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terça-feira, 21 de outubro de 2008

Navegando num mar de profissões - Como se orientar entre carreiras em alta, outras.

O futuro tem a forma de um "x". É assim, com uma cruzinha num formulário de vestibular, que um exército de mais de 1 milhão assinalará o curso para o qual pretende disputar vaga no final do ano. Além de marcar uma carreira, essa legião estará marcando também a profissão que deve acompanhá-la pela vida afora. Como há 129 diferentes cursos oferecidos por 851 faculdades, opção é o que não falta. Estimativas de consultores de recursos humanos dão conta de que apenas cinco de cada 100 vestibulandos de primeira viagem estão absolutamente certos de sua escolha antes da inscrição para as provas. Os outros têm uma vaga noção do que querem. Na dúvida, grande parte acaba optando pelas carreiras tradicionais. "Um em cada três alunos escolhe direito, medicina, odontologia ou engenharia, uma parte porque quer, outra parte porque acha que deveria querer", diz a socióloga Isabel Calvo, especialista na área. E é fácil entender por que os alunos ficam em dúvida. "Escolher significa posicionar-se entre duas ou mais possibilidades que são igualmente atraentes", afirma o pedagogo paulista Silvio Bock, um especialista em orientação vocacional.

A preocupação com a escolha da carreira ocorre quase sempre às vésperas do vestibular. Raros são os jovens que se preocupam em discutir, com alguma antecedência, o que vão ser quando crescer. A incerteza é angustiante. Optar por uma profissão é um processo trabalhoso. Não é de uma hora para outra, entre a compra do manual de inscrição para o vestibular e a realização das provas, que se vai adquirir confiança. Entre outras razões, é por isso que, dos 500 000 estudantes que entram na faculdade a cada ano, quase metade (240 000) desiste no meio do caminho. A desistência muitas vezes ocorre depois de iniciada a vida profissional. Nos Estados Unidos, há pesquisas apontando para o surgimento de uma nova tendência. Já existem pessoas trocando de profissão até três vezes. "Isso não deve ser motivo para sofrimentos", diz a psicanalista Maria Stella Sampaio Leite, de São Paulo. "A experiência e os conhecimentos apreendidos nunca são um desperdício."

Para escolher uma profissão, antes de mais nada, é preciso ouvir os pais mas só para saber o que eles acham da profissão que exercem. É um erro ceder às pressões familiares. É natural o pai advogado querer ver a filha no escritório e a mãe dentista querer empurrar o filho para o consultório. Há também os que fazem pressão porque não tiveram oportunidade de estudar e sempre sonharam ver o filho economista. Mas o futuro em questão é o do vestibulando, não o deles. Recomenda-se conhecer o máximo possível das minúcias das carreiras pelas quais tem curiosidade. Um exemplo: é comum ficar em dúvida entre administração de empresas e engenharia de produção, já que as duas ocupações cumprem praticamente o mesmo papel. "Num mercado de mutação veloz, como o de agora, as fronteiras entre as profissões tornam-se cada vez mais tênues", atesta a psicanalista Maria Stella. O que fazer então? Antes de mais nada, deve-se analisar o currículo dos dois cursos. Quem detesta física, química ou mecânica deve fugir das escolas de engenharia. Quem abomina filosofia, sociologia e psicologia deve esquecer administração.

Muitas vezes a dúvida pode ser resolvida dessa forma, de maneira simples, pela análise dos currículos. É o que acontece quando a indecisão envolve duas profissões semelhantes, como administração e engenharia de produção, ou história e filosofia. Mas há um tipo de dúvida mais complexa, quando o estudante não sabe se quer ser economista ou arquiteto carreiras totalmente diferentes. Quem está em dúvida entre uma área do mundo das contas e outra do universo das artes não deve angustiar-se nem achar que é um desorientado na vida. "Isso pode traduzir apenas o desejo de trabalhar com finanças, mas sem abrir mão da criatividade", afirma a psicóloga mineira Marlene Batista, diretora do Centro de Psicologia Aplicada da Universidade Estadual de Minas Gerais.

As profissões podem ser divididas em famílias. Algumas estão sempre em alta desde que o mundo é mundo, como medicina, direito e engenharia. Isso não vai mudar nunca. As pessoas vão continuar a ficar doentes, têm de resolver a pendência do aluguel e precisam de estradas para se deslocar. Outras, embora pouco prestigiadas, não deixam seus profissionais desempregados, como letras e matemática, já que sempre haverá procura por professores. Há carreiras que surpreendem, como turismo e educação física. Cinco ou seis anos atrás eram tidas como atividades exóticas, e hoje, apesar de oferecer salários pouco atraentes, formam entre as campeãs do vestibular. Uma categoria de profissão costuma gerar um encantamento especial entre os jovens, por conta de um falso glamour a ela atribuído. É o caso de jornalismo e publicidade. Na verdade, trabalha-se muito, ganha-se pouco e arrumar emprego é um desafio.

