas, que significa a destruição das florestas. Tomara que nessa conferência saia alguma coisa boa para reduzir a destruição das florestas.

UOL: Mas a redução de emissões não traria nenhum benefício à humanidade?

Molion: A mídia coloca o CO2 como vilão, como um poluente, e não é. Ele é o gás da vida. Está provado que quando você dobra o CO2, a produção das plantas aumenta. Eu concordo que combustíveis fósseis sejam poluentes. Mas não por conta do CO2, e sim por causa dos outros constituintes, como o enxofre, por exemplo. Quando liberado, ele se combina com a umidade do ar e se transforma em gotícula de ácido sulfúrico e as pessoas inalam isso. Aí vêm os problemas pulmonares.

UOL: Se não há mecanismos capazes de medir a temperatura média da Terra, como o senhor prova que a temperatura está baixando?

Molion: A gente vê o resfriamento com invernos mais frios, geadas mais fortes, tardias e antecipadas. Veja o que aconteceu este ano no Canadá. Eles plantaram em abril, como sempre, e em 10 de junho houve uma geada severa que matou tudo e eles tiveram que replantar. Mas era fim da primavera, inicio de verão, e deveria ser quente. O Brasil sofre a mesma coisa. Em 1947, última vez que passamos por uma situação dessas, a frequência de geadas foi tão grande que acabou com a plantação de café no Paraná.

UOL: E quanto ao derretimento das geleiras?

Molion: Essa afirmação é fantasiosa. Na realidade, o que derrete é o gelo flutuante. E ele não aumenta o nível do mar.

UOL: Mas o mar não está avançando?

Molion: Não está. Há uma foto feita por desbravadores da Austrália em 1841 de uma marca onde estava o nível do mar, e hoje ela está no mesmo nível. Existem os lugares onde o mar avança e outros onde ele retrocede, mas não tem relação com a temperatura global.

UOL: O senhor viu algum avanço com o Protoclo de Kyoto?

Molion: Nenhum. Entre 2002 e 2008, se propunham a reduzir em 5,2% as emissões e até agora as emissões continuam aumentando. Na Europa não houve redução nenhuma. Virou discursos de políticos que querem ser amigos do ambiente e ao mesmo tempo fazer crer que países subdesenvolvidos ou emergentes vão contribuir com um aquecimento. Considero como uma atitude neocolonialista.

UOL: O que a convenção de Copenhague poderia discutir de útil para o meio ambiente?

Molion: Certamente não seriam as emissões. Carbono não controla o clima. O que poderia ser discutido seria: melhorar as condições de prever os eventos, como grandes tempestades, furacões, secas; e buscar produzir adaptações do ser humano a isso, como produções de plantas que se adaptassem ao sertão nordestino, como menor necessidade de água. E com isso, reduzir as desigualdades sociais do mundo.

UOL: O senhor se sente uma voz solitária nesse discurso contra o aquecimento global?

Molion: Aqui no Brasil há algumas, e é crescente o número de pessoas contra o aquecimento global. O que posso dizer é que sou pioneiro. Um problema é que quem não é a favor do aquecimento global sofre retaliações, têm seus projetos reprovados e seus artigos não são aceitos para publicação. E eles [governos] estão prejudicando a Nação, a sociedade, e não a minha pessoa.

O fim do 'chefe dos chefes'

Governo mexicano derruba traficante de 1º escalão em sua maior vitória contra o narcotráfico

CIDADE DO MÉXICO



Duzentos fuzileiros navais invadiram anteontem um condomínio de luxo numa cidade de veraneio do México e mataram um dos traficantes de droga mais procurados do mundo: Arturo Beltrán Leyva, conhecido como "chefe dos chefes", um dos três mais poderosos do país. A operação, que contou com helicópteros, agentes descendo edifícios por rapel e quase duas horas de tiroteio, foi a mais exitosa do governo do presidente mexicano, Felipe Calderón - que assumiu o cargo em 2006 anunciando uma cruzada contra o tráfico. Até agora, apesar de elogiado pelos Estados Unidos por seus esforços, o governo Calderón só tinha conseguido atingir traficantes de segundo e terceiro escalões.

- Essa ação representa uma conquista muito importante para o povo e o governo do México, e um golpe contundente contra uma das organizações criminais mais perigosas do México e do Continente - afirmou Calderón de Copenhague, onde participa da cúpula do clima.

Beltrán Leyva era dissidente do cartel de Sinaloa, tido como o mais poderoso do México, e criara junto com seus irmãos uma organização com seu sobrenome que se tornou uma das mais violentas do país. Execuções do grupo criminoso e disputas com outras gangues foram responsáveis por parte das 14 mil pessoas mortas durante a guerra contra o tráfico do governo Calderón, que mobiliza mais de 45 mil policiais pelo país.



Leões, tigres e panteras negras

A morte "chefe dos chefes", segundo o governo, deve aumentar a violência no México devido às disputas internas dentro do cartel para assumir o posto do traficante. Ela ocorre também em meio a uma escalada da violência nos estados do norte e oeste do país. Na quarta-feira, no estado de Durango (norte), foram encontradas as cabeças de seis policiais, em vingança pela morte de 10 membros do Cartel do Golfo.

- Sem dúvida derrubar um líder é um golpe muito forte para um cartel e isso com certeza obrigará que haja reestruturações, não está descartado que haja violência dentro desse cartel até que se definam as linhas de comando - disse ontem o procurador Arturo Chávez.

A operação foi meticulosamente calculada e durou ao todo quase quatro horas. Ao entardecer de quarta-feira, parte dos 200 fuzileiros invadiram o prédio onde estava Beltrán Leyva descendo pelos telhados por rapel e, silenciosamente, bateram de porta em porta para evacuar moradores até uma academia de ginástica do complexo luxuoso.

Armados com rifles de assalto, os fuzileiros também interromperam uma festa de graduação que acontecia em volta de uma piscina do condomínio e levaram os jovens à academia, pedindo que todos esperassem em silêncio, e sem usar seus celulares.

Nenhum inocente foi morto. Além de Beltrán Leyva, seis membros de seu cartel morreram durante o tiroteio na cidade de Cuernavaca, a 80 quilômetros ao sul da Cidade do México. Um deles foi encontrado morto em frente ao apartamento triplex em que estavam, aparentemente depois de ter se suicidado. Um fuzileiro foi morto vítima de granadas lançadas pelos traficantes e dois foram feridos.

- Primeiro pedimos que se entregassem, mas eles não se renderam e abriram fogo - contou um dos fuzileiros que participaram da operação, com o rosto coberto por uma máscara por motivos de segurança.

O governo mexicano, que conta com verba americana para a luta contra o tráfico, havia oferecido uma recompensa de US$2,4 milhões pelo paradeiro do traficante. Beltrán Leyva foi acusado em agosto de ser corresponsável pelo envio de 200 toneladas de cocaína e grandes quantidades de heroína nas últimas décadas para os Estados Unidos.

Conhecido também pelos apelidos de "A Morte", "O Barbas" e "O Botas Brancas", Beltrán Leyva tinha 49 anos. O barão das drogas foi um influente membro do cartel de Sinaloa até janeiro de 2008, quando seu irmão Alfredo foi preso numa operação atribuída a uma traição interna do megatraficante Joaquim Guzman. Junto com quatro irmãos, Beltrán Leyva fundou um cartel próprio que detinha o controle do tráfico na capital, no centro e no sul do país.

Nesses locais, Beltrán Leyva contava com a proteção de policiais corruptos e podia circular entre mansões e apartamentos de luxo. Numa das mansões, nas cercanias da capital, a polícia deu uma batida numa festa no ano passado: encontrou uma gangue colombiana que trabalhava para o traficante, dois leões africanos, dois tigres e duas panteras negras em jaulas.

- Morelos era um estado onde o senhor Beltrán Leyva tinha proteção institucional e era necessário usar alguém totalmente de fora, a Marinha, para poder romper seu cerco de segurança - afirmou o analista de segurança Alberto Islas.

O cartel de Sinaloa continua sendo comandado das sombras por Guzmán, foragido desde 2001, de uma prisão de segurança máxima dentro de cestos de roupa suja. Guzmán é o homem mais procurado no México.

Farc e ELN anunciam união na Colômbia contra Uribe

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN) — as duas organizações guerrilheiras que atuam no país — anunciaram a união de suas forças para lutar contra o governo do presidente Álvaro Uribe(1). Em comunicado conjunto, prometem atuar com “fraternidade e camaradagem” entre si. “Caminhamos para trabalhar pela unidade para enfrentar, com firmeza e beligerância o atual regime”, diz o texto, assinado pelo Secretariado Nacional das Farc e pelo Comando Central (CoCe) do ELN e divulgado pela agência de notícias Anncol, com sede em Estocolmo.

