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sexta-feira, 25 de junho de 2010

Saída de McChrystal não altera estratégia dos EUA, diz analista

Moreno Osório
A saída do general Stanley McChrystal não deve alterar a condução da guerra no Afeganistão, pelo menos a curto prazo. Com David Petraeus assumindo as tropas da Otan, os Estados Unidos seguirão com sua estratégia de estabilização e reconstrução do país asiático. A grande questão será quanto tempo o novo comandante precisará para se adaptar a uma realidade diferente da do Iraque, front que também está em suas mãos. A opinião é de Salvador Raza, diretor do Centro de Tecnologia, Relações Internacionais e Segurança (Cetris), com sede em Campinas. Segundo ele, o caso McChrystal foi além das polêmicas declarações do general dirigidas à alta cúpula do governo Obama e atingiu a política adotada pelos Estados Unidos para o Afeganistão.

"O general se tornou um vetor da discussão, que é política, diplomática. São normas de alto nível que instruem as alternativas estratégicas. É uma questão de política, e não de estratégia", diz Raza. Ou seja, para o analista, não havia discordância em relação à estratégia adotada no Afeganistão, mas sim às políticas usadas para torná-las efetivas. McChrystal errou ao querer se meter em assuntos diplomáticos, que ultrapassavam sua área de atuação. "Isso fez com que ele (McChrystal) entrasse em choque com outras personalidades fortes que eram a sustentação de uma lógica política", explica. Atitude que pode ser explicada em parte pela personalidade forte e "birrenta" do general.

O que McChrystal queria, segundo Raza, era mais tempo para aplicar uma estratégia chamada de "contrainsurgência". Historicamente reconhecida como uma das mais efetivas, a COIN, como também é conhecida, prega, entre outras ações, envio de uma grande quantidade de combatentes não apenas para destruir o inimigo, mas também para viver entre a população civil, ajudando a construir um novo governo - um processo que pode levar anos, até décadas. Washington, no entanto, quer resolver a questão afegã mais rapidamente. Esse era o ponto de divergência. "A discussão está no tempo de resposta. McChrystal queria conduzir em um período mais longo, e para isso ele precisava de maior capilaridade das ações", explica o especialista, que atualmente é professor da National Defense University, em Washington.

Obama não só discorda dessa "infiltração" maior das ações da Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf, na sigla em inglês) como discordava também do envolvimento de McChrystal nesse tipo de decisão, sustenta Raza. A sua opinião, que culminou no que foi expressado na reportagem publicada na edição americana da revista Rolling Stone (a edição ira às bancas apenas na sexta, mas sua versão online já disponibiliza o texto), foi apenas a gota d'água. "Suas declarações à revista só fragilizaram ainda mais sua posição política. Então Obama teve de tirá-lo para assegurar a sustentação e o prestígio interno do seu governo. Se ele não o tirasse, o presidente iria parecer sem o controle da situação", explica professor, que também é consultor internacional na área de simulações e planejamento estratégico para diversos países.

Evolução no conflito
Salvador Raza acredita que nada vai mudar no conflito afegão em curto prazo. "O embaixador (americano no Afeganistão, Karl Eikenberry) continua. Então a dimensão política (reconstrução do Estado, governabilidade, capacitação do governo e dos mecanismos de defesa e a neutralização da estrutura do Talibã e da Al-Qaeda) continuará a mesma. Nesse momento, a estratégia americana não deve mudar", afirma. Para ele, o único possível problema nessa transição é que o general Petraeus vai ter de se acostumar a dar conta de dois conflitos muito diferentes (Iraque e Afeganistão). "Isso pode superar a capacidade de processamento, e o ciclo de decisão pode ficar mais lento, mais burocrático", sustenta.

Raza também não acredita em um acréscimo nos níveis de violência em função da transição de comando. "Uma das estratégias de McChrystal, ações para assumir o controle de áreas, deve continuar sendo feita na gestão Petraeus, então não se deve esperar modificações nas taxas de morte, pelo menos em um primeiro momento". O analista aposta é que seja necessário um certo tempo para que sejam estabelecidas novas ações, período em que o novo comandante precisará para se acostumar com a nova função. Destaca também que esse processo pode ser facilitado pelo relacionamento que o novo comandante tem com Obama. "O presidente manifesta preferência por Petraeus. Ele fez a opção pela pessoa que gosta, e isso pode facilitar a atuação do general. Ele vai ter um guarda-chuva político maior para atuar", completa Raza.

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