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sexta-feira, 19 de junho de 2009

O tecnólogo

Entre nós os cursos tecnológicos são tidos como novos. O que muitos não sabem é que, na verdade, eles começaram no Brasil há muito tempo atrás, mas precisamente a partir de 1808, com a vinda da família real, ano em que Dom João VI criou a Academia da Marinha e, dois anos, depois, a Academia Real Militar, além de instalar hospitais militares para funcionarem como escolas técnicas.

Por tanto, a educação brasileira começa com a educação tecnológica.

Mas apesar de um bom começo, ao longo desses dois séculos, vem persistindo na área educacional a separação entre trabalho e educação, devido talvez à divisão em duas classes, senhores de um lado e escravos do outro, à primeira reservando-se o ensino das Humanidades (saber pensar), e à segunda, o treinamento nas "artes e ofícios" (saber fazer), como mero adestramento.

Isso acabou por gerar outro engano, que é julgar a educação superior desvinculada do mundo do trabalho, como prova o fato de alguns cursos superiores mais tradicionais, como Direito, Medicina e Engenharia, serem considerados "acadêmicos", quando o que fazem é preparar para o mundo do trabalho.

Na verdade, após o nível médio, todos os cursos são profissionalizantes.

Os cursos tecnológicos têm no Brasil um longo percurso de avanços e recuos, que vão se sucedendo até 1988, ano em que é promulgada a Constituição Brasileira, que diz em um de seus artigos: "É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer".

Logo depois, o Decreto Federal nº. 97.333 autoriza a criação do primeiro curso superior de tecnologia em hotelaria (SENAC) e, a partir daí, outros cursos passaram a funcionar em instituições públicas e privadas de todo o País.

Em 1996, a Lei 9.394, mais conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), trata em dois de seus artigos da Educação Profissional, e o Decreto 2208/97 estabelece três níveis para esta modalidade> básico, independente de escolaridade prévia, técnico, destinado à habilitação profissional de alunos ou egressos do ensino médio, e tecnológico, correspondente a cursos superiores na área tecnológica, destinados a egressos do ensino médio e técnico.

Embora as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível tecnológico tenham sido publicadas em 2002, um pouco antes, a Portaria 1647/99 regulamenta a criação dos Centros de Educação tecnológica na esfera privada. Porém, somente em 2001, as primeiras entidades educacionais particulares recebem autorização para funcional seus cursos.

Resumindo: os cursos de graduação tecnológica são de nível superior, de curta duração (dois a três anos), com foco nas necessidades do mercado, abertos a concluintes do ensino médio ou equivalente aos que já têm diploma universitário e querem se especializar, tendo sido criados para responder à demanda por preparação, formação e aprimoramento educacional e profissional, quando nem o mercado pode esperar tanto tempo por profissionais qualificados, nem estes querem despender quatro ou mais anos de sua vida em uma graduação convencional.

São ministrados nos Centros de Educação Tecnológica públicos (CEFETs) e privados (CETs), conferindo a seus concluintes o diploma de tecnólogo.

Tecnólogo é o profissional formado em consonância com as velozes transformações que ocorrem na "aldeia global" (McLuhan), em função do avanço das novas tecnologias e que impulsionam o desenvolvimento industrial, pedindo, a curto prazo, profissionais multi-especializados para atender à diversificação e complexidade do mundo do trabalho.

É necessário lembrar não se tratar de um "profissional intermediário", mas de um profissional capaz de desenvolver tarefas próprias de uma determinada área profissional. Enquanto bacharéis ou licenciados são formados para a concepção, com ênfase na parte teórica e em um largo espectro de atuação, o tecnólogo tem formação mais específica, voltada à gestão, desenvolvimento e difusão de processos tecnológicos.

Não se trata também de cursos "aligeirados" ou "diminuídos". As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Tecnológico, de acordo com cada área profissional, prevêem uma organização curricular com ênfase na gestão, inovação e difusão tecnológica, compreendendo cerca de 40% de conteúdos práticos, associados à formação teórica.

Os cursos tecnológicos contemplam, pois, pontos disciplinares e interdisciplinares que dão ao aluno sólida formação científica, embora em raio mais restrito, voltados à compreensão teórica das operações a executar em área e nicho de mercado bem determinados.

Mas, embora o campo de atuação seja mais específico, o aprofundamento dos conhecimentos (na visão de uma concepção de formação contínua), vão permitir ao tecnólogo transitar da escola para o mundo do trabalho, e deste para outros cursos sem dificuldades.