De acordo com as estimativas da inteligência militar, as duas guerrilhas somam um efetivo da ordem de 14 mil combatentes. O ELN, inspirado pela Teologia da Libertação e pela Revolução Cubana, tem um histórico de rivalidade e até confrontos armados com as Farc, nascidas da esquerda comunista. O comunicado conjunto ordena todas as frentes de ambas as organizações a cessar os confrontos dos últimos anos pelo controle político e territorial de várias regiões do país. “Assumimos o compromisso de habilitar os espaços e mecanismos que permitam esclarecer e encontrar as verdadeiras causas que nos levaram a essa absurda confrontação, a superá-las e trabalhar por ressarcir os danos causados.”

As Farc e o ELN citam como seu “único inimigo” o “imperialismo norte-americano e sua oligarquia lacaia”, e empenham toda a “energia combativa e revolucionária” para enfrentá-lo. O comunicado, datado de “novembro de 2009, nas montanhas da Colômbia”, é apresentado como produto de uma reunião entre os altos comandos das duas organizações, mas não há referência a onde e quando ela teria ocorrido.

No início da semana, o líder máximo das Farc, Alfonso Cano, apareceu em um vídeo exibido durante uma conferência continental de núcleos bolivarianos, realizada na Venezuela. Fardado, ele lê na tela de um laptop seu pronunciamento, no qual ataca a cessão de bases militares colombianas aos Estados Unidos — um dos motivos alegados para a aliança. Afirma que a presença de tropas americanas na Colômbia “não se circunscreve ao combate contra o narcotráfico e o chamado terrorismo, mas busca desestabilizar o processo desenvolvimentista e independentista na América Latina”. E dispara: “A guerra ao narcotráfico é uma estratégia fracassada que os EUA utilizam como pretexto para intervir e agredir em diversos lugares do mundo”.



“Propaganda”

Na Casa de Nariño, sede do governo colombiano, assim como em alguns ministérios, a notícia da aliança entre as guerrilhas foi vista como “mera propaganda”. O vice-presidente, Francisco Santos, afirmou que não se responde “aos terroristas” com palavras, mas “com a força pública”. O chefe das Forças Armadas, general Freddy Padilla, destacou que as disputas entre as Farc e o ELN tornam esse tipo de acordo “impossível” de se concretizar. “Os colombianos não devem se enganar nem surpreender: essa aliança é impossível na profundidade, eles têm disputas de controle territorial pelo narcotráfico, mataram-se entre eles no sul de Bolívar (norte do país) e em Arauca (fronteira com a Venezuela)”, argumentou Padilla em entrevista à Rádio Caracol.

O ministro da Defesa, Gabriel Silva, também apontou o acordo entre os rebeldes como uma “estratégia de sobrevivência e um sinal de debilidade”, que demonstraria o acerto da política de guerra total declarada por Uribe. Silva declarou ainda que o governo tem informações de que “15 líderes guerrilheiros se encontram na Venezuela”. Um deles poderia ser o comandante máximo do ELN, Nicolás Rodríguez, chamado também de Gabino. “Faço um apelo à Venezuela para que atue conforme as leis internacionais e capture e extradite esses terroristas”, disse Silva. Em Copenhague, onde participa da Conferência sobre Mudança Climática, Uribe pediu que outros países façam sua parte e persigam os guerrilheiros, pois considera que é a única forma de conseguir a paz na Colômbia. 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O contexto energético da América do Sul

O professor Braz de Araujo, coordenador do Núcleo de Análise Interdisciplinar de Políticas e Estratégia/Naippe, da Universidade de São Paulo, costumava trabalhar com a ideia de Paradigma estratégico.

Este instrumental de análise parte do princípio – e remonta à ciência militar – de que objetivos, meios e valores devem ser visualizados para conjecturas no campo do poder.

A busca de um equilíbrio entre objetivos, meios e valores é condição para que estes sejam, inclusive, mais bem compreendidos na perspectiva conceitual.

Sendo assim, com relação à área da energia – sobreposta ao xadrez geopolítico da América do Sul –, como estaria desenhado o equilíbrio entre objetivos, meios e valores, se considerada a posição relativa de alguns estados? Brasil, Venezuela, Argentina, Bolívia e Chile possuem os mesmos objetivos, meios e valores para, assim, podermos compreender a América do Sul como um contexto equilibrado na área da oferta e demanda de energia? Nesta perspectiva, o Brasil parece mais cooperativo, ofertando energia e desenvolvimento processual sob a égide de um regime político-institucional mais sedimentado.

Infraestrutura de produção e de distribuição minimamente descentralizada, parcerias no campo tecnológico, somadas aos trâmites democráticos de decisão política são os diferenciais neste caso.

A Venezuela, por exemplo, se configuraria como não cooperativa, disponibilizando poucos meios (tecnologia, por exemplo) e sendo muito assertiva nos objetivos; estes últimos ultrapassariam as questões de Estado, implicando na existência de uma política pública energética do governo Chávez e de sua agenda bolivariana A Argentina, mesmo sendo um centro importante de oferta de petróleo e gás na América do Sul, numa perspectiva histórica acabou por ter sua posição relativizada pela presença brasileira, quer seja no tocante ao processo de desenvolvimento econômico como um todo e/ou pela liderança inconteste do Brasil nos acordos de integração, como o Mercosul. A oferta portenha de energia ficou muito a reboque do peso sistêmico do país no cenário internacional e, neste caso, comparativamente ao Brasil, a Argentina perdeu posições de prestígio e visibilidade real.

O caso chileno infere alguma autonomia por parte de um modelo econômico mais liberal e de abertura operacional. Valores e meios estão dimensionados com alguma eficiência. Mas a relevância chilena no tocante à capacidade energética acaba sendo sombreada pela posição do Brasil em uma nova era – a era pré-sal.

Os objetivos do Chile nesta seara devem ser repensados.

A Bolívia se encontra em posição mais delicada. Sua participação no mercado de energia da América do Sul está muito atrelada aos interesses e projetos brasileiros. Somada a isto, a agenda de Evo Morales é por demais ideológica, obstaculizando processos de aproximação e de cooperação com outros países e empresas do setor.

Assim os valores de fundamentação político-ideológica se interpõem junto aos objetivos esperados pela sociedade boliviana. E os meios ainda devem ser aprimorados no campo da tecnologia.

Em relação ao Brasil, a Argentina perdeu posições de prestígio e visibilidade real





Fronteira Uruguai–Argentina não terá outra indústria

Jornal do Brasil



DA REDAÇÃO - Uma questão que têm acirrado os ânimos entre uruguaios e argentinos foi amenizada terça-feira, depois que diretores do grupo sueco-finlandês Stora Enso confirmaram que não instalarão mais planta industrial na cidade uruguaia de Fray Bentos, onde já existe outra fábrica de celulose que gerou conflito diplomático entre os dois países fronteiriços.

Antes da decisão anunciada terça-feira, ao saber da possibilidade de ser construída uma nova fábrica na cidade, o presidente eleito do Uruguai, José Mujica, se manifestou contra a ideia. O presidente da Stora Enzo para a América Latina, Nils Grafstrom, não descattou, porém, a instalação de uma fábrica no Uruguai.

– É lógico não construir a fábrica em um lugar onde podemos causar problemas para o governo. Considerando as variáveis econômicas, físicas e sociais, posso confirmar que há outros lugares no Uruguai que apresentam condições mais adequadas para nós do que Fray Bentos – disse Grafstrom.

Em novembro de 2007, a empresa finlandesa Botnia instalou uma fábrica de celulose na cidade de Fray Bentos, próxima à fronteira binacional com a Argentina, demarcada pelo Rio Uruguai.

Há mais de três anos, moradores e ambientalistas argentinos denunciam que a companhia causará uma contaminação no rio, prejudicando as condições de vida na divisa natural entre os dois países. Como forma de protesto, bloquearam a ponte internacional General San Martín.



Haia

O caso provocou tensões diplomáticas entre Argentina e Uruguai e acabou sendo levado à Corte Internacional de Haia. O julgamento da questão está previsto para ocorrer no início de 2010.

A oposição de Mujica, que assumirá a Presidência uruguaia em 1º de março de 2010, em relação à instalação de nova empresa no local, foi criticada por comerciantes da região.

– As empresas são fundamentais e os investimentos também, mas a relação com a Argentina é muito importante – declarou o presidente eleito, que afirmou ainda ter a intenção de realizar um acordo com o país vizinho, governado por Cristina Kirchner.

Na semana passada, Cristina e Mujica se reuniram de maneira informal durante a 38ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, realizada em Montevidéu, no Uruguai.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Ciência ou farsa?

A reunião de Copenhague discute o futuro da humanidade diante das mudanças do clima. Bilhões de dólares — quem sabe trilhões — estarão em jogo, tanto em termos de investimentos em tecnologias mais limpas (caras e ineficientes), como da eliminação dos combustíveis fósseis (mais baratos e eficientes). Diante de valores tão expressivos, o mínimo que se poderia esperar é que as pesquisas sobre o aquecimento global — e principalmente em que medida ele é natural ou provocado pela ação humana — fossem confiáveis e produzidas dentro de rigores científicos metodologicamente consagrados.

