´´Observe as tendências mas não Siga a maioria`` Thiago Prado


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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O paraíso da tecnologia

HÁ TEMPOS, O BRASIL É visto como país emergente - mesmo antes do surgimento do BRIC, sigla criada por Jim O'Neill, economista-chefe do Goldman Sachs. A expressão significa que a economia brasileira tem perspectivas de se tornar uma potência, mas ainda precisa percorrer um caminho antes de chegar lá. O título de promessa do futuro, porém, se restringe à economia. No universo da internet, o País é o queridinho das empresas de tecnologia, à frente de gigantes como EUA e China. Personalidades como Steve Ballmer, da Microsoft, e Craig Barrett, da Intel, se referem ao Brasil, citando a impressionante rapidez e facilidade com que a população adota novas tendências do mundo digital. Por exemplo: de acordo com o Ibope/NetRatings, os brasileiros são os líderes mundiais em tempo de navegação, somando quase 24 horas por mês. E veja que menos de 20% dos 180 milhões de habitantes do País têm acesso à rede. Mais: até 2010, o Brasil poderá ocupar o terceiro lugar no ranking mundial de venda de computadores.

Apesar de toda a popularidade da tecnologia por aqui, as empresas ainda não descobriram como transformar isso em receita. "As companhias do setor estão vindo para cá", afirma Marco Fernandes, sócio-diretor da SaleSolution. "Só não investem tanto quanto em outros países porque não têm garantia de retorno." A captação de publicidade online no mercado brasileiro ainda é tímida, se comparada à de outros países. Segundo o IAB, instituto de pesquisas, a internet recebe investimentos publicitários de R$ 470 milhões por ano. Nos EUA, a quantia supera US$ 21 bilhões. Para Marcelo Coutinho, diretor de análise de mercado do Ibope Inteligência, as empresas deveriam explorar mais as redes sociais em suas ações de marketing e comunicação. "Nos sites de relacionamento, não é preciso investir nada para divulgar um trabalho. O retorno vem como reflexo do boca a boca", explica Coutinho. É o caso da jovem cantora Malu Magalhães. Desconhecida do grande público, lançou quatro músicas na internet, que rapidamente se transformaram em hits entre os internautas. Com isso, conquistou visibilidade na mídia e no mercado.

RECEITA REDUZIDA: a captação de publicidade online no Brasil ainda é tímida. Enquanto o País recebeu investimentos de R$ 470 milhões, em 2007,
os Estados Unidos atingiram US$ 21 bilhões

A dificuldade em transformar a paixão dos brasileiros pela tecnologia em receita está relacionada ao baixo poder aquisitivo da população. Os grandes campeões de audiência da rede oferecem acesso gratuito. Aqui se encontra a terceira maior comunidade de usuários da linguagem de programação Java e o português é o segundo idioma entre os visitantes do Java.com. "O governo local é muito receptivo à linguagem e existe uma comunidade brasileira de desenvolvedores muito interessada", diz Jean Elliot, diretor da Sun Microsystems. Entre os usuários do sistema operacional de código aberto Open Solaris, também da Sun, o Brasil aparece em segundo lugar. O mesmo acontece com a Wikipédia. Na última semana, Jimmy Wales, co-fundador da enciclopédia online, veio ao Brasil para ampliar o time de colaboradores por aqui.

O sucesso mais impressionante, porém, é o Orkut, do Google. Dos 60 milhões de usuários ao redor do mundo, 53% estão no Brasil. Por isso, parte da administração do Orkut veio para cá. Para Félix Ximenes, diretor de comunicação do Google Brasil, o portal reforça características culturais da população. "O brasileiro é muito intuitivo e curioso. Sai apertando botão e se identifica com as ferramentas, mesmo se estiverem em inglês", afirma. Outro motivo, segundo Coutinho, do Ibope Inteligência, é, mais uma vez, econômico. "As redes sociais substituíram o contato social que exigia deslocamento ou telefonemas e, por tabela, algum desembolso", diz ele. O bom desempenho se repete no serviço de comunicação instantânea - são mais de 37 milhões de brasileiros que usam diariamente o Windows Live Messenger, recorde no mundo. Já no YouTube, página de compartilhamento de vídeos, o País aparece em quarto lugar em visitas. O acesso às novidades da rede é também visto como trampolim social. "Tecnologia no Brasil sempre foi sinônimo de status", lembra Marco Fernandes. "Na época da reserva de mercado, poucos tinham computador. O que vemos hoje é fruto de uma demanda reprimida de anos."

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