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quarta-feira, 1 de julho de 2009

Honduras e a América

Pela primeira vez, desde que foi proclamada a Doutrina Monroe, em 1823, um presidente norte-americano condena golpe militar na América Latina. A pequena e economicamente inexpressiva Honduras passa à História como o recuado peão que faz mover o tabuleiro estratégico do continente. Como em velho programa humorístico do rádio brasileiro, vale a pena recorrer ao bordão: há sinceridade nisso? Provavelmente, sim. A Casa Branca se encontra ameaçada pela extrema direita norte-americana, ao mesmo tempo em que busca limpar sua imagem no mundo, e necessita do apoio dos liberais de seu país e do mundo. Nem mesmo durante o governo de Franklin Roosevelt, considerado de esquerda pelos conservadores, os Estados Unidos deixaram de financiar e apoiar – mesmo com soldados e armas – golpes militares em nossos países.

Uma das piores tiranias na América Central – a da Nicarágua – foi concebida em Washington, com o assassinato do grande revolucionário Augusto César Sandino, em 1934. Sandino, depois de vitorioso, caiu em emboscada, preparada por Anastásio Somoza, chefe da Guarda Nacional nicaraguense, e assassinado, quando ia discutir acordo para a desmobilização de seus guerrilheiros. Roosevelt, ao mesmo tempo em que proclamava a famosa doutrina da boa vizinhança, prestigiou a ditadura de Somoza enquanto viveu, e o mesmo apoio cúmplice e criminoso de Washington com a família de usurpadores continuou até 1979, quando Anastásio Tachito Somoza, filho do primeiro, foi derrubado pela Frente Sandinista e executado em Assunção, no Paraguai, meses depois, por guerrilheiros argentinos. Roosevelt se referia ao primeiro Somoza como um “son of bitch, but our son of bitch”.

Nenhum governo norte-americano, desde McKinley e Theodore Roosevelt – isso sem falar no que ocorrera antes – deixou de prestigiar a direita, sobretudo a militar, do México ao Chile, em nome da “boa ordem”. Nas últimas décadas soubemos bem o que foi isso, no Chile, na Argentina, na Venezuela, na Colômbia, no Peru, no Equador, em El Salvador, na Guatemala, na República Dominicana, em Cuba – e no Brasil. Não importava se estivessem no poder os republicanos de Nixon ou os democratas de Kennedy e Lindon Johnson. Agora, no entanto, um presidente norte-americano exige que se respeite a vontade popular em país ibero-americano, e sua posição é seguida no mundo. Até mesmo o rei da Espanha se manifestou contra o golpe de Honduras. Afinal, ele entende do assunto, e deve recordar-se da cançoneta infantil dos republicanos espanhóis ("Si tu padre quiere un rey, la baraja tiene cuatro, rey de oros, rey de copas, rey de espadas, rey de bastos"). Na verdade, a monarquia espanhola é uma concessão da razão republicana, no pacto político construído depois da morte de Franco.

Qualquer que seja a posição política da chamada comunidade internacional – além da firme decisão de ontem da Assembleia Geral da ONU – uma coisa deve ser respeitada: a incolumidade do território hondurenho. Isolar diplomaticamente os golpistas para que devolvam o poder a Zelaya é uma coisa. Enviar tropas é outra. Não será difícil obrigar o governo usurpador a deixar o governo de que se apropriou pelo golpe.

Uma saída pacífica, no entanto, não pode impedir o governo legítimo de punir os liberticidas. Mais do que um direito, o presidente deposto, se retornar ao poder, tem o dever de convocar assembleia constituinte, a fim de que o povo coloque rédeas jurídicas nas Forças Armadas e subordine os outros poderes ao estado de direito.

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