Infelizmente, no entanto, há fundadas suspeitas de que podemos estar diante de uma fraude. Eu sei que isso parece conversa de maluco ou, no mínimo, de gente que acredita em teoria da conspiração. Não censuro quem assim pensa, afinal somos bombardeados quase todos os dias com notícias e reportagens repletas de catástrofes naturais atribuídas ao aquecimento global, todas elas ornadas com belas fotografias e filmes de ursos polares solitários, imensos icebergs perdidos no meio do oceano e geleiras milenares derretendo para sempre. Ainda que seja difícil acreditar que um aumento médio comprovado da temperatura terrestre de parcos 0,5º C nos últimos 150 anos possa desencadear tantos desastres, o apelo catastrofista é muito forte, especialmente se não temos acesso às informações por inteiro. Por exemplo: você sabia que as temperaturas médias terrestres não sofreram qualquer aumento desde 1998, embora os níveis de CO2 na atmosfera tenham crescido ininterruptamente nos últimos 11 anos? Em novembro passado estourou um dos maiores escândalos científicos dos últimos tempos, envolvendo ninguém menos que alguns próceres das pesquisas sobre o aquecimento global. Um hacker divulgou na internet um conjunto de e-mails e arquivos trocados entre cientistas da Universidade britânica de East Anglia e vários de seus correspondentes mundo afora. Esta universidade, através de sua Unidade de Pesquisas Climáticas (CRU), é responsável, entre outras coisas, pelo cálculo das temperaturas médias globais utilizadas pelo Painel Internacional de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, e seu atual diretor, Dr. Phil Jones, um dos autores do capítulo do relatório do mesmo IPCC que trata da “detecção das mudanças climáticas e suas causas”.

A leitura desses arquivos sugere, como bem resumiu Andrew Bolt, uma grande e embaraçosa teia de conluios, falsificações, destruição (possivelmente ilegal) de dados e informações, resistência organizada à divulgação de ideias contrárias, manipulação de dados estatísticos, admissão privada de erros e muito mais.

Para se ter uma ideia do descalabro, há um e-mail de Kevin Trenberth que, entre confuso e arrogante, tenta entender por que não há qualquer aquecimento desde 1998. Diz o valente: “O fato é que não podemos explicar a falta de aquecimento no momento e é ridículo que nós não possamos.” Então, no lugar de celebrar a boa notícia, o indigitado prefere culpar o termômetro pela ausência de febre e arremata: “Nosso sistema de observação é inadequado.” Seria cômico, não fosse trágico.

As mensagens também mostram, em cores nítidas, como o Dr. Phil Jones discute com os colegas as táticas e estratagemas para evitar liberação de dados para cientistas de fora da sua igrejinha. Ficamos conhecendo cada uma das desculpas e artimanhas utilizadas para ocultar as medições primárias sobre as quais seus registros de temperatura foram baseados e elaborados. Além disso, a turma é instada, por mais de uma ocasião, a apagar arquivos de dados armazenados em seus computadores.

É profundamente lamentável verificar o descaramento com que se manipulam dados, sempre visando a reduzir os registros de temperaturas passadas e “ajustar” as mais recentes para cima, a fim de dar impressão de um aquecimento acelerado. Mas a coisa não para aí. Não bastasse a desonestidade intelectual e desprezo total pelo método científico, há ainda uma implacável determinação para silenciar todo e qualquer especialista que ouse questionar suas “descobertas”.

A estratégia consiste não apenas da recusa sistemática de disponibilizar seus dados básicos à comunidade científica, mas também — e acima de tudo — de tentativas concertadas de desacreditar qualquer jornal ou revista científica que se atreva a publicar os trabalhos e estudos dos chamados céticos. Eis, afinal, como o tal “consenso” foi fabricado.

Ademais, é preocupante que decisões tão importantes para o futuro da humanidade, como as de Copenhague, venham a ser tomadas a partir de informações no mínimo imprecisas e viciadas por interesses muito além da ciência, no lugar de pesquisas isentas, debates abertos e transparentes.

Fonte: O Globo, 15 de dezembro

“A internet nos suga como uma esponja”

Um dos maiores palestrantes do mundo empresarial diz que viver conectado é prejudicial a nosso cérebro

Alexandre Mansur



Para Nicholas Carr, um dos palestrantes mais valorizados do mundo dos negócios, a dependência da troca de informações pela internet está empobrecendo nossa cultura. Mais ainda: nosso intelecto, ao se acostumar aos múltiplos estímulos das redes sociais, aos e-mails e aos comunicadores instantâneos, perde a capacidade de raciocínios elaborados. Autor de um famoso artigo cujo título resume o conteúdo – “O Google está nos tornando mais estúpidos?” – , Carr está preparando um livro de nome igualmente provocativo – numa tradução literal, O raso: o que a internet está fazendo com nosso cérebro. Ele falou a ÉPOCA durante uma visita ao Brasil para uma palestra a 4.500 líderes empresariais, num dos maiores eventos para executivos do país.

Nicholas Carr

QUEM É

Americano, 50 anos, é formado em Harvard e autor de livros de tecnologia e administração, é membro do conselho editorial da Enciclopédia Britânica

O QUE FEZ

Ficou famoso pela crítica à qualidade de “obras abertas” da internet, como a Wikipédia, e por artigos em que afirma que as empresas deveriam terceirizar o investimento em tecnologia da informação



ÉPOCA – A internet afeta a inteligência?

Nicholas Carr – Você fica pulando de um site para o outro. Recebe várias mensagens ao mesmo tempo. É chamado pelo Twitter, pelo Facebook ou pelo Messenger. Isso desenvolve um novo tipo de intelecto, mais adaptado a lidar com as múltiplas funções simultâneas, mas que está perdendo a capacidade de se concentrar, ler atentamente ou pensar com profundidade. Isso é um resultado da dependência crescente em relação à internet. Essa forma de pensar vai reduzir nossa habilidade para pensar contemplativamente. Ela prejudica nossa cabeça.



ÉPOCA – Quais seriam as consequências?

Carr – A riqueza de nossa cultura não é apenas quanta informação você consegue juntar. Ela tem a ver com os indivíduos pensando profundamente sobre a informação, refletindo sobre ela, avaliando pessoalmente os dados que recebe e não se deixando passivamente bombardear por vários estímulos. Estamos perdendo isso agora. Toda a cultura fica mais rasa. Temos acesso democrático à informação, mas o resultado é mais pobre. Temos menos condições de compreender as grandes obras da arte, da ciência ou da literatura, que exigem uma concentração mais profunda.



ÉPOCA – As pessoas deveriam ficar desconectadas de vez em quando?

Carr – Sim. Deveríamos desconfiar da internet. É claro que conseguir bastante informação útil é parte de nossa vida moderna. Mas precisamos encorajar continuamente o outro lado, que é a aquisição calma e contemplativa do conhecimento. Isso exige ficar fora do fluxo contínuo de informação. Só não sei se isso será possível porque nossa vida social está cada vez mais dependente de quão conectados estamos. Seu grupo de amigos está embrulhado em redes sociais na internet. Você precisa da internet para executar seu trabalho. Não para de olhar para seu BlackBerry. Não é mole se desligar disso tudo.



ÉPOCA – A filosofia grega foi construída em cima de debates. O pensamento de Platão são conversas com seus discípulos. Por que não daria para erigir conhecimento a partir da interação com os outros?

Carr – Nos Diálogos de Platão, temos duas pessoas dedicadas a uma conversa atenta sobre determinado tema. Se você entra on-line, encontra dezenas de pessoas trocando mensagens de texto, vendo e-mails, escrevendo no Twitter e pulando de uma página para outra. A troca de informação ocorre com interrupções o tempo todo. Sócrates sentava-se embaixo de uma árvore e pensava longamente enquanto conversava com seus discípulos. É muito diferente do que fazemos agora.



ÉPOCA – Uma das maiores lojas on-line, a Amazon, vende livros. As pessoas baixam livros no Kindle. Até o senhor vende livros. Isso não significa que as pessoas ainda leem textos extensos?

Carr – É verdade que as pessoas ainda lerão livros por muito tempo. Mas o porcentual de tempo dedicado à mídia impressa vem caindo. A média americana é de um livro por dia, o que ainda é muito bom. Só que o ato de ler uma página após a outra fica cada vez mais difícil à medida que você se adapta à comunicação da internet. Eu mesmo sinto isso. Antes eu me sentava e lia por horas. Agora, fico pensando se devia conferir meu e-mail ou acho ruim não encontrar hiperlinks no texto.

“AS CRIANÇAS NÃO DEVEM MEXER EM COMPUTADORES DE JEITO NENHUM. OS PAIS DEVEM DEIXAR OS FILHOS AO MÁXIMO LONGE DAS TELAS”



ÉPOCA – Essa habilidade para múltiplas tarefas e para administrar várias informações simultâneas não nos dá, em compensação, maior capacidade para criar novas ideias?

Carr – Certamente temos maior capacidade para encontrar informação ou relacionar uma com a outra. Mas dependemos cada vez mais de conexões externas. Você estabelece uma relação porque clicou em um hiperlink que alguém deixou lá. Já construir as próprias relações entre um fato e outro exige um tempo de reflexão própria, que não estamos tendo.



