O estudante Antonio dos Santos Veiga, o Tuca, de 20 anos, não sabe explicar como os versos lhe vieram à cabeça. Mas a música, composta em menos de cinco minutos, durante uma caminhada pelas ruas da Vila Madalena, em São Paulo, virou hino informal de uma das maiores torcidas do Brasil. O grito “Aqui tem um bando de louco, louco por ti Corinthians” marcou o apoio dos torcedores ao time em um momento difícil – o rebaixamento para a segunda divisão no Campeonato Brasileiro de 2007.
Tuca contou com a ajuda de um colega para divulgar o hino. Cantavam no ônibus, na volta dos jogos, ou na fila para comprar ingresso para as partidas. Até que conseguiram convencer a torcida organizada a puxar o grito. A primeira vez foi em março de 2007, no estádio do Pacaembu, durante o intervalo de Corinthians e Pirambu, clube sergipano. “No começo, éramos eu e meu amigo gritando. Quando o time voltou do intervalo, o estádio inteiro estava cantando”, afirma o estudante.
Ele não sabe o que fez de seu grito um sucesso. Talvez a letra simples, fácil de decorar. Talvez o ritmo forte, vibrante. Mas o efeito sobre os torcedores é certo: quase um transe. “O pessoal acaba ficando maluco, canta do fundo do pulmão”, diz Tuca. Ele acredita que a empolgação da torcida ajude o time a jogar melhor.
Como uma música tão simples consegue contagiar multidões – e, possivelmente, até ajudar no desempenho de uma equipe? É claro que a paixão pela camisa alvinegra – rubro-negra, alviverde, tricolor, colorada ou de quaisquer outros tons – tem sua contribuição. Mas parece que a musicalidade inerente aos seres humanos é ainda mais forte que o amor pelo time do coração. É essa profunda ligação que a ciência está tentando desvendar.
O neurocientista americano Daniel Levitin, que trabalhou para grandes estrelas da música pop, lança uma teoria polêmica em seu livro mais recente, The World in Six Songs (O Mundo em Seis Canções), publicado em agosto nos Estados Unidos e ainda sem edição brasileira. Ele afirma que seis tipos de música influenciaram a evolução humana: de amizade; alegria; de conforto; religiosa; de amor e de conhecimento. “O poder da música foi capaz de mudar culturas”, disse a ÉPOCA. Canções como as de conforto, que dão apoio em momentos difíceis, e de alegria, que ajudam a motivar, são duas das categorias. “Foram as seis maneiras que nossos ancestrais usaram para se comunicar que moldaram a natureza humana”, diz.
O próprio Levitin teve seu caminho influenciado pelas notas e pelos acordes musicais. Na década de 1970, deixou o curso de Engenharia Elétrica no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, para virar guitarrista de uma obscura banda country no Estado do Oregon. Depois começou a trabalhar em estúdios e prestou serviços para artistas como Stevie Wonder e Carlos Santana. Na década de 1990, retomou seus estudos acadêmicos sem abandonar a música e se tornou um dos líderes nas pesquisas sobre os caminhos do som no cérebro.
Levitin sustenta que todas as canções, não importa em que categoria se encaixem, ajudaram o cérebro a exercitar habilidades imprescindíveis à sobrevivência de nossos antepassados. Ao transformar um sentimento ou informação em música, entra em ação a capacidade de abstração e de imaginação. E a melodia entretém o cérebro em um jogo de adivinhação (algo como “que nota vem depois dessa?”). Quando acertamos, nos sentimos recompensados. Por isso, ouvir música é tão bom. Essa brincadeira de adivinhação teria ajudado a desenvolver a capacidade de antever cenários e conferido uma vantagem evolutiva aos humanos com tal aptidão. “Nós não gostamos de música porque ela é bonita”, escreve Levitin. “Nós a achamos bonita porque os primeiros humanos que fizeram bom uso dela foram os mais bem-sucedidos em sobrevivência e reprodução”.
