Tropa de elite para matar Bin Laden em segredo
Nem as famílias sabem o que fazem os Seals, comandos da Marinha usados em missões de alto risco
José Meirelles Passos
Desta vez a comemoração foi mais efusiva. Afinal, o grupo acabara de realizar a mais importante operação clandestina das forças especiais do Pentágono desde o fatídico 11 de setembro de 2001, quando a al-Qaeda destruiu as Torres Gêmeas, no coração de Nova York. Mas, como de praxe, a festa foi ao mesmo tempo discreta, restrita: uma celebração “a portas fechadas” em Dam Neck, no estado de Virginia, onde está a sede da Navy Seals, a tropa de elite da Marinha americana que aniquilou Osama bin Laden.
A euforia, no entanto, foi tão grande que desta vez o público ficou sabendo sobre a autoria da façanha, pois alguém vazou um email que o almirante Edward Winters, chefe do Comando Especial de Guerra da Marinha, enviou à equipe que agiu no Paquistão — denominada “Team Six” — dando-lhe parabéns e lembrando que todos deveriam “manter a boca fechada”.
Trata-se de um dos grupos secretos das forças especiais do Pentágono, cujos integrantes se autodefinem como “profissionais calados”.
Ninguém, fora de tal elite, sabe quem são eles. Vizinhos e familiares tampouco sabem o que esses agentes especiais realmente fazem. Suas missões são tão árduas e arriscadas que esses “heróis anônimos” permanecem, em média, apenas três anos nessa vida; recolhendo-se, posteriormente, ao trabalho de análise de inteligência e preparação de logística, na retaguarda.
Apenas um terço participa de missões de alto risco
— É preciso suportar muita dor física e, às vezes, dores emocionais. E isso não é para qualquer um — disse Paul Tharp, chefe dos instrutores da escola preparatória dos Seals.
Hans Garcia, da equipe de oficiais que recruta voluntários interessados em pertencer à tal elite, contou que não procura valentões:
— A pessoa perfeita para essa função é alguém com preparo físico extraordinário, mas ao mesmo tempo muito humilde, além de ser um pensador analítico e capaz de resolver problemas. Uma pessoa também consciente de valores, que seja patriótica, e que coloque a missão acima dela própria — disse ele, acrescentando que a maior parte desses “agentes de campo” está na faixa de 28 a 35 anos de idade.
As forças especiais da Marinha, do Exército, da Força Aérea e dos Fuzileiros contam hoje com cerca de 60 mil homens, mas desse total apenas 20 mil estão qualificados para missões de alto risco em campo.
E desse grupo, nada mais do que cinco mil seriam extremamente exímios nas operações que envolvem desde manejo de armas e explosivos à coleta de informações, conhecimentos amplos de informática, conhecimentos básicos de medicina para socorrer colegas feridos em ação, e habilidades culturais como a de se comunicar em vários idiomas. Quem domina línguas das atuais zonas de conflito — como o árabe, o pashto e o dari, por exemplo — recebe bônus adicionais em seu salário.
Orçamento das forças quase quintuplicou
O orçamento das forças especiais, que era de US$ 2,1 bilhões em 2001 saltou para US$ 9,8 bilhões em 2011. Essa cifra deverá subir para US$ 10,5 bilhões no ano que vem. Num dia qualquer, nada menos do que 12 mil pessoas dessas equipes estão envolvidas em operações em cerca de 75 países — segundo o almirante Eric T. Olson, chefe do Comando de Operações Especiais dos EUA.
Há três unidades permanentes no Comando Sul, sediado na Flórida. Segundo o Pentágono elas realizam, em média 42 missões secretas em 26 países da América Latina. O que fazem na região?
— A grande maioria de tais missões jamais será de conhecimento público — desconversou o capitão Duncan Smith, porta-voz dos Seal.
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Rede de espiões operou nas sombras para localizar e investigar a fortaleza
Assunto:
Internacional
Resenha:
Mark Mazzetti, Helene Cooper e Peter Baker, do The New York Times
Em Washington, experiências desastrosas de comandos americanos na Somália e Irã assombravam debates sobre ataque final
Em julho, paquistaneses que trabalhavam para a CIA perseguiram uma Suzuki branca pelas ruas movimentadas de Peshawar, no Paquistão, e anotaram a placa do veículo.