ÉPOCA – Essa visão negativa da internet não é apenas o medo da mudança?

Carr – Não há dúvida que, toda vez que uma tecnologia nova aparece, algumas pessoas imaginam que tudo vai desmoronar. Sim. É preciso ter essa visão cética. Por outro lado, também devemos desconfiar quando ouvimos alguém glorificando as novas tecnologias e prometendo uma nova utopia. Recomendo que as pessoas não sigam o que eu digo cegamente. Mas que examinem o próprio comportamento. Testem em si mesmos o que estou dizendo.



ÉPOCA – Os cursos on-line vão revolucionar a educação?

Carr – Existe empolgação em torno dos cursos on-line porque parecem cortar os custos. Um professor poderia dar aula para milhares de alunos, em vez de apenas uma turma de algumas dezenas. Mas não acho que a educação on-line vá substituir a tradicional. Ela pode funcionar como complemento para o professor ter um material de apoio na sala de aula ou para o aluno reforçar em casa o que aprendeu na escola. Outra utilidade dos cursos on- -line é a formação técnica profissional em casos específicos. Existe um aspecto importante na educação, que é juntar os alunos fisicamente para conviver e trocar experiências. Isso vai além de apenas assistir a uma aula. Tem a ver com o lado comunitário da educação, que se perderia se passarmos tudo para o computador.



ÉPOCA – Como a tecnologia pode beneficiar a educação?

Carr – Por um lado, o que estamos vendo é que muitas escolas, especialmente universidades, começam a oferecer material on-line de seus cursos, inclusive algumas aulas. Isso é bom. Permite que gente de fora da universidade tenha acesso à informação de ponta e aulas de grandes pensadores. O perigo para as grandes universidades é que os alunos possam ter a ilusão de que terão acesso ao conhecimento apenas sentados diante de um computador. Aí o que acontece é que a eficiência de fornecer material on-line começa a capturar os investimentos financeiros, que deveriam ir para as universidades e escolas. Se um professor dá aula para milhões de alunos, quem vai pagar o salário dos outros?



ÉPOCA – Como atrair a atenção dos jovens que estão ligados nas redes de relacionamento e nos jogos da internet para a educação “formal”?

Carr – Naturalmente, não há como fazer isso. Nossa dependência dos serviços de internet não está mudando apenas nossos relacionamentos e nosso acesso ao conhecimento, mas também a forma como nossa mente funciona. Não é só entre os jovens, mas gente de todas as idades usa cada vez mais a internet. Nas escolas e em casa, os pais e os educadores têm sido excessivamente entusiastas do poder dos computadores. Temo que, como o cérebro constrói a maior parte das ligações entre os neurônios na juventude, o modo de pensar promovido pelo convívio com a internet predomine sobre a capacidade de análise. Os pais devem manter seus filhos o máximo longe das telas. Na verdade, acredito que as crianças não devem mexer em computadores de jeito nenhum. Mais tarde, quando entrarem na adolescência, terão de aprender a lidar com a internet para sua vida adulta, social e profissional. Mas antes disso não.



ÉPOCA – Como o senhor fez com seus filhos?

Carr – Minha filha tem 24 anos, meu filho 19. Então, quando eram crianças não havia tanto acesso à internet e a computadores. Nem as redes sociais existiam. Mas mesmo naquela época eu já sabia que as mídias usadas pelas crianças teriam influência em sua capacidade cognitiva futura. Não quero dizer que a internet seja ruim. Ela é essencial para encontrarmos pessoas e informações úteis. Mas ela é como uma esponja. Vai sugando todos os aspectos da vida. E nos obriga a se adaptar a ela. É o futuro da humanidade. Só que perderemos alguma coisa no meio do caminho.

Ministro defende que país exporte excedente de urânio

Às vésperas de assumir a coordenação do grupo de ministros que cuida da energia nuclear, Samuel Pinheiro Guimarães (Assuntos Estratégicos) defendeu a exportação de urânio, assunto delicado para a diplomacia brasileira. E adiantou que pretende ver respondida primeiro uma outra pergunta: "E nós vamos enriquecer e vendê-lo enriquecido ou devemos vender em estado bruto?".

A pergunta do ministro tem a ver com o domínio em escala industrial do ciclo que vai da extração ao enriquecimento do urânio. O Brasil detém tecnologia, mas ainda não a desenvolve em escala industrial. O ciclo completo depende, por exemplo, de uma nova fábrica de hexafluoreto, gás em que é convertido o urânio antes do enriquecimento.

"Já existe uma usina em construção em Aramar [centro experimental da MARINHA em Iperó, município de São Paulo], mas não na dimensão necessária para abastecer Angra 1 e Angra 2", disse.

A possibilidade de o país exportar urânio ainda é assunto aberto a debate no governo, embora a estatal INB (Indústrias Nucleares do Brasil) já projete a produção de excedentes do minério a partir de 2012. Guimarães pondera que a discussão pode ser menos difícil do que parece: "Primeiro, porque não é necessário exportar para qualquer país".

O ministro avalia que os cortes nas emissões de gases de efeito estufa em discussão na conferência de Copenhague vão fazer multiplicar, nos próximos anos, o número de usinas nucleares no planeta. Os países que detêm a tecnologia do enriquecimento do urânio, com exceção dos Estados Unidos e da Rússia, argumenta ele, não têm o elemento químico. "O número de usinas em construção tem aumentado e será necessário combustível", completa o ministro.

Há 435 usinas nucleares em funcionamento no mundo, outras 53 em construção e mais 136 já projetadas, além de 299 propostas, de acordo com relatório da WNA (World Nuclear Association). Nesse último grupo estão as quatro novas usinas nucleares que o governo federal pretende construir depois de Angra 3.
As grandes empresas que enriquecem urânio são a russa Tenex, a Urenco (consórcio da Holanda, da Alemanha e do Reino Unido), a francesa Eurodif/Cogema e a norte-americana Usec.


Fins pacíficos

Guimarães é contra qualquer compromisso extra ao TNP, o tratado de não proliferação nuclear, que imponha restrições ao enriquecimento de urânio no país.
"O enriquecimento de urânio para fins pacíficos é permitido pelo TNP", lembra o ministro de Assuntos Estratégicos.
Ele critica os resultados do tratado: "O tratado é uma barganha. As potências nucleares disseram: "Nós eliminaremos nossas armas nucleares e, em compensação, os senhores não desenvolverão pesquisas ou armas nem importarão", e assim por diante. Mas isso simplesmente não ocorreu, só ocorreu uma parte da barganha".


Minas

O país produz atualmente, na mina de Caetité, na Bahia, aproximadamente 400 toneladas de urânio por ano. Em 2012, deverá produzir mais 1.500 toneladas por ano, com a primeira ampliação da extração em Caetité e com o início da exploração no município de Santa Quitéria (CE).
A mudança na coordenação da comissão ministerial responsável pelo programa nuclear brasileiro aguarda a publicação de um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Atualmente, a coordenação está nas mãos da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O grupo não se reúne desde o ano passado.


Fonte: Folha

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Ameaça à Amazônia causa divergência na região

CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO Folha de S.Paulo

Os militares dos outros sete países sul-americanos da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica compartilham com os colegas brasileiros o temor em relação à cobiça estrangeira sobre a floresta, mas há divergências sobre a natureza dessa ameaça - o que se traduz em ceticismo sobre o papel de coordenação do Conselho de Defesa Sul-Americano, proposto pelo Brasil.

Embora a fonte da suposta cobiça esteja sempre nos EUA e na Europa, os militares do Peru - e obviamente os colombianos - não veem risco à soberania regional na presença americana na Colômbia, ao contrário do que ocorre com venezuelanos e equatorianos.

Enquanto os dois últimos grupos - e também os brasileiros - trabalham com a possibilidade de invasão da Amazônia por países ricos que pretenderiam tomar posse das riquezas naturais, entre colombianos, peruanos e bolivianos as ameaças mais citadas são a biopirataria e outros crimes transnacionais, como o narcotráfico.

As conclusões são parte de "Guardiães do Eldorado", estudo feita pela pesquisadora de temas militares Adriana A. Marques em pós-doutorado na FGV do Rio.

"Os colombianos interpretam a parceria com os EUA como meio de fortalecer a soberania nacional. Para eles, é a única maneira de estabelecerem controle sobre o próprio território", diz Adriana, que entrevistou oficiais estrangeiros da ativa que estudaram no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) do Exército, em Manaus, e comparou textos sobre o tema em publicações militares dos oito países.

Ela aponta uma unanimidade no rol das desconfianças: as ONGs estrangeiras, que "manipulariam" a população nativa. O governo de Hugo Chávez expulsou grupos que atuavam em sua porção da selva; Equador, com governo de esquerda, e Peru, com governo conservador, têm entreveros com a Amazon Watch, ONG dos EUA que fica ao lado dos indígenas em disputas sobre recursos naturais.

Outro dado comum: apesar das várias disputas territoriais ainda existentes na região, nenhuma envolvendo o Brasil, os militares em geral não veem os vizinhos como ameaça.