Quanto ao público-alvo, tanto para os egressos de cursos técnicos de nível médio que precisam complementar estudos como para profissionais que já estão no mercado e querem se aperfeiçoar, o Tecnológico é excelente opção. Aos egressos de cursos técnicos (cujos currículos estão em sintonia com o mercado de trabalho) interessa a graduação tecnológica por ser o caminho natural para o prosseguimento de sua formação em nível superior, mas também par aquém já está no mercado, o Tecnológico é ótima alternativa para valorizar seu currículo e formação profissional, aumentando as chances de acesso a melhores empregos e a uma ascensão mais rápida na carreira.

Talvez a principal diferença dos cursos de Educação Tecnológica em relação aos demais bacharelados esteja na proposta de formar especialistas, enquanto os demais cursos superiores objetivam formas generalistas.

Uma segunda particularidade é o foco, que possibilita formar o cidadão em área e mercado delimitados. Em geral, ao criar um curso dessa modalidade, a instituição faz uma prévia pesquisa do mercado local e/ou regional onde o curso foi autorizado a funcionar, e a partir deste levantamento, planeja a metodologia e o currículo adequados formar um tecnólogo com o perfil que o mercado espera para desempenhar funções em uma área específica. Por isso, torna-se mais fácil ao tecnólogo ingressar no mercado para o qual foi preparado.

Este "olho no mercado" se faz sentir na escolha do corpo docente. Normalmente, as instituições que ofertam cursos superiores de tecnologia apreciam muito o conhecimento de quem já trabalha no mercado, para garantir, ao longo do curso, a ênfase no trabalho. Por isso, costumam contratar uma parte dos docentes com larga experiência na área visada, e uma outra composta por mestre e doutores, para assegurar, de um lado, uma sólida formação científica e de outro, um efetivo conhecimento prático.

O terceiro diferencial é a agilidade. A globalização imposta pelas novas tecnologias (da comunicação e informação) atingiu em cheio o mercado de trabalho, especialmente o do Brasil (e de outros países "em desenvolvimento"), aí provocando profundas alterações e solicitando do trabalhador novas competências e habilidades. Os cursos tecnológicos, por serem mais rápidos, têm a mobilidade necessária para colocar os futuros trabalhadores, em tempo hábil e em boas condições, no mundo do trabalho, a fim de exercer funções multi-especializadas e que exijam flexibilidade cognitiva e operacional.

A agilidade e o foco específico vão permitir um menor investimento com possibilidades de um bom retorno. Por um lado, o Tecnólogo, ao privilegiar o foco no mercado, pode economizar o tempo de duração do curso e conseqüentemente fazer cair os cursos. Em outras palavras, o aluno vai fazer praticamente a meta do investimento que faria em cursos de bacharelado ou licenciatura. Isso não apenas na esfera privada. Também na esfera púbica, tempo mais curto representa custos reduzidos à metade, podendo-se oferecer dobro das vagas em relação ás ofertadas por cursos generalistas.

Outra particularidade da graduação tecnológica é a metodologia, direcionada a nichos não atendidos pela graduação tradicional, o que garante a boa receptividade de seus egressos. O aprendizado é voltado para o trabalho, visando áreas e setores específicos não atendidos pelo ensino tradicional. A metodologia contempla uma parte teórica básica, como no ensino superior tradicional, com a diferença de que, na parte profissionalizante, são focalizados pontos mais específicos da área profissional, ao contrário do ensino tradicional, cuja visão é generalista e abrangente. Ou seja, os objetivos do Tecnológico são diferentes dos demais cursos.

O Tecnológico facilita ainda a continuidade de estudos. Com exceção do currículo mais específico, tempo menor e metodologia mais flexível, a graduação tecnológica em nada difere das demais. O acesso a ela se dá da mesma maneira, por meio de vestibular, e o tecnólogo, ao final do curso, recebe u7m diploma em tudo equivalente ao de outros cursos superiores, podendo seguir adiante em sua formação, cursando uma especialização (lato sensu), ou mesmo pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), normalmente. Como em qualquer outro curso tradicional de graduação.

Por todos estes diferenciais, os cursos tecnológicos vieram para ficar e ajudar o País a ser não a potência do futuro, mas do presente.

* O autor é Presidente da Associação Nacional da Educação Tecnológica ? ANET e Diretor do Centro de Educação Tecnológica Jundiaí - SP, Professor Luiz Rosa.

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