O motorista era o mensageiro de confiança de Osama bin Laden, e no mês seguinte agentes da CIA o seguiram pelo país. Finalmente, contam funcionários de Washington, ele os levou para um vasto complexo no fim de uma longa estrada de terra, cercado por muros altos, a cerca de 55 quilômetros da capital paquistanesa. Oito meses mais tarde, 79 comandos americanos em quatro helicópteros desceram no complexo. Houve disparos. Um helicóptero parou de funcionar e não conseguiu levantar voo. As autoridades paquistanesas, que não tinham sido informadas por seus aliados em Washington, tentaram reunir às pressas suas forças enquanto os comandos americanos concluíam rapidamente sua missão e partiam antes que houvesse um confronto. Entre os mortos, um era um homem alto, de barba, com o rosto coberto de sangue e uma bala na cabeça. Um membro do corpo Seals da Marinha americana o fotografou e enviou a foto aos analistas que a submeteram a um programa de reconhecimento facial.
Em poucos instantes, a maior, mais cara e mais exasperante caçada humana da história moderna estava encerrada. O corpo inerte de Bin Laden, o inimigo número 1 dos EUA, foi colocado num helicóptero para ser levado a um porta-aviões e lançado ao mar. Uma nação que passou uma década atormentada pela impossibilidade de capturar o responsável pela morte terrível de quase 3 mil pessoas, em Nova York, Washington e na Pensilvânia, em 11 de setembro de 2001, finalmente encerrava, pelo menos, um difícil capítulo.
Para o serviço de inteligência que foi duramente criticado por uma série de fracassos, na década passada, a morte de Bin Laden representou uma espécie de redenção. Para os militares que trabalharam duramente em duas, agora em três, guerras desgastantes em países muçulmanos, representou o sucesso absoluto. E, para o presidente cuja capacidade de liderança na questão da segurança nacional estava sendo questionada, tornou-se um momento de confirmação de que seu ingresso nos livros de História está garantido.
Por meses, a inteligência usou escuta telefônica, vasculhou os e-mails da família árabe do mensageiro de Bin Laden num país do Golfo Pérsico e debruçou-se sobre imagens de satélite do complexo em Abbottabad para determinar um "padrão de rotina" que poderia indicar se a operação valeria o risco.
Segundo relatos de mais de dez funcionários da Casa Branca, da inteligência e do Pentágono, as últimas semanas foram uma mistura angustiante de indagações e cenários negativos.
"Não houve uma reunião sem que alguém não mencionasse pelo menos "um Black Hawk abatido"", comentou um funcionário do alto escalão do governo, evocando a desastrosa batalha de 1993, na Somália, em que dois helicópteros americanos foram abatidos e parte da tripulação morreu na ação. A missão fracassada para resgatar os reféns no Irã, em 1980, também era uma lembrança ameaçadora.
Não houve consenso entre os funcionários quanto ao início da operação: alguns preferiam esperar e continuar monitorando até ter mais certeza de que Bin Laden estava realmente ali, enquanto outros optavam por um bombardeio, menos arriscado. No fim, o presidente Barack Obama decidiu que bombas poderiam provocar muitos danos sem a certeza de que Bin Laden fosse realmente atingido, e decidiu enviar comandos. No plano estava prevista a possibilidade de confronto na hora de sair do complexo - e foram enviados mais dois helicópteros para seguir as duas aeronaves de assalto como proteção na eventualidade de algum problema.
Acompanhamento. Na tarde de domingo, enquanto os helicópteros voavam sobre o território paquistanês, o presidente e seus assessores reuniram-se na Sala da Situação da Casa Branca para acompanhar a operação enquanto ela se desenrolava. Na maior parte do tempo, todos se mantiveram em silêncio.
A expressão de Obama era impenetrável, segundo um assessor. O vice-presidente Joe Biden desfiava o terço. "Os minutos pareciam dias", lembrou John O. Brennan, o diretor da área de contraterrorismo da Casa Branca.
O nome de código de Bin Laden era "Geronimo". O presidente e seus assessores olhavam Leon Panetta, o diretor da CIA, numa tela de vídeo, narrando para o quartel-general da agência do outro lado do Rio Potomac o que estava acontecendo no longínquo Paquistão.
"Chegaram ao alvo", ele disse.
Minutos se passaram.
"Temos contato visual com Geronimo", ele disse.
Minutos mais tarde: "Geronimo EKIA" (iniciais de enemy killed in action - inimigo morto em ação). Fez-se silêncio na Sala da Situação.