Como os jovens no Brasil têm de fazer sua opção profissional cedo demais, aos 17, 18 anos, há quem argumente que, em função disso, estariam mais sujeitos às inseguranças do que o americano, por exemplo. Lá, os estudantes só fazem a escolha de dois a quatro anos depois, o que faz com que o universitário americano tenha, em média, 25 anos idade de profissional formado no Brasil. "Se pudessem escolher mais tarde a profissão, os jovens poderiam ter um grau de segurança maior em torno do que planejam para suas vidas", diz o consultor de recursos humanos Simon Franco. É verdade. Na hora da decisão, o grande medo é errar. É descobrir mais tarde que a carreira escolhida não era a mais apropriada, que poderia ter feito outra coisa qualquer. Conhecendo um pouco mais sobre as profissões, o que poderia ser feito se os candidatos tivessem mais tempo, a margem de erro na hora de assinalar o "x" poderia ser menor. "Poderia, mas jamais desapareceria", acrescenta Franco. "Em qualquer idade, a dúvida vai existir sempre que se precisar escolher." Isso acontece até mesmo entre profissionais experientes. Há quem esteja trabalhando há dez, quinze anos e até hoje continue em crise, sem saber se escolheu certo ou errado.

Para o candidato que fica alucinado tentando resolver esse dilema, que fica procurando uma vocação, um aviso. "A única vocação do ser humano é não ter vocação nenhuma", filosofa o professor Bock. Isso quer dizer que a opção por uma carreira nada tem a ver com programação genética, mas com a história particular de cada um, sua educação, seu ambiente social, sua experiência de vida. Não adianta esperar que alguém ou algum livro de auto-ajuda identifique uma forte inclinação para a engenharia ou para a biologia. "Os estudantes esperam que alguém lhes diga qual carreira seguir", conta Maria Apparecida de Freitas, psicóloga paulista e orientadora vocacional. Os testes vocacionais ajudam, mas devem ser vistos apenas como forma de identificar áreas de interesse do aluno.Há versões mais específicas, que arriscam dizer se x deve ser veterinário e y, advogado. Cuidado. São pilantragens das grossas. "Os testes são bons para apontar caminhos, não para dar respostas acabadas", diz o vice-governador de Minas Gerais, Walfrido Mares Guia, educador que tem um exemplo pessoal para contar. Antes de prestar vestibular, seu teste vocacional disse que deveria ser advogado. Terminou fazendo engenharia química e administração de empresas, acabou professor, e não se arrepende. "Os testes também erram", afirma.

Concorrência feroz O único critério apropriado para tomar uma decisão tão difícil é fazê-lo solitariamente. Deve-se ter em mente apenas a busca da satisfação pessoal. "Ninguém vai ser feliz fazendo o que não gosta, ainda que consiga ganhar um bom salário no final do mês", diz o pedagogo Celso Ferreti, de São Paulo. Não adianta sair correndo atrás do mercado, querendo cursar a faculdade que interessa à praça. Cursos de momento, como moda e comércio exterior, estão em alta agora. Amanhã podem estar na sarjeta. É mais importante investir numa boa formação. "Os estudantes devem ter um grau de conhecimento bastante amplo e deixar para as empresas a responsabilidade de treiná-los de acordo com suas necessidades", defende Walfrido Mares Guia.

Todos os anos, o programa de estagiários do Citibank recebe cerca de 1.200 inscritos. Na primeira triagem, 1.000 jovens são sumariamente dispensados. Depois, um exame atento do currículo de cada um derruba outros 120. Sobram oitenta. Submetidos a testes específicos, restam vinte. Esses ganham contrato de um ano e catorze salários de 1.800 reais. Durante esse período, os recém-formados estagiam nos vários setores do banco. A mesma dureza da concorrência entre recém-formados se verifica na Copesul, peso pesado do setor químico e petroquímico, em Porto Alegre. A cada ano, 700 jovens candidatam-se ao programa de estágio da companhia. Depois de uma batelada de testes e entrevistas, apenas vinte ficam. Contratados por seis meses, ganham 750 reais por mês. Deles, catorze acabam contratados. "Minha experiência mostra que se dão melhor nas nossas triagens as pessoas mais apaixonadas pela profissão que abraçaram", afirma Délsio Klein, chefe de recursos humanos do Citibank.

Não importa o curso, ninguém deve perder de vista a necessidade de estudar muito. Não desperdice tempo fazendo curso de espanhol porque inventaram que isso pode ser bom para trabalhar em tempos de Mercosul. Estude espanhol se isso lhe agradar, se quiser ler Cervantes no original. "Os conhecimentos da humanidade se reciclam a cada seis anos", diz o químico José Atílio Vanin, vice-diretor da Fuvest, organizadora de alguns dos mais importantes vestibulares do país. "Só alguém que estuda com afinco consegue acompanhar esse ritmo." No setor de informática, o moderno de hoje estará obsoleto em seis meses. Na medicina, metade dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos que estarão em uso daqui a dez anos ainda não foi descoberta. "A formação generalista é muito mais importante do que a profissão em si", salienta a socióloga Elizabeth Balbachevsky, do Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior, da Universidade de São Paulo.


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