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domingo, 15 de novembro de 2009

Cheiro de pólvora

Os antigos romanos defendiam a ideia de que, para garantir a paz, deveriam estar preparados para a guerra (si vis pacem, para bellum). Os governos latino-americanos estão cumprindo a frase à risca, sobretudo o presidente venezuelano, Hugo Chávez, que esta semana provocou um embate de palavras, com direito a reclamações da Colômbia perante a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA). Depois de convidar o povo às armas, Chávez emendou o discurso. “Nós, militares venezuelanos, somos pacifistas e nos preparamos para a guerra para assegurar a paz”, afirmou. As declarações foram recebidas pelo presidente colombiano, Álvaro Uribe, como uma mensagem de “tranquilidade”.

No entanto, desde que os colombianos anunciaram em julho o acordo de receber tropas norte-americanas em sete bases militares de seu território, a tensão na fronteira entre Venezuela e Colômbia só tem aumentado. Chávez declarou publicamente que “os Estados Unidos anexaram a Colômbia com o tratado”. “Os EUA atuarão, a partir do acordo militar que assinaram com a Colômbia, como o personagem de ficção James Bond, ‘Agente 007’, com permissão para ‘matar quem quiser, aonde quiser’”, insinuou na sexta-feira.

Preocupado com a vizinhança, o governo peruano de Alan Garcia vai propor a redução nos gastos com armamento no próximo encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Lima, 11 de dezembro. Em visita a Brasília e São Paulo, o ministro de Transportes e Comunicações do Peru, Enrique Cornejo, adiantou na semana passada o projeto por escrito a Lula, ao chanceler, Celso Amorim, e a representantes do Congresso. A ideia é que todos os países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) assinem um Protocolo de Paz, Segurança e Cooperação.

“Garcia fez um cálculo de que se reduzisse em 3% os gastos que já existem na América do Sul em armamento nos próximos cinco anos e em 15% os gastos em novas armas, permitiria liberar recursos para que 10 milhões de sul-americanos saiam da pobreza”, disse Cornejo ao Correio. “Gastamos em 2008 US$ 24 bilhões (em armas), 50% mais do que gastávamos os mesmos países 10 anos atrás”. O Instituto de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri, pela sigla em inglês) estima que o investimento militar total foi de US$ 47 bilhões no ano passado.



Intervenção

O ministro peruano revela que o protocolo incluiria a criação de uma força sul-americana de intervenção, uma “espécie de capacetes azuis”. Para Cornejo, se houvesse tal instrumento, talvez a Colômbia não tivesse sentido a necessidade de buscar apoio das tropas norte-americanas. “Se existisse uma força de intervenção sul-americana, com temas vinculados ao narcotráfico e ações subversivas, teríamos um instrumento muito concreto para intervir no marco regional dos interesses sul-americanos, com o desejo de cooperação e integração”, completou.

Cornejo admite que algumas despesas são necessárias para renovar o equipamento e garantir a vigilância das fronteiras contra atividade ilegais. “O que fica claro é que os inimigos não são os países da América do Sul entre si. Se algum esforço de equipamento está sendo feito tem a ver com elementos de segurança, que vão justamente a inimigos como o narcotráfico, o crime organizado e o terrorismo”, diz Cornejo.

Com apenas US$ 71,8 milhões em gastos militares, o presidente paraguaio, Fernando Lugo já manifestou interesse na proposta peruana. Já o presidente da Bolívia, Evo Morales, quer organizar uma reunião de emergência da Aliança Bolivariana para os Povos da América (Alba). A intenção do encontro é analisar a crise entre Venezuela e Colômbia e definir uma doutrina militar “nacionalista e revolucionária” para a região. Ele repudiou o acordo Colômbia-EUA e o classificou como “uma aberta provocação à América Latina”. “Posso chegar à conclusão de que os Estados Unidos fomentam o terrorismo e o narcotráfico na Colômbia para justificar que esse país seja a base para agredir nossos povos”, disse o presidente boliviano.

Os presidentes Chávez e Uribe terão duas chances para conversar frente a frente antes do fim do mês. O colega Luiz Inácio Lula da Silva espera que os dois líderes compareçam à reunião de países amazônicos, em 26 de novembro, em Manaus. O objetivo do encontro é definir posições conjuntas para a Conferência do Clima no fim do ano, em Copenhague, que deve anunciar um pacto pós-Kyoto. No entanto, o mandatário brasileiro espera que os vizinhos aproveitem a oportunidade para resolver suas diferenças. Chávez e Uribe também devem participar da próxima Cúpula Iberoamericana, marcada para o próximo dia 29, em Estoril (Portugal).

“Nós, militares venezuelanos, somos pacifistas e nos preparamos para a guerra para assegurar a paz“

Hugo Chávez, presidente da Venezuela

“Não fiz nem farei um único gesto de guerra à comunidade internacional, muito menos a países irmãos“

Álvaro Uribe, presidente da Colômbia



Conflito envolveria milícias e petróleo

Especialistas acham improvável uma guerra entre Venezuela e Colômbia. No caso de um conflito armado, a revista colombiana Cambio, avalia que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), reconhecidas pela Venezuela como beligerantes, formariam um governo solidário ao presidente Hugo Chávez. O governante venezuelano também receberia o apoio da Aliança Bolivariana para os Povos da América (Alba), que possui um acordo de assistência militar entre países como Equador, Bolívia e Nicarágua.

Os dois países são grandes investidores em estratégia militar. Chávez criou a Especialização em Simulação de Jogos no Instituto de Altos Estudos da Defesa Nacional. Se houvesse confronto, o general Raúl Isaías Baduel prevê que a estratégia seria “de guerra assimétrica”, sem restrições de técnicas militares, e com a inclusão das milícias bolivarianas, além das Forças Armadas. O plano acrescentaria, em último caso, a chamada “guerra do petróleo” — o bloqueio de fornecimento de combustível aos EUA. Já o governo de Álvaro Uribe criou o Sistema Digital de Instrução (SDI) das Forças Militares, para a Escola Militar de Cadetes, e atualizou o Centro de Simulação e Análise de Crise da Escola Superior de Guerra em 2007.

Quanto ao número de efetivos do Exército, a Venezuela é sete vezes inferior à Colômbia, com apenas 34 mil homens. Por essa razão, supõe-se que o governo de Chávez impulsionou sua corrida armamentista a partir de 2004, com a compra de 53 helicópteros de transporte e ataque, 24 aviões de combate Sukhoi, um sistema antiaéreo M1-Tor, mísseis russos de longo alcance SS-300, e 100 mil fuzis de assalto AK103 — além de duas fábricas para sua construção. A conta com a Rússia já totalizou US$ 5 bilhões e Chávez planeja gastar mais US$ 2 bilhões em 92 tanques, 300 carros blindados e mísseis antiaéreos.

Se a Venezuela é mais poderosa no ar, a Colômbia bate o país vizinho em infantaria e em 50 anos de experiência de combate contra as Farc. Os colombianos investem em mobilidade, ao modernizar a frota de helicópteros de transporte. Uribe adquiriu 13 aviões Kfir de Israel, reformou 11 do mesmo tipo, e comprou 25 aviões Super Tucano da brasileira Embraer. Se isso não bastasse para fazer Chávez desistir de uma guerra, a Colômbia possui uma aliança estratégica com a potência militar mundial, os Estados Unidos. (VV)



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