Finalmente Obama falou: "Pegamos ele".
Lacunas. Anos antes que os ataques do 11 de Setembro transformassem Bin Laden no terrorista mais temido do mundo, a CIA começara a compilar um dossiê sobre os principais elementos de sua rede terrorista global.
Somente depois de 2002, quando a agência passou a prender membros da Al-Qaeda - e a submetê-los a brutais sessões de interrogatórios em prisões secretas no exterior -, finalmente começaram a ser preenchidas as lacunas a respeito dos combatentes da organização, assistentes e financiadores dos quais Bin Laden dependia.
Os prisioneiros sob custódia dos EUA falaram de um mensageiro de confiança. Quando os americanos mencionaram o pseudônimo a dois detentos de alto nível - o principal planejador do 11 de Setembro, Khalid Sheikh Mohammed, e o chefe de operações da Al-Qaeda, Abu Faraj al-Libi - eles afirmaram que nunca tinham ouvido falar no nome. Os agentes encarregados dos interrogatórios começaram a suspeitar de que os dois estavam mentindo e o mensageiro provavelmente era uma figura importante.
Enquanto a caçada a Bin Laden prosseguia, a agência de espionagem sofria algumas derrotas em outras frentes: como as avaliações erradas do serviço secreto a respeito das armas de destruição em massa que levaram à guerra no Iraque e as intensas críticas pelo uso de métodos radicais de interrogatório, entre os quais a simulação de sufocamento, que, segundo os críticos, não passavam de tortura.
Em 2005, muitos funcionários da CIA chegaram à conclusão de que a caçada a Bin Laden estava totalmente equivocada, e os principais funcionários clandestinos da agência ordenaram uma revisão das operações de contraterrorismo. O resultado foi a Operação Bala de Canhão, que colocou um número maior de funcionários da CIA em campo no Paquistão e no Afeganistão.
Com o aumento dos agentes, a CIA finalmente obteve o sobrenome do mensageiro. Com isto, recorreram a um dos seus principais instrumentos de investigação - a Agência de Segurança Nacional começou a interceptar telefonemas e e-mails entre a família do homem e alguém no Paquistão. Desse modo, conseguiram o nome completo.
Quando, depois de semanas de vigilância, o mensageiro levou os investigadores ao complexo de Abbottabad, agentes da inteligência americana viram que tinham chegado a algo muito grande, quem sabe o próprio Bin Laden. Seu esconderijo não era a caverna espartana nas montanhas, como muitos julgavam. Mas uma casa de três andares, cercada por muros de concreto de quatro metros de altura, protegida por dois muros de segurança. Segundo disse Brennan, o funcionário da Casa Branca, ele estava "se escondendo à vista de todos".
Em Washington, Panetta reuniu-se com Obama e os seus assessores de segurança nacional, incluindo Biden, a secretária de Estado Hillary Clinton e o secretário da Defesa, Robert Gates. A reunião foi considerada tão secreta que os funcionários da Casa Branca nem sequer incluíram o tópico nas agendas eletrônicas.
Naquele dia, Panetta falou longamente sobre Bin Laden e seu suposto esconderijo. "Foi algo eletrizante", disse um funcionário do governo que participou da reunião. "Tentávamos havia tanto tempo agarrá-lo e, de repente, lá estava ele."
No entanto, discutiu-se sobre a possibilidade de Bin Laden estar realmente no interior da casa. Seguiram-se semanas de tensas reuniões entre Panetta e seus subordinados a respeito do próximo passo. Enquanto ele defendia uma estratégia agressiva para confirmar a presença de Bin Laden, alguns agentes clandestinos da CIA temiam que a pista mais promissora dos últimos anos fracassasse se os guarda-costas suspeitassem que o complexo estava sendo observado e fizessem o líder da Al-Qaeda desaparecer do local.
Durante semanas, no final do ano passado, satélites espiões tiraram fotos detalhadas, e a Agência de Segurança Nacional trabalhou para colher toda a informação possível sobre a casa. Não foi fácil: o complexo não tinha nem telefone nem acesso à internet. O pessoal da casa estava tão preocupado com a segurança que queimava o lixo em vez de colocá-lo na rua para ser levado pelos caminhões de coleta.
Em fevereiro, Panetta chamou o vice-almirante William H. McRaven, chefe do Comando Conjunto de Operações Especiais do Pentágono, para a sede da CIA em Langley, Virgínia, para informá-lo dos detalhes do complexo e começar a planejar um ataque militar.