Eles tampouco citaram Rússia, China, Índia e França, apesar de os russos terem realizado manobras com a Venezuela; militares chineses e indianos cooperarem com Guiana e Suriname (ambos com grandes populações dessas duas origens); e os franceses possuírem um território ultramarino na Amazônia e o histórico de relações com as Forças Armadas brasileiras.

Mesmo no caso de tensão entre governos, como a que envolve Colômbia, Venezuela e Equador, a posição dos militares pareceu menos confrontacionista à pesquisadora: "Quer motivados pelo ideal bolivariano de união sul-americana ou pelo sentido de autopreservação, os militares preferem a cooperação ao conflito".

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Todo el poder para Evo Morales

FERNANDO GUALDONI (ENVIADO ESPECIAL) - La Paz - 04/12/2009
Las elecciones de este domingo en Bolivia no son sólo para dar otro mandato al presidente, Evo Morales, sino para definir cómo será el nuevo Estado. El primer mandatario indígena del país andino no se juega su continuidad en el cargo, éste está sobradamente garantizado, según todas las encuestas.

Las elecciones de este domingo en Bolivia no son sólo para dar otro mandato al presidente Evo Morales sino para definir cómo será el nuevo Estado. El primer mandatario indígena del país andino no se juega su continuidad en el cargo, éste está sobradamente garantizado, según todas las encuestas. Lo que se juega es la composición de la primera Asamblea Plurinacional, el máximo órgano legislativo nacido de la polémica Constitución de corte indigenista aprobada en enero de este año. El partido del gobierno, el Movimiento al Socialismo (MAS), que ya en su primera etapa tuvo el control sobre la Cámara baja, lucha por lograr la mayoría de los dos tercios que necesita en el Senado para sacar adelante todas las leyes que le permitan forjar un país a su medida.

Las principales instituciones democráticas bolivianas son hoy inexistentes o están incompletas. No hay un Tribunal Constitucional y la Corte Suprema, la Fiscalía General y el banco central están manos de interinos. La Corte electoral está diezmada y sobrevive bajo el fuego cruzado del Gobierno y la oposición. Todo este vacío de poder institucional es el que el Gobierno espera ocupar tras las elecciones.

Aunque hay similitudes entre el estilo de Morales y el de su homólogo venezolano Hugo Chávez, lo cierto es que la carrera del ex dirigente sindical cocalero se asemeja más a la de su par ecuatoriano Rafael Correa. Aprovechó el descontento popular por los partidos tradicionales para ganar las elecciones de 2005, afianzó su poder con un referéndum sobre su gestión en 2008, hizo una nueva Constitución que le garantiza la reelección y este domingo le pone la guinda al pastel con el mando del Poder Legislativo.

Morales, de 50 años, no tiene rival en este momento. La oposición boliviana es un crisol de entrañables mercenarios de la política que intentan revivir sus carreras y líderes regionales que buscan una proyección nacional. A pesar de la poca competencia, se han multiplicado las denuncias de la oposición contra el Gobierno por un uso excesivo de los recursos públicos para su campaña y una tenaz persecución política. Ni los observadores de la UE ni de la OEA consultados tienen grandes objeciones respecto al proceso electoral, pero sí ven los varios procesos penales contra el principal binomio opuesto a Morales como una mala señal.

Manfred Villa, ex gobernador de Cochabamba, está acusado de corrupción. Su compañero de fórmula, Leopoldo Fernández, ex gobernador de Pando, está procesado por su responsabilidad en la muerte de 13 campesinos en 2007. Ambos son impopulares y carecen de una propuesta de gobierno. Están a una veintena de puntos en intención de voto por detrás de Morales. El tercero en liza, el empresario cementero Samuel Doria Medina, ha intentado ofrecer una alternativa de centro que no ha calado en la población.

Los procesos judiciales en campaña electoral, sobre todo cuando van contra los rivales del mandatario de turno, siempre son sospechosos en América Latina. Hay países como Chile, Uruguay, Brasil e incluso México donde estas situaciones han desaparecido o casi no se ven. Pero en Bolivia, Venezuela, Ecuador, Argentina, por citar algunos casos, reaparecen con cada convocatoria a las urnas.

"Las campañas en Bolivia ya no pueden consistir en el descrédito de unos y de otros, la oposición pura contra la figura Morales; sino que hay que crear una alternativa válida", explica Oscar Ortiz, actual presidente del Senado y candidato a renovar su escaño por Santa Cruz, la provincia más reacia al poder del MAS. "Si no ofrecemos una alternativa social a la del gobierno nunca superaremos el 40% del voto. Hasta ahora hemos podido frenar los abusos de Morales, pero de ahora en más no se qué sucederá si no construimos una oposición fuerte y creíble", añade.

La popularidad de Morales, al margen de su populismo, es un hecho. En La Paz, bastión del presidente, tanto simpatizantes como críticos aprueban las políticas de inclusión social de los indígenas, que suponen el 62% de la población. Era una deuda pendiente en uno de los países más pobres y socialmente desiguales de América Latina. El 60% de la gente es pobre y la mitad de ellos vive en la extrema pobreza, según el Banco Mundial.

Los indígenas ocupan hoy muchos puestos públicos y participan más en la economía formal. Además, medidas como la entrega gratuita de los certificados de nacimiento o del título secundario han puesto nombre y apellidos a mucha gente que se ha integrado en el sistema estatal. El ascenso del poder indígena es un tema espinoso en Bolivia porque despierta temores de que acabe en un cambio de una elite por otra. Las ideas sobre las leyes que regularán la convivencia con los criollos son ambiguas y muy controvertidas.

El Gobierno del MAS sin duda se ha beneficiado de los altos precios de los hidrocarburos. La nacionalización del sector, añadido al aumento de la presión fiscal sobre las petroleras, le han reportado a Bolivia -que posee las segundas mayores reservas de gas de la región- enormes ingresos. La riqueza ha disparado el crecimiento pero ha generado más de un escándalo de corrupción que ha salpicado a personas cercanas a Morales. En especial el caso del ex presidente de la petrolera estatal YPFB, Santos Ramírez, un íntimo del mandatario que fue expulsado del MAS y encarcelado. Morales, que ayer cerró la campaña en un acto multitudinario en El Alto, cerca de La Paz, ha recuperado en los últimos días su retórica más encendida contra la oligarquía, la prensa y una oposición que, según él, pronostica el fraude electoral porque "ya está derrotada".

Os conflitos intermináveis

Uma interessante teoria – de que trata Bárbara Tuchman, em sua The March of Folly: From Troy to Vietnam – é a de que a Guerra de Troia não terminou. A mítica expedição a Troia, de que alguns arqueólogos encontraram escassos indícios, cresceu em grandeza graças a Homero (ou a rapsodos mais antigos, dos quais se teria valido o poeta).

Nessa tese histórica, as guerras nunca terminam: a exaustão as suspende, em tréguas demoradas, mas elas sempre retornam, porque os conflitos só poderiam ser resolvidos pelo bom senso. E o homem é animal insensato.

O editorial de Le Monde de ontem trata da rivalidade entre Paris e Londres, que voltam a disputar (se é que deixaram de disputar um dia) a hegemonia econômico-financeira europeia. Os ingleses, conforme o diário francês, acusam a França de agir no propósito de substituir a City como centro financeiro mundial. E os franceses se defendem. Franceses e ingleses – sem contar com confrontos ainda mais antigos – se encontram nesse jogo de distanciamentos e aproximações desde o século 14, quando se iniciou a Guerra dos Cem Anos, que na verdade durou 116 (de 1337 a 1453). Novos confrontos viriam no decorrer dos séculos e, em um deles, Richelieu se revelaria também grande guerreiro, ao estabelecer o cerco ao bastião de La Rochelle, em poder dos huguenotes, sob patrocínio britânico. Em outro, Napoleão perderia seu bastão em Waterloo.

Ingleses e franceses souberam unir-se, no século passado, tanto para o bem como para o mal. Para o bem, juntaram-se na Primeira Guerra Mundial e na Segunda. No intervalo, vergonhosamente cabisbaixos e amedrontados em Munique, diante de Hitler, traíram seus aliados tchecos.

Os ingleses aderiram à ideia da União Europeia sem entusiasmo. Não aceitaram a moeda comum, o euro, o que foi grave restrição. Os observadores europeus mais argutos viram, nessas reservas, a fidelidade de Londres ao nacionalismo anglo-saxão: aderir plenamente à Europa, fortalecê-la, debilitaria a posição imperial dos Estados Unidos. Isso explica a posição de Mme Thatcher, quando se opôs à reunificação da Alemanha, há 20 anos. Não militaram, para suas restrições, apenas as duas guerras do século passado, em que, unidos aos franceses, os ingleses enfrentaram os alemães. Houve também a intenção de manter a Inglaterra na situação privilegiada de parceira mais íntima de Washington na Europa. Uma Europa continental fortalecida, que eventualmente estará sob a liderança de uma ou outra nação, não interessa à visão de longo prazo do país que, desde a ocupação normanda, no século 11, ainda que historicamente assimilada, olha com desconfiança para além da Mancha.

