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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O verdadeiro legado de 1989

A Cortina de Ferro começou a se desintegrar muito antes da derrubada do Muro de Berlim em novembro de 1989. De fato, o sistema comunista na Europa Oriental já estava em decadência terminal há vários anos.

Os regimes totalitários de partido único sufocavam os direitos humanos e as liberdades políticas, e não mostravam resultados no quesito considerado como a própria essência do comunismo: a boa performance econômica. As disparidades entre as Europas Oriental e Ocidental aumentaram na década de 80, especialmente após a integração dos mercados da Europa Ocidental, o que acelerou o progresso naquela região.

O Pacto de Varsóvia capitaneado pela União Soviética não se mostrou como uma alternativa viável para a integração do continente.

Manifestações anticomunistas abalavam a região periodicamente e, no verão de 1980, um furacão fez a Europa tremer: o surgimento de um sindicato livre na Polônia, o Solidariedade. Embora o Solidariedade tenha sido coagido e forçado a se tornar um movimento clandestino, a adesão massiva dos poloneses ao grupo e à sua liderança visionária demonstrava que os dias do comunismo imposto pelo bloco soviético estavam contados. A única incerteza era se o sistema desapareceria com um estrondo ou apenas com um suspiro.

Felizmente, o comunismo não tinha mais forças para resistir ao seu próprio fim. Ideologicamente falido, economicamente incompetente e politicamente primitivo, o marxismo-leninismo revelou-se mais uma experiência fracassada.

Além disso, o regime soviético, que havia erguido governos coligados por toda a Europa Oriental, já não tinha a convicção ou os recursos para reprimir, à força, o anseio dos povos pelo pluralismo e pela independência das nações do bloco.

No dia em que o muro foi efetivamente derrubado, a Polônia já tinha um governo democraticamente eleito, enquanto Hungria e Tchecoslováquia estavam caminhando rapidamente em direção ao pluralismo político, conduzidas por líderes que perceberam que a mudança do regime era inevitável.

De um modo geral, as pessoas se esquecem que, embora os acontecimentos históricos de novembro de 1989 tenham simbolizado o colapso do comunismo, os eventos também anunciavam a libertação dos Estados do Leste Europeu da soberania soviética.

Enquanto hoje o comunismo é apenas um pesadelo cada vez mais longínquo nessas nações, a preocupação em manter a independência nacional contra um governo russo cada vez mais ameaçador continua.

De fato, autoridades em Moscou ainda buscam redefinir o significado de 1989. Negam, por exemplo, que a União Soviética ocupava metade da Europa depois da Segunda Guerra Mundial e minimizam o fato de que foi pela força de suas armas que impuseram ali um sistema repressivo e totalitário, que sufocou o progresso econômico e político durante quase meio século.

Alguns porta-vozes da Rússia alegam que o Kremlin desmantelou o bloco soviético por pura benevolência sua e que a Guerra Fria terminou com um empate, em vez de admitirem que o sistema soviético foi um fracasso e que se desintegrou de dentro para fora.

Infelizmente, essa ideia de um sistema soviético benigno ou até mesmo progressivo é oferecida para justificar a influência russa, atual e futura, junto aos antigos países do bloco. Por este motivo, tanto os europeus como os americanos precisam defender vigilantemente o verdadeiro legado histórico de novembro de 1989.

Janusz Bugajski é diretor do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), em Washington

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