O fator que vem aquecendo a economia do estado é o ciclo de alta de preços do petróleo. Atualmente, 14% do combustível produzido nos Estados Unidos sai das plataformas do Alasca. O produto é responsável por quase 90% do PIB do estado, que instituiu uma das maiores cargas tributárias do mundo para as empresas que exploram a riqueza em seu território. Em média, três quartos do valor de cada barril produzido por ali vão direto para os cofres do governo estadual. Portanto, quanto mais caro o barril, melhor para o Alasca. Melhor também para a republicana Sarah Palin, que assumiu o governo do estado em 2007, colecionou superávits orçamentários e ganhou uma taxa de aprovação expressiva da população, até deixar o cargo em agosto para ocupar a vice-presidência na chapa do colega de partido John McCain.
Uma das ações que ajudaram a aumentar a popularidade de Palin no estado foi a aprovação de uma lei que tornou ainda mais generosa a distribuição de dividendos do petróleo à população. A iniciativa lhe rendeu o apelido de "Chávez do Ártico", numa referência ao presidente venezuelano, que também se beneficiou politicamente do ciclo de alta do combustível. Graças à "Lei Palin", cada um dos 630 000 moradores do Alasca (incluindo as crianças) recebeu no mês passado um cheque de 3 269 dólares, o maior valor desde que o benefício anual passou a ser entregue, em 1976. Na teoria, esse dinheiro serviria para aliviar os gastos com aquecimento doméstico (que também consome diesel e outros derivados do petróleo). Na prática, ele serve para movimentar o consumo no estado e, por isso, é estrategicamente entregue poucos meses antes do Natal.
Esse período de pujança movida a petróleo não deve terminar tão cedo. O governo do estado acaba de liberar uma nova área de 2,6 milhões de acres para exploração. As reservas estimadas no local são de 3,7 bilhões de barris - volume próximo ao do recém-descoberto campo de Tupi, no Brasil, que varia de 5 bilhões a 8 bilhões, segundo as últimas estimativas. Algumas importantes petrolíferas já anunciaram pacotes de investimento tendo em vista o início dos trabalhos desses novos campos, o que deve ocorrer até 2012. Numa operação conjunta, a inglesa British Petroleum e a empresa local ConocoPhilips vão gastar 30 bilhões de dólares na construção da infra-estrutura necessária para transportar petróleo e gás natural da reserva para o Canadá e para os demais estados americanos.
Além do Alasca, outras regiões produtoras fora do eixo Venezuela-Oriente Médio experimentam um período de desenvolvimento econômico inédito em razão das altas no preço do combustível. Trinidad e Tobago, uma nação de 1,3 milhão de habitantes na América Central, ganhou o apelido de "tigre do Caribe" por causa de um ciclo recente de desenvolvimento movido a petrodólares. O governo local acaba de divulgar que seu orçamento para 2009 será de 50 bilhões de dólares, o maior da história do país. No Azerbaijão, uma ex-república soviética, com 8,7 milhões de habitantes e reservas de petróleo estimadas em 7 bilhões de barris, a economia registrou a maior taxa de crescimento do mundo em 2007 - 17,5%. Boa parte do dinheiro tem sido usada para modernizar a economia do país. Na última edição do estudo Doing Business, do Banco Mundial, que mede a qualidade do ambiente de negócios das nações, o país subiu nada menos que 64 posições no ranking (ocupa atualmente o 33o lugar; o Brasil é o número 126). Isso o coloca no grupo que corre na direção oposta à da Nigéria e à de outros países do continente africano, cujas rendas com o petróleo serviram para perpetuar ditadores e aumentar desigualdades sociais. No caso do Azerbaijão, em vez de uma maldição, o "ouro negro" está virando o combustível da prosperidade.
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