A Suécia pretende assegurar o estatuto de cidade santa de Jerusalém, e garantir a parte leste da cidade para capital de um futuro Estado da Palestina. Insurge-se o país nórdico contra a “judeização” da cidade em que nasceu o cristianismo. Os palestinos têm sido expulsos sistematicamente de Jerusalém Leste: no ano passado foram expelidos mais de 4.700. Esta é outra questão histórica, que remonta às Cruzadas e a Ricardo Coração de Leão. Mas não deixa de se relacionar também com a Inglaterra moderna, em que surgiu o sionismo, e cujo governo deu apoio político à colonização da Palestina pelos judeus da Europa.

A Argentina busca agora o apoio da Península Ibérica em suas queixas contra a União Europeia, que reconheceu a soberania inglesa sobre as Ilhas Malvinas. Isso tem significado econômico importante: os britânicos calculam que haja, no mar em seu entorno, reservas de mais de 60 bilhões de barris de petróleo. A Argentina, senhora das ilhas, foi expulsa do arquipélago em 1833, por tropas britânicas, mas nunca renunciou a seu direito de soberania, reconhecido, entre outras nações, pelo Brasil. As Nações Unidas, a partir de 1965, têm instado os ingleses e argentinos a um acordo sobre as ilhas, até então de pouco valor econômico, de solo gelado e sem árvores, varrido de ventos e só coberto de pastagens para ovelhas. Em 1982, a Argentina cometeu a imprudência de tentar recuperá-las militarmente, e foi delas mais uma vez rechaçada. Na época, o Brasil negou espaço aéreo aos aviões britânicos. Washington – ao esquecer a Doutrina Monroe, contra a presença de colônias europeias nas Américas – recusou-se a repor material bélico aos argentinos, não obstante os acordos entre os dois países.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Dez obras fundamentais para um diplomata

Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)

Fui consultado, no final de setembro de 2006, por um candidato à carreira diplomática, sobre as dez obras que eu julgava fundamentais para um diplomata. Interpreto esse tipo de consulta como uma demanda típica de quem pretende ler, ou pelo menos conhecer, as dez obras mais importantes que poderiam integrar a cultura geral de todo diplomata ou que permitiriam a um “paisano” preparar-se para a carreira.
Não tenho certeza de conseguir satisfazer tal curiosidade, uma vez que toda lista restritiva é sempre um pouco subjetiva, denotando mais as preferências pessoais do seu autor do que, necessariamente, as obras “funcionalmente” mais importantes ou aquelas “culturalmente” relevantes, que deveriam integrar a bagagem cultural de todo ser humano medianamente bem informado ou razoavelmente bem formado. Como, entretanto, não se trata de “cultura de salão”, vou tentar traçar uma lista indicativa dos livros que considero importantes para uma boa cultura clássica ou para uma formação adequada no quadro da cultura brasileira.
Como, adicionalmente, se trata de selecionar obras “operacionalmente” relevantes do ponto de vista do diplomata, permito-me indicar aqui aquelas que apresentam uma inclinação especial para os temas de relações internacionais do Brasil. Esta lista, segundo minhas preferências pessoais, seria composta das seguintes obras: 

1) Heródoto: História (440 a.C.)
Trata-se, obviamente, do nascimento da história, tal como vista por um grego refinado que interpreta os acontecimentos contemporâneos – as chamadas guerras pérsicas – do ponto de vista de uma pequena comunidade de homens livres que consegue derrotar as tropas de um poderoso império, aliás o mais poderoso então existente; Heródoto faz descrições dos povos habitantes do Mediterrâneo. Existem muitas traduções desta obra clássica, inclusive em português, mas uma boa tradução em inglês pode ser vista neste link: http://classics.mit.edu/Herodotus/history.html; para uma introdução rápida ao conjunto da obra e um útil sumário dos nove livros, consultar este outro link:http://mcgoodwin.net/pages/otherbooks/herodotus.html.

2) Maquiavel: O Príncipe (1513; divulgado pela primeira vez em 1532)
A mais famosa obra de “política prática” conhecida na tradição ocidental – existe um Maquiavel indiano, chamado Kautilya, que escreveu um guia de “administração” do Estado, conhecido comoArthashastra – e que tem servido de referência a incontáveis oportunistas da dominação política, interessados em justificar suas ações nem sempre fundamentadas na moralidade ou na ética. Existem inúmeras traduções em português, com prefácios de cientistas políticos ou de filósofos – um das mais famosos é o de Isaiah Berlin – assim como arquivos eletrônicos livremente disponíveis, em diversas línguas. O mais famoso estudioso da vida e da obra de Maquiavel é o italiano Pasquale Villari, em seus três volumes de Niccolò Machiavelli e i suoi tempi (consultei a 3ª edição, “riveduta e corretta dall’autore”: Milano: Ulrico Hoepli, 1912; a primeira edição foi publicada em Florença, em 1877). Ver um arquivo eletrônico da obra, entre muitos outros, no original italiano (mas modernizado, obviamente) no seguinte link:http://metalibri.incubadora.fapesp.br/portal/authors/m/machiavelli-niccolo-di-bernardo-dei/il-principe/.

3) Tocqueville: A Democracia na América (1835)
Uma “enquête” sobre o sistema carcerário americano, feito a pedido do governo francês, redundou no mais famoso livro sobre a formação política da maior nação do hemisfério ocidental. Depois de entregar seu relatório sobre o sistema prisional dos EUA, Tocqueville aprofundou a análise do sistema representativo republicano, até então inédito no plano mundial, bem como se estendeu sobre outros aspectos – políticos, sociais e econômicos – da ex-colônia inglesa, na qual ele viu a semente do gigante americano. Um site da universidade do Québec, no Canadá, é o mais acessível para a versão completa, em francês, desta obra legitimamente clássica:http://classiques.uqac.ca/classiques/De_tocqueville_alexis/democratie_1/democratie_tome1.html.

4) Pierre Renouvin (org.): Histoire des relations internationales (1953-58)
O grande historiador francês dirigiu a edição original, em oito volumes, com quatro autores. Apesar de démodée, em vários aspectos, historicamente datada, ainda é uma obra de referência, sobretudo por conter uma história abrangente, inserida no contexto da civilização ocidental. Existe um nova edição, em três volumes encadernados, publicados em 1994 pela mesma editora da primeira edição: a Hachette, de Paris. Fiz uma resenha desta obra, destacando as (poucas) partes que se referem ao Brasil, neste trabalho: “Contribuições à História Diplomática: Pierre Renouvin, ou a aspiração do total”, Paris, 8 agosto 1994, 15 p. Resenha crítica de Pierre Renouvin (ed): Histoire des Relations Internationales (Paris: Hachette, 1994, 3 vols: I: Du Moyen Âge à 1789 (876 pp.); II: De 1789 à 1871 (706 pp.); III: De 1871 à 1945(998 pp.); publicada na seção Livros da revista Política Externa(São Paulo: vol 3, nº 3, dezembro-janeiro-fevereiro 1994/1995, pp. 183-194); disponível em, sua versão integral, no site Parlata:http://www.parlata.com.br/parlata_indica_interna.asp?seq=21.

5) Henry Kissinger: Diplomacy (1994; várias edições posteriores)
Três séculos de história diplomática, desde Westfália até o final do século XX, por um dos mais conhecidos adeptos da teoria realista (mas com enorme conhecimento da história). Sua tese de doutoramento, sobre o Congresso de Viena, ainda hoje é uma referência em história diplomática. O autor é, evidentemente, kissingeriano, e não se cansa de dar seus conselhos sobre como os EUA devem tratar com os demais gigantes da política mundial, sendo meramente condescendente com “lesser actors”. Ainda assim, uma grande e indispensável leitura a todos aqueles que desejam conhecer o “inner functionning” da política externa da grandes potências. O autor se estende nos movimentos da própria diplomacia americana, dividida entre o idealismo wilsoniano e o pragmatismo realista que ele mesmo sempre buscou imprimir à condução dos assuntos externos quando foi conselheiro de segurança nacional do presidente Nixon e depois Secretário de Estado de Nixon e de Gerald Ford. Tem quem deteste Kissinger, por sua ação “imperial”, mas nem por isto este livro deixa de ser indispensável.

6) Manuel de Oliveira Lima: Formação histórica da nacionalidade brasileira (1912; nova edição: Rio de Janeiro: Topbooks, 1997)
Oriundo de conferências que o historiador-diplomata realizou na Sorbonne, em 1911, quando era ministro em Bruxelas, a obra foi concebida em francês, depois traduzida e publicada no Brasil. Trata-se de um vasto panorama da formação histórica, inclusive comparativa, do Brasil, por um dos nossos maiores historiadores sociológicos. Não conheço análises de uma das obras menos referidas de Oliveira Lima, a não ser os prefácios de José Veríssimo e de Gilberto Freyre para a edição brasileira de 1944. A nova edição deste clássico sobre a formação do Brasil foi enriquecida, na edição da Topbooks, pelo acréscimo de conferência do autor sobre o Brasil e os estrangeiros.

