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terça-feira, 12 de agosto de 2008
Matemática,Física e Fé
Blaise Pascal foi pioneiro em matemática e física, mas buscou fé unicamente na revelação
Hoje, Pascal significa uma unidade de pressão, uma linguagem de computador, uma lei de fluídos mecânicos, um conjunto de números com certas propriedades. Poucos que usam seu nome dessa forma sabem que Blaise Pascal também foi um cristão devoto e um profundo defensor de sua fé. Em 1623, Pascal nasceu em um mundo que tinha recentemente testemunhado a Reforma, a Contra Reforma e o início da ciência moderna. A Guerra dos Trinta Anos começou cinco anos antes do nascimento de Pascal, e ele tinha dez anos quando Galileu foi forçado a retratar seus ensinos sobre o sistema de Copérnico.
Estudando sob a supervisão de seu pai, um funcionário público, o jovem Pascal primeiro manifestou seus talentos aos 16 anos com seu teorema “o hexágono místico”, apontando as qualidades especiais de um hexágono inscrito em um círculo. A este ele seguiu com um livro sobre geometria que alguns matemáticos contemporâneos se recusavam a acreditar ter sido escrito por um adolescente.
Aos 19 anos ele inventou o distante ancestral do computador moderno - uma máquina de calcular. Mais tarde, ele elaborou respostas para as perguntas de alguns amigos sobre jogos de azar, o jovem gênio fundou então a teoria da probabilidade.
Pascal adicionou as ciências físicas ao seu repertório com experimentos que expandiram o conhecimento humano da pressão atmosférica e o equilíbrio dos fluídos. Ele foi inspirado a investigar essas coisas por meio da invenção do barômetro por um aluno de Galileu.
Pascal observou que o mercúrio se eleva somente trinta polegadas em um tubo fechado e viu que o espaço acima do mercúrio desafiou a velha idéia aristotélica de que “a natureza abomina o vácuo”. Seus experimentos sobre este fenômeno o levaram a concluir que o vácuo realmente existia.
Defendendo essa idéia, ele fez distinção entre os métodos da ciência e os da teologia. Dos últimos, disse Pascal, a tradição é a rota apropriada para o conhecimento: nós não podemos descobrir Deus cientificamente. Também não podemos aprender da tradição o quão alto um fluído se elevará.
Na verdade, ele concluiu, devíamos ter pena da cegueira daqueles que usam a autoridade apenas como prova em assuntos físicos, ao invés do raciocínio ou experimentos; e devíamos abominar a fraqueza de outros que fazem uso do raciocínio apenas em teologia, em vez da autoridade das Escrituras e dos padres.
A noite de fogo
Pascal estava no caminho de uma carreira brilhante como matemático e cientista quando algo mais importante interveio. Em 1646, após seu pai ter sofrido uma queda e ter sido curado por meio das ministrações médicas de dois devotos doutores, Blaise uniu-se a outros membros de sua família identificando-se com o Movimento Jansenista.
Cornelius Jansen, bispo de Ypres, tinha escrito um livro sobre a teologia de Santo Agostinho, que apresentava uma visão rigorosa do cristianismo. Sua ênfase na predestinação, a severidade do pecado e a completa dependência da graça de Deus parecem à primeira vista próximas do Calvinismo.
Não obstante, os jansenistas pretendiam ser membros leais da Igreja Católica Romana, e eles seguiam os ensinos católicos sobre igreja, ministério e sacramentos. Todavia, Pascal não era influenciado por argumentos doutrinários apenas. Na noite do dia 23 de novembro de 1654, ele teve uma poderosa experiência religiosa. Ele rabiscou um rápido relato do que tem sido chamado de “amuleto de Pascal” o qual carregou no forro de seu casaco até sua morte. As palavras do amuleto demonstram o coração da fé que ele defenderia:
"Fogo
"Deus de Abraão, Deus de Isaque, Deus de Jacó, não dos filósofos e cientistas.
"Certeza. Segurança. Sentimento. Alegria. Paz.
"Deus de Jesus Cristo.
***
"Esquecimento do mundo e de todas as coisas exceto Deus. Ele deve ser encontrado somente nos caminhos ensinados no evangelho.
***
"Esta é a vida eterna, que eles conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo a quem Tu enviaste."
