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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Jomini e a História Militar

A História Militar é uma área mal entendida pela maioria das pessoas. O público leigo a toma por mera narração factual de combates, líderes e equipamentos, quase como que uma hagiografia; apesar de essa ser uma visão que a maioria das pessoas possui sobre a História em geral, mesmo pessoas com um pouco mais de conhecimento na área costumam tomar o estudo de história militar como uma exaltação dos feitos de homens de armas.

Existem diversos campos que se utilizam do estudo da História Militar, notadamente a área de Estudos Estratégicos, pela qual tenho nutrido certo interesse ultimamente. Apesar de esses estudos quase arcanos se restringirem a alguns poucos pós-graduandos, eles são a prova de que aquela se diferencia das narrativas épicas não só pelo formato, mas também pelo que é estudado.

De fato, nem sempre foi assim. Até o século XIX, quando se escrevia sobre guerra, a função era exaltar os feitos de determinado líder ou criar um manual com preceitos para a vitória. Mesmo no século que testemunhou a Segunda Revolução Industrial, a ascensão e queda do Império napoleônico, dentre outras radicais mudanças, essa visão continuou, influenciada por pensadores como o suíço Antoine-Henri Jomini.


Pode-se, de um certo ponto de vista, dizer que Jomini foi o primeiro teórico europeu da guerra, antecedendo a publicação póstuma da obra de Clausewitz com seu Traité des grandes operations militaires, publicado em 1805. Inspirado pela forma européia de guerrear, especialmente pelas triunfantes campanhas de Frederico, O Grande e Napoleão – de quem foi aide-de-camp -, Jomini resumiu as campanhas napoleônicas em uma série de preceitos, os quais garantiriam a vitória ao comandante que o seguisse.

A visão de Jomini do Exército era através de uma ótica heróica, com ênfase nos líderes e nos soldados. Para ele, o segredo da vitória era saber posicionar as tropas no ponto decisivo da ação; com um líder e com treinamento adeqüado, então a vitória seria obtida. Ele simplesmente considerava que os exércitos estavam prontos, adeqüados e era tudo uma questão de manejar as tropas e destruir os oponentes.

Em sua obra, ele defende que o exército ideal seria muito bem treinado, sem, no entanto, nunca tocar no assunto do treinamento das tropas. Jomini também não abordou as mudanças no modo de guerrear provocadas pelas Guerras Napoleônicas, como a divisão das forças em Corpos de Exército; para ele, a concentração de forças era essencial para a obtenção da vitória.

Outro ponto que Jomini não abordou foram as necessidades materiais de grandes exércitos. Apesar de ter cunhado o próprio termo logística, seu entendimento da função desta era bem diferente da visão atual, conforme indicado em uma passagem do Précis de l’Art de la Guerre, sua principal obra:

“Logística é a arte prática de movimentar os exércitos, compreendendo não apenas os problemas de transporte, mas também o trabalho do estado maior, as medidas administrativas e até as unidades de reconhecimento e de informações necessários para o deslocamento e a
manutenção das forças militares organizadas.”

O fato de Jomini negligenciar as questões logísticas não deve ser estranhado, uma vez que era comum na época, quando se esperava que os exércitos extraíssem seus suprimentos da prática da forragem. Mesmo Aleksandr Suvorov, grande general russo que derrotou Moreau e o futuro marechal Macdonald durante a campanha italiana, não dava a devida atenção ao problema de obtenção dos recursos necessários para sustentar grandes quantias de combatentes num campo de batalha; não fosse o proverbial auxílio de oficiais austríacos, seu exército possivelmente não teria tido condições de efetuar as velozes marchas que por muitas vezes garantiram vitórias para o Czar.

Para qualquer um que pretenda criar uma teoria completa do que era chamado de A Arte da Guerra, esquecer de um fator tão grande quanto a logística é uma omissão gritante, cujo preço seria visto durante a Primeira Guerra Mundial. Mas, apesar de limitada, a obra de Jomini foi uma primeira tentativa de criar uma visão mais racional da guerra.

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