7) Pandiá Calógeras: A política exterior do Império (3 volumes, 1927-1933; reedição fac-similar, 1989; Brasília: Câmara dos Deputados)
Alguns dizem que esta obra é excessiva e, de fato, para tratar da diplomacia brasileira da época imperial, ela recua um pouco demais: começa na formação da nacionalidade portuguesa e se estende até a queda de Rosas (1852), apenas. Efetuei uma análise dessa obra no seguinte trabalho: “Contribuições à História Diplomática do Brasil: Pandiá Calógeras, ou o Clausewitz da política externa”, Brasília: 21 março 1993, 13 pp., revisto em 22 maio 1993. Artigo-resenha dos livros de João Pandiá Calógeras, A Política Exterior do Império (vol. I: As Origens; vol. II: O Primeiro Reinado; vol. III: Da Regência à Queda de Rosas; edição fac-similar: Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, Câmara dos Deputados, Companhia Editora Nacional, coleção “Brasiliana, 1989, xl + 490, 568 e 620 pp.). Publicado na revista Estudos Ibero-Americanos (Porto Alegre, PUCRS, v. XVIII, n. 2, dezembro 1992, pp. 93-103). Disponível neste link do site Parlata:http://www.parlata.com.br/parlata_indica_interna.asp?seq=22.

8) Carlos Delgado de Carvalho: História Diplomática do Brasil (1959; reedição fac-similar, 1998; Brasília: Senado Federal)
Apesar de antiquada em sua metodologia e historicamente defasada, tendo deixado de servir de livro-texto depois da publicação da obra conjunta de Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno – História da Política Exterior do Brasil (3ª ed.; Brasília: UnB, 2006) – essa obra permanece ainda uma referência parcialmente válida para o estudo dos períodos colonial, imperial e republicano, até o final dos anos 1950. Efetuei uma análise neste trabalho (que serviu, ao mesmo tempo, de introdução à sua reedição facsimilar): “Em busca da simplicidade e da clareza perdidas: Delgado de Carvalho e a historiografia diplomática brasileira”, Brasília, 12 dezembro 1997, 25 pp.; revisão em 05.01.98. Texto introdutório à reedição de Carlos Delgado de Carvalho (1884-1980), História Diplomática do Brasil (1ª ed.: São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959; edição facsimilar: Brasília: Senado Federal, 1998; Coleção Memória brasileira n. 13, lxx, 420 p.), pp. xv-l, incorporando ainda apresentação do Emb. Rubens Ricupero (pp. iii-xiv), elaborada originalmente em 1989, em Genebra). Elaborei uma versão revista dessa introdução, com prefácio, para uma segunda edição, em 2004, mas ela foi publicada sem minhas correções e acréscimos; para a edição de 1998, ver:http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/24DelgadoHistoDiplom.html; meu texto:http://www.pralmeida.org/01Livros/1NewBoooks/PrepNewEdDelg2004.pdf.

9) Marcelo de Paiva Abreu (org.). A Ordem do Progresso: cem anos de política econômica republicana, 1889-1989 (Rio de Janeiro: Campus, 1989; várias reedições)
Uma coletânea indispensável de estudos especializados, por onze diferentes autores, para conhecer a trajetória econômica e política do século republicano. O organizador assina o capítulo relativo à modernização autoritária, entre 1930 e 1945. O volume se abre por um estudo de Gustavo Franco sobre a primeira década republicana, seguido de Winston Fritsh, que se ocupa do apogeu e crise da primeira República, de 1900 a 1930. Sérgio Besserman Vianna assina dois excelentes ensaios sobre o imediato pós-guerra, de 1945 a 1954. Marcelo de Paiva Abreu volta para tratar dos conturbados anos 1961-1964, sobre a inflação, estagnação e ruptura. A estabilização e a reforma, entre 1964 e 1867, são tratadas por André Lara Rezende e as distorções do “milagre” econômico , de 1967 a 1973, por Luiz Aranha Corrêa do Lago. Dionísio Dias Carneiro vem na seqüência (1974-1980) e divide com Eduardo Modiano um capítulo sobre a primeira metade dos anos 1980. Esse último autor encerra a obra com a “ópera dos três cruzados”, uma análise das tentativas de estabilização no final da década. Um anexo estatístico cobre o longo século republicano, contendo os principais indicadores da atividade econômica e das relações externas. Este livro pode ser completado pela leitura desta outra coletânea: Fabio Giambiagi, André Villela, Lavínia Barros de Castro e Jennifer Hermann (orgs.), Economia Brasileira Contempohttp://www.blogger.com/img/gl.link.gifrânea (1945-2004) (Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, 432 p.), do qual efetuei uma resenha, neste link de Parlata:http://www.parlata.com.br/parlata_indica_interna.asp?seq=39.

10) Paulo Roberto de Almeida: Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (publicado em primeira edição em 2001; reedição em 2005 pela Senac-SP; ver em ). 
Com a permissão dos leitores para esta demonstração de auto-indulgência, termino esta lista, narcisisticamente, por um dos meus livros. Eu poderia indicar outros livros de história diplomática do Brasil, mas disponho, aparentemente, de crédito suficiente – em matéria de pesquisa e de estudos acumulados na área da história e das relações econômicas internacionais do Brasil – para destacar minha própria investigação histórica sobre os fundamentos da nossa moderna diplomacia econômica, com a promessa de que vou continuar esse trabalho de pesquisa em dois volumes subsequentes cobrindo o longo século republicano. Uma apresentação geral da obra foi feita neste artigo: “A formação da diplomacia econômica do Brasil”, Lua Nova, revista de cultura e política, São Paulo: CEDEC, n. 46, 1999, p. 169-195; link:www.pralmeida.org/04Temas/11academia/05materiais/673FDERevLuaNova2.pdf.

Voilà: creio que os candidatos à carreira diplomática, já dispõem de leituras para os próximos meses...

E assim caminha a humanidade?

E assim caminha a humanidade?
Entrevista: Autor de "Os Próximos 100 Anos" vê futuro mais modesto para o Brasil.
Por Eduardo Graça, para o Valor, de Nova York
Valor Econômico, 23/10/2009

No Texas, agentes americanos fiscalizam a fronteira com o México: "Se os EUA perdessem seus 12 milhões de imigrantes ilegais, a complicação econômica em que se meteria seria enorme", diz Friedman

O Brasil não é um dos protagonistas de "Os Próximos 100 Anos - Uma Previsão para o Século XXI", livro do cientista político George Friedman que acaba de chegar às livrarias brasileiras em edição da Best Business. Para ele, os Bric são mais um acrônimo da moda do que possíveis novas potências globais e o poderio americano está apenas em seu alvorecer. Campeão de vendas nos Estados Unidos, "Os Próximos 100 Anos" é um exercício de futurologia escancarado de Friedman. Aqui, o estrategista ignora o senso comum que pauta suas disputadas análises anuais geopolíticas, lidas atentamente tanto no Pentágono quanto em Wall Street, e investe na imaginação.

Sempre calcado em dados estatísticos, tendências e fatos históricos, Friedman revela um futuro surpreendente. Um século XXI em que o terrorismo islâmico se arrefece, a China se fragmenta e a Turquia, a Polônia e o Japão surgem como novas potências globais, um patamar abaixo dos EUA. Enquanto a Turquia controlará quase todo Oriente Médio, o México se aproveita de sua posição estratégica, com acesso ao Atlântico Norte e ao Pacífico, para se tornar a maior potência latino-americana, pronto para desafiar os EUA na disputa pelo coração do mundo a partir de 2080.

Na bola de cristal de Friedman aparecem ainda o fim de 300 anos de explosão populacional, a valorização do trabalho dos imigrantes e o desenvolvimento de um sistema de energia solar a partir do espaço que eclipsará o petróleo e diminuirá o apelo dos discursos conservacionistas e ambientalistas, assim como de questões como o aquecimento global.

Aos 60 anos, com mais de duas décadas passadas na Universidade de Louisiana, Friedman reclama em "Os Próximos 100 Anos" que a análise política convencional sofre de uma profunda falta de imaginação e lembra, profético: "As mudanças que nos levam em direção às novas eras são sempre chocantes, inesperadas". Há 13 anos ele criou a primeira empresa privada de inteligência do planeta, a Stratfor, por ele definida como uma organização noticiosa que usa inteligência, em vez de métodos jornalísticos, para capturar a informação. Em entrevista ao Valor, o consultor de grandes corporações fala dos desafios do Brasil - que, segundo ele, terá um programa espacial relevante por volta de 2060, ainda que "incompleto e desconectado de uma realidade geopolítica importante" - e das surpresas do cenário mundial em um século que apenas começou.

Friedman: o Brasil "ainda precisa superar muitos obstáculos até que possa, de fato, alterar o balanço global"

Valor: Pelo menos desde os anos 80, com "A Ascensão e Queda das Grandes Potências", do historiador Paul Kennedy, a tese do "mundo pós-americano" é tema constante para a inteligência ocidental. Mais recentemente, a noção ganhou fôlego com o best-seller de Fareed Zakaria. O sr., no entanto, aposta em mais um século americano...

