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domingo, 7 de junho de 2009

País foi chamado a ocupar a Áustria

Um dos mais prestigiados pesquisadores das relações militares entre americanos e brasileiros, o historiador Frank McCann, da Universidade de New Hampshire, revela que o Brasil recusou gestões dos EUA para participar da ocupação aliada da Áustria após a 2ª Guerra (1939-1945). A sugestão, rejeitada por motivos ainda hoje não esclarecidos, poderia, se aceita, ter modificado substancialmente o papel brasileiro nas relações internacionais no pós-guerra e facilitado o caminho para o País obter a almejada cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, acredita o professor. Ele vai comentar suas pesquisas sobre o assunto no I Seminário de Estudos sobre a Força Expedicionária Brasileira (FEB), dia 15, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ).

"O general (Mark) Clark (comandante aliado na Itália) foi mandado para a Áustria como chefe de ocupação e, conhecendo os brasileiros, pensou que seria interessante tê-los", revela o historiador, autor de Soldados da Pátria - História do Exército Brasileiro 1889-1937 (Companhia das Letras). "Mas, sem documentos, não posso dizer por que o Brasil não entrou nisso. Não sei até que nível o governo brasileiro foi consultado."

O historiador ainda procura pelos relatórios anuais de atividades do Exército de 1945 e 1946, nos quais espera achar pistas do motivo da recusa. Os volumes são os únicos que não estavam nem na Biblioteca do Exército, nem em seu Arquivo, nem em seu comando, em Brasília.

McCann conta que, no imediato pós-guerra, os americanos desmobilizaram rapidamente suas tropas na Europa. Para a ocupação, seria necessário recrutar mais gente, por meio de convocação de cidadãos dos EUA. Os militares que combateram não foram os mesmos que depois ocuparam o território europeu. Nesse panorama, o comando aliado lembrou que, dos 25 mil pracinhas enviados pelo Brasil à Itália, 10 mil, por falta de tempo para receber o treinamento, não entraram em combate - tinham passado o tempo no ciclo de instrução preparatória. No fim do confronto, foram consideradas tropas "descansadas", logo, prontas para participar da ocupação.

"Durante a guerra, uma divisão não era grande coisa, mas, como os EUA se desmobilizaram muito rapidamente, uma divisão brasileira na Europa após a guerra teria sido, sim, grande coisa, de fato", diz ele.

A Áustria teve importância central no conflito. Remanescente do Sacro Império Romano Germânico e do Império Austro-Húngaro sob a Dinastia Habsburgo, além de terra natal do ditador nazista Adolf Hitler, o país foi anexado pelos alemães em 1938, como parte da tentativa de construir a "Grande Alemanha" sob o 3.° Reich. Após a 2ª Guerra, foi dividida entre EUA, Grã-Bretanha e URSS, que permitiram que os austríacos formassem um governo provisório. Os aliados estabeleceram que o país seria separado da Alemanha e não poderia aderir a tratados militares, o que a levou à neutralidade na Guerra Fria. Em 1955, sua ocupação foi suspensa.

O pesquisador relata ainda que o diplomata Vasco Leitão da Cunha ouviu, em Roma, que o general britânico Harold Alexander teria dito: "O brasileiro é um belo soldado. Lamento saber que eles querem voltar para casa e não ir para a Áustria." Leitão da Cunha, relata, telegrafou para o Itamaraty dizendo que "o Brasil tinha de ficar", ouvindo como resposta: "Isso é cavação deles para ganhar ouro." O Brasil temeria pagar despesas da ocupação.

McCann diz ainda que o comandante do 4º Corpo do 5º Exército dos EUA, do qual a FEB era parte, general Willis Crittenberger, consultou o então coronel Castello Branco (que, em 1964, seria o primeiro presidente do regime militar) sobre a possibilidade de o Brasil participar da ocupação da Itália, em 10 de maio de 1945 - pouco depois do Dia da Vitória, quando a Alemanha se rendeu.

"Castello disse algo sobre o Brasil não participar do conselho aliado para governar a Itália, então não deveria ter tropas envolvidas", diz. "Acho que, se o Brasil tivesse participado da ocupação, teria ganho o assento no novo Conselho de Segurança e no pós-guerra teria tido um status muito, muito maior."

ENCONTRO

O I Seminário de Estudos sobre a FEB será promovido pelos Programas de Pós-Graduação em História Social das universidades federais do Rio de Janeiro e de Londrina e terá dez sessões temáticas.

Além de McCann, participarão do encontro os pesquisadores Celso Castro, da Fundação Getúlio Vargas, José Murilo de Carvalho, da UFRJ, e Vagner Camilo, da Universidade Federal Fluminense, entre outros. O evento será no IFCS/UFRJ,no Largo de São Francisco, 1, no Centro do Rio.

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