McRaven, veterano do mundo dos serviços secretos que escreveu um livro sobre as Operações Especiais dos EUA, passou semanas trabalhando com a CIA a respeito da operação, e apresentou três opções: um assalto com helicópteros usando comandos americanos, ataques com bombardeiros B-2 que destruiriam o complexo ou uma incursão conjunta com agentes da inteligência paquistanesa, que seriam informados da missão horas antes do início.
Opções na mesa. Em 14 de março, Panetta levou as opções para a Casa Branca. Representantes da CIA tinham as fotos tiradas por satélites, que estabeleciam quais eram, segundo Panetta, os hábitos das pessoas que viviam no complexo. A esta altura, aumentavam as evidências da presença de Bin Laden no local.
As discussões sobre o que fazer ocorreram enquanto as relações dos EUA com o Paquistão estavam terrivelmente tensas por causa da prisão de Raymond A. Davis, o empreiteiro da CIA preso por atirar em dois paquistaneses numa rua movimentada em Lahore, em janeiro. Alguns dos principais assessores de Obama temiam que um ataque militar para capturar ou matar Bin Laden pudesse provocar uma reação violenta do governo paquistanês e Davis acabasse sendo morto em sua cela na prisão. Davis foi solto em 16 de março, permitindo que seus colegas agissem com maior liberdade.
Em 22 de março, o presidente perguntou aos assessores sua opinião a respeito das opções.
Gates mostrou-se cético quanto ao assalto com os helicópteros, que achou muito arriscado, e instruiu oficiais militares a analisar a possibilidade de bombardeios aéreos usando bombas inteligentes. Mas, dias mais tarde, os oficiais voltaram com a notícia de que precisariam de cerca de 32 bombas de 1.000 kg cada uma. E de que modo os funcionários americanos teriam a certeza de que matariam Bin Laden? "O ataque criaria uma cratera gigantesca, e não teríamos corpo nenhum", disse um dos funcionários da inteligência.
Uma invasão com o uso de helicópteros passou a ser considerada a melhor opção. A equipe dos Seals, da Marinha, que iria ao local começou a ensaiar a ação em instalações de treinamento em ambas as costas dos EUA, construídas de modo semelhante ao complexo. Mas seus integrantes só foram informados do alvo muito mais tarde.
Na quinta-feira, um dia depois de o presidente apresentar sua certidão de nascimento completa - essa "bobagem", ele disse aos repórteres, que distraía o país de coisas mais importantes -, Obama voltou a se reunir com seus principais assessores de segurança nacional.
Panetta disse que a CIA tinha feito simulações da operação e compartilhado suas informações com outros analistas que não estavam envolvidos no caso para saber se eles concordavam que Bin Laden poderia estar em Abbottabad. Eles concordaram. Chegara o momento de decidir.
Ao redor da mesa, o grupo testou repetidamente os cenários negativos. Houve longos períodos de silêncio, disse um assessor. E então, finalmente, Obama falou: "Não vou dizer a vocês qual é a minha decisão, agora - vou voltar e pensar mais um pouco sobre o assunto". Mas acrescentou: "Tomarei uma decisão muito em breve". Dezesseis horas mais tarde, ele tinha decidido. Na manhã seguinte, bem cedo, quatro dos principais assessores foram convocados no Salão Diplomático na Casa Branca. Antes que pudessem informar o presidente, ele se adiantou. "Podem começar", disse.
A operação deveria começar o mais cedo possível no sábado, mas os funcionários o alertaram de que uma cobertura de nuvens sobre a região significaria que o domingo seria muito mais adequado. No dia seguinte, Obama interrompeu a preparação para o Jantar dos Correspondentes da Casa Branca, naquela noite - para telefonar a McRaven e desejar-lhe boa sorte.
No domingo, os funcionários da Casa Branca cancelaram todas as visitas turísticas à residência para evitar que alguém se deparasse acidentalmente com funcionários de alto nível da segurança nacional fechados na Sala da Situação a tarde toda, monitorando as informações enviadas por Panetta. Um mensageiro foi até o supermercado Costco e voltou com uma variedade de provisões - pedaços de peru, camarões frios, batatas fritas, refrigerantes.
Às 14h05, Panetta apresentou pela última vez ao grupo o esquema da operação. Uma hora mais tarde, o diretor da CIA começou a narração, via vídeo de Langley. "Eles entraram no Paquistão", informou.
Invasão. A equipe de comandos chegou à noite procedente de uma base em Jalalabad, do outro lado da fronteira, no Afeganistão. O objetivo era entrar e sair antes que as autoridades paquistanesas detectassem a invasão do seu território por forças desconhecidas e reagissem com consequências possivelmente violentas.
No Paquistão, passava um pouco da meia-noite, era a madrugada de segunda-feira, e os americanos contavam com o fator surpresa. Quando o primeiro helicóptero mergulhou e desceu, os vizinhos ouviram uma forte explosão e tiros. Uma mulher que mora a 3,2 quilômetros de distância disse que pensou que fosse um ataque terrorista a uma instalação militar paquistanesa. Seu marido comentou que ninguém tinha ideia de que Bin Laden estivesse escondido naquele bairro tranquilo de classe média alta. "É o que pode haver de mais próximos da Grã-Bretanha", ele disse falando do lugar.
A equipe Seal invadiu o complexo - a incursão acordou o grupo que dormia no seu interior, disse um dos funcionários americanos da inteligência - e houve um tiroteio. Um homem próximo a uma mulher não identificada que morava no lugar atirava nos americanos. Ambos foram mortos. Outros dois homens morreram também, e duas mulheres ficaram feridas. As autoridades americanas determinaram posteriormente que um dos homens mortos era o filho de Bin Laden, Hamza, e os outros dois eram o mensageiro e o irmão dele.
Os comandos encontraram Bin Laden no terceiro andar, usando a chamada shalwar-kameez, e os funcionários contaram que ele resistiu antes de ser morto com uma bala sobre o olho esquerdo, quase no fim da invasão que durou 40 minutos.
O governo americano deu poucos detalhes dos seus últimos momentos. "Se ele levou muitos tiros, francamente não sei", disse Brennan, o chefe do Departamento de Contraterrorismo da Casa Branca. Mas um funcionário sênior do Pentágono, que pediu para não ser identificado, disse que estava claro que Bin Laden "foi morto por balas americanas".
Autoridades dos EUA insistiram que teriam feito Bin Laden prisioneiro se ele não resistisse, mas consideravam essa probabilidade bastante remota. "Se houvesse a oportunidade de pegar Bin Laden vivo, e ele não apresentasse nenhuma ameaça, os indivíduos envolvidos tinham condições e estavam preparados para fazê-lo", acrescentou Brennan.
Segundo funcionários, uma das mulheres de Bin Laden identificou o corpo. Uma foto tomada por um comando Seal e processada pelo software de reconhecimento facial sugeriu com 95% de certeza tratar-se de Bin Laden. Mais tarde, testes de DNA feitos com a comparação de amostras de parentes encontraram uma coincidência de 99,9%. Mas os americanos tinham outros problemas. Um dos helicópteros não conseguiu levantar voo. Para não deixá-lo nas mãos erradas, os comandos levaram as mulheres e as crianças para um lugar seguro e explodiram a nave avariada.
Entretanto, àquela altura, os militares paquistaneses procuravam reunir forças para reagir à incursão no seu território. "Eles não tinham ideia de quem tinha estado lá", disse Brennan. "Graças a Deus, não houve confronto com as forças paquistanesas".
Os comandos decolaram à 1h10, horário local, levando inúmeros documentos e computadores da casa. Deixaram mulheres e crianças para trás. Um funcionário paquistanês disse que agora nove crianças, de entre 2 e 12 anos, se encontram aos cuidados das autoridades.
O governo Obama já determinara que seria seguida a tradição islâmica de enterrar o corpo no prazo de 24 horas, para não ofender os muçulmanos, entretanto concluiu que Bin Laden teria de ser sepultado no mar, porque nenhum país queria ficar com o corpo nem criar um santuário para os seus seguidores.
Portanto, o corpo do líder da Al-Qaeda foi lavado e envolvido em um lençol branco como manda a tradição. No porta-aviões USS Carl Vinson, foi colocado num saco especial enquanto um oficial lia o serviço religioso, que foi traduzido para o árabe por uma pessoa nativa, informou o funcionário do Pentágono.
O corpo foi colocado então sobe uma tábua e baixou no mar. Somente um pequeno grupo de pessoas testemunhou o desfecho. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA
Credito:
Mark Mazzetti, Helene Cooper e Peter Baker, do The New York Times
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