George Friedman: O declínio dos EUA vem sendo previsto antes mesmo de sua emergência e depois do Vietnã todos diziam que ele era irreversível. No entanto, desde 1991, com o fim da União Soviética, eles se tornaram a única superpotência mundial. A história não se move tão rapidamente assim, e estamos falando de uma supremacia de apenas duas décadas. A economia americana responde a cerca de 25% de tudo o que é produzido no planeta, sua armada domina todos os oceanos do mundo. É o único grande poder com acesso tanto ao Atlântico quanto ao Pacífico. E, enquanto o Japão tem 364 pessoas por quilômetro quadrado e a Alemanha, 260, os EUA têm apenas 34. Ao contrário dessas duas grandes economias, os EUA seguirão crescendo em termos populacionais durante todo o século. Ou seja, quando você considera os fatos mais importantes na avaliação da força de um país - atividade econômica, poder militar e demografia -, é impossível pensar em outra potência neste século pronta para desalojar os EUA de sua liderança. O declínio, se acontecer, será lento.

Valor: Mesmo levando-se em conta o baque na economia americana por causa da atual crise financeira global.

Friedman: Há uma tendência em confundir popularidade com poder. Com certeza os EUA se tornaram recentemente mais e mais impopulares, talvez tanto quanto durante a Guerra do Vietnã ou os anos [de Ronald] Reagan. E também há a ilusão de que eventos cíclicos como a atual crise financeira podem ser analisados como grandes mudanças históricas. Admiro Fareed Zakaria, mas discordo quando ele afirma que os chamados Bric [Brasil, Rússia, Índia e China] vão desafiar o poder dos EUA. Esses quatros países têm de crescer estupidamente ao mesmo tempo em que os EUA fiquem estagnados, precisam investir enormemente em seu poderio militar e lidar com problemas sociais gigantescos que os EUA simplesmente não têm. Como é que a Rússia vai resolver seu problema demográfico? E China e Índia, como vencerão a pobreza? E o Brasil, como é que vai superar os revezes da própria localização geográfica e desenvolver Forças Armadas de peso ao mesmo tempo?

Valor: O sr. não crê em um mundo multipolar no século XXI?

Friedman: Minha visão é de que o mundo é sempre multipolar. O que muda são as forças relativas nos dois extremos. Está na moda a ideia dos Bric, mas Brasil, Rússia, Índia e China são países em condições diferentes de crescimento, em estágios de desenvolvimento singulares, com posições diversas no cenário mundial. A Rússia não pode ser comparada a nenhum dos outros Bric. Ela é hoje uma grande exportadora de matéria-prima, não uma potência industrial. Já a China, bem, é um país com muitas faces. Mais de 600 milhões de chineses têm um ganho familiar entre US$ 1 mil e US$ 2 mil por ano. Apenas 60 milhões de 1,3 bilhões de chineses chegam a US$ 20 mil/ano, computando o salário de toda uma família. Mais de 1 bilhão de chineses vivem na mais extrema forma de pobreza. Uma situação semelhante à da Índia, mas aqui temos de levar em conta os vastos problemas de infraestrutura que tornam o desenvolvimento inviável na China.

Valor: Em "Os Próximos 100 Anos" o sr. chega a prever a desintegração do país e um papel menor no cenário mundial para Pequim.

Friedman: A China é uma ilha. Ao Sul, montanhas e florestas. No Sudeste, o Himalaia. No Nordeste, o infinito das estepes. E no Norte, bem, no Norte há a Sibéria. Suas Forças Armadas são voltadas para a segurança interna e sua Marinha nem sequer existe propriamente. Há três características para um poder global: o dinamismo da economia, a estabilidade social e o poderio militar. A China conta com uma economia dinâmica, mas sua estabilidade social é comprometida por profundas divisões internas e suas Forças Armadas não são moldadas para exercer o poder em projeção global. Não creio que a China possa ser um poder global. E acredito que os chineses, que sabem bem de suas características e peculiaridades, já escolheram não ser este poder global.

Valor: O sr. também vê a decadência da Comunidade Europeia. Os europeus, o sr. escreve, lembram os EUA de antes da Guerra Civil. Pode explicar melhor essa comparação?

Friedman: Durante a crise financeira global, a Comunidade Europeia não usou Bruxelas para atacar seus problemas econômicos. Eles foram resolvidos, de forma independente, a partir das capitais de cada país membro. Os alemães não quiseram usar seu dinheiro para salvar bancos irlandeses. A crise serviu para descobrirmos de fato os limites de poder desta instituição chamada Comunidade Europeia. Era assim com os EUA, concebido como uma federação de Estados soberanos, até que os sulistas decidiram se separar da União em 1861. Foi somente depois da guerra, terrível, que a unidade dos EUA foi assegurada. Quem é que estaria preparado para lutar na Europa se a Itália, por exemplo, decidisse sair da União Europeia? Não há Exército comum, não há sequer uma moeda única, com alguns países adotando o euro e outros não. O Mercosul, por exemplo, é uma ideia interessante, desde que se entenda que o Brasil, que fala português e tem uma rica e particular história, vive uma realidade completamente diferente das circunstâncias da Argentina. Tentar criar uma potência que englobe Brasília e Buenos Aires é tão improvável como imaginar uma única Europa.

Valor: Já que falamos da América Latina, uma de suas previsões é a de uma guerra entre EUA e México na sua zona de fronteira, provocada pela imigração em massa, que transformará o sudoeste americano em área de população majoritariamente hispânica. Esse será o tendão de Aquiles dos EUA no século XXI?

Friedman: O problema da imigração ilegal é simples: neste momento os dois países precisam e querem esse fluxo de trabalhadores. Se os EUA perdessem esses 12 milhões de imigrantes ilegais, a complicação econômica em que se meteria seria enorme. Por sua vez, o México precisa do dinheiro enviado pelos trabalhadores vivendo nos EUA. Mas, especialmente para os americanos, essa é uma verdade extremamente impopular. Somente quando o jogo demográfico virar - e os EUA precisarem mais e mais de imigrantes - é que os dois países agirão de fato. Em um mundo onde a escassez de trabalhadores será a regra, e com a economia mexicana produzindo ofertas de trabalho suficientes para sua população, os EUA vão procurar desesperadamente por trabalhadores nos quatro cantos do planeta.

Valor: O sr. acredita que o México vai mesmo superar o Brasil neste século como maior economia latino-americana?

Friedman: O Brasil também é uma ilha, separada por florestas, montanhas e oceanos do resto da América Latina, com uma pequena ponte natural em direção ao Uruguai e à Argentina. O país está crescendo a uma velocidade tremenda, mas segue isolado como poder global e regional, embora não haja dúvida de que é um país importante e sua relevância só tende a aumentar, mas ainda precisa superar muitos obstáculos até que possa, de fato, alterar o balanço global.

Valor: Uma das razões pela qual o Brasil cresce é a necessidade de alimentar o planeta. Mas a revolução agrícola pode ter menos importância neste século se chegarmos à estabilidade demográfica sugerida em seu livro.

Friedman: Essa tendência não será modificada em curto prazo. A população global seguirá crescendo até o fim do século XXI, mas com velocidade progressivamente menor. Projeto que o Brasil, no fim do século, terá desenvolvido sua economia de modo ainda mais diversificado. A revolução da agricultura brasileira foi a alavanca do crescimento do país, mas não será seu sustentáculo. O Brasil vai crescer muito neste século e se diversificar ainda mais.

Valor: Em "Os Próximos 100 Anos" o sr. deixou de lado o aquecimento global. Aposta que o fim da explosão populacional e a exploração de fontes de energias alternativas vão resolver o problema. O discurso conservacionista, que margeia a discussão do desenvolvimento sustentável da Amazônia, por exemplo, seria, em sua visão, menos importante do que a busca incessante por novas fontes de energia?

Friedman: Não acredito que o conservacionismo possa resolver nossos problemas. Não é razoável pedir que se reduza o processo de industrialização do planeta. Os países mais avançados não vão reduzir suas emissões de gás carbônico à custa da redução de seu padrão social e é fantasioso acreditar na possibilidade da diminuição do consumo em escala global. O discurso conservacionista parte da premissa de que haveria uma mudança radical do estilo de vida das populações. Veja bem: ir de bicicleta para o trabalho não fará diferença alguma. O que precisamos é buscar fontes de energia avançadas, que não sejam baseadas em hidrocarbonetos, como o petróleo.

Valor: E o sr. aposta na energia solar...

Friedman: Sim, creio que essa nova fonte de energia será solar, mas gerada no espaço, pois do contrário teríamos de reservar vastas áreas do planeta apenas para os painéis solares, o que seria um desastre ecológico. Um consórcio japonês liderado pela Mitsubishi já começou a desenvolver essa ideia e o investimento impressiona. Nos EUA, a Nasa também tem um projeto nessa direção. Aposto que em 50 anos já enxergaremos a solução: energia solar baseada no espaço