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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Perder logo ou perder mais tarde?

O desprezo do general Stanley McChrystal por seus colegas civis não foi profissional e lhe custou o cargo, um triste fim para uma boa carreira. Mas nenhum general é indispensável. O que é indispensável ao aumentar a participação americana na guerra é que o presidente Obama seja capaz de responder às mais simples questões: nossos interesses merecem tal escalada e temos aliados para alcançar a vitória?
Obama nunca teve boas respostas para essas perguntas, mas foi em frente. A verdade é que ninguém na Casa Branca desejava o aumento do número de tropas. A única razão para ir adiante foi porque ninguém sabia como sair de lá - ou tinha a coragem para puxar a tomada. Não é razão para mergulhar o país mais ainda numa guerra no terreno mais inóspito do planeta. Você sabe que está em apuros quando está numa guerra em que o único lado cujos objetivos são claros, cuja retórica é consistente e cujo desejo de lutar nunca parece diminuir é o do seu inimigo: o Talibã.
Obama não é um especialista em Afeganistão. Poucos são. Mas isso poderia ter sido a sua força. As três perguntas que ele precisava fazer são quase infantis em sua simplicidade. Ainda assim, Obama fracassou entre fazê-las ou seguir adiante, temeroso de que fosse chamado de fraco pelos republicanos se não o fizesse.
A primeira pergunta estava debaixo de seu nariz: por que temos que recrutar e treinar nossos aliados, o Exército afegão? É como se chegasse aqui alguém com um plano para recrutar e treinar jovens brasileiros para jogar futebol.
Se tem uma coisa que os afegãos não precisam é serem treinados. Isso deve ser a única coisa que todos devem saber fazer após 30 anos de guerra civil e séculos de resistência a potências estrangeiras. Afinal de contas, quem treina o Talibã?
O Oriente Médio só apresenta resultados positivos quando a iniciativa é deles. O acordo de paz de Camp David começou com israelenses e egípcios se reunindo em segredo - sem nós. Os acordos de Oslo começaram com israelenses e palestinos se reunindo em segredo - sem nós. Quando começa com eles, nosso apoio militar e diplomático pode ser um multiplicador. As pessoas vão lutar com paus e pedras e sem treinamento por um governo que sintam que lhes pertence. Mas quando nós queremos mais do que eles, nada se sustenta sozinho. Eu simplesmente não vejo "despertar" algum nas áreas sob controle talibã.
Isso leva à segunda pergunta: se a nossa estratégia é usar as tropas americanas para varrer o Talibã e ajudar os afegãos a instalarem um governo decente, como isso pode ser feito quando o presidente Hamid Karzai, nosso aliado, fraudou a eleição e nós fingimos não ter visto? A secretária de Estado, Hillary Clinton, e outros dizem para não nos preocuparmos: Karzai teria vencido de qualquer forma; é o melhor que temos; e ela sabe lidar com ele. Espero que sim, mas meu instinto me diz que quando não chamamos as coisas pelo seu nome, arrumamos problemas. Vamos construir um bom governo sobre a máfia de Cabul.
O que traz a terceira pergunta: o que ganhamos se vencermos? Pelo menos no Iraque, se no fim das contas produzirmos um governo decente e democrático, teremos mudado a política numa grande capital árabe no coração do mundo muçulmano. Isso pode ter ampla ressonância. Mude o Afeganistão a um custo enorme e você terá mudado o Afeganistão - ponto. O Afeganistão não ressoa.
Além disso, a al-Qaeda hoje está no Paquistão - ou pior, na alma de milhares de jovens muçulmanos de Bridgeport, Connecticut, a Londres, conectados pelo "Afeganistão Virtual": a internet.
O presidente pode trazer Ulysses S. Grant (general da Guerra de Secessão) dos mortos para comandar a guerra no Afeganistão. Mas quando não se pode responder a mais simples das questões, é sinal de que se está numa posição não desejada e que suas únicas opções reais são perder logo, perder mais tarde, perder muito ou perder pouco.
THOMAS L. FRIEDMAN é colunista do "New York Times"

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