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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Discurso de líder
A comunicação é a principal ferramenta dos líderes. Essa premissa voltou a ocupar os holofotes depois da posse do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no último dia 20 de janeiro. Durante a campanha, ele entrou para a história com discursos marcantes, capazes de atrair e empolgar multidões. Eleito, continua inovando: o site da Casa Branca agora mantém um blog, o próprio presidente grava [videocasts] semanais, para explicar suas ações, e todos os seus principais projetos estão detalhados no portal. Obama adota em seus discursos um tom mobilizador e se fortalece como líder que se coloca ao lado e à disposição da audiência.
Aprenda com o mestre
Enviamos dois importantes discursos do presidente americano, Barack Obama, para o especialista em comunicação verbal Reinaldo Passadori, que destacou trechos fundamentais nos textos. Veja o que você pode aprender com eles:
Discurso da posse
Barack Obama: “Hoje, eu digo a vocês que os desafios que enfrentamos são reais. Eles são sérios e são muitos. Eles não serão encarados com facilidade ou num curto período de tempo. Mas, saibam disso, eles serão encarados. Neste dia, nos reunimos porque escolhemos a esperança no lugar do medo, a unidade de propósito em vez do conflito e da discórdia”.
Reinaldo Passadori: “Com uma escolha de palavras sóbrias, Obama não pretende comover; ele adota um discurso objetivo, claro e justo”.
Para você: Calibrar o discurso — encontrar as palavras certas para se conectar com a audiência e o tom ideal para o que se pretende transmitir — é um dos principais desafios de quem tem de falar em público. Pense antes em quem será seu interlocutor: o pessoal da fábrica, os diretores da sua empresa ou o grupo de acionistas da companhia. Seja simples e foque no que você sabe.
Discurso da vitória em Iowa
Obama: “Eles disseram que nossos objetivos estavam fora de alcance. Disseram que esse país estava dividido demais, desiludido demais para jamais se unir ao redor de um propósito comum. Mas, nesta noite — neste momento histórico —, vocês fizeram o que os céticos disseram que não poderíamos fazer”.
RP: “A comunicação é a principal ferramenta dos líderes. Obama sabe disso e usa esse trecho do discurso para elevar o moral dos americanos em tempos de crise. Ele incita à postura proativa, flexível a mudanças, desafiadora e corajosa”.
Para você: Liderar implica renovar a autoestima — a sua e a dos colegas. Em tempos de crise, reforçar esse aspecto no dia-a-dia com sua equipe é um tremendo diferencial, pois melhora a adesão do time, o compromisso com os objetivos e o trabalho conjunto.
Obama: “Essa luta traz pouco sono, pouco dinheiro e muito sacrifício (...) Daqui a vários anos, quando tivermos realizado as mudanças em que acreditamos (...), vocês serão capazes de olhar para trás com orgulho e dizer que esse foi o momento em que tudo começou”.
RP: “Obama personifica o líder da atualidade, que fala de igual para igual com sua audiência e nem por um instante se coloca alheio ou fora do processo de mudança que propõe”.
Para você: Hoje, a figura do líder autoritário e invencível deu lugar a um herói mais humano, que também perde noites de sono e tem frustrações. Dividir suas angústias e expectativas com a equipe traz o time para o seu lado.
Obama: “Chegou o momento de elegermos um presidente que será honesto sobre suas escolhas e os desafios que enfrentamos; que vai ouvir vocês e aprender com vocês, mesmo quando discordamos; que não vai falar apenas o que vocês gostariam de ouvir, mas o que vocês precisam saber”.
RP: “Neste trecho, Obama deixa implícito que sabe orquestrar conflitos e diversidades para atingir os interesses coletivos. Ele chama para si a responsabilidade de colocar em prática aquilo que for necessário para conduzir a nação”.
Para você: Comemorar bons resultados é fácil. Difícil mesmo é ser o portador de notícias desagradáveis, como cortes e demissões. Nessa hora, ir direto ao ponto é o mais correto. “Ao líder cabe o papel de inspirar, criar expectativas realizáveis e recompensar esforços”, diz Reinaldo.
O cérebro por trás dos discursos
Em seu primeiro dia de trabalho como senador dos Estados Unidos, há quatro anos, Barack Obama entrevistou um jovem de 23 anos para a vaga de redator de seus discursos. Jon Favreau, formado pela pequena universidade Holy Cross, no estado de Massachusetts, havia participado da campanha do democrata John Kerry, em 2004, e desde a sua derrota estava desempregado. A entrevista foi rápida. Obama quis saber quais eram as motivações do jovem e sua teoria por trás dos discursos. Favre explicou que havia se impressionado com o discurso de Obama na convenção democrata em 2004, porque, como ele, também acreditava na força de uma história para mobilizar e fortalecer uma mensagem.
Hoje, ele é o encarregado oficial dos discursos do presidente Obama — ele próprio um ótimo escritor. Eles trocam e-mails, telefonemas e, quando possível, conversam pessoalmente sobre o conteúdo de determinado discurso. Para o da posse, por exemplo, Jon recebeu de Obama tópicos que de veriam ser abordados e passou dois meses trabalhando no texto, com sua pequena equipe de dois assessores, que o ajudou a pesquisar discursos anteriores, conversar com historiadores e cientistas políticos, lapidar as referências e definir o tom da fala de Obama. O primeiro rascunho foi enviado ao presidente e passou por cinco rodadas de correção. Obama costuma dizer que seu redator tem o poder de “ler a mente”. O que ele faz, na verdade, é estudar duro. Jon carrega a autobiografia de Obama, A Origem dos Meus Sonhos para todos os lugares que vai.
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