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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Armas são decisivas para entrada em Conselho de Segurança da ONU, dizem analistas

LUIS KAWAGUTI
DE SÃO PAULO - FOLHA DE S.PAULO

O apoio dos EUA à pretensão da Índia a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) pode ser explicado, segundo especialistas, pelo arsenal de guerra de Nova Déli -- que inclui pelo menos 60 ogivas nucleares e um Exército com mais de 1,3 milhão de combatentes.

O presidente Barack Obama oficializou o apoio à Índia na semana passada, durante visita ao país.

Pesou em sua decisão o fato de os indianos serem o maior contraponto militar à China no sul da Ásia. Mas o apoio não ocorreria se o país não contasse com armas nucleares, segundo um general da alta cúpula do Exército brasileiro, que pediu para não ser identificado.

Segundo estimativa do Sipri (Instituto Internacional de Pesquisas de Estocolmo), a Índia tem entre 60 e 80 armas nucleares.

Fora isso, possui um dos maiores Exércitos convencionais do mundo, além de grande quantidade de armas estratégicas, entre elas mais de 4.000 tanques pesados, 11 mil peças de artilharia, 660 caças e uma Marinha forte, cuja frota conta com um porta-aviões e um submarino de propulsão nuclear.

Em 2008, o país investiu na área militar mais de US$ 30 bilhões, o equivalente a 2,6% de seu PIB (Produto Interno Bruto). O Brasil investiu mais de US$ 23 bilhões, cerca de 1,5% do PIB no mesmo ano, segundo o Sipri.

Os EUA, maior potência militar do globo, gastou mais de US$ 610 bilhões (4,3%).

"Para ser membro permanente do Conselho de Segurança, o país tem que ser reconhecido como potência militar, o que não é o caso [do Brasil]", afirma o pesquisador da Unicamp e coronel da reserva Geraldo Cavagnari.

Segundo o pesquisador, como o Conselho de Segurança é um órgão político (e não econômico), "independente do peso da economia de um país, ele terá que possuir armas para integrá-lo".

Para ele, a diferença de tamanho das forças armadas da Índia e do Brasil não é fruto apenas de decisões políticas. A localização estratégica dos países pesa na balança.

Enquanto o Brasil fica em uma região considerada extremamente estável (América do Sul, Atlântico e Pacífico sul), a Índia tem uma população cinco vezes maior, situa-se em um possível teatro de guerras futuro e vive a possibilidade permanente de conflito com o Paquistão - outra força nuclear.
MISSÕES DE PAZ
Sem os recursos necessários para se tornar uma potência militar, o Brasil tenta obter prestígio internacional participando de missões de paz das Nações Unidas.

A maior delas hoje é a Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti), em que o Brasil mantém mais de 2.000 capacetes azuis.

Porém, os recursos escassos prejudicam até a participação nesse tipo de missão.

Em meados de agosto, o Itamaraty conseguiu, em negociação com a ONU, o comando da Força Tarefa Naval das Nações Unidas, que hoje atua na proteção da área costeira do Líbano.

Em troca, o Brasil deveria emprestar apenas um navio de sua esquadra de guerra. A negociação emperrou no Ministério da Defesa, que afirmou que não poderia prescindir de uma embarcação na defesa do litoral do país.

Hoje, negocia-se a ida de oficiais da Marinha para integrar a missão e, no ano que vem, o deslocamento de tropas terrestres.

Porém, mesmo quando a comparação é sobre missões de paz, a participação do Brasil é inferior à da Índia -- que tem quatro vezes mais tropas a serviço da ONU.

Para Cavagnari, a participação em operações de paz é positiva para o Brasil, mas não o torna uma potência.

"O Brasil passa a ser um país confiável porque contribui com a paz mundial. Mas ter um papel significativo nas decisões mundiais é outra coisa", disse.

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