A idéia de que a música ajudou a desenvolver nossas capacidades mentais não é uma novidade. A dúvida que divide os pesquisadores é se ela foi uma das causas de nossa inteligência ou se surgiu apenas como um subproduto da evolução – que teria ocorrido para dar conta de outras necessidades, como a busca de alimentos ou a interação social pela palavra. Levitin não resolve a questão. Mas, ao dividir as canções em seis categorias, ajuda a ciência a entender melhor seus efeitos sobre nós.
Tuca contou com a ajuda de um colega para divulgar o hino. Cantavam no ônibus, na volta dos jogos, ou na fila para comprar ingresso para as partidas. Até que conseguiram convencer a torcida organizada a puxar o grito. A primeira vez foi em março de 2007, no estádio do Pacaembu, durante o intervalo de Corinthians e Pirambu, clube sergipano. “No começo, éramos eu e meu amigo gritando. Quando o time voltou do intervalo, o estádio inteiro estava cantando”, afirma o estudante.
Ele não sabe o que fez de seu grito um sucesso. Talvez a letra simples, fácil de decorar. Talvez o ritmo forte, vibrante. Mas o efeito sobre os torcedores é certo: quase um transe. “O pessoal acaba ficando maluco, canta do fundo do pulmão”, diz Tuca. Ele acredita que a empolgação da torcida ajude o time a jogar melhor.
Como uma música tão simples consegue contagiar multidões – e, possivelmente, até ajudar no desempenho de uma equipe? É claro que a paixão pela camisa alvinegra – rubro-negra, alviverde, tricolor, colorada ou de quaisquer outros tons – tem sua contribuição. Mas parece que a musicalidade inerente aos seres humanos é ainda mais forte que o amor pelo time do coração. É essa profunda ligação que a ciência está tentando desvendar.
O neurocientista americano Daniel Levitin, que trabalhou para grandes estrelas da música pop, lança uma teoria polêmica em seu livro mais recente, The World in Six Songs (O Mundo em Seis Canções), publicado em agosto nos Estados Unidos e ainda sem edição brasileira. Ele afirma que seis tipos de música influenciaram a evolução humana: de amizade; alegria; de conforto; religiosa; de amor e de conhecimento. “O poder da música foi capaz de mudar culturas”, disse a ÉPOCA. Canções como as de conforto, que dão apoio em momentos difíceis, e de alegria, que ajudam a motivar, são duas das categorias. “Foram as seis maneiras que nossos ancestrais usaram para se comunicar que moldaram a natureza humana”, diz.
O próprio Levitin teve seu caminho influenciado pelas notas e pelos acordes musicais. Na década de 1970, deixou o curso de Engenharia Elétrica no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, para virar guitarrista de uma obscura banda country no Estado do Oregon. Depois começou a trabalhar em estúdios e prestou serviços para artistas como Stevie Wonder e Carlos Santana. Na década de 1990, retomou seus estudos acadêmicos sem abandonar a música e se tornou um dos líderes nas pesquisas sobre os caminhos do som no cérebro.
Levitin sustenta que todas as canções, não importa em que categoria se encaixem, ajudaram o cérebro a exercitar habilidades imprescindíveis à sobrevivência de nossos antepassados. Ao transformar um sentimento ou informação em música, entra em ação a capacidade de abstração e de imaginação. E a melodia entretém o cérebro em um jogo de adivinhação (algo como “que nota vem depois dessa?”). Quando acertamos, nos sentimos recompensados. Por isso, ouvir música é tão bom. Essa brincadeira de adivinhação teria ajudado a desenvolver a capacidade de antever cenários e conferido uma vantagem evolutiva aos humanos com tal aptidão. “Nós não gostamos de música porque ela é bonita”, escreve Levitin. “Nós a achamos bonita porque os primeiros humanos que fizeram bom uso dela foram os mais bem-sucedidos em sobrevivência e reprodução”.
A idéia de que a música ajudou a desenvolver nossas capacidades mentais não é uma novidade. A dúvida que divide os pesquisadores é se ela foi uma das causas de nossa inteligência ou se surgiu apenas como um subproduto da evolução – que teria ocorrido para dar conta de outras necessidades, como a busca de alimentos ou a interação social pela palavra. Levitin não resolve a questão. Mas, ao dividir as canções em seis categorias, ajuda a ciência a entender melhor seus efeitos sobre nós.
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