Essa “noite de fogo” teve um profundo impacto. Entretanto, Pascal não a viu como uma revelação particular que substituiu ou teve precedência sobre a revelação da qual as Escrituras testemunham. Foi uma experiência do Deus de Israel, o Deus revelado em Cristo. Em seus argumentos pela verdade do cristianismo, Pascal nunca mencionou a noite de fogo: seu “amuleto” só foi encontrado após sua morte.
A visão rigorosa dos jansenistas sobre a disciplina cristã e sobre a incapacidade humana de contribuir para a salvação os colocaram em disputa com os poderosos jesuítas. Os primeiros escritos teológicos de Pascal, as Provincial Letters (Cartas Provinciais), eram ataques devastadores aos princípios e diretrizes daquela ordem.
A contribuição mais importante de Pascal ao pensamento cristão é Pensées, o livro que ele na verdade nunca foi capaz de escrever. É um indício do gênio de Pascal que seu material preparatório pudesse tornar-se tal clássico.
Estudiosos têm tentado reconstruir o trabalho que Pascal projetou. Ele ia mostrar primeiro a miserabilidade da humanidade sem Deus e a seguir a bem-aventurança que é possível com o Deus que é conhecido como Jesus Cristo. Essa é uma abordagem tradicional, mas o talento de Pascal aparece nos “pensamentos” específicos com os quais ele pretende tecer esses argumentos.
“Só uma profissão”
Não é verdade, como às vezes é dito, que Pascal desistiu da matemática após alcançar sua recém-descoberta fé. Mas durante a última parte de sua vida, ele devotou-se aos interesses religiosos, dizendo a seu amigo, o matemático Pierre Fermat, que a Geometria era “somente uma profissão”, um pontinho em coisas mundanas que se empalidece em comparação com o plano de Deus para a salvação das almas humanas.
Poderíamos esperar que Pascal tivesse muito a dizer sobre as relações entre a ciência e a religião, e que talvez ele tivesse tirado argumentos da natureza para demonstrar a verdade da religião, como Newton e outros fariam mais tarde. Mas para Pascal não há nenhuma forma de conhecer a Deus fora da revelação - ele achou o argumento do design não convincente.
Aqueles que procuram a Deus através da natureza, Pascal insistiu em seu Pensées, “ou não encontram luz para satisfazê-los, ou planejam encontrar um meio de conhecê-Lo e servi-Lo sem um mediador”.
Para Pascal, entretanto, Deus não está ausente de seu mundo, decididamente. Pascal repreendeu Descartes pelo que ele viu como um efetivo deísmo, dizendo: “Eu não posso perdoar Descartes. Ele teria alegremente deixado Deus fora de sua filosofia toda. Porém, ele não podia evitar fazer Deus dar um impulso para colocar o mundo em movimento. Depois disso ele não tinha mais nenhum uso para Deus.”
Pascal fez objeções a uma teologia natural que dependia de provas visíveis. Deus está escondido – uma idéia que está presente em todo o Pensées. Pascal argumentou com referência a Isaias 45:15 (“Verdadeiramente Tu és Deus que Te escondes, ó Deus de Israel, ó Salvador” [VKJ]) que o que nossos olhos vêem na natureza não revela nem uma total ausência nem uma manifesta presença do divino, mas a presença de um Deus que Se oculta.
A objeção era profética. A teologia natural de Newton e outros levou gerações posteriores ao deísmo - a crença em um “Deus relojoeiro” que criou o mundo mas que não está ativamente envolvido nele depois da Criação.
Ele apostou sua vida em Deus
Embora em uma parte ele tenha desenhado uma linha acentuada entre a ciência e a teologia, o trabalho de Pascal sobre probabilidade realmente fica atrás de sua famosa “aposta”. Se Deus existe ou não, Pascal escreveu, você deve apostar de uma forma ou de outra. Se Deus existe, você poderia ganhar ou perder felicidade infinita. Se Ele não existe, então você poderia perder quando muito um prazer finito. “Se você ganhar, você ganha tudo; se você perder, você não perde nada. Não hesite, então; aposte em Sua existência.”
Podemos ler na vida de Pascal sinais de um homem que apostou sua vida em Deus. Compassivo, como também brilhante, ele criou o primeiro sistema público de transporte de Paris para o benefício dos pobres. E em sua própria última doença, ele ofereceu sua casa para uma família pobre afetada pela varíola.
No fim, Pascal deixou um exemplo não somente de como pensar sobre cristianismo, mas também sobre como viver como um cristão.
(George Murphy, na Christianity Today)
Tradução: Maria